10.
A noite estava quente, iluminada apenas pelo brilho da fogueira que estalava de forma ritmada. As chamas projetavam sombras sinuosas nas árvores ao redor, criando um ambiente tão misterioso quanto o assunto que estava prestes a ser discutido.
O grupo estava reunido em um círculo improvisado. Pope olhou ao redor, claramente incomodado, e quebrou o silêncio:
— Aí, gente, meu pai vai me matar, então sobre o que é a reunião obrigatória? — Ele se sentou ao lado de Kiara, cruzando os braços.
John B e JJ trocaram olhares cúmplices, o que imediatamente deixou Pope, Kiara, Maddy e Alyssa confusos.
— Lá vem vocês dois com essas trocas de olhares enigmáticos. Querem compartilhar com a classe ou estão ensaiando uma peça? — Alyssa provocou, inclinando-se para frente com um sorriso zombeteiro.
JJ ignorou o comentário dela e apontou para John B.
— Melhor você contar antes que seja fisgado.
John B respirou fundo, como se estivesse prestes a revelar o maior segredo do mundo.
— Tão prontos pra isso?
— Para de enrolar e fala logo — reclamou Maddy, impaciente.
John B se levantou, colocando as mãos nos quadris dramaticamente.
— Então... o ouro não afundou no Royal Merchant.
Pope soltou uma risada descrente.
— Meu Deus, vai começar outra vez.
— Não, aí, escuta ele, tá? — defendeu JJ, apontando para John B.
— Tava aqui o tempo todo... — John B fez uma pausa exagerada, olhando ao redor como se esperasse aplausos. — Na ilha.
Alyssa arqueou as sobrancelhas, soltando um assobio baixo.
— Uau, então estava literalmente debaixo do nosso nariz o tempo todo? Ótimo, próxima revelação: o ouro também faz café?
Kiara arregalou os olhos.
— Meu Deus!
Pope balançou a cabeça, cético.
— Quero expressar meu ceticismo.
John B abriu os braços como um advogado defendendo seu caso.
— Tem todo direito, Pope. Mas posso, por favor, apresentar minhas provas, senhor?
— Prossiga.
John B se abaixou, puxando algo de sua mochila com um gesto teatral. Ele ergueu uma carta antiga.
— Eu tenho uma carta de Denmark Tanny.
— Quem é esse? — perguntou Kiara, confusa.
— Ele foi um escravo que sobreviveu ao Royal Merchant — explicou John B, entregando a carta para ela.
— O quê? — Kiara arregalou os olhos, enquanto Alyssa se inclinava curiosa para ver a carta.
— Os escravos não eram mencionados na tripulação do navio, mas meu pai encontrou o manifesto completo. Esse foi o grande achado — continuou John B.
Enquanto ele explicava, Kiara passou a carta para Alyssa, que a pegou com cuidado, mas não sem antes soltar um comentário.
— Beleza, se isso for tipo uma receita antiga de pão de milho, eu vou ficar muito decepcionada.
— Tanny usou o ouro do Merchant pra comprar sua liberdade. Depois, ele comprou uma fazenda.
Alyssa analisava a carta, murmurando para si mesma.
— Fascinante... intrigante... uma caligrafia que parece minha quando tô com pressa.
— Tambores, por favor, porque a fazenda dele é... — John B pediu. O grupo bateu nas pernas, entrando na brincadeira.
— Tannyhill.
— Tannyhill? — perguntou Maddy, surpresa.
— Sim! — exclamou John B, animado. — E depois disso, ele usou o dinheiro pra libertar mais escravos e vender arroz, o que deixou os fazendeiros brancos putos. Eles decidiram linchá-lo.
O grupo ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras. Alyssa foi a primeira a quebrar o clima, como sempre.
— Então, ele foi tipo o Bruce Wayne da sua época. Trágico, rico e com um segredo épico. Legal.
John B continuou.
— Antes de ser capturado, ele escreveu uma carta ao filho, se despedindo. E na última linha da carta, ele deixou um código com a localização do ouro.
— Onde? — perguntou Kiara, animada.
— "Colha o trigo na parcela 9, perto da água." Só que não tem trigo, porque trigo é código pra ouro.
Pope soltou um suspiro pesado.
— Puta merda.
JJ não conseguiu se conter e levantou John B em um abraço exagerado, girando-o levemente.
— Eu sou um gênio!
— Ei, ei, olha o fogo! Tá muito perto, vai acabar se queimando! — John B alertou, tentando se soltar.
Depois que JJ o soltou, Alyssa ergueu uma sobrancelha.
— Tá, ótimo plano, mas e aí? Temos alguma estratégia ou só estamos confiando na sorte?
John B sorriu.
— A Sarah Cameron vai trazer o mapa original hoje.
Isso foi o suficiente para Kiara cruzar os braços, claramente irritada.
entre eles aumentando a cada segundo.
— Boa pergunta! A Sarah Cameron vai vir hoje também. Ela vai trazer o mapa original...— John B começou, mas foi rapidamente interrompido por Kiara.
— Peraí, peraí. A Sarah? Por que a Sarah? — Kiara perguntou, cruzando os braços e encarando John B como se ele tivesse acabado de admitir um crime.
JJ, que estava jogado casualmente em um tronco caído, sorriu de canto.
— Essa vai ser boa — comentou ele, parecendo se divertir com o desconforto de John B.
John B levantou as mãos em um gesto defensivo.
— A Sarah me deu passe pro arquivo em Chapel Hill ontem, e foi lá que eu consegui a carta.
Kiara arqueou uma sobrancelha.
— Você foi a Chapel Hill com a Sarah?
Alyssa, que estava apoiada em um cotovelo, não perdeu a chance de provocar.
— Isso explica o sumiço misterioso de John B, o Desaparecido. Alguém avisa o Scooby-Doo.
— É... — John B começou, mas JJ interrompeu antes que ele pudesse continuar.
— Ele deu em cima dela.
— Eu não dei em cima dela — rebateu John B rapidamente.
JJ ergueu as mãos, fingindo surpresa.
— Você deu MUITO em cima da Sarah.
— Tá bom, já chega! Eu não dei em cima dela, tá? Eu só usei ela pra ter acesso.
Kiara bufou, jogando as mãos para o alto.
— A gente tem a Alyssa! Não precisava usar a Sarah pra isso.
Alyssa inclinou a cabeça, colocando a mão no peito dramaticamente.
— Agradeço o voto de confiança, mas usar é uma palavra forte, Kie. Tipo, sério, o que eu sou? Um cartão de biblioteca?
Logo depois do comentário de Alyssa, a loira encarou John B.
— Então, você, além de dar em cima da minha irmã pra ter acesso, contou pra ela sobre o tesouro? — Alyssa perguntou, piscando os olhos em falso choque.
— Eu só tava tentando entrar... — começou John B, mas Kiara o cortou novamente.
— Isso é um sim? — Kiara perguntou, sua irritação evidente.
— Eu só excluí alguns detalhes, tá? — John B respondeu, desviando o olhar.
— O quê? Você contou o nosso segredo justo pra Sarah? — Kiara estava incrédula.
Maddy, que estava até então em silêncio, levantou uma sobrancelha e deu de ombros.
— Você também contou o nosso segredo pra Alyssa, que é uma Kook e uma Cameron.
— Porque a Alyssa não é uma falsa igual à Sarah — retrucou Kiara, ríspida.
Alyssa levantou a mão, pedindo a palavra como se estivesse numa sala de aula.
— Ok, primeiro de tudo: agradeço pela defesa, Kie. Segundo, escutar tudo isso enquanto falam da MINHA irmã? Nossa, delicioso né?
— Olha, eu só tava usando ela pela informação! — John B tentou explicar.
— Ah, valeu, John B. Isso melhorou tudo. A moral da história: todo mundo usa a Sarah! Viva a Sarah! — Alyssa retrucou com sarcasmo, fazendo gestos exagerados com as mãos.
Kiara balançou a cabeça, inconformada.
— Por que eu não acredito em você, John B? A gente tem literalmente a Alyssa do nosso lado. Ela podia ter ajudado. Ou vai me dizer que você esqueceu disso?
John B suspirou, tentando manter a calma.
— Só aconteceu tudo muito rápido, tá? Eu só tô tentando enriquecer a gente! Vocês me conhecem, eu pareço o tipo de cara que curte a Sarah Cameron?
— É pra ser sincero ou pra mentir? – indagou pope.
— Ah, com certeza você parece o tipo de cara que curte a Sarah Cameron — afirmou Alyssa, tentando segurar o riso.
— Não, não, não, para — John B disse, apontando para Alyssa, que levantou as mãos como se estivesse se rendendo.
Kiara não perdeu a oportunidade de voltar ao ataque.
— Olha, eu sei que ela é irmã da Alyssa, mas não dá pra confiar nela.
— O irmão dela me bateu com um taco de golfe — Pope comentou casualmente.
— O Rafe e a Sarah são pessoas completamente diferentes, assim como a Alyssa é diferente dos irmãos dela! — John B argumentou.
— Justamente, John B. A Sarah não é igual à Alyssa — retrucou Kiara.
JJ, que estava assistindo como se fosse um programa de comédia, finalmente interveio.
— Aí, o que ela fez com você, cara?
John B revirou os olhos com a pergunta de JJ.
— Ela é tipo aquelas cobras que cospem veneno, primeiro te cega e depois... — Kiara começou, mas Pope a interrompeu.
— Péssima analogia. – Afirmou Pope.
— Me escuta, tudo o que a gente conseguir, ela vai tentar tomar! — Kiara exclamou, encarando John B. — Sem ofensas, Alyssa.
Alyssa suspirou dramaticamente.
— Ah, não se preocupe. Já tô desenvolvendo uma resistência a essas ofensas. Daqui a pouco, talvez até vire uma superpotência.
Maddy, que estava se segurando, finalmente não conseguiu mais e caiu na risada.
–––
Marcus caminhava com a postura firme e um semblante enigmático. Assim que alcançou a entrada da imponente mansão dos Cameron, ele deu de cara com Sarah, sua irmã, que segurava um papel que mais parecia um mapa antigo. Sua expressão divertida, quase travessa, atraiu o olhar desconfiado do irmão. Ele parou, cruzando os braços com a elegância calculada de quem está sempre dois passos à frente.
— Topper está te procurando, irmãzinha. — disse Marcus, um sutil tom de provocação em sua voz, enquanto um sorriso irônico surgia no canto dos lábios.
Sarah levantou os olhos do mapa e sorriu de volta, despreocupada.
— Bem, sinto muito por ele, mas estou ocupada nesse momento. — respondeu ela, com um tom casual que fazia parecer que o peso do mundo não podia alcançá-la.
Marcus riu baixinho, um riso seco, típico dele.
— Você não gosta dele, não é? — perguntou ele, como se já soubesse a resposta.
Sarah revirou os olhos e mudou a expressão para algo mais sério.
— Para com isso, Marcus.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nela, mas sem perder aquele ar blasé que sempre carregava.
— Devia terminar com ele, Sarah. Aí você ia poder ser livre. Afinal, você se sente presa, não é?
A provocação cortava como uma lâmina, mas Sarah, acostumada ao jeito do irmão, apenas deu de ombros.
— Marcus, você devia ficar de boa com a Alyssa. O meu relacionamento com o Topper, eu resolvo, tá? Pode relaxar. — disse ela, com firmeza, mas sem perder o sorriso desafiador.
Ele estreitou os olhos, como se tentasse decifrá-la.
— A Alyssa e eu tá complicado, irmãzinha. — admitiu ele, num raro momento de vulnerabilidade. — Ela te contou alguma coisa?
Sarah suspirou, com aquele jeito dela de se importar sem parecer invasiva.
— Na verdade, não. Mas se você continuar assim, vai acabar igual ao Rafe. — disse, tocando os ombros do irmão, como se quisesse sacudi-lo para tirá-lo de sua bolha. — Eu sei que o antigo Marcus ainda tá aí. Não deixa os traumas do passado te mudarem.
Ele piscou lentamente, processando as palavras. Depois, um sorriso discreto surgiu, mas não alcançou os olhos.
— Vou tentar. — disse ele, quase como se estivesse fazendo um favor.
Sarah sorriu largamente, dessa vez com afeto genuíno.
— Agora eu tenho que ir. Se cuida. — disse ela, dobrando o mapa rapidamente e se afastando com passos leves e confiantes.
Marcus ficou parado por um momento, observando-a partir. Então, com um suspiro quase imperceptível, voltou a caminhar, desta vez rumo ao seu quarto. Seus pensamentos estavam longe, mas sua expressão permanecia impecável — afinal, fraqueza não era algo que ele deixava transparecer.
–––
A Kombi seguia devagar pela estrada de terra, os faróis cortando a penumbra da noite. O som do motor parecia um ronronar preguiçoso, enquanto lá dentro o clima oscilava entre a ansiedade e o tédio. Finalmente, o veículo deu uma sacudida leve e parou. JJ foi o primeiro a reagir, empurrando a porta com entusiasmo exagerado.
— Agora, gente, indo, partiu missão! — disse JJ, já saindo quase correndo da Kombi, mas foi interrompido por John B, que continuava sentado, de braços cruzados.
— Aí, eu acho que vou fazer sozinho dessa vez... hoje. — anunciou John B, a voz carregada de seriedade.
Kiara imediatamente revirou os olhos, como se estivesse ouvindo a mesma ladainha pela milésima vez.
— Sério? — questionou JJ, tirando o boné da cabeça e o segurando como se tivesse acabado de receber um soco no estômago.
— Que foi? — John B arqueou uma sobrancelha, fingindo não entender.
— Nada não, irmão. — respondeu JJ, mas seu tom denunciava claramente o contrário.
Foi Alyssa quem quebrou o gelo, soltando um suspiro teatral enquanto se inclinava para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Ótimo, isso significa que você e minha irmã vão se pegar. Era melhor não saber disso. Isso provavelmente vai me assombrar a vida toda. — disse ela, o sarcasmo escorrendo de cada palavra.
Pope tentou segurar o riso, mas falhou miseravelmente, soltando uma gargalhada curta.
— Não é isso. Eu só não quero assustar a Sarah com a gangue em peso. — explicou John B, ignorando o comentário de Alyssa.
Kiara bufou, cruzando os braços.
— Eu não consigo entender por que a gente tá envolvendo ela nisso. — disse Kiara, a irritação evidente no tom.
— Kie, a gente não tá envolvendo ela nisso. É só uma reunião de negócios. — tentou explicar John B, mas sua justificativa não parecia estar convencendo ninguém.
Enquanto isso, JJ aproveitou o momento para fazer uma de suas palhaçadas. Ele fingiu usar o dedo indicador para imitar um movimento repetitivo, com a boca aberta, em uma alusão explícita e exagerada.
— Boa, JJ, você acabou de piorar o meu pesadelo.— disse Alyssa.
Pope e Maddy, do banco de trás, desmancharam-se em risos, enquanto John B e Kiara permaneciam sérios, presos à discussão.
— Assim que a gente conseguir o que quer, a gente larga ela. Sem ofensa, Alyssa. — disse John B, lançando um olhar de desculpas para a garota.
— Não, tô começando a me acostumar com o amor que vocês têm pela minha irmã. — rebateu Alyssa, com um sorriso de lado.
Kiara estreitou os olhos, desconfiada, apontando um dedo para John B.
— Jura que não tem nada rolando entre vocês? — perguntou, incisiva.
— Não tem nada rolando. — garantiu John B, mas sua voz parecia um pouco hesitante.
— Eu tô falando sério! Cara, ela vai enfeitiçar você. — insistiu Kiara. — Jura que nada aconteceu entre vocês?
— Eu juro. — repetiu John B, tentando soar convincente.
— 100% convincente. — murmurou Pope, com um sorriso malicioso.
— Você já mentiu melhor, hein, John B. Tem que melhorar. — provocou Maddy, rindo.
John B suspirou, balançando a cabeça.
— Enfim... Eu vou cuidar dos negócios. — disse ele, saindo da Kombi com passos decididos.
— Você vai cuidar de tudo tão bem. — JJ retrucou, fingindo um tom meloso.
— Vamos ficar aqui, nesse carro quente, enquanto tá trovejando. — Pope reclamou, olhando para o céu nublado.
John B não respondeu, apenas fechou a porta atrás de si, enquanto os outros permaneciam na Kombi.
–––
A conversa na Kombi estava animada, com JJ, Pope e Maddy debatendo acaloradamente uma questão que parecia mais importante do que o destino do grupo: quem venceria em uma luta, um crocodilo ou um tubarão. JJ estava firme na sua crença no crocodilo, enquanto Pope defendia o tubarão com argumentos quase científicos.
Alyssa, no entanto, estava distraída, apoiada na janela aberta. Foi quando ouviu um som que fez sua espinha gelar: um grito desesperado vindo de algum lugar próximo.
— Aí, escutaram isso? — indagou Alyssa, a preocupação clara em sua voz enquanto tentava captar mais alguma coisa.
Os outros pararam imediatamente, suas vozes sumindo no ar abafado. Um segundo depois, todos ouviram.
— "Por favor, alguém me ajuda!"
JJ foi o primeiro a reagir.
— Eu ouvi. — disse ele, levantando-se rápido.
— Que merda é essa? — disse Pope, já abrindo a porta da Kombi e saindo.
Mas Alyssa foi mais rápida. Sem pensar duas vezes, ela pulou para fora e disparou na direção do som, os outros logo atrás.
O grupo correu pela trilha de terra batida, o coração de cada um acelerado. Ao chegarem à clareira, a cena os paralisou: Sarah estava abaixada, chorando copiosamente, enquanto John B jazia desmaiado ao lado dela, imóvel.
— Sarah, o que aconteceu? — perguntou JJ, alarmado, enquanto dava alguns passos hesitantes em direção a ela.
Sarah levantou o rosto, os olhos cheios de lágrimas, e balançou a cabeça como se ainda estivesse tentando entender.
— Eu não sei... Ele precisa de ajuda. O Topper... ele empurrou ele. — disse ela entre soluços, sua voz trêmula.
— Ele fez o quê? — perguntou Alyssa, a raiva subindo como fogo.
— Cadê aquele infeliz? — JJ rosnou, a mandíbula travada enquanto olhava ao redor, procurando Topper como um predador.
— Chama alguém, qualquer um! — implorou Sarah, desesperada, voltando-se para John B.
JJ se virou para Pope, sua expressão intensa.
— Vai chamar ajuda, Pope. Vai! — ordenou, sua voz firme.
Sem hesitar, Pope correu em direção à Kombi, seguido por Maddy.
— Eu vou com ele! — disse ela, seus passos rápidos ecoando atrás dele.
Sarah voltou sua atenção para John B, segurando seu rosto com as duas mãos, como se isso pudesse despertá-lo.
— John B, fica comigo. — sussurrou ela entre lágrimas, inclinando-se para beijá-lo. — Por favor, não me deixa.
Kiara, observava a cena com uma expressão que misturava surpresa com decepção. Alyssa percebeu o olhar da amiga e trocou um breve olhar com ela, já sabendo o que Kiara estava pensando, mas escolheu não comentar nada sobre.
Sarah continuava chorando, seus soluços enchendo o ar pesado da noite. Alyssa, sem pensar duas vezes, abaixou-se ao lado da irmã e a envolveu em um abraço apertado.
— Vai ficar tudo bem, Sarah. A gente vai dar um jeito. — sussurrou Alyssa, sua voz suave, embora dentro dela a raiva pelo que Topper havia feito estivesse prestes a explodir.
JJ se afastou um pouco, andando de um lado para o outro, claramente tentando conter o impulso de sair correndo atrás de Topper. Ele olhou para Alyssa, que ainda segurava Sarah, e murmurou baixinho, para si mesmo.
— Esse cara tá ferrado.
A noite parecia mais escura, e o som distante de um trovão ecoou, como se o próprio céu compartilhasse da tensão que pairava sobre o grupo.
∆
No dia seguinte, Alyssa estava sentada no quintal, observando o mar. As ondas quebravam com suavidade, mas sua mente estava longe de qualquer calmaria. Ela sabia que aquele dia seria longo — Ward havia mencionado que John B ficaria em sua casa agora, e isso significava drama extra para o cotidiano já turbulento dos Cameron.
Quando percebeu o barulho de um carro parando na entrada, Alyssa suspirou, levantando-se devagar. Ela deu uma última olhada para o oceano e entrou na casa, cruzando os braços, preparada para o que viesse.
— Oi, filha. — afirmou Ward assim que a viu.
— Oi, pai. — respondeu Alyssa, sem muita emoção, mas com um sorriso leve.
Ward deu uma olhada ao redor, procurando por mais rostos conhecidos.
— Onde estão seus irmãos? — perguntou, enquanto ajeitava o relógio no pulso.
— Graças a Deus, bem longe de mim. — respondeu Alyssa, com um sorriso travesso.
Ward lançou-lhe um olhar, mas ignorou o comentário, como fazia na maioria das vezes.
— Você e Marcus têm um compromisso hoje. Não se esqueça. — disse ele, mudando de assunto rapidamente.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
— Espera, você não vai de novo? Pai, é aniversário da mamãe. — disse ela, um toque de frustração na voz.
Ward suspirou, ajustando a gravata, como se o gesto pudesse afastar a responsabilidade.
— Alyssa, eu não posso ir dessa vez.
— Como sempre... — murmurou ela, baixinho, mas alto o suficiente para que ele ouvisse.
Sem dar tempo para mais discussões, Ward seguiu em direção ao quarto onde John B ficaria, e Alyssa o acompanhou.
Assim que entraram, a cena que encontraram fez Ward parar no meio do corredor. Sarah e John B estavam rindo juntos, claramente ignorando qualquer noção de “espaço pessoal”.
— Sarah Elizabeth Cameron. — chamou Ward, em um tom firme. — Já violaram a primeira regra.
Alyssa encostou-se à parede próxima, cruzando os braços com um sorriso sarcástico.
— Mal começaram e já estão violando as regras. Que deselegante! — provocou, lançando um olhar divertido para os dois.
Sarah e John B trocaram um olhar cúmplice antes de sorrirem de leve, como se a situação não fosse séria.
— Qual a primeira regra? — perguntou Ward, apontando para a porta. — Não entrarem no quarto um do outro. É sério, isso aqui é o seu limite.
— Isso aqui é campo mimado. Sim, senhor? — continuou ele, esperando por uma resposta.
— Sim, senhor. — respondeu Sarah, meio relutante.
— Sim, senhor. — ecoou John B logo depois.
Ward olhou para Sarah, fazendo um gesto para que ela saísse.
— Sarah, me dá um minutinho com o novo prisioneiro?
— Tenta ser legal. — disse Sarah, revirando os olhos e saindo com Alyssa, que soltou um riso divertido enquanto saía de braços cruzados com a irmã.
— Será que o papai já vai dar tanto medo nele que ele vai correr? — provocou Alyssa, olhando para Sarah com um sorriso travesso.
— Para de graça. — respondeu Sarah, rindo.
Enquanto caminhavam pelo corredor, Alyssa mudou de assunto casualmente:
— Viu o Marcus hoje?
— Ainda não... mas ele vai aparecer. Afinal, hoje é aniversário da mãe de vocês. — respondeu Sarah, com um tom mais sério.
Alyssa suspirou, visivelmente contrariada.
— Só queria não ter que ir com ele. — disse, bufando.
Sarah deu de ombros.
— Quem sabe vocês fazem as pazes.
Alyssa balançou a cabeça, o rosto se suavizando um pouco.
— Tomara... só não quero que o antigo Marcus suma de vez.
Sarah não respondeu de imediato, mas apertou de leve o braço da irmã, como se dissesse sem palavras que entendia o que ela queria dizer.
–––
No restaurante dos pais de Kiara, os Pogues estavam reunidos, como de costume, mas o clima estava tenso. O grupo se acomodava aos poucos, espalhados em torno da mesa com o mapa antigo aberto no centro.
— Pera aí, onde você tá hospedado? – Indagou Kiara enquanto encarava John B.
— Em Tannyhill. – John B respondeu com um suspiro, sabendo que aquilo não ia acabar bem.
— Então tá morando com a Sarah Cameron. – Kiara respondeu enquanto revirava os olhos dramaticamente.
— É claaaaro, porque só a Sarah mora lá, né, Kie? – Disse Ayssa sarcástica, cruzando os braços.
— Você entendeu.
— Olha, eu só tô morando lá porque o pai dela livrou a minha cara, tá legal? E aliás, é bem melhor que um lar temporário, que era pra onde eu ia se o pai dela não tivesse… John B se defendendo, levantando as mãos em como se estivesse se rendendo.
Pope indagou interrompendo, enquanto apontava para John B com a cabeça.
— Aí, então agora você é membro dos clubes?
Alyssa soltou uma risada curta enquanto se sentava ao lado de Maddy.
— Eu não sei, Pope. – Respondeu John B enquanto se jogava na cadeira ao lado de Pope, frustrado.
JJ indagou com um sorriso zombeteiro, virando um copo com alguma bebida.
— E aqueles carrinhos de golfe que eles usam por aí? Vai ter um?
— Eles vêm com um colete xadrez ou você vai ter que comprar um? – Maddy acrescentou cutucando John B com um olhar divertido.
— Escuta, você jurou. Você disse que não tava com ela. – Disse Kiara com os braços cruzados, a expressão ainda mais fechada.
— Cara, admite, ela te pegou. – Afirmou JJ.
— Te pegou total na mentira. Alyssa acrescentou balançando a cabeça, teatralmente.
— Vocês podem parar, por favor? –
John B respondeu colocando as mãos na cara, tentando ignorar os comentários.
— Olha só, se você quer ficar com ela, tudo bem. Mas eu vou logo avisando que eu não vou conviver com a Sarah. – Afirmou Kiara enquanto encarava John B.
— Estão vendo ela aqui? Não, né? Então concentração, por favor. Já estamos com o mapa, certo?
— É, mas tá meio bizarro. O cara devia estar drogado quando desenhou isso aqui. – JJ disse enquanto se inclinava sobre o mapa, analisando-o.
— É porque a costa mudou. — Respondeu Alyssa enquanto revirava os olhos.
JJ cruzando os braços, inclinando a cabeça para o lado com um sorriso provocador.
— Ah, esqueci que você é a senhora sabe tudo.
— Perto de você, eu com certeza sou. – Alyssa provocou de volta.
— Nem começa vocês dois, tá? Tá muito cedo pra isso. – Afirmou Maddy colocando as mãos na mesa, impaciente.
— Tá, já que a costa mudou, a gente tem que achar pontos de referência que não mudaram. – Disse Pope tentando voltar ao assunto principal.
— Que tal os antigos fortes? – Indagou John B.
— Battery Jasper. – Disse Alyssa apontando para o mapa onde tinha escrito Baterry Jasper.
JJ erguendo uma sobrancelha para Alyssa.
— Ah, claro, porque a "gênia" já sabia disso, né?
— E você só descobriu porque eu expliquei. Quer que eu desenhe também? – Alyssa respondeu enquanto um sorriso de provocação surgia em seus lábios.
— Prefiro que você fique calada, mas sei que é pedir demais. – Disse JJ enquanto soltava uma risada.
Alyssa se inclinando na direção dele, estreitando os olhos.
— Só vou calar a boca quando você admitir que não consegue passar um dia sem tentar me irritar.
— Eu só sou sincero sobre você, mas se eu pudesse, nem falaria com você. – JJ afirmou com um sorriso largo, desafiador
— Pelo amor de Deus, dá para vocês dois focarem aqui? – Disse Maddy enquanto encarava os dois como se fossem duas crianças que tinham feito besteira.
–––
O vento soprava suavemente, trazendo o cheiro salgado do mar até onde os Pogues estavam. A área era ampla e serena, com um campo gramado que se estendia até a borda de árvores densas. Ao fundo, o horizonte revelava o encontro do céu com o oceano, emoldurado pelo litoral recortado. A Kombi estava parada um pouco atrás, como um símbolo de suas aventuras, enquanto o grupo se reunia ao redor de uma grande pedra. Encostados nela, observavam em silêncio a vastidão à frente, como se tentassem decifrar os segredos que aquele lugar guardava. A tranquilidade do cenário contrastava com a inquietação de suas mentes, sempre em busca do próximo passo, do próximo mistério a desvendar.
O vento continuava a soprar suavemente, enquanto o grupo permanecia ao redor da grande pedra. JJ, inquieto como sempre, foi o primeiro a escalar a pedra, olhando ao longe com as mãos na cintura, como se pudesse enxergar o futuro. Pope abriu o mapa cuidadosamente, alisando o papel com as mãos e se inclinando sobre ele, enquanto tentava localizar sua próxima pista.
— A fortaleza é aqui. – disse Pope com convicção, seus dedos marcando o ponto no mapa. — Então, se a parcela 9 é essa, da nordeste desse lugar...
Kiara, com os olhos fixos na direção indicada, apontou com firmeza. — Então fica naquela direção.
JJ balançou a cabeça e estreitou os olhos. — Pra lá? Mas aquilo não é Tannyhill, é outro terreno.
John B, sempre o contador de histórias, deu de ombros com um tom casual. — A fazenda Tannyhill era a ilha toda. Com o tempo, ela foi sendo vendida em partes.
Pope ergueu os olhos do mapa e ajeitou a mochila nas costas. — A gente tem que achar um velho muro de pedra. – afirmou com decisão, fechando o mapa.
Alyssa, que até então tinha estado distraída rabiscando algo no chão com um graveto, levantou-se em um salto, os olhos brilhando de entusiasmo. — Ah, ótimo! Porque é super fácil achar um muro perdido num lugar cheio de árvores e pedras. Que ideia brilhante, Pope.
JJ, ainda em cima da pedra, bufou e olhou para ela com um sorriso zombeteiro. — Se não fosse pela sua habilidade incrível de reclamar, Alyssa, a gente já teria achado o tesouro.
— Ah, claro, porque sua habilidade incrível de subir em pedras e bancar o rei do mundo é tão útil. – retrucou ela, cruzando os braços. — Por que você não usa essa sua visão "superior" pra encontrar o muro, hein, Einstein?
JJ desceu da pedra com um pulo e parou perto dela, o sorriso cheio de provocação. — Talvez porque eu tô ocupado demais te carregando nas missões. Já pensou nisso?
Alyssa arqueou a sobrancelha, se aproximando. — Carregando? É sério isso? Você tá me carregando? Você só pode se fazer de maluco né.
— Admito, Alyssa, você só tá aqui pra me irritar.
Ela sorriu falsamente doce, dando um passo à frente, agora praticamente cara a cara com ele. — E você só tá aqui porque é bom pra carregar as coisas pesadas e fazer comentários idiotas. Você sabe disso, né?
John B interrompeu com um suspiro exasperado, olhando para os dois. — Ok, casal, vocês podem resolver isso depois? Temos um muro pra encontrar.
— Casal? – disseram Alyssa e JJ ao mesmo tempo, se afastando rapidamente enquanto trocavam olhares de surpresa e nervosismo.
Pope fechou o mapa com força para chamar a atenção. — Chega de brigar, vocês dois. A Kombi tá esperando.
Com um último olhar para o horizonte, o grupo se reuniu na Kombi, rindo das farpas entre JJ e Alyssa. Enquanto o motor roncava, Pope continuava a estudar o mapa, e Alyssa, no banco de trás, olhava pela janela. JJ, no banco da frente, não conseguiu evitar espiar pelo retrovisor. Mesmo com as discussões, ele sabia que algo entre eles era mais do que provocação. E, no fundo, Alyssa sabia disso também.
A Kombi avançava lentamente pela estrada de terra, levantando uma nuvem de poeira sob as rodas. O grupo estava inquieto, mas ninguém falava nada, até Pope quebrar o silêncio.
— Tá, a estrada deve se dividir aqui. Você vai pra esquerda. – disse Pope, apontando para a direção, enquanto olhava para John B no volante.
John B apertou os olhos, tentando decifrar o caminho.
— Parece um muro de pedra pra mim – Pope completou, franzindo a testa.
E então todos viram: um muro desgastado e coberto por musgo, estendendo-se diante deles. Era como se ele estivesse esperando.
— É aqui. – Pope confirmou, meio contrariado.
Kiara suspirou enquanto deslizava a porta da Kombi e saltava para fora.
— Não na casa dos Crain. – Disse JJ, saindo logo atrás.
Alyssa, com as mãos no bolso do moletom, lançou um olhar de pura incredulidade.
— Tá brincando comigo? A casa dos Crain? – Disse Maddy encarando o muro seria.
— É o pior dos muros. – JJ afirmou com um tom que parecia meio sério, meio brincalhão.
— Tanto lugar, por que tinha que ser aqui? – Alyssa continuou, revirando os olhos dramaticamente enquanto olhava para o muro como se ele tivesse algo pessoal contra ela. — Eu tô literalmente vendo um letreiro invisível escrito “não ultrapasse ou morra” em letras neon.
JJ se virou para Alyssa, claramente se divertindo.
— Ouvi dizer que a senhora Crain enterrou a cabeça do marido na propriedade deles. – Ele falou com um tom conspiratório, olhando-a diretamente nos olhos.
Alyssa piscou algumas vezes antes de responder JJ.
— Ah, legal! Isso é exatamente o que eu precisava ouvir agora. Obrigada, JJ, pela sua enciclopédia de terror totalmente desnecessária.
JJ sorriu de canto, como sempre fazia quando sabia que tinha irritado Alyssa.
— Vocês dois vão ficar nessa briga idiota ou vamos entrar logo? Porque, sinceramente, o muro já é aterrorizante o suficiente sem vocês dois fazendo disso um show. – Disse Kiara.
— Obrigada, Kiara. A voz da razão. – Alyssa sorriu enquanto olhava Kiara.
Pope deu um passo à frente, tentando colocar ordem no grupo.
— Certo, chega. Só precisamos atravessar o muro e chegar do outro lado. Não tem nada demais aqui... Só um muro velho, um pouco de musgo e...
Um som de galho se quebrando ecoou ao longe. Todos congelaram.
— Só um muro velho e musgo, né, Pope? – Alyssa murmurou, se inclinando para trás. — Você tá quase tão convincente quanto um guia de turismo dizendo que o passeio pelo pântano vai ser “tranquilo”.
JJ estalou os dedos.
— Ok, eu voto pra Alyssa ir na frente. Ela tem uma língua afiada o suficiente pra assustar qualquer fantasma.
Alyssa deu um passo para frente, apontando dramaticamente para JJ.
— Você primeiro, Senhor “Cabeça Enterrada”. Se alguém aqui sabe como lidar com maldições, é quem as inventa.
O grupo suspirou, já acostumado com as brigas dos dois, enquanto se preparava para passarem pelo muro.
O grupo avançava em silêncio pela trilha estreita, a tensão pairando como uma névoa densa ao redor deles. Kiara e Maddy caminhavam na frente, mantendo os olhos fixos na casa antiga que se erguia à distância. Alyssa, logo atrás, não resistiu a quebrar o silêncio.
— Essa casa é tão assustadora quanto as histórias. – comentou, como quem tenta aliviar o clima pesado com humor.
— Olha só, sinceramente, eu não acredito nas histórias desse lugar. – disse John B, andando atrás dela, sem diminuir o tom de voz.
Pope franziu a testa e imediatamente fez um gesto com o dedo indicador para que John B falasse mais baixo.
JJ, que estava logo atrás de Alyssa, apressou o passo para ficar ao lado dela. Ela o encarou, arqueando uma sobrancelha.
— Que histórias você ouviu? – JJ perguntou, baixando o tom, mas sem esconder a curiosidade.
Alyssa sorriu de canto. Ela adorava uma chance de provocar JJ.
— Que ela matou o marido com um machado e que nunca mais saiu de casa. – começou, olhando JJ de relance. Então, com um brilho travesso nos olhos, continuou como se estivesse narrando um conto de terror: — E que, em certas noites, quando a lua tá cheia, dá pra ver ela na janela.
Ela ergueu as mãos na frente do rosto de JJ, mexendo os dedos como se fosse assustá-lo. JJ deu um passo para trás, mas tentou disfarçar o susto.
— Não, Alyssa, isso não tem graça, porque é verdade. – JJ rebateu, agora andando atrás dela novamente. — Eu juro por Deus, gente, é tudo verdade. Eu conheci a Hollis.
Antes que pudesse terminar sua frase, JJ se assustou com uma estátua de pedra coberta por musgo.
— Ai, meu Deus! – gritou, saltando para trás.
Alyssa soltou uma leve gargalhada e continuou andando, balançando a cabeça.
— Isso tá ficando cada vez melhor. Vou morrer, mas vou morrer rindo.
Pope, curioso, virou-se para JJ.
— Pera aí. Conhecia a Hollis Crain? Como assim?
Antes que JJ pudesse responder, Maddy interveio com um dar de ombros casual.
— Ela era nossa babá. Contou tudo pra gente sobre essa história dos Crain.
— Nossa babá? – Alyssa virou-se para trás, piscando como se Maddy tivesse acabado de dizer que ele era um alienígena.
JJ ignorou o comentário dela e começou a contar a história com um ar sombrio.
— Quando eu era criança, ela contou que sempre ouvia as histórias sobre como a mãe matou o pai. A Hollis não acreditava... até uma noite.
— Que noite? – John B perguntou, impaciente.
— A noite que ela lembrou de tudo. – disse Maddy, sua voz baixa, enquanto todos paravam para ouvir.
JJ continuou, os olhos fixos no grupo.
— Quando a Hollis tinha 6 anos, ela viu os pais brigando no andar de baixo. Ela desceu e viu a mãe lavando as mãos na pia. Estavam cheias de sangue. A mãe disse que só tinha cortado o dedo, mas na manhã seguinte, ela falou que ela e o pai tinham se separado.
O grupo ouvia em silêncio absoluto. Até Alyssa parecia atenta.
— Só que aí a Hollis reparou uma coisa. A mãe ficava indo e voltando da sala, o tempo todo. Entrando e saindo com sacos plásticos.
— Conta logo a parte chave da história, para de enrolar. – Maddy reclamou, cruzando os braços.
JJ respirou fundo, o suspense evidente em sua voz.
— Aí passou uma semana, e a Hollis decidiu usar o banheiro externo. Quando tava lá, ela olhou pra baixo e viu... a cabeça do pai dela, olhando direto pra ela.
O grupo ficou em silêncio por um instante.
— Nossa, você é tão mentiroso. – John B finalmente quebrou o silêncio, revirando os olhos.
— Eu juro por Deus, cara. – JJ insistiu, levantando as mãos em defesa.
— Ela chamou a polícia? – Pope perguntou, ainda intrigado.
JJ deu de ombros.
— Ela não teve tempo.
John B passou à frente, claramente impaciente.
— Tá, chega de histórias. Vamos acabar logo com isso.
— Ei, pera aí! – JJ segurou John B pelo braço. — Certeza que quer fazer isso? Ela matou com um machado, cara, e você tá de gesso.
— Eu não tô nem aí se ela é uma assassina, tá bom? – John B respondeu, com uma determinação que quase beirava a teimosia.
Alyssa e Pope trocaram olhares arregalados ao ouvir John B falar.
— A gente não tem nada a perder, tá? Você vem ou não? – John B disse, virando-se e continuando a andar.
— Vamos logo. – Disse Kiara indo atrás de John B.
Todos seguiram John B, menos JJ que coçava o braço pensando se ia mesmo e Alyssa.
Alyssa deu uma risada ao ver JJ daquele jeito, e logo depois a loira passou por ele. O suspiro dele foi rápido, pois logo depois ele já estava atrás de Alyssa.
Finalmente, o grupo parou diante de uma pequena porta. John B sussurrou o plano:
— Encontrar o trigo perto da água.
Eles se separaram para procurar, mas não demorou até que John B os chamasse de volta.
— Esse aqui é o único lugar que não olhamos. – disse ele, apontando para a porta. Sem hesitar, ele se abaixou e entrou.
O resto do grupo se entreolhou, hesitante. Alyssa suspirou dramaticamente antes de se agachar.
— É sempre o lugar mais óbvio que ninguém quer entrar. Honestamente, é como se a gente quisesse morrer.
Ela desapareceu pela porta, e logo todos entraram também, um a um.
Enquanto o grupo se aventurava por aquele porão abafado e escuro, JJ o último a passar pela mini porta, entrou cantarolando de forma um tanto macabra.
— E a senhora Crain desceu e cortou nossas cabeças, o sol nasceu e secou todo sangue.
Pope bufou, visivelmente irritado.
— Dá pra você parar? – falou como quem está brigando com uma criança.
Enquanto isso, Alyssa explorava o ambiente, seu olhar atento vasculhando cada canto, mas o cansaço evidente em sua expressão.
— Olha, gente, sem querer acabar com a esperança de vocês e tal, mas não tem nem sinal de água aqui – afirmou, gesticulando.
Maddy, que estava passando a mão pelos canos enferrujados, completou:
— Nem tem água nos canos.
— Não tem água aqui – confirmou Pope, cruzando os braços.
JJ olhou para todos, fazendo uma careta exagerada.
— Nem mesmo uma gotinha – disse, arqueando as sobrancelhas como se estivesse narrando um filme de suspense.
Kiara bufou alto, cruzando os braços, e virou-se para John B com o típico olhar de quem está prestes a iniciar uma discussão.
— Sabe por que a gente não achou? Karma ruim – declarou.
John B revirou os olhos.
— Ai, meu Deus, vai começar.
— A gente tinha uma coisa legal acontecendo, e aí você resolveu trazer a Barbie e mentir pra gente sobre ela. E agora, olha só, perdemos o rastro. Coincidência? Acho que não – disparou Kiara.
John B suspirou, exasperado.
— É exatamente por isso que eu não queria contar pra você sobre a Sarah.
— Ah, é? – Kiara rebateu, com as mãos na cintura.
— É. Qual é o problema de vocês duas, afinal? – indagou ele, já sem paciência.
— Nada – respondeu Kiara com falsa tranquilidade.
John B, no entanto, não recuou.
— É porque eu tentei te beijar? Esse é o problema?
Kiara, sem pensar duas vezes, deu um tapa nele.
Maddy soltou uma risada curta.
— Caraca, podia dormir sem essa – comentou, provocando risos no grupo.
— Para de me tratar como se eu fosse uma garota obcecada por você! Eu sou sua melhor amiga, tentando proteger você, tá bom? – disse Kiara, apontando o dedo para ele.
John B levou a mão ao rosto, incrédulo.
— Você me bateu?
Kiara mostrou a palma da mão com um mosquito morto na palma da mão.
— Mosquito – disse simplesmente.
— Mosquito? – John B arqueou as sobrancelhas.
— É – confirmou Kiara, enquanto John B retribuía o tapa, só que mais leve.
Pope cruzou os braços, observando a cena.
— Olha o exagero – comentou.
— Ai, não, gente – Alyssa revirou os olhos.
— Já chega, né? – disse Maddy, tentando acabar com a discussão.
— Concordo – JJ levantou as mãos, como quem pede trégua.
— Cadê as provas? – provocou Kiara, ao que John B mostrou a mão com um mosquito esmagado.
O momento de tensão logo virou brincadeira, com John B e Kiara se batendo de leve e rindo, enquanto Pope começou a se coçar dramaticamente.
— Mas por que tem tanto mosquito nesse porão? – reclamou Pope.
— Cara, são mini vampiros no porão inteiro – brincou JJ.
Alyssa suspirou, com uma expressão exageradamente dramática.
— Gente, a gente já pode ir? Daqui a pouco vou estar seca. Literalmente seca, sem sangue nenhum.
— Tô começando a me coçar também. Já deu, né? – disse JJ.
Enquanto o resto do grupo se distraía, Pope mexia em algumas madeiras empilhadas. Ao perceber algo estranho, chamou a atenção dos outros.
— Me ajuda a tirar isso – pediu.
— Tá, mas silêncio – respondeu JJ, mais sério pela primeira vez.
Juntos, começaram a remover as tábuas de madeira com cuidado, revelando um poço escondido.
— Chegamos no fundo do poço – brincou Pope, sorrindo orgulhoso.
— Meu pai faria essa piada – comentou John B.
Kiara olhou para o poço com curiosidade.
— Construíram essa parte da casa bem em cima disso.
— Era aqui que ela escondia os corpos – sugeriu JJ, olhando dramaticamente para os outros.
— Dá pra você parar com isso? – resmungou Alyssa.
— Não, é sério – insistiu JJ, mas Kiara o interrompeu.
— Para. Ela nem deve saber que isso existe.
Pope olhou para o fundo do poço e sorriu.
— Achamos água.
John B deu um sorriso largo, já planejando o próximo passo.
— Vamos precisar de uma corda bem grande.
∆
Alyssa saiu do banho, vestindo sua blusa sem alça azul e um short jeans. Seus cabelos loiros dourados, ainda úmidos, caíam sobre seus ombros enquanto ela caminhava pelo corredor da mansão Cameron. Sem cerimônias, abriu a porta do quarto de Marcus.
— Aí, já tá pronto? – perguntou, com as mãos nos quadris e aquele tom que misturava impaciência e provocação.
Marcus, sentado na beira da cama, fechava calmamente sua mochila. Ele levantou o olhar, ajeitando a camisa com a sua classe habitual.
— Tô. Você acha que eu ia demorar tanto quanto você, princesinha? – rebateu, um meio sorriso nos lábios.
Alyssa revirou os olhos, gesticulando de forma exagerada.
— Ah, claro, porque arrumar o cabelo com gel é o trabalho mais difícil do mundo. Vamos logo! – disse, dando uma risada de lado.
— Eu não uso mais gel tá? – Respondeu Marcus passando pela irmã e indo em direção às escadas.
Os dois desceram as escadas em silêncio, passos ecoando no mármore frio da mansão Cameron. Do lado de fora, Marcus assumiu o volante com a habitual confiança, enquanto Alyssa, no banco do passageiro, fixava o olhar na janela. O reflexo de seus cabelos ainda úmidos misturava-se ao cenário que passava do lado de fora, mas sua mente estava longe dali.
O silêncio no carro era pesado, mas Alyssa quebrou o clima desconfortável.
— Você sabe que vai ter que dizer algo legal, né? Não dá pra só largar as flores e sair, Marcus.
— Você quer que eu recite Shakespeare? – perguntou ele, arqueando a sobrancelha.
Alyssa o olhou de soslaio.
— Não, mas talvez não faça mal mostrar que você é humano, só dessa vez.
Marcus soltou um suspiro, mas não respondeu.
Ao chegarem ao túmulo da mãe, Marcus foi o primeiro a se aproximar. Ele se abaixou, ajeitou o buquê de tulipas brancas e rosas e ficou em silêncio por alguns segundos.
— Você faz muita falta, mamãe. – disse ele, com a voz baixa, mas carregada de emoção.
Alyssa observava o irmão. Apesar de seus comentários sarcásticos, ela sabia que Marcus estava tentando. Quando ele se afastou, ela se abaixou, deixando um pote de mel sobre a lápide.
— Feliz aniversário, mamãe... Você ia amar as flores e esse mel. Aposto que diria que são os melhores presentes da sua vida. Depois de nós, é claro – brincou, rindo de leve, mas com os olhos marejados.
Alyssa tentou conter as lágrimas, mas falhou. Marcus, percebendo, a abraçou sem dizer nada, passando a mão pelos cabelos da irmã em um gesto de carinho.
— Marcus, você não pode virar um babaca. Eu não quero me separar de você, irmão – disse ela, se afastando para encará-lo.
— Eu sei, irmã... Eu estou tentando. Eu juro – respondeu ele, sincero.
— Então continua tentando, por favor – pediu ela, limpando as próprias lágrimas.
Foi então que Alyssa notou algo estranho. Ajoelhando-se novamente, ela puxou uma carta que estava quase escondida entre as flores antigas.
— Ei, você veio aqui sozinho hoje? – perguntou, franzindo o cenho.
— Não, eu sempre venho com você. Por que a pergunta?
Alyssa ergueu a carta, mostrando-a para ele.
— Então, quem colocou isso aqui?
Antes que Marcus pudesse responder, Alyssa percebeu uma figura encapuzada à distância, parada entre as árvores.
— Você viu aquilo? – perguntou Marcus, a voz mais grave que o habitual.
— Vi – respondeu Alyssa, os olhos fixos na silhueta.
A figura percebeu que tinha sido notada e correu para longe. Sem pensar, Alyssa começou a se mover.
— Ei, espera! – gritou ela, como se isso fosse funcionar.
Marcus segurou seu braço.
— Não, Alyssa, você não vai sair correndo atrás de um estranho em um cemitério. Isso aqui não é um episódio de Scooby-Doo.
— Primeiro: Scooby-Doo é um clássico. Segundo: quem te fez o chefe? – rebateu, tentando se soltar.
— Alyssa, por favor – disse ele, mantendo a calma típica, mas com firmeza. – Não somos exatamente os protagonistas de um filme de terror com final feliz.
Alyssa bufou, mas recuou.
— Tá, mas você viu, né? Não tô maluca.
— Não mais do que o normal – respondeu Marcus, com um sorriso de canto.
— Ótimo. Porque eu vou descobrir quem era. – Disse Alyssa enquanto encarava o local por onde a figura correu.
᭪☀️🌊 ݇01: Simplesmente um dos meus capítulos favoritos até agora.
᭪☀️🌊 ݇02: O que estão achando? Gostaram desse capítulo?
᭪☀️🌊 ݇03: Tô postando muitos edits dessa fanfic no tik tok, a conta tem o mesmo nome daqui. ( Kietzxd)
᭪☀️🌊 ݇04: Desculpem a demora para publicar, o ano novo e os dias depois foram uma loucura.
᭪☀️🌊 ݇05: Esse foi o maior capítulo até agora, foram 7633 palavas! Uau, nem eu acredito.
᭪☀️🌊 ݇06: Muito obrigada se você leu até aqui! Não se esqueçam de votar e comentar pra mim saber o que vocês estão achando da fanfic. Feliz ano novo para todos!! Beijos e até o próximo capítulo <3
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top