10
Kin Daikichi
A arena em Akihabara fica mais longe do hotel do que as outras, fica mais ou menos meia hora de distância do limite de Tokyo. Apenas eu, uma menina de blusa amarela e a mulher dos cabelos pretos que iríamos para a Arena em Akihabara. Eu e a mulher de cabelos longos e escuros fomos de moto — ela pilotando e eu na carona – e a menina foi de bicicleta. Tomei coragem em perguntar o nome da mulher e ela disse que se chamava Mira.
Foi desconfortável seguir até a arena com as duas, um silêncio mortal perambulava entre o motor da moto e as correntes da bicicleta. Vez ou outra eu me pegava espiando o rosto da Mira pelo retrovisor da moto. A mulher é bonita, mas algo em seu olhar é profundo e diferente. Mira estava séria e completamente focada na estrada o que me causava arrepios, de repente eu estava torcendo para que ela desse o sorriso assustador dela. A mulher me pegou a observando e sorriu, no mesmo momento retirei ter desejado que ela sorrisse. Prefiro a Mira séria.
Chegamos em um pequeno comércio onde todas as luzes estavam acesas. O jogo será aqui. Assim que Mira estacionou a moto soltei sua cintura com pressa e me levantei em um pulo, tropeçando na calçada e quase caindo no chão.
Sacudi as mãos — tensa — ao encarar a porta da loja de bijuterias esperando por mim. Meu visto vence hoje e eu tenho que jogar, ou então posso simplesmente esperar dar meia noite e o visto vencer. Tenho certeza que não iria doer tanto se o laser me atingisse, pelo menos a morte seria instantânea.
Mira pigarreou do lado de dentro da loja como se estivesse pedindo para que eu entrasse. Seu olhar era penetrante como se estivesse me analisando consecutivamente. Dei um passo para frente entrando na loja sentindo meus ombros se enrijecerem.
O balcão junto com a caixa registradora servia de apoio para os celulares que cada jogador deveria pegar. Assim que peguei o meu despositvo fui reconhecida e o celular desbloqueou com alguns dados e poucos aplicativos. Ainda faltava um minuto para finalizar o tempo de inscrições. Virei as costas para as duas mulheres um tanto quanto receosa por dar as costas para duas completas desconhecidas.
Comecei a caminhar para perto dos brincos e olhar as peças. Por um momento me senti em Tokyo de verdade olhando as bijuterias para impressionar os meus colegas de trabalho — o momento durou pouco.
– Esse é um teste para ver onde você se encaixa na praia, não fale. – Mira surgiu atrás de mim me dando um susto.
Minha respiração se desregulou por alguns segundos mas logo voltou ao normal.
– Tempo de inscrições esgotado. – o celular avisou. – Jogo: descobertas. Dificuldade: três de paus. – Mira sorriu. Amaldiçoei o celular por ter feito ela sorrir. – Objetivo: Achar a chave correta que abre a caixa registradora. Tempo limite: quinze minutos.
– Que merda. – falei comigo mesma.
Apenas quinze minutos. É melhor essa chave ser fácil de ser encontrada.
– Três de paus. – Mira voltou a sorrir. – Última carta desse naipe que precisamos.
– É a! Incrível! – debochei. – Vamos achar essa maldita chave e dar um fora daqui.
– Jogo iniciado. – a voz eletrônica avisou o início da partida.
Vasculhei o balcão inteiro, mas não tive nenhuma sorte. A menina de blusa amarela parecia inquieta olhando as bijuterias. Me juntei a ela e a compreendi. Todas as bijuterias tinham um pingente de chave ou eram o formato de uma. Voltei até o caixa e observei o formato da chave — um "F".
Mira pegou os cordões com pingente enquanto eu comecei a procurar por brincos que formassem o tal "F", apenas doze brincos possuíam o formato do mesmo. Nenhum dos pingentes de Mira deu certo. Comecei a testar os brincos. Primeiro testei o brinco rosa na esperança de ser o correto, mas não era. Testei os onze brincos restantes, nenhum deles. A menina de blusa amarela começou a testar os braceletes.
Enquanto ela testava as pulseiras, comecei a rodear a mesa dos aneis. O cronômetro do celular marcava dez minutos, o que indicava que cinco minutos já haviam se passado. Em cinco minutos nós três já havíamos testado mais da metade das bijuterias da loja.
Nenhum anel possuía chave ou o formato do F. Joguei um anel pela porta vendo o laser partir o ferro em dois. Depois de seis minutos já não tinha mais bijuteria para tentar encaixar na porcaria de caixa registradora. Esse jogo é sem solução?
As palmas das minhas mãos começaram a suar de nervoso, limpei as mesmas na blusa tentando me livrar do suor momentaneamente. Levei a mão seca ao bolso tateando o bilhete que meu irmão escreveu. Sinto falta dos meus amigos.
A menina de blusa amarela digitava números na caixa registradora inutilmente enquanto Mira procurava a chave nas gavetas.
Me encostei na parede tentando pensar em alguma solução, mas nada surgia na minha cabeça. Fechei os olhos para focar os meus sentidos no jogo. Tato, olfato, paladar e audição, mas todos inúteis no momento. Me agarrei ao som do tic-tac do relógio contando quantos segundos se passavam equanto eu permanecia parada. O tic-tac soou diferente em um dos segundos. Abri os olhos e esperei até que mais um minuto se passasse para que eu começasse a contar. Fechei os olhos novamente me concentrando a penas no barulho do relógio. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... Sete. O barulho estalado se repitiu.
Abri os olhos e me aproximei do relógio ficando mais próxima do objeto. Estiquei meus braços para alcançar o relógio e o retirei da parede. Sorri ao ver o número sete. O formato exato do "F". Joguei o relógio no chão fazendo com que o vidro se quebrasse em vários pedaços. Mira e a menina se assustaram com o barulho e me olharam com atenção. Me agachei e peguei a parte de plástico com os ponteiros e os números, as mulheres observavam cada movimento meu. Sacudi a parte branca para me livrar dos cacos de vidro para não me cortar. Puxei o número sete — que tinha uma textura diferente dos outros números — e me levantei. Tem de ser a chave. Me levantei com cuidado para não me desequilibrar e cair em cima do vidro e mostrei o número para as duas mulheres. Mira sorriu novamente, mas dessa vez eu não me importei com o sorriso bizarro, — as duas jogadoras abriram caminho para eu poder passar — apenas caminhei até o balcão segurando o número de plástico.
Inseri o "sete" na fechadura da caixa registradora e olhei para as duas, ansiosa. Girei meu pulso com expectativa e o número acompanhou meu movimento. O "sete" é a chave. Assim que a rotação atingiu seu grau máximo o objeto estalou abrindo uma pequena fresta na caixa registradora. Puxei a gaveta e mordi o lábio inferior ao pegar a carta do jogo.
– Jogo completo com vinte segundos restantes.
Segurei a carta entre o dedo médio e o indicador vitoriosa e caminhei até Mira. Dessa vez era eu quem estampava um sorriso enorme, mas esse não era assustador e sim convencido. Eu venci o jogo, eu consegui a carta. Ergui a carta junto com o meu cotovelo e parei ao lado de Mira. Entreguei a carta para a mulher com um sorriso lateral no rosto antes de voltar o meu olhar para a porta.
– Jogo zerado. – emiti um estalo com a língua.
Peguei um par de brincos com pedras vermelhas e caminhei até a saída. Consegui, irmão.
Me sentei atrás de Mira e a envolvi com os meus braços para não cair no chão no caminho até o hotel. Dessa vez não encarei Mira nenhuma vez, mas de alguma forma conseguia sentir quando o seu olhar pesava sobre mim.
Assim que voltei para a praia uma quantidade considerável de jogadores já havia retornado dos jogos e agora festejavam a vitória.
Procurei por Arisu e Usagi na boate, mas não consegui encontrar nenhum dos dois. Achei os meus amigos sentados nas cadeiras perto da orla da piscina — eles estavam acompanhados por uma menina de biquíni azul estampado e dreads no cabelo. Os dois se levantaram quando me viram.
Assim que os abracei sorri para a menina desconhecida e me sentei ao lado de Usagi. De repente a música parou. Um grupo de homens armados atravessou a multidão quase em câmera lenta, como se gostassem de se exibir.
– É a milícia da praia – a menina explicou. – Se quiserem viver em paz aqui não se metam com eles. E aliás, meu nome é Kuina. – a menina falou especificamente comigo.
– Kin. – sorri.
–O líder, Aguni, era das forças armadas. Ele que controla as armas e quem usa. – Kuina voltou a explicar.
Aguni estava no jogo do símbolo.
– O poder aqui na praia é dividido entre ele, o jogador número um, o Chapeleiro, e seus devotos. – a menina concluiu. – É difícil manter tudo em paz por aqui, mas a qualquer momento pode surgir algum conflito.
A milícia caminhou até nós assustando os outros jogadores. A menina tentou correr para se afastar dos homens, mas acabou escorregando e caindo na piscina. Aguni e os outros pararam a poucos metros de distância de nós.
– Onde está o seu amigo? – Aguni perguntou ao Arisu.
Karube.
– Morto. – Arisu conseguiu dizer depois de alguns segundos se hesitação.
– Uma pena. Somente peixes pequenos sobrevivem no mar.
A tensão começou a subir no ar. Algo nessa conversa não está me agradando.
– Vocês se conhecem? – Kuina perguntou baixinho.
Aguni ficou por um bom tempo fitando Usagi.
– Traga ela aqui.
O homem de cabelo preto ao lado de Aguni com uma arma grande na mão se aproximou de nós com atitude. Ele sorriu como se gostasse do que iria acontecer depois. Usagi se encolheu quando o homem encostou em seu braço. Me levantei ficando entre ele e ela.
– Não comigo aqui. – sussurrei para que apenas o homem pudesse ouvir.
Arisu também se levantou. Kuina nos repreendeu dizendo que nós não devíamos nos envolver. Não me importo.
– Ei! – Arisu gritou fazendo o homem desviar o olhar de mim e focar nele.
– Nosso chefe quer tirar uma casquinha dela. – o homem falou rindo me causando nojo.
– Não. – me aproximei dele em proteção a Usagi.
– Com você eu me acerto depois. – a figura masculina falou antes de expor sua língua perfurada por um piercing. – Já você... – ele olhou para Arisu. –O que devemos fazer com esse daqui, chefe?
– Quebre as pernas dele para que ele morra no próximo jogo. – Aguni não esboçou emoção alguma.
– Não! – falei fazendo os dois e o resto dos jogadores, que agora formavam uma plateia, olharem para mim. – Não.
O resto da milícia começou a andar até mim e Arisu. Eu estava pronta para gritar e para chutar alguém.
– Estamos com algum problema aqui? – o Chapeleiro abriu espaço entre a multidão vindo até nós.
– Não é da sua conta. – o homem com o piercing na língua respondeu.
– Não vou fazer isso. – sua voz soou como uma ameaça. – Sou o jogador número um, devo manter a paz na praia. Pode fazer o que eu peço e liberar os novatos, Aguni? – o Chapeleiro ficou frente a frente com o ex líder das forças armadas. Os dois se confrontaram através do olhar. – Niragi? – O chapeleiro olhou para o homem de cabelos pretos que revirou os olhos entediado.
– Você não é meu chefe. Só recebo ordens do chefe.
– Aguni? – o Chapeleiro perguntou o que parecia ser pela última vez.
– Liberem-nos. – Aguni ordenou fazendo com que Niragi bufasse. O confronto feito através de olhares entre Aguni e o Chapeleiro permaneceu por algum tempo.
– Podem voltar a festejar. – O chapeleiro ordenou.
Preciso de uma boa bebida. Caminhei até a parte interna do hotel lotada por mais jogadores. Que saco! De repente senti mãos na minha cintura pressionando a minha pele. A pessoa respirava tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração batendo contra a minha nuca. Fui empurrada até a parede. Niragi.
– Você foi uma garota má lá na piscina. – o homem sorriu. – Acho que você precisa aprender uma lição.
– Não.
– É só o que sabe dizer? Não? Vamos ver se vai continuar dizendo isso quando estiver na minha cama.
– Cai fora! – gritei no meio de toda a barulheira tentando me livrar dos braços dele. Niragi fez mais força para me deixar parada contra a parede.
– Sugiro que você a deixe ir, Niragi. – uma voz familiar soou ao meu lado no meio de toda confusão.
O menino loiro de capuz.
Digo que não é fácil nem tranquilo pensar em um jogo desse tipo...
Comecei a escrever esse capítulo as 4:13 da manhã e terminei as: 5:38
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