𝐩𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨

ANTES

O Capitão Buggy, o Palhaço, caminhava com passos cautelosos por entre os destroços do que um dia fora seu refúgio favorito. Cada ruína ao redor era um lembrete cruel de tempos mais felizes, quando ele dividia aventuras ao lado de Shanks e de sua amiga fiel, Nebulosa. Eram dias que ele costumava chamar de seus "dias de ouro".

Agora, o lugar não passava de escombros, reduzido a cinzas por mercenários e caçadores de piratas. Homens e mulheres sedentos por moedas que perseguiam até mesmo os mais inocentes, pessoas que jamais empunharam uma espada ou ameaçaram a paz de qualquer alma. Entre suas vítimas estava Nebulosa, uma mulher cuja bondade era tão vasta quanto o próprio oceano. Ela jamais faria mal a uma mosca e sequer merecia ser chamada de pirata. Seu único desejo era levar uma vida tranquila e anônima, refugiando-se em uma vila escondida onde apenas os mais sortudos conheciam sua existência.

Mas o destino, sob a forma da Marinha, decidiu destruí-la. Colocaram seu rosto em cartazes de procurada, acompanhados de uma recompensa altíssima. A pacata vida que ela sonhava desmoronou em um piscar de olhos, levando consigo não apenas seu lar, mas também o sonho de formar uma família.

Enquanto Buggy explorava os escombros, um som chamou sua atenção: um choro insistente e abafado vinha de um dos poucos lugares ainda de pé. Seguindo o som, ele encontrou um pequeno armário de materiais, as portas quase inteiras em meio ao caos. Cautelosamente, o pirata abriu a porta, revelando uma figura diminuta.

Era uma criança, não mais do que três anos de idade. Seus cabelos azuis brilhavam como o oceano sob o sol, e os olhos arregalados espelhavam o medo puro, como um cervo apanhado pela luz de um farol.

— Ah, então aqui está você, pequeno lagostim — Buggy disse, abaixando-se para ficar ao nível da criança. Seus olhos suavizaram enquanto ele a observava. — Você deve ser a famosa Nebula.

Ele se lembrava bem das cartas que Nebulosa lhe enviava, cheias de relatos da filha que tanto amava. Buggy as lia inúmeras vezes, aguardando ansiosamente por uma nova mensagem.

— Eu li muito sobre você... Sua mamãe e eu éramos grandes amigos.

A menina piscou, confusa e ainda assustada, mas o tom gentil do pirata parecia atenuar suas lágrimas.

— Venha. — Ele estendeu os braços em sua direção. — Venha com o seu amigo, Buggy.

Nebula hesitou. O medo do ataque recente ainda ecoava em sua pequena mente, mas Buggy emanava algo que ela não sentia havia dias: segurança. Com um gesto tímido, a menina se arrastou para os braços estendidos, envolvendo seu pequeno corpo ao redor do pescoço do palhaço. Ele se levantou, segurando-a com cuidado, e voltou sua atenção para a tripulação que o aguardava.

— Hoje temos uma nova tripulante! — anunciou com um brilho no olhar. — Todos deem as boas-vindas a Nebula, nosso pequeno tesouro!

Os gritos de saudação e aplausos de sua tripulação ecoaram pelo cenário devastado. Em meio aos escombros do passado, algo novo e precioso havia surgido: um laço que Buggy jurou proteger com tudo o que tinha.

[...]

— ONDE ELA ESTÁ? — A voz de Buggy explodiu como um trovão, ecoando por todo o navio. Cada tripulante congelou, seus olhares hesitantes seguindo os passos apressados do capitão. O tom grave e carregado de urgência não era comum, especialmente quando o nome de Nebula ressoava com tamanha intensidade.

— NEBULA! — O grito reverberou pelo convés, cortando o ar como uma lâmina.

Porém, antes que o silêncio pudesse se instalar, uma risada infantil e melodiosa surgiu.

Nebula, agora com sete anos, já era um prodígio. Mais esperta do que muitos adultos do East Blue, ela dominava a navegação com precisão impecável, manejava uma espada com entusiasmo contagiante e demonstrava habilidade até mesmo com arco e flecha, uma verdadeira pequena guerreira. Mas, de tudo o que fazia, nada deixava Buggy mais orgulhoso do que vê-la brilhar em suas apresentações. No circo improvisado que ele montava nos momentos de descanso, Nebula era como uma chama viva, irradiando energia e talento. Ela parecia ter nascido para aquilo, para ele, para o circo.

— Procurando por mim, papai? — A voz aguda e cheia de travessura soou de cima.

Buggy ergueu os olhos rapidamente, seguindo a origem do som até encontrar sua filha pendurada em uma das grossas cordas amarradas ao mastro principal. Lá estava ela, balançando-se com graça e confiança, seus cabelos azuis brilhando sob a luz do sol.

Nebula adorava as alturas. Sua habilidade com cordas, malabarismo e contorcionismo fazia dela o coração das apresentações do navio. Para Buggy, vê-la ali, no topo, era como olhar para uma estrela em meio ao oceano infinito.

— Ah, meu doce lagostim. — Um sorriso largo surgiu em seu rosto pintado. — Hoje é um dia especial. É o seu aniversário de sete anos! Eu tenho um presente para você.

Os olhos da menina brilharam, e ela rapidamente saltou das cordas. Com uma elegância impressionante, pousou no convés de pé, diretamente à frente do capitão.

— O que é, papai? — perguntou, o sorriso malicioso espelhando a alegria em seus olhos.

Venha comigo!

Sem hesitar, Nebula seguiu Buggy até sua cabine. Ela adorava surpresas, especialmente as que vinham do capitão. Ele sempre parecia saber exatamente o que a faria feliz. Entrando no escritório desordenado, ela se jogou em uma poltrona enquanto Buggy vasculhava as gavetas de sua mesa, murmurando algo incompreensível. Finalmente, ele retirou uma pequena caixa retangular, cuidadosamente embrulhada em papel simples, mas adornada com uma fita vermelha vibrante.

— Aqui está.

Nebula mal conseguia conter a curiosidade. Com dedos ágeis, desfez a fita e abriu a caixa. Dentro dela, repousava uma adaga de lâmina vermelha, brilhante e tão afiada quanto bela.

— É linda! — exclamou, abraçando Buggy com força. — Eu amei, obrigada!

Buggy retribuiu o abraço, rindo suavemente.

— Tudo para minha pequena lagostim.

Nebula segurou a adaga com cuidado, admirando os reflexos da luz na lâmina. Naquele momento, sentiu-se invencível. Para ela, aquele presente era mais do que uma arma; era um símbolo do amor e da proteção que seu pai encontrava nas pequenas coisas. E para Buggy, ver o sorriso dela era o maior tesouro que ele poderia ter.

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