12.


Alyssa desceu as escadas com pressa, cada passo reverberando pela casa silenciosa. Enquanto descia, seus dedos ágeis prendiam os cabelos em um rabo de cavalo alto, os movimentos distraídos acompanhados por murmúrios inaudíveis, como se conversasse consigo mesma. A blusa curta lilás moldava-se suavemente à sua pele clara, enquanto o short jeans desbotado parecia uma escolha apressada, mas ainda assim, combinava perfeitamente com sua aura despreocupada. Ao alcançar o último degrau, ajeitou o elástico do cabelo com um puxão firme e continuou andando até encontrar seu pai.

— Pai! — gritou, girando rapidamente a cabeça em busca de alguma resposta.

Ela vasculhou os cômodos com um olhar inquieto até esbarrar em Rose, que estava organizando alguns papéis na sala de estar.

— Tem um homem ligando pra você de Nova York. Diz que é importante. — informou Rose, cruzando os braços de maneira casual. — Você devia voltar a ser modelo.

Alyssa arregalou os olhos e fez um gesto exagerado de horror.

— Rose, se alguém de lá perguntar de mim de novo... — ela deu um passo em direção à mulher e inclinou a cabeça dramaticamente. — Fala que eu morri, sério. Com direito a funeral e tudo.

Rose arqueou uma sobrancelha e fez uma careta que indicava claramente o quanto achava aquilo ridículo, mas Alyssa já estava saindo do cômodo.

— Pai! — chamou novamente, subindo a voz um pouco ao encontrar a porta do escritório entreaberta.

Ward levantou os olhos do notebook, um sorriso gentil surgindo em seu rosto ao ver a filha.

— Oi, meu amor. — disse ele, se levantando e beijando sua testa com carinho.

— Precisamos conversar. — afirmou Alyssa, colocando as mãos nos quadris de forma teatral.

Ward franziu o cenho, o sorriso desaparecendo.

— Aconteceu alguma coisa, filha?

— Então, eu e Marcus estávamos no cemitério, né? Aquela vibe creepy normal de um cemitério, mas aí... Tinha uma figura encapuzada. — Alyssa fez um gesto amplo, tentando desenhar a cena com as mãos. — Tipo, coisa de filme, sabe? Estava lá parado, encarando a gente. Muito suspeito, pai. Muito.

Ward se ajeitou na cadeira, o semblante ficando mais sério.

— Tinha alguma coisa para sua mãe além dos presentes que vocês levaram?

Alyssa abriu a boca e fechou de novo, pensativa, antes de finalmente responder:

— Ah, sim, tinha uma carta lá.

O rosto de Ward mudou imediatamente. Ele parecia preocupado, como se aquela informação tivesse confirmado algo em sua cabeça.

— O que tinha na carta? — perguntou ele, a voz um pouco mais grave.

— Eu não sei! — exclamou Alyssa, jogando as mãos para o alto em frustração. — Estava em francês! Quem escreve cartas em francês hoje em dia, aliás? Que tal mandar um e-mail, hein?

— E onde está essa carta, Alyssa?

— Com o Marcus.

Ward suspirou, passando a mão pelos cabelos enquanto se levantava da cadeira.

— Quero que traga essa carta para mim imediatamente.

Alyssa estreitou os olhos, cruzando os braços enquanto o encarava.

— Pai, tem alguma coisa pra me contar?

Ward hesitou por um momento, mas balançou a cabeça.

— Não, filha. Não se preocupa com isso, tá bom? Devia se preocupar com seus irmãos, estão passando por momentos difíceis.

Alyssa bufou, fazendo uma expressão exagerada de desgosto.

— Eles já nasceram em momentos difíceis, né, pai?

Ela virou as costas e saiu do escritório, murmurando algo como "grande ajuda" enquanto batia levemente a porta ao passar.

Alyssa cruzou o quintal rapidamente, os passos marcados pela impaciência que era quase sua marca registrada. Ao se aproximar da piscina, avistou Marcus nadando de um lado para o outro. Ela parou por um instante, cruzou os braços e suspirou alto para anunciar sua chegada.

— Marcus. — chamou, inclinando a cabeça e estreitando os olhos como se já esperasse que ele fosse enrolá-la.

O irmão ergueu a cabeça acima da água e nadou até a borda, apoiando os braços com uma expressão brincalhona.

— E aí, irmãzinha, estava com saudades? — provocou, exibindo um sorriso que só ele achava charmoso.

— Eu te vejo todo dia, não tenho saudade não. — respondeu Alyssa sem hesitar, franzindo o nariz.

Marcus riu, mas logo o tom leve foi substituído pela curiosidade.

— Mas então, o que aconteceu? Me chamou em um tom sério. Descobriu alguma coisa sobre a carta?

Alyssa se aproximou mais da piscina, abaixando a voz, embora soubesse que ninguém estava ouvindo.

— Nosso pai sabe alguma coisa sobre a carta e a pessoa encapuzada, mas não quis falar nada. Ele pediu para eu entregar a carta pra ele.

Marcus arqueou as sobrancelhas, claramente intrigado.

— E você pretende entregar a carta pra ele?

— Claro que não! — Alyssa respondeu, como se a pergunta fosse a coisa mais absurda que já ouvira.

Marcus riu de leve, já acostumado com o jeito direto da irmã.

— A gente pode vasculhar e caçar parentes perdidos da família da mamãe. Talvez possam nos ajudar.

Alyssa deu um sorriso satisfeito, batendo palmas levemente.

— Boa ideia! Que bom que você usa seu cérebro para coisas úteis de vez em quando.

Marcus revirou os olhos, mas sorriu, acostumado às alfinetadas carinhosas da irmã.

— Mas outra coisa, por que não tenho visto o Rafe em casa? O que ele anda aprontando? — perguntou Alyssa, inclinando a cabeça.

Marcus hesitou por um momento, mas decidiu falar.

— Você anda tão preocupada com aqueles Pogues que não percebeu que papai expulsou nosso irmão.

Alyssa arregalou os olhos, o tom de preocupação surgindo imediatamente.

— Como é que é? Por que ele expulsou o Rafe? O que ele fez?

Marcus balançou a cabeça, tentando parecer indiferente, mas claramente havia algo mais.

— Muitos motivos, mas a gota d’água, de acordo com o papai, foi ver o Rafe roubando ele.

Alyssa bufou, passando as mãos pelo rosto como se tentasse digerir a informação.

— Olha, você vai ter que ajudar o Rafe.

Marcus levantou as mãos em um gesto defensivo.

— Esse trabalho é seu. Você que tem essa mania de querer ajudar todos os seus irmãos.

Alyssa inclinou a cabeça, um sorriso sarcástico surgindo em seus lábios.

— Marcus, presta atenção, eu tenho muitos assuntos para resolver agora, e você e o Rafe estão na fase de fazer apenas merdas. Então, sua consequência é ajudar o Rafe.

Marcus abriu a boca para retrucar, mas Alyssa foi mais rápida, levantando o dedo para calá-lo.

— Ah, nem adianta! Eu já ganhei. — Afirmou Alyssa sorrindo.

— Só não esquece que temos que descobrir sobre a carta, tá? Nossa família em primeiro lugar, vê se coloca isso na sua cabeça. — Respondeu Marcus em um tom mais sério.

Antes que ela pudesse responder, ele deu um leve peteleco na testa dela e mergulhou novamente, encerrando a conversa.

Alyssa revirou os olhos, murmurando algo sobre “irmãos problemáticos”, e saiu em direção ao carro. O motor ronronou quando ela deu partida e dirigiu até o Castelo, a casa de John B, o coração acelerado enquanto pensava em tudo o que precisava resolver.

———

Alyssa entrou na casa de John B, os olhos rapidamente pousando na figura de Kiara inclinada sobre o maçarico, derretendo o ouro com precisão. A cena parecia algo saído de um filme de ação de baixo orçamento, mas para ela, era só mais um dia comum com aquele grupo. Antes que pudesse dizer algo, JJ apareceu ao seu lado, carregando aquele sorriso de quem sempre tinha uma piada na ponta da língua.

— Aposto que você já fez aula disso na sua escola Kook — disse JJ, com aquele tom desafiador que ele reservava especialmente para Alyssa.

Alyssa virou para ele, levantando uma sobrancelha.
— Você fica pensando nas coisas que eu faço na escola agora, JJ? Que fofo. Mas você devia parar de pensar em mim, sério. Tá ficando obsessivo. — Ela deu dois tapinhas zombeteiros no ombro dele, um sorriso provocador se formando em seu rosto.

JJ soltou uma risada irônica, balançando a cabeça.
— Você é insuportável, sabia?

— Obrigada. — Alyssa respondeu, como se fosse o maior elogio do mundo, antes de se afastar para se sentar ao lado de Pope.

Enquanto ela se afastava, JJ ficou parado por um momento, observando-a com um sorriso pequeno e inconsciente, como se estivesse se perguntando por que, no meio de tudo, Alyssa conseguia tirá-lo do sério e ao mesmo tempo deixá-lo tão fascinado.

— Cara, você tem que parar de olhar pra ela assim. — disse John B, batendo no ombro de JJ.

— Olhar pra ela como? Tá doido cara?— JJ rebateu, fingindo não entender enquanto cruzava os braços e virava o olhar para Kiara, agora concentrada no ouro derretido.

John B deu de ombros com um sorriso. — Sei lá, como se ela fosse um tesouro perdido que você procurou por anos e finalmente encontrou.

— Cala a boca, cara. — JJ balançou a cabeça como se aquilo fosse ridículo de se escutar.

Mais tarde, o grupo seguiu para a Kombi e partiram para a loja de penhores.

Quando a Kombi parou em frente à loja de penhores, JJ foi o primeiro a se levanta. Ele puxou a porta lateral com força, o metal rangendo de maneira quase dramática, e saltou para fora.

— Mandou muito no derretimento, Dr. Frankenstein. — JJ comentou, lançando um olhar debochado para Kiara, que descia da Kombi logo atrás dele.

Kiara rolou os olhos, cansada.
— Até parece que você faria melhor.

— Eu teria feito melhor. Fiz aula de solda. — JJ respondeu com um tom de orgulho exagerado, como se isso fosse um argumento inquestionável.

— Ah, você fez? — Kiara perguntou, estreitando os olhos com uma mistura de desafio e diversão.

— Sim.

— Quando? Hein? — Kiara insistiu, cruzando os braços.

— Oi, oi, oi... calma, tá bom? — John B se intrometeu, tentando manter a paz enquanto os dois trocavam farpas. — Foco na missão, gente.

JJ levantou a mochila e balançou para o grupo.
— Fácil pra você falar, John B. Não é você que tem que vender isso. — Afirmou JJ enquanto mostrava o ouro.  — Por que eu tenho que fazer isso, hein?

— Porque você mente melhor. — Pope respondeu diretamente, como se fosse óbvio.

Alyssa soltou uma risada curta.
— Olha, não posso discordar. Você é praticamente um Picasso da enganação, só que com menos classe e mais sarcasmo.

JJ revirou os olhos e entrou na loja, seguido pelo restante do grupo.

——


Assim que JJ abriu a porta da loja, todos começaram a agir como se fossem clientes normais. John B e Pope examinava uma vitrine com relógios baratos, Kiara, Maddy fingia interesse em colares de pérolas falsas, Sarah apenas analisava as coisas nas prateleiras e Alyssa... bem, ela pegou um globo de neve e começou a sacudi-lo, murmurando algo sobre como seria perfeito para decorar a Kombi.

— Boa tarde, senhora. — JJ começou, já colocando a mochila sobre o balcão. — A senhora compra ouro?

— É o que tá na placa, não é? — A mulher respondeu.

— Então espero que compre muito, porque vai ficar impressionada agora. — JJ abriu a mochila e tirou uma peça de ouro derretido, colocando-a no balcão como se fosse a coisa mais valiosa do mundo.

A mulher deu uma risada curta.
— Hoje em dia nada me impressiona, mas tenta aí.

JJ sorriu confiante.
— O que acha de uma maçã de ouro?

A mulher pegou a peça, analisando-a com cuidado antes de balançar a cabeça.
— Não é verdadeiro.

— Não é verdadeiro? — JJ fez uma cara de ofendido, mas claramente estava adorando o jogo.

— Não pode ser.

— Então sente só o peso. — JJ insistiu, cruzando os braços.

A mulher iluminou a peça, examinando-a com atenção.
— Tungstênio pintado.

— Tungstênio? Sério? Tá, por que você não vê como isso é macio? — JJ rebateu.

Alyssa, que estava próxima de Sarah, sussurrou:
— Macio? Ele tá vendendo ouro ou tentando convencer a mulher de que isso é um travesseiro?

Sarah mordeu o lábio para não rir.

A mulher continuou analisando a peça.
— Parece que alguém tentou derreter isso aqui.

— A minha mãe. — JJ respondeu imediatamente. — Ela tinha um monte de joias pela casa e achou que seria melhor derreter tudo, pra 'consolidar'. — Ele fez aspas no ar, arrancando uma risada abafada de Alyssa, que virou de costas para disfarçar.

— Consolidar? Que palavra é essa? Parece um comercial de banco ruim. — Alyssa murmurou para si mesma.

A mulher pesou o ouro na balança.
— Três quilos e meio? Haja brinco.

JJ mudou o tom, agora mais sério.
— Tá, pra ser sincero, senhora, é bem difícil ver minha mãe se destruir com o Alzheimer.

A mulher fez um som de reconhecimento e saiu para falar com seu chefe.

Enquanto esperavam, Alyssa cutucou Kiara.
— Alzheimer? Sério? Isso foi tão baixo que eu quase senti o impacto. Mas, ei, crédito pra ele pela atuação.

Kiara deu uma risada contida.


——

Quando a mulher voltou, foi em direção ao balcão e logo se pronunciou.

— Então, falei com meu chefe, e isso é o que eu posso fazer. — Ela colocou um papel no balcão.

— Só cinquenta mil? Acha que eu entrei aqui sem saber o preço de mercado? Senhora, eu sei que isso custa 140 mil, pelo menos. – JJ rebateu.

— Ah, querido, mas isso é uma loja de penhores, não Zurique.

JJ estreitou os olhos.
— Noventa, ou eu me mando.

— Setenta. É a metade, e eu não faço perguntas sobre onde conseguiu isso.

JJ olhou para John B, que fez um discreto sinal de aprovação.

— Eu vou precisar em notas grandes, por favor.

A mulher deu uma risada curta.
— Ah, tem um porém. Não tenho tudo isso em espécie aqui. Posso fazer um cheque.

— Cheque não, senhora. Eu quero em dinheiro. É o que a placa diz: pago em dinheiro. Então é isso que eu quero.

— Tá, então vai ter que ir ao depósito. Tenho o dinheiro lá. Pode ser assim?

JJ estreitou os olhos, desconfiado.
— Onde fica o depósito?

Antes que a conversa continuasse, Alyssa se inclinou para Pope e murmurou.

— Alguém mais tá sentindo o cheiro de cilada? Ou é só o perfume que a mulher tá usando?

— Fala mais baixo, a mulher pode te escutar. – Afirmou Pope.


———

A Kombi sacolejava na estrada esburacada, a lataria rangendo a cada solavanco. O cheiro de maresia misturado com o couro velho dos bancos deixava o ar pesado, mas ninguém parecia ligar. O foco era o destino: um depósito na tal rua Resurrection, onde supostamente havia dinheiro fácil.

Pope olhava pela janela, franzindo a testa. — Eles... guardam dinheiro aqui?

JJ sorriu de canto, se encostando no banco. — Foi o que ela disse. — Depois de um segundo, repetiu em tom zombeteiro: — Foi o que ela disse.

Pope revirou os olhos. — Para.

— Eu nunca nem ouvi falar dessa tal rua com nome suspeito. — Alyssa cruzou os braços, lançando um olhar desconfiado para a paisagem cada vez mais deserta.

— É que você é rica. — JJ rebateu sem hesitar.

Kiara, do lado oposto da Kombi, arqueou a sobrancelha. — Você também não conhece.

Alyssa sorriu, erguendo as mãos num gesto vitorioso. — Finalmente, alguém que entende a injustiça desse grupo.

Maddy olhava ao redor, o olhar atento. — Nessa área aqui só tem mato.

— Tá, não é porque só tem mato que não pode ter... Tipo... — JJ começava a argumentar quando um som cortou o silêncio.

Sirene.

Todos se viraram ao mesmo tempo e viram o carro se aproximando.

— Polícia? Aqui? — Kiara murmurou.

JJ bateu a cabeça contra o banco. — Meu Deus! Tá de brincadeira.

Sarah piscou, alarmada. — O que a gente fez de errado?

John B, sem perder tempo, olhou para JJ. — Esconde isso!

JJ agarrou a barra de ouro e começou a procurar um lugar para enfiá-la.

— Você trouxe a arma? — John B perguntou, a voz tensa.

JJ bufou. — Não tá? Vocês encheram o saco pra deixar na sua casa.

Kiara suspirou, aliviada. — Graças a Deus!

Maddy, sem dizer nada, ajudou JJ a esconder o ouro. Mas, antes que terminassem, tudo desmoronou.
Uma arma foi apontada para John B.

— Todo mundo com as mãos pra cima. Agora. — A voz do homem mascarado era grave, carregada de ameaça. — Quero ver todas as mãozinhas pra cima.

John B obedeceu de imediato, descendo da Kombi com cautela.

— Fora do carro, todo mundo! Agora! — O homem berrou.

Sem escolha, o grupo começou a sair, um por um.

Quando Alyssa pisou no chão, sentiu o olhar do homem fixo nela. Ele hesitou, os olhos se estreitando como se tentasse reconhecer alguém.
Ela sentiu o estômago revirar. Conhecia aquele olhar. Mas de onde?
Antes que pudesse processar, JJ se colocou na frente dela, protegendo-a.

— Olha, cara, a gente tá duro… — JJ começou, mas o homem não quis ouvir.

— Cala a boca! — Ele gritou, apontando a arma diretamente para o loiro.

JJ ergueu as mãos, recuando devagar. — Tá legal.

— No chão! Todo mundo no chão! — O homem ordenou, e todos obedeceram.
De rosto colado ao asfalto quente, Alyssa tentava lembrar de onde conhecia aquele cara. Foi quando ouviu Sarah soluçar, olhando para John B.
Ele estava se levantando.

— Fica todo mundo assim, valeu? — O homem avisou, dando passos para trás em direção à Kombi.

Mas John B não ia deixar barato. Num movimento rápido, avançou até o carro do homem e se escondeu lá até o homem aparecer. E assim que o homem entrou no carro, John B atacou ele.

— Peguei a arma gente! — Gritou John B.

JJ foi o primeiro a reagir, correndo até os dois e acertando o homem com força. O caos se instaurou. Pope agarrou a barra de ouro, enquanto as meninas partiram para cima do agressor.

Foi quando Alyssa conseguiu arrancar a bandana do rosto do cara.
Seu coração gelou.

— Barry.

O traficante sorriu de canto, satisfeito por ter sido reconhecido.

— Eu conheço esse merdinha. Ele é traficante. — JJ cuspiu as palavras com desprezo.

— Deve conhecer meu irmão. — Sarah murmurou.

— Ele vende coca pro meu pai. — JJ acrescentou antes de acertar um soco no rosto de Barry.

John B segurou seu ombro. — Pega leve, cara.

JJ ignorou, vasculhando os bolsos do homem antes de se afastar. — Vamos embora daqui.

John B assentiu. — Só mais uma parada.

JJ se afastou, caminhando na direção da Kombi.

— Ei! — John B chamou.

JJ não parou. — Vamos ver onde esse filho da puta mora.

Alyssa olhou para Barry uma última vez antes de seguir JJ.

— Vou lembrar dessa merda! Vocês não podem se esconder de mim! — Barry gritou. — Eu sei exatamente quem vocês são!

Alyssa revirou os olhos. — Uau, que vilão dramático. Deixa eu adivinhar: vai jurar vingança eterna e dizer que "isso não acabou"?

Logo em seguida, todos entraram na Kombi.

JJ dirigiu até a casa de Barry, parando bruscamente.

— Bem-vindos à Cracolândia da ilha. — Sarah comentou, observando o cenário decadente ao redor.

John B olhou desconfiado. — Cara, por que a gente tá aqui?

JJ abriu a porta, saindo. — Só vai levar um segundo.

Maddy riu e seguiu o irmão.

Kiara suspirou. — Alguém devia ir lá. Os Maybank juntos sozinhos nunca dá certo.

John B bufou. — Tá, eu vou.
E com isso, seguiu os irmãos.

Alyssa, ainda sentada na Kombi, soltou um longo suspiro. — Essa história começou com "vamos pegar um dinheirinho fácil" e agora estamos invadindo a casa de um traficante. Eu só queria deixar isso registrado.

Pope olhou para ela. — E ainda assim, você vai junto, né?

Alyssa sorriu. — E perder essa confusão? Nem morta.


———

O ar estava carregado. O clima, tenso.
JJ saiu da casa de Barry ao lado de Maddy, um sorriso satisfeito no rosto, como se tivessem acabado de passar por uma aventura épica e saído vitoriosos. Ele ergueu a bolsa com dinheiro, balançando-a no ar enquanto se aproximava do grupo.

— Tá legal, pessoal, aqui tem cinco mil pra cada pra recompensar o que ele fez a gente passar. — Ele anunciou, jogando a bolsa no capô da Kombi.

Maddy deu de ombros, pegando a parte dela sem hesitação.
— Justo.
Mas, claro, nem todos estavam na mesma vibe.

— Então é isso que a gente faz agora? A gente rouba traficantes? — Kiara cruzou os braços, encarando JJ.

— Esse tal de Barry vai descobrir, e ele vai vir atrás da gente. — Sarah alertou, preocupação evidente no rosto.

— É, vai sim, não é hora de começar com loucura. — Pope acrescentou, sério.

JJ revirou os olhos, rindo sem humor.
— Foi legal ter uma arma apontada pra cabeça? — Ele retrucou, o tom carregado de sarcasmo.

John B se aproximou, tentando manter a calma.
— Relaxa.

Mas JJ não estava paciência para ser controlado. Ele apontou para John B, o olhar firme.

— Tava apontada bem pra sua.

John B apertou a mandíbula.
— Olha só, a gente tem que pegar o ouro, tá bom? Me dá essa merda, vamos devolver.
Ele avançou para pegar a bolsa, mas JJ o empurrou contra a Kombi, segurando-o ali, olhos nos olhos.

— Você se acha durão, né? Vai fazer o que quando ele vier atrás da gente? — John B questionou, encarando JJ de volta.

JJ o soltou, passando a mão pelo cabelo, exasperado.

— Eu vou dar um soco na garganta.

John B balançou a cabeça.

— Ah, é uma ótima ideia, JJ.

— Eu não vou devolver isso. — JJ afirmou, cruzando os braços.

— Gente, já deu, né? Vamos só voltar pro castelo e focar no ouro. — Alyssa interveio, gesticulando dramaticamente.

JJ apontou para ela, finalmente alguém que fazia sentido.
— Pela primeira vez, eu concordo com você, Alyssa.

Ele entrou na Kombi, sentando-se com os pés apoiados no painel. Alyssa ia entrar também, mas sentiu Kiara segurando seu braço. Ela ergueu uma sobrancelha.

— O que foi? Quer um abraço? Porque eu já aviso que sou péssima nisso.

JJ notou que Maddy entrou na Kombi, mas o resto do grupo continuava parado, hesitante. Ele bufou e saiu de novo.

— Vão entrar ou não?

O silêncio foi desconfortável.

— Que foi?

John B cruzou os braços.
— Chega das suas merdas.

JJ riu sem humor, olhando para todos eles.
— Das minhas?

— É, você aponta arma pras pessoas. — Kiara acusou.

Alyssa ergueu as mãos.
— Opa, opa, opa, vamos lá! Antes de qualquer coisa, só queria confirmar uma coisa: eu tô no mesmo universo que vocês? Porque, sério, não precisa disso gente.

— Age como um maníaco. — Pope acrescentou.

Alyssa arregalou os olhos.

JJ, que já estava no limite, explodiu.
— Como assim, Pope? Eu me entreguei no seu lugar, tá? Sabe quanto de grana eu devo por sua causa?

— Eu vou te pagar, e eu nem te pedi pra fazer isso.

— Mas eu fiz. Eu me vinguei, bem aqui e agora.

O silêncio reinou novamente. Então JJ pegou suas coisas e começou a se afastar.

— Querem saber? Eu vou embora.

Alyssa sentiu algo apertar no peito.
— JJ! — Ela deu um passo à frente, mas Sarah segurou sua mão.

— Deixa ele ir. — Kiara afirmou.

Alyssa olhou para elas, incrédula.
— Sério? Tá, beleza, então vamos deixar nosso amigo que, claramente, está num estado mental ótimo, vagar por aí sozinho e possivelmente fazer algo idiota? Porque sim, essa é a solução mais racional.

— Isso é uma palhaçada. — Maddy resmungou antes de sair correndo atrás do irmão.

Alyssa suspirou, passando a mão no rosto.
— Ok, show de bola, galera. Próximo passo? Abandonar mais alguém? Vamos fazer uma votação?

Ninguém respondeu.

— Ah, maravilha.
Ela bufou e entrou na Kombi, cruzando os braços. Esse grupo realmente não sabia lidar com situações críticas.


———


O restaurante dos pais de Kiara estava relativamente tranquilo naquela noite, com o cheiro de frutos do mar no ar e a iluminação amarelada dando um ar aconchegante ao ambiente. O grupo estava reunido em uma das mesas do fundo, mas ainda faltavam os irmãos Maybank. Alyssa tamborilava os dedos na mesa impacientemente.

— Olha, ele vai mudar de ideia, tá? Ele só tá sendo JJ. — John B garantiu, apoiando os cotovelos na mesa.

— Acha que ele vai pra casa? — Alyssa indagou, inclinando a cabeça para o lado com um olhar cético.

— Zero por cento de chance do JJ ir pra casa. — Pope respondeu sem hesitação.

— E a Maddy? Acham que ela vai? — Kiara perguntou, jogando os cabelos para trás.

— Ela tem que trabalhar hoje, então acho que não vai faltar. — John B afirmou.

Alyssa bufou, cruzando os braços.

— Que inferno, viu? Se eu tivesse uma moeda pra cada vez que um de nós some ou tem algum compromisso inconveniente no meio de um plano super perigoso e potencialmente ilegal, eu teria... Bom, não sei, nunca fui boa em matemática.

— Tá, é perigoso demais penhorar aos poucos, então, a nossa melhor chance é descer lá e tirar tudo, trazer de uma vez só e guardar sei lá, em um cofre seguro, não sei. Só até a gente achar alguém que não roube a gente. — Pope explicou, tentando ignorar a fala dramática de Alyssa.

— Tá, eu vou pensar nisso hoje à noite, posso preparar tudo e a gente volta lá de manhã. — Acrescentou Pope.

— Tá, tá legal. Manda ver. — John B concordou, suspirando.

Sarah, que até então estava quieta, resolveu intervir.

— E o seu lance com o meu pai? — Ela perguntou, estreitando os olhos para o namorado.

Alyssa ergueu as sobrancelhas e abriu um sorriso sacana.

— Pois é, John B, esqueceu da manhã com o sogrão? — Ela provocou, batendo de leve no braço dele.

John B fechou os olhos e suspirou pesadamente.

— Merda.

— Que lance? — Pope perguntou, desconfiado.

— Eu tenho que ir pescar com o Ward. — John B explicou.

Pope soltou um longo suspiro, cruzando os braços.

— Não vai buscar o dinheiro porque vai... matar peixe? — Kiara perguntou, incrédula.

— Olha, eu tenho que ir. — John B insistiu.

— Dispensa, são 400 milhões em ouro! — Pope rebateu, indignado.

— Inventa alguma coisa. — Kiara sugeriu.

John B balançou a cabeça, claramente frustrado.

— Eu tenho que ir, tá legal? Se não fosse por ele, eu ia pra um lar temporário.

Alyssa observou sua irmã Sarah sorrindo discretamente ao ouvir isso, e por mais que tentasse resistir, não pôde evitar soltar um pequeno sorriso também. Ver Sarah feliz com John B era... estranho, mas de um jeito bom.

— E é melhor a gente fazer isso à noite. — John B acrescentou.

— Tá, vai pescar. — Pope disse com um tom resignado.

Alyssa deu de ombros.

— Bem, o JJ já vai ter aparecido até lá, né? Então acho que fica justo.

Ela logo encostou na cadeira e pegou uma batata frita do prato de Kiara, que lhe lançou um olhar de repreensão.

— Quê? Isso é estresse emocional. Eu preciso de comida para lidar com essa palhaçada.

Kiara apenas revirou os olhos, e o grupo voltou a discutir os detalhes do plano, enquanto Alyssa tentava ignorar a leve sensação de ansiedade que começava a crescer no peito.




Alyssa desceu da caminhonete junto com Kiara e Pope, os tênis afundando levemente na areia do quintal de John B. Ela puxou o capuz da blusa sobre a cabeça e esticou os braços, sentindo o cansaço do dia pesar em seus músculos.

— A gente tem que terminar antes da minha entrevista pra bolsa amanhã. — Pope avisou, a voz cheia de determinação.

— Tá, então vamos manter o foco. — Kiara respondeu.

Alyssa suspirou, já se preparando para se concentrar, quando algo à sua direita chamou sua atenção.

Luzes.

Muitas luzes.

Piscando, iluminando as árvores, refletindo no chão como se tivessem entrado em um show bizarro de Natal. E bem no centro de tudo aquilo, uma jacuzzi.

Com JJ dentro.

De óculos escuros.

Bebendo champanhe.

Alyssa parou no meio do caminho, arregalando os olhos.

— Aí, o que é aquilo? — perguntou, chamando a atenção de Kiara e Pope.

— Que merda é essa? — Kiara ecoou, franzindo a testa.

Os três se aproximaram devagar, como se estivessem investigando uma cena de crime.

JJ ergueu a garrafa de champanhe, relaxado, como se estivesse no paraíso.

— Tem um jato d’água direto na minha bunda agora.

Alyssa abriu a boca, mas nada saiu por um segundo.

Então, ela piscou.

E riu.

— Isso explica tanta coisa… e, ao mesmo tempo, nada.

JJ virou o rosto para ela, abaixando os óculos escuros apenas o suficiente para que seus olhos a encarassem diretamente.

— Ah, que surpresa. Você aqui, arruinando minha vibe.

— Ah, que surpresa. Você aqui, sendo uma decepção financeira.

JJ sorriu de canto, o típico sorriso provocador que sempre a irritava. Ou pelo menos, que ela fingia que irritava.

— Gostou, princesa? — perguntou, oferecendo um dos copos de champanhe para ela.

Alyssa o encarou, os olhos semicerrados. Eles sempre faziam isso. Trocas de farpas, provocações que todo mundo achava que eram ódio puro, mas que no fundo… eram outra coisa.

Ela pegou o copo da mão dele.

— Depende. Se eu aceitar, significa que agora sou cúmplice da sua burrice?

— Significa que agora você faz parte da melhor decisão que eu já tomei.

Alyssa bufou, tentando ignorar a maneira como o coração dela acelerou um pouquinho.

Pope, porém, não estava nem um pouco impressionado.

— O que você fez, JJ?

— Onde você comprou isso? E tão rápido? — Alyssa acrescentou, sem perder a oportunidade de cutucar.

JJ deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— Ahh... então, com os geradores, a gasolina, e opa, a entrega rápida... Eu acho que foi tudo.

O silêncio foi imediato.

Pope, Kiara e Alyssa se entreolharam antes de voltarem a encará-lo.

— Gastou tudo? — Pope perguntou, incrédulo.

Alyssa soltou uma risada nasal.

— Isso sim é ser economista.

— Gastou todo o dinheiro em um dia?! — Pope insistiu, sua paciência chegando ao limite.

JJ se recostou na jacuzzi, relaxado.

— É, eu esvaziei os bolsos de uma vez, mas olha só pra isso, gente. A melhor massagem terapêutica com jatos d’água, foi o que me disseram.

Kiara cruzou os braços, claramente irritada.

— JJ, o que foi? Será que eu não posso ter um pouquinho de luxo na vida? — ele retrucou, tirando os óculos. — Qual é, a gente vive contando centavos por aí… qual é… a gente só vive uma vez, não é? Chega dessa irritação, entra logo no cu do gato, vamos lá.

Alyssa piscou, confusa.

— No quê?

— No cu do gato, é o nome da banheira.

Ela passou a mão pelo rosto.

— Eu não sei o que é pior. O nome ou o fato de que agora isso faz sentido.

JJ se inclinou e apertou um botão. As luzes da jacuzzi começaram a piscar como um globo de festa.

— É, pois é, modo discoteca. É isso aí, baby.

Pope soltou um suspiro pesado.

— Tá de sacanagem? Podia ter pago a indenização.

— Ou podia ter doado pra qualquer caridade. — Kiara acrescentou.

— Ou podia ter ajudado a comprar material pra terminar de tirar o resto do ouro do poço. — Pope completou.

Alyssa cruzou os braços, observando JJ. Algo estava errado.

E então ele se levantou.

Os hematomas pelo abdômen dele ficaram visíveis sob a iluminação colorida.

Alyssa prendeu a respiração.

Pope e Kiara congelaram ao seu lado.

JJ passou a mão pelos cabelos, rindo sem humor.

— Eu comprei essa banheira pros meus amigos. Pros meus amigos... — sua voz falhou. — Quer saber? Amigos não. Eu comprei isso aqui pra minha família.

Alyssa sentiu o peito apertar.

Ele olhou diretamente para ela.

E foi como um soco no estômago.

Eles brigavam, se provocavam, fingiam que se odiavam. Mas, naquele momento, não tinha mais teatro. Só JJ, completamente exposto, sem as piadas para esconder a verdade.

Alyssa engoliu em seco.

— JJ…

Ele balançou a cabeça.

— Não, não fica emotiva não, tudo bem.

Isso foi o suficiente.

Antes que pudesse pensar, Alyssa entrou na jacuzzi e o puxou para um abraço.

JJ hesitou por um segundo, mas depois seus braços envolveram a cintura dela com força. Sua cabeça caiu contra o ombro dela, e Alyssa sentiu seu coração disparar — não por nervosismo, mas porque JJ estava tremendo.

— Eu não consegui… eu não aguento mais ele… Eu ia matar ele. — JJ murmurou contra sua pele.

Alyssa fechou os olhos com força, tentando ignorar as lágrimas que ameaçavam surgir.

— Tá tudo bem. Eu sei. — sua voz saiu suave, enquanto sua mão subia automaticamente para os cabelos dele, passando os dedos por entre os fios bagunçados.

Ela sentiu JJ apertá-la mais contra ele.

E foi nesse instante que Alyssa percebeu.

Não importava o quanto eles fingissem se odiar. Não importava quantas provocações trocassem.

No fim das contas, ela nunca conseguiria deixá-lo cair.

Logo depois, Kiara e Pope entraram na jacuzzi também, envolvendo JJ em um abraço coletivo.

— Eu só quero fazer a coisa certa. — JJ sussurrou, a voz falhando.

Alyssa respirou fundo, mantendo os dedos nos cabelos dele.

Alyssa nunca foi do tipo sentimental, especialmente com JJ. Eles tinham um histórico de provocações e brigas, sempre fingindo que se odiavam. Mas ali, naquele momento, vendo JJ vulnerável, machucado e tentando segurar as lágrimas, todas as barreiras que ela mantinha erguidas simplesmente desmoronaram.

Quando ela disse "Eu sei... Eu sei...", sua voz saiu suave, quase um sussurro. Não era apenas uma resposta automática, era uma tentativa genuína de acalmá-lo, de fazê-lo sentir que não estava sozinho. Ela não sabia exatamente como consertar tudo, mas sabia que, pelo menos naquele instante, o mínimo que podia fazer era estar ali para ele. E JJ, por mais que tentasse esconder, se agarrou a isso como se fosse a única coisa que o mantinha de pé.




᭪☀️🌊 ݇01: Muitas emoções para apenas um capítulo KKKKK.

᭪☀️🌊 ݇02: O que estão achando? Gostaram desse capítulo?

᭪☀️🌊 ݇03: Tô postando muitos edits dessa fanfic no tik tok, a conta tem o mesmo nome daqui. ( Kietzxd)

᭪☀️🌊 ݇04: Desculpem a demora para publicar, tô meio enrolada esses dias mas vou tentar publicar capítulos com mais frequência novamente.

᭪☀️🌊 ݇05: Eu simplesmente estou amando desenvolver Alyssa e JJ. E esse capítulo foi cada tristeza né? Cadê a felicidade? KKKKKKK.

᭪☀️🌊 ݇06:  Muito obrigada se você leu até aqui!  Não se esqueçam de votar e comentar pra mim saber o que vocês estão achando da fanfic. Feliz ano novo para todos!! Beijos e até o próximo capítulo <3


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