008.
O entusiasmo inicial era quase palpável. Os olhos de todos estavam fixos na tela do monitor, acompanhando as imagens enviadas pelo drone enquanto ele mergulhava nas profundezas. Quando o contorno do Royal Merchant apareceu na tela, houve um coro de exclamações e sorrisos de vitória. Finalmente, ali estava o lendário navio que tantos haviam procurado.
Mas, conforme as imagens continuavam, a empolgação foi dando lugar à confusão. Não havia brilhos dourados, nem baús repletos de tesouros. Apenas destroços corroídos pelo tempo e pelo mar.
A tensão crescia a cada minuto, até que o silêncio se instalou no barco. Um por um, os sorrisos desapareceram. O que era para ser o momento mais emocionante de suas vidas agora os deixava desanimados.
O barco balançava suavemente sobre as ondas, mas o clima entre o grupo estava longe de tranquilo. As imagens enviadas pelo drone mostravam o Royal Merchant em toda a sua glória submersa, mas o que deveria ser o ápice da jornada se transformava em frustração. Nenhum sinal de ouro. Nenhum baú escondido. Nada.
— Não tá lá. — disse John B, finalmente quebrando o silêncio, sua voz carregada de amargura. Ele virou para Pope, que ainda estava grudado na tela. — Aí, tira o drone de lá. Merda.
— Tá bom, então deixa eu ver se eu entendi... — começou Alyssa, levantando-se abruptamente com uma expressão confusa. — A gente passou dias planejando isso, gastou horas de pesquisa e tudo o que conseguimos foi... nada!?
Ela jogou as mãos para o alto dramaticamente, como se estivesse numa peça de teatro.
— Obrigada, Alyssa, muito útil sua análise agora. — retrucou Maddy, sentada num canto, os braços cruzados e o olhar perdido no horizonte. Sua voz estava firme, mas carregava uma ponta de frustração. — Porque, né, a gente não sabia que tinha dado errado até você explicar.
Pope hesitou, mas antes que pudesse dizer algo, respondeu:
— Olha, a gente tenta outra vez. Recarrega a bateria, mergulha ele de novo. — Ele falava tentando soar otimista, mas a insegurança em sua voz era evidente.
John B começou a andar de um lado para o outro no barco, passando as mãos pelos cabelos, claramente exasperado.
— Galera, a gente já passou três vezes. Não tem nada lá. — afirmou JJ, direto como sempre, sua voz soando como um soco de realidade.
Kiara se virou para ele, com uma expressão de irritação.
— Cala boca! — gritou ela.
— O quê? É verdade! — retrucou JJ.
— O ouro pode tá enterrado, você não sabe! — insistiu Kiara, a teimosia evidente em cada palavra.
John B parou no meio do barco.
— Se tivesse lá, o detector de metais teria mostrado! — disse ele, tentando colocar um ponto final na discussão.
O silêncio caiu sobre o grupo por um instante até John B continuar, sua voz mais baixa agora.
— Alguém chegou primeiro.
— Ou nunca esteve lá. — murmurou JJ, enquanto pilotava o barco de volta para suas casas.
Alyssa, que estava em um canto do barco, bufou alto e passou as mãos pelo cabelo, claramente impaciente com o pessimismo no ar.
— Ok, vamos recapitular: a gente não achou ouro, o detector não apitou, e agora todo mundo decidiu que acabou. — disse ela, carregando a voz com um sarcasmo característico. — Tá bom, entendi. Alguém me avisa quando a gente desistir oficialmente, porque, pelo visto, vou ter que liderar esse grupo de perdedores.
— Alyssa, você tá ajudando muito, viu? — respondeu Maddy, suspirando enquanto se sentava no canto oposto, os braços cruzados. Sua voz era firme, mas tinha um tom de cansaço.
— Ei, só tô dizendo que não é porque o detector não apitou que a gente devia desistir. Talvez o ouro esteja se escondendo de propósito, sabe? — Alyssa continuou, como se estivesse numa teoria conspiratória. — Vai ver ele sabe que a gente não tem a vibe certa pra achar.
— Você tá ouvindo o que tá falando? — JJ olhou para ela incrédulo, mas um sorriso de canto escapou.
— Claro que tô! E, honestamente, sou a única que tá fazendo sentido aqui. Obrigada pela sua contribuição zero, JJ. — Alyssa respondeu, apontando para ele com o dedo como se tivesse acabado de ganhar um debate.
Pope ainda olhava para a tela do drone, mexendo nos controles na esperança de encontrar algo que todos haviam perdido.
— Ainda tem um ângulo que a gente não checou... talvez... — disse ele, sua voz um fio de esperança.
John B suspirou fundo, balançando a cabeça.
— Não adianta, Pope. Se tivesse algo lá, a gente já teria encontrado.
Maddy olhou para John B, a voz calma mas carregada de frustração.
— Então, o que a gente faz agora? Volta pra casa e finge que isso não aconteceu? — perguntou, claramente incomodada com a falta de um plano.
— Exatamente. — disse JJ, sem rodeios, enquanto segurava o volante e começava a pilotar de volta para o "castelo". — Ou a gente fica aqui até o barco quebrar e afundar junto com a gente. Quem sabe, viramos história.
Kiara o encarou furiosa, mas Maddy apenas balançou a cabeça.
— Sempre tão otimista, JJ. Inspira confiança. — murmurou Maddy.
Apesar do clima tenso, Pope continuava com os olhos na tela. Aos poucos, o grupo se acomodava no barco, o desânimo pairando sobre eles enquanto voltavam para casa. O som do motor era o único ruído, mas, no fundo, todos sabiam que, mesmo sem o ouro, essa história estava longe de acabar.
Não demorou muito para o barco para no cais da casa de Alyssa. A loira se despediu e desceu do barco. O desânimo estava estampado em seu rosto.
Alyssa caminhou pelo cais com passos lentos, o som das ondas suaves batendo contra o porto misturado aos pensamentos que ecoavam em sua mente. A manhã tinha sido frustrante e, acima de tudo, decepcionante.
Ao abrir a porta, ela deu de cara com seu pai, Ward, descendo as escadas, como se estivesse esperando por ela. Ele sorriu ao vê-la, mas logo percebeu o desânimo estampado no rosto da filha.
— Oi, filha. Tá desanimada? — perguntou Ward, parando no meio da escada, com o tom carinhoso, mas levemente curioso.
Alyssa deu de ombros, tentando disfarçar.
— Um pouco.
Ward desceu o último degrau, os sapatos ecoando no piso de madeira enquanto parava diante dela.
— O que aconteceu? — ele indagou, inclinando levemente a cabeça enquanto a analisava.
Alyssa soltou um longo suspiro e bufou, cruzando os braços.
— A esperança foi a primeira que morreu, pai. — disse, com o sarcasmo que lhe era característico.
Ward soltou uma risada baixa e balançou a cabeça. Ele colocou as mãos nos ombros da filha e olhou-a nos olhos, com aquele sorriso que sempre tentava confortar, mesmo nas piores situações.
— Olha, a esperança sempre volta, tá bem? Ela é imortal. — brincou, arrancando um sorriso de canto de Alyssa.
Por um breve momento, o peso da manhã parecia diminuir, mas não por muito tempo. Ward endireitou a postura, mudando de assunto, mas com o mesmo tom leve.
— Agora me conta, quando você e Marcus vão parar de brigar?
Alyssa revirou os olhos instantaneamente, voltando ao humor azedo.
— Quando ele parar de ser babaca. — respondeu, dando de ombros novamente e desviando o olhar.
Ward franziu o cenho, mas manteve o sorriso.
— Ei! Ele é seu irmão. E não qualquer irmão, seu irmão gêmeo. Quero que vocês se resolvam até o aniversário da mãe de vocês. — disse ele, com a voz firme, mas ainda paternal, antes de sair andando na direção de seu escritório.
Alyssa ficou parada ali por um momento, observando o pai sumir no corredor. Soltou outro suspiro pesado e passou a mão pelo cabelo.
— Como se fosse tão fácil... — murmurou para si mesma, antes de subir as escadas em direção ao seu quarto.
Ao entrar, a loira caiu de costas na cama, encarando o teto. As palavras de Ward ecoavam na sua cabeça, mas resolver as coisas com Marcus parecia tão distante quanto encontrar o ouro do Royal Merchant. Tudo estava confuso, e Alyssa sentia como se estivesse em uma guerra constante, tanto com o mundo quanto consigo mesma.
"Imortal, né?" pensou, lembrando-se das palavras do pai. Talvez fosse verdade. Talvez a esperança fosse teimosa o suficiente para voltar... eventualmente.
–––
O sol brilhava intensamente naquela manhã, refletindo nas águas do cais enquanto Maddy e Kiara caminhavam lado a lado. O som das ondas e o murmúrio das gaivotas tornavam o ambiente tranquilo, mas Maddy tinha a mente já cheia com o dia que a aguardava. Trabalhar não era o plano mais empolgante, mas pelo menos a mantinha ocupada.
— Valeu mesmo, Kie. Você é um anjo. — disse Maddy, pegando as chaves do carro das mãos da amiga.
— Para com isso, Mads. Você sabe que pode contar comigo. — Kiara sorriu, encostando-se ao carro. — Ah, e não esquece do festival mais tarde, tá? Promete que vai aparecer.
Maddy hesitou por um instante, ajustando a bolsa no ombro.
— Tá legal. — ela respondeu com um meio sorriso, tentando não demonstrar que ainda não tinha certeza.
Kiara estreitou os olhos, desconfiada.
— Sério, Maddy. Você anda sumindo muito. Todo mundo vai estar lá, vai ser divertido.
Maddy balançou a cabeça com um suspiro.
— Eu vou tentar. Prometo.
— Bom, já é alguma coisa. — Kiara deu de ombros, sorrindo novamente.
Maddy entrou no carro, ajeitou o retrovisor e deu partida no motor.
— Não bate meu carro, hein! — Kiara gritou, brincando, enquanto se afastava.
— Relaxa, eu sou uma motorista melhor que você! — Maddy respondeu, rindo antes de acelerar suavemente pela estrada.
Enquanto dirigia, Maddy deixou os pensamentos fluírem. Gostava de trabalhar, era uma forma de fugir da bagunça em casa e do desconforto de dividir espaço com Luke, que ultimamente parecia estar sempre por perto. Trabalhar, surfar, sair com os Pogues... Isso era sua rotina. A ideia de ir ao festival era tentadora, mas ela sabia que provavelmente acabaria inventando uma desculpa de última hora.
Maddy Maybank não era conhecida por sua paciência. Inteligente, sarcástica e sempre com uma resposta afiada na ponta da língua, ela tinha uma tendência infalível para lidar com situações tensas com uma mistura de humor cortante e uma postura independente. Naquele dia, enquanto dirigia o carro de Kiara, ela estava apenas tentando chegar ao trabalho, mas o destino, como sempre, tinha outros planos.
O som dos pneus cantando ao frear ecoou pelo local, e o coração de Maddy disparou.
— Droga! — murmurou, jogando o celular no banco do passageiro e saindo do carro.
O rapaz que ela quase atropelou estava sentado no chão, esfregando os ombros. Maddy reconheceu o cabelo loiro bagunçado e o sorriso presunçoso antes mesmo de ele falar.
— Rafe Cameron? — Maddy franziu o cenho, cruzando os braços.
— E aí, Maddy. — Rafe sorriu, com um tom irritantemente relaxado, como se não tivesse acabado de ser praticamente atropelado.
— Se eu soubesse que era você, teria pisado mais fundo no acelerador. — murmurou Maddy, com um olhar de puro desgosto.
— O que disse? — Rafe arqueou a sobrancelha, inclinando a cabeça.
— Nada. — Ela rolou os olhos, o tom sem nenhuma intenção de ser convincente.
Rafe se levantou devagar, fingindo esfregar as pernas como se tivesse acabado de sofrer um acidente grave.
— Você quase me matou, sabia? — Ele se aproximou, apontando um dedo para ela. — Podia te denunciar por isso, sabia?
Maddy bufou, impaciente.
— Primeiro, você não foi atropelado. Segundo, seu ego claramente sobreviveu, então acho que não foi tão grave.
Rafe sorriu, estreitando os olhos.
— Caramba, que gentileza a sua. Nem vai perguntar se eu tô machucado?
— Seus comentários idiotas me dizem que você está ótimo, Cameron. — Ela deu um passo para trás, olhando-o de cima a baixo. — Na verdade, você parece até mais insuportável do que o normal.
Rafe riu, mas havia algo em seu olhar, como se ele estivesse analisando cada palavra dela.
— Você tá sempre tão azeda assim ou é só comigo?
— Só com quem merece. — Maddy retrucou, abrindo a porta do carro e se preparando para entrar. — E parabéns, você é o campeão dessa categoria.
— Isso é o que dizem sobre você também, sabia? — provocou Rafe, com um sorriso de canto de boca.
Ela apenas ergueu uma sobrancelha, fechando a porta do carro.
— Tenta não se jogar na frente de outro carro hoje, Cameron. Seria uma pena ter que aturar mais uma conversa dessas.
Rafe ficou parado na estrada, observando enquanto Maddy se afastava, o motor do carro rugindo.
— Você vai sentir minha falta, Maybank. — ele gritou, a voz carregada de sarcasmo.
— Nem em outra vida. — ela respondeu, sem nem olhar pelo retrovisor.
Quando o carro desapareceu no horizonte, Rafe deu de ombros e voltou a andar, com um sorriso satisfeito no rosto. Ele adorava uma boa provocação, e Maddy sempre entregava.
∆
Alyssa estacionou o carro num campo já abarrotado de pessoas indo e vindo, e Kiara saltou animada, ajustando a bolsa no ombro.
— Que bom que eles não cancelaram. Muita calma e segue em frente. — disse Kiara, tomando a dianteira e olhando para trás com um sorriso de expectativa.
Alyssa revirou os olhos enquanto fechava o carro.
— De volta à vida de Outer Banks, sabem? Não tão felizes que eu fiz vocês virem? — perguntou Kiara, claramente esperando alguma empolgação.
Pope, equilibrando as cadeiras dobráveis nas mãos, respondeu com um tom seco.
— Eufóricos.
JJ, carregando o cooler como se fosse a coisa mais pesada do mundo, não perdeu a chance de reclamar.
— Meu sofá tava bem confortável, pra falar a verdade. — JJ respondeu.
Alyssa, que estava carregando sua bolsa cheia de coisas aleatórias que ela insistia serem "importantes"
— Mal posso esperar para esse festival. — disse ela, a voz arrastada e sem emoção.
— Nossa, que espírito festivo, Alicia. — JJ zombou.
— Não enche. –Respondeu Alyssa enquanto jogava as bolsas na grama ignorando completamente o erro no nome da garota.
Alyssa se ajoelhou para tirar algumas coisas da bolsa enquanto Pope montava as cadeiras dobráveis com um estalo. JJ largou o cooler no chão de qualquer jeito e olhou ao redor, tirando a mochila que estava em suas costas.
Foi Pope quem quebrou o silêncio com uma preocupação palpável.
— Estamos fora da zona verde, gente.— a voz dele estava tensa, os olhos observando os grupos de "Kooks" espalhados pelo campo.
JJ levantou a cabeça, relaxado como sempre, e lançou um olhar confiante para o amigo.
— Relaxa, tá legal? — JJ sorriu, despreocupado. — Ninguém aqui tá prestando atenção na gente. Além disso, Pope, você parece um Kook de segunda geração. Tá se preocupando à toa.
— A gente tá no meio da Kooklândia, o último lugar onde eu queria estar. — Pope insistiu, ignorando o sarcasmo de JJ.
Alyssa, que já estava começando a ficar irritada com o papo, bateu as mãos na grama para se levantar e lançou um olhar firme para Pope.
— Olha, Pope. Meu irmão não vai te atacar aqui. E muito menos o Topper. Eles são malucos, mas nem tanto. Gruda em mim e tá tudo certo.
JJ, que até então estava observando a cena com aquele típico sorriso dele, aproveitou a deixa para provocar.
— Como se você pudesse proteger alguém, né? — a voz de JJ era um misto de deboche e desafio, os braços cruzados no peito enquanto ele esperava a reação.
Alyssa virou lentamente a cabeça na direção dele, sem se dar ao trabalho de encará-lo completamente.
— Nem começa, JJ. — disse Alyssa em um tom firme, a voz carregada de irritação controlada.
— Só estou dizendo. Se for pra correr por nossas vidas, a última pessoa que vou seguir é você. Vai acabar tropeçando numa pedra ou parando pra dar um discurso motivacional.
Alyssa, sem perder o ritmo, retrucou enquanto se ajeitava na cadeira que Pope acabara de montar.
— E você provavelmente vai deixar o cooler pra trás porque tá ocupado demais fazendo piada, né? Prioridades, JJ.
JJ revirou os olhos e se sentou.
— Vocês dois são insuportáveis. Só quero sobreviver ao dia sem virar notícia local. — disse Pope, mais para si mesmo do que para os outros.
–––
Enquanto o trio conversava, Kiara caminhava até o quiosque para comprar refrigerantes. Seus passos eram firmes. Ela se aproximou do quiosque e abriu um sorriso simpático para pedir os refrigerantes.
— Duas Pepsis, por favor. — pediu Kiara, puxando o dinheiro do bolso do short.
— Vai querer gelo? — perguntou o atendente do quiosque.
Antes que pudesse responder, uma voz familiar interrompeu.
— Kiara Carrera, vivendo no estilo Pogues até hoje? — Marcus sorriu ao se aproximar, os olhos cravados nela como se pudesse decifrá-la por inteiro.
Kiara revirou os olhos antes de virar para encará-lo. — Oi, Marcus. Já vai começar?
— Começar? Não sabia que a minha presença incomodava tanto. — Marcus inclinou-se casualmente contra o balcão, como se aquele momento pertencesse a ele. — Mas você tá bem?
— Eu tô ótima. — respondeu Kiara de maneira seca, pegando os refrigerantes do balcão e colocando o dinheiro ali.
— Que bom. — Marcus riu de leve, o som irônico, provocativo. — Você ainda tá brava comigo, não tá?
Kiara suspirou fundo, virando o rosto para ele, o olhar cansado. — Olha, Marcus, fala logo o que você quer, porque eu não tô com paciência.
— E desde quando a gente precisa ter um motivo pra conversar? Não sabia que era proibido. — Ele ergueu uma sobrancelha, desafiador, os olhos brilhando como se aquilo fosse uma brincadeira que ele sabia que iria ganhar.
Kiara cruzou os braços e desviou o olhar, tentando não se perder na intensidade do dele. — Não é proibido, Marcus. Só que não tem mais nada pra gente falar.
— A gente tem muito pra falar, Kiara. Resolver. Mas você prefere fugir, como sempre. — Marcus se aproximou um pouco mais, sua voz ficando mais baixa, quase gentil, mas ainda carregada daquele tom de controle.
— Resolver? Engraçado, porque não parece que você veio por isso. — Kiara olhou de relance para o lado, onde Rafe, Topper e Kelce observavam a conversa, como se esperassem um espetáculo.
Marcus seguiu o olhar dela, apertando os lábios com uma expressão de irritação contida antes de voltar a encará-la. — Esquece eles. Fala pro seu amiguinho que a gente sabe o que ele fez.
Kiara arqueou uma sobrancelha, o coração acelerando, mas ela manteve a postura. — De que amigo você tá falando?
— Ele vai saber. — Marcus respondeu enigmático, sua voz firme e cheia de subtexto.
Kiara bufou, balançando a cabeça com um riso sarcástico. — Então agora é isso? Você só me procura pra falar dos meus amigos ou pra brigar comigo? Legal, Marcus. Muito maduro.
— Kie... — Marcus começou, a voz soando mais suave, como se tentasse quebrar a barreira que ela ergueu entre eles.
Mas Kiara levantou a mão, interrompendo-o. — Não, Marcus. Eu não tô com tempo pra isso. — Ela segurou os refrigerantes com firmeza e deu um passo para trás. — A gente se vê.
Ela se afastou antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, sentindo o olhar dele queimando em suas costas. Marcus permaneceu ali, os olhos fixos na figura dela se distanciando, uma mistura de frustração e algo mais. Ele sempre soube que Kiara não era como as outras pessoas do mundo dele. Ela era teimosa, livre, impossível de controlar. E talvez fosse exatamente isso que o fazia voltar sempre para ela.
–––
Kiara se aproximou e entregou refrigerantes para Pope e JJ, com seu olhar preocupado.
— Eu vi o Marcus e ele disse assim mesmo: "fala pro seu amiguinho que a gente sabe o que ele fez." – Disse Kiara.
Pope imediatamente olhou para JJ e Alyssa preocupado.
— O que que é isso? – Perguntou Kiara enquanto se sentava ao lado de Alyssa. — O que tá rolando?
— É... Cadê ele? – Indagou JJ tentando disfarçar a preocupação.
— Tá ali. – Kiara respondeu apontando com o queixo para o outro lado.
Logo depois, Pope se vira com pressa, JJ vira devagar e Alyssa também. Eles olham na direção onde Kiara indicou, e lá estão: Topper, Rafe, Marcus e Kelce, encarando-os de forma ameaçadora.
— Ótimo, o esquadrão da morte em peso. – Exclamou Pope.
— Não encara. – Afirmou JJ enquanto virava cabeça de Pope para que ele não olhasse diretamente para eles.
— Eles tão fazendo isso pra assustar a gente. – Alyssa disse enquanto passava a mão pelos cabelos, com um olhar preocupado.
— Só tô avisando... se me encurralarem, eu vou me defender, vou meter a porrada. Eu tô nervoso. – Afirmou o Maybank.
— Tá, dessa vez o JJ tá certo. – Concordou a Cameron.
— Eu concordo. – Respondeu Pope.
— E se isso não funcionar, eu tenho isso aqui, tá? – Afirmou JJ levantando a mochila e mostrando, como se fosse um aviso, mas tentando não chamar atenção.
— Tá. – Disse Pope.
Alyssa tentando pensar em uma estratégia trocou olhares entre Pope e JJ.
— Olha, eu sei que eles não vão me bater, mas eles podem tentar me prender, sei lá. Eles são loucos! O que a gente tem que fazer é ficar no meio do povo, eles não vão fazer nada no meio de uma multidão dessas.
— Como um cardume de peixes. – Afirmou o loiro.
— A gente fica em movimento, eles não vão fazer isso no meio de uma multidão. – Acrescentou Pope.
— Pera aí, JJ, me fala que você não trouxe uma arma pra cá! Aqui tem crianças! – Kiara exclamou com uma expressão de irritação, olhando para JJ.
— Não, Kie, eu não trouxe a arma, tá? Tá tudo bem, valeu? – JJ respondeu sorrindo sarcasticamente, tentando desarmar a tensão.
— Nossa, obrigada, super convincente, adorei JJ. – Kiara sorriu sarcasticamente como se tivesse acreditado. — Princípio fundamental, sem segredos entre Pogues. Do que que o Marcus tá falando? E por que até a minha melhor amiga Alyssa que me conta tudo tá nisso?
— Kiara... pode feder hoje à noite. – Respondeu Pope.
— O que isso quer dizer? Pode feder hoje à noite? O que tá rolando? – Kiara perguntou com a expressão confusa.
— Resumindo, pode dar briga hoje à noite, Kie. E das feias. – Alyssa resumiu fazendo careta, tentando ser objetiva.
— Nega, nega, nega... – JJ murmurou só para Pope ouvir.
∆
A noite estava avançada, e o céu já exibia um manto de estrelas quando Alyssa descansava a cabeça no ombro de Kiara. As duas estavam distraídas pelo filme projetado na grande tela do festival enquanto JJ e Pope, inquietos, decidiram levantar.
— Aí, aonde vocês vão? — perguntou Alyssa, franzindo a testa.
— A gente tem que mijar — respondeu JJ, dando de ombros com naturalidade.
Kiara ergueu uma sobrancelha e provocou:
— Vão segurar um do outro?
Ignorando a alfinetada, os dois saíram para a parte de trás da tela onde o filme era exibido. Lá, sob a luz fraca da lua, começaram a se aliviar. Pope, soltando um suspiro de alívio, brincou:
— Isso é mais gostoso do que um boquete.
JJ riu, encarando o amigo.
— Até parece que sabe como é.
— É melhor do que eu imagino que seja — rebateu Pope, com humor.
Enquanto Pope terminava, JJ ficou virado, encarando o nada. Então, Pope quebrou o silêncio:
— E aí, você trouxe a parada?
JJ ficou tenso.
— Merda, eu esqueci.
Pope bufou, incrédulo.
— Você esqueceu? Cara, você tinha uma função, a única coisa que eu te pedi!
— Relaxa, cara. A gente resolve isso depois — desconversou JJ, mas antes que pudessem voltar para o filme, deram de cara com Rafe, que surgiu assobiando.
Rafe exibia um sorriso sarcástico ao se aproximar.
— E aí, Pogues, tudo bem com vocês?
JJ manteve a calma, recuando levemente, mas sem demonstrar medo.
— E aí, Rafe.
Pope tentou sair por um lado, mas foi barrado por Marcus, que apareceu de repente.
— Oi, e aí, Pope? Tá legal? Você parece nervoso — zombou Marcus.
Logo depois, Topper e Kelce surgiram, cercando os dois Pogues.
— É, fez um belo trabalho com meu barco — afirmou Topper, olhando fixamente para Pope.
— Eu não sei do que você tá falando — rebateu Pope, tentando manter a postura.
— Ah, claro que não — ironizou Topper.
Marcus riu, cutucando Pope verbalmente.
— Ele nunca sabe de nada, né?
A tensão cresceu quando Rafe deu um passo à frente, encarando JJ.
— Você não é tão marrento sem a sua arma, né?
JJ encarou Rafe com um olhar desafiador.
— Dá mais um passo e eu arrebento essa sua carinha de criança.
Rafe gargalhou, mas antes que pudesse retrucar, Topper, agora focado em Pope, soltou.
— E aí, Pope, você fica feliz em roubar dos outros? Sua mãe fica satisfeita? E o seu papai?
Pope perdeu o controle e deu uma cabeçada em Topper, que gritou de dor enquanto se abaixava.
— É isso aí, garoto! Agora com o punho, tá? — gritou JJ, incentivando, antes de partir para cima de Kelce.
A confusão estourou. Pope socou Topper, e JJ lutava contra Kelce, mas foi pego por trás e imobilizado. Rafe aproveitou a oportunidade e começou a acertar JJ, enquanto Marcus se voltou contra Pope.
A situação parecia fora de controle até que Alyssa surgiu correndo e pulou nas costas de Rafe, batendo nele com raiva.
— Rafe, seu babaca! – gritou Alyssa.
Rafe, surpreso, gritou.
— Alyssa, sai! Eu não quero te machucar!
— Quem vai se machucar é você, imbecil! – Ela respondeu sem hesitar, puxando a orelha dele com força.
Enquanto isso, Kiara chegou correndo, usando sua mochila como arma e acertando Marcus.
— Solta ele, Marcus, seu babaca! — gritou Kiara, determinada.
Marcus agarrou a mochila dela e logo depois jogou ela no chão, e assim que viu Alyssa encima de Rafe, Marcus correu e pegou a irmã, prendendo ela.
Topper logo soltou Pope e se aproximou de Kiara e empurrou a Carrera no chão.
— Kiara! Você tá bem? — gritou Pope, preocupado, enquanto lutava para se libertar do mata-leão de Topper.
No momento em que Marcus se distraiu olhando para Kiara, Alyssa viu a oportunidade e acertou a cabeça dele com força, fazendo-o soltá-la. Rapidamente, Alyssa ajudou Kiara a se levantar e as duas correram em direção à mochila caída. Kiara abriu o zíper e encontrou a arma, mas hesitou. Alyssa balançou a cabeça em negação, pegou um isqueiro e correu para a grande tela do filme.
O fogo começou a subir rapidamente, chamando a atenção de todos.
— Aí, vambora! — gritou Rafe, puxando Marcus, enquanto os outros começaram a recuar.
Marcus seguiu para ir embora mas antes de ir encarou Kiara, que fazia o mesmo. Os dois estavam com expressões diferentes. Kiara uma expressão de tristeza com raiva enquanto Marcus tinha uma expressão de tristeza ao ver Kiara ali.
Do outro lado, Kelce ainda segurava JJ, mas Alyssa, sem hesitar, pegou a arma da mão de Kiara e apontou para ele.
— Solta ele agora, Kelce! Ou eu vou atirar.
Kelce riu, mas soltou JJ, recuando. Alyssa jogou a arma no chão e correu até JJ, pegando seu rosto com cuidado.
— Aí, meu Deus, JJ, você tá bem? — perguntou, preocupada, seus olhos fixos nele.
JJ sentiu sua respiração falhar. Alyssa estava tão perto. Seus olhos brilhavam sob a luz do fogo, os cabelos loiros dançavam ao vento, e suas mãos suaves acariciavam seu rosto machucado. Por um momento, JJ esqueceu tudo que tinha acontecido.
— Eu... tô... bem — respondeu, gaguejando, incapaz de desviar os olhos dela.
O festival, que antes estava cheio, agora estava vazio e mergulhado em uma tensão palpável. As luzes brilhantes do evento piscavam como se estivessem tentando manter a normalidade, mas o caos que se desenrolava nas ruas tinha apagado a sensação de celebração.
Kiara, que havia ficado atenta a todo o cenário ao redor, gritou de repente, sua voz cortando a agitação.
— Vamos embora!
Alyssa, que ainda estava segurando o rosto de JJ com delicadeza para tentar avaliar o quanto ele estava machucado, percebeu o que estava fazendo e então se afastou em um pulo.
JJ, ainda um pouco atordoado, balançou a cabeça, tentando manter a compostura, mas a situação estava bem longe de ser normal. Seus olhos, focados em Alyssa, mostravam mais confusão do que confiança, enquanto ele voltava a caminhar.
Sem perder tempo, o grupo correu para sair do festival, os passos rápidos e apressados ecoando nas ruas. Logo, se encontraram com Maddy, que estava vindo na direção deles, com a expressão um tanto surpresa ao perceber o ritmo acelerado do grupo.
— Uau, eu estava chegando e todo mundo indo embora. – Maddy disse, um pouco confusa, enquanto olhava para seu irmão, JJ, agora visivelmente machucado.
Ela se aproximou dele, seu olhar preocupado.
— Isso aqui tá feio. – Maddy comentou, sua voz revelando uma mistura de surpresa e preocupação.
JJ soltou uma risada fraca, tentando descontrair a situação, mas sua expressão não mentia.
— Tô sabendo. – Ele respondeu, e uma dor sutil passou por seus olhos.
Maddy, ainda absorvendo o que estava acontecendo, deu um olhar ao redor, tentando compreender o caos que envolvia o lugar.
— Se eu soubesse que ia acontecer tanta coisa nesse festival, teria vindo mais cedo. – Ela comentou, em tom de brincadeira, tentando aliviar a tensão, mas sua face ainda mostrava preocupação.
Pope, que caminhava ao lado deles, olhou para Maddy e deu um sorriso cansado.
— Você se livrou, Maddy. – Ele disse, dando um suspiro de alívio. – Pelo menos não teve que ver tudo isso de perto.
Maddy deu de ombros, ainda tentando processar a situação.
— Eu sei, mas não sei se é uma boa coisa se livrar assim… – Ela murmurou, olhando para o grupo com um olhar preocupado.
Foi Alyssa quem quebrou o silêncio, seu tom carregado de uma dúvida que já a atormentava há algum tempo.
— Aí, cadê o John B? – Ela perguntou, olhando para os outros com um olhar ansioso.
Kiara, que já tinha sentido a ausência do amigo, respondeu com um tom de frustração.
— Boa pergunta. – Ela disse, passando a mão pelo cabelo, como se tentasse organizar os pensamentos.
Pope, ainda tentando processar tudo o que acontecera no festival, acrescentou com um tom grave.
— Ele sumiu o dia inteiro. – Disse, olhando ao redor, como se esperasse que ele surgisse de repente.
E assim o grupo se despediu, cada um seguindo para suas casas, ainda com lembranças daquela noite do festival que deu completamente errado.
᭪☀️🌊 ݇01: Que capítulo foi esse? Nossa, muitas emoções!
᭪☀️🌊 ݇02: O que estão achando? Gostaram desse capítulo?
᭪☀️🌊 ݇03: Tô postando muitos edits dessa fanfic no tik tok, a conta tem o mesmo nome daqui. ( Kietzxd)
᭪☀️🌊 ݇04: Esse capítulo foi um pouco menor porque acabei ficando um pouco sem tempo para escrever mas prometo que o próximo vai ser maior!
᭪☀️🌊 ݇05: Muito obrigada se você leu até aqui! Não se esqueçam de votar e comentar pra mim saber o que vocês estão achando da fanfic. Beijos até o próximo capítulo <3
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