🧪┇𝖴𝖭𝖲𝖳𝖤𝖠𝖣𝖸
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮𝟭:
𝖨𝗇𝗌𝗍𝖺́𝗏𝖾𝗅
O céu nublado por nuvens cinzentas e pesadas era a demonstração perfeita da sombriedade do momento, quase como se o clima e universo se ajustassem a tudo que ocorrera aquela manhã.
Bella encarava a terra macia abaixo de suas botas e se perguntava quantas pessoas mais teria que enterrar naquela vida, naquela jornada.
A tormenta de enterrar o corpo de um garotinho com uma vida inteira pela frente era forte demais. Na noite que antecedia aquela manhã, ela havia imaginado uma vida boa para Henry e seu irmãozinho em Denver, se apegando a vã esperança de tornar a vida de mais uma família melhor e assim, diminuir sua própria solidão e culpa por tudo que já havia feito naquele mundo.
Sam nunca chegou a saber os planos dela para eles e Henry nunca ouviria as incríveis histórias sobre Denver que ela queria contar. A casa vazia tão próxima a dela que seria deles, agora permaneceria intocada.
Se ainda acreditasse em Deus provavelmente gritaria para os céus, provavelmente perguntaria quantas pessoas mais teria que perder, quantas memórias teriam que ser esquecidas, do que mais teria que se desapegar? Por que um garotinho de oito anos completamente inocente estava morto e ela tinha que viver?
Quantas covas mais seriam cavadas até que fosse seu corpo dentro de uma delas?
Ainda estava ali, respirando. Sempre vagando, somente existindo sob a vasta terra amaldiçoada que aquele mundo representava. Não tinha paz nem sossego, sendo o único momento pacífico quando tinha gente que amava ao seu lado ou quando não tinha que encarar a morte. As vezes sequer se achava merecedora daquilo, das coisas que tinha, das pessoas, da dádiva de ainda respirar.
Mas não havia ninguém para culpar. Nenhum ser onipotente, não em sua perspectiva quebrada. E se houvesse um velho todo-poderoso lá em cima, ele não estava ao seu lado e tinha razão em não estar, ela era uma pecadora, afinal.
Mas quem poderia saber? Se tudo aquilo não tivesse começado com a perda de Sarah e de sua família, talvez dentro da loira ainda restasse um pingo de fé. Sua humanidade poderia não ter sido perdida e então, haveria uma chance para sua alma.
Agora, depois de perder tanto, ela sequer achava merecedora de algo além daquilo que já estava acostumada: dor e perda.
Não era só Sam e Henry, a cada morte que encarava, era como sofrer por todas as outras também. Sarah, Bill, Frank, Anna, Liam, Andrew, Tess..aquele era só o começo da lista, as dores de vinte anos eram cicatrizes que acabavam por se abrir denovo. Tudo em que tocava morria e ela quase achava que estava sendo punida por algo, por toda merda que havia feito.
A dor de cabeça havia voltado, um nó se formara na garganta e ela se via apertando os pulsos sem sequer perceber, acima da maciça terra, olhando para o lugar onde havia enterrado os irmãos, a loira se amaldiçoava mais uma vez.
A expressão dolorosa no rosto de Bella só tornava as coisas difíceis para Joel.
Talvez ela mesma não percebesse que estava mordendo o interior de suas bochechas, ou que uma única lágrima se pendia em seus olhos azuis e demorava a cair, mas ele via, ele a enxergava. A postura ereta somada ao rosto cheio de dor eminente era uma visão forte demais que quase doía fisicamente nele, pois já havia a encarado antes.
Ele sabia bem como a mente da loira podia fazê-la se sentir culpada por coisas que não estavam em seu controle. E por um momento tudo que quis fazer era abraça-la e tirar um pouco do peso dos ombros dela, mas o desejo foi obrigado a ser reprimido e embora o caos destilante habitasse o interior daquela expressão assombrada, nada poderia ser feito, não por ele.
A perda era um vínculo de culpa silencioso que dançava entre eles, mas Bella estava cansada demais, cansada de que a única coisa que pudesse lhe conectar a Joel tivesse que sempre ser dor, culpa ou tragédias, embora soubesse que aquelas três palavras era a descrição de suas vidas.
Estava exausta e ele também.
Ela estava cansada de fugir, de se conter, de fingir que queria ficar longe, porque não queria.
Ele, cansado da luta eterna de sua vida, da ausência de tudo que havia conhecido e amado, da contínua contenção de sentimentos, apenas se via desnorteado.
A proximidade nunca havia se mostrado tão necessária quanto agora, mas não..
Com um suspiro, piscando forte e fazendo a solitaria lágrima descer pela bochecha, a loira começara a se afastar das covas fechadas e, consequentemente, de Joel também.
Dando alguns passos em direção a Ellie, que estava há metros deles, Bella logo chamou pelo Miller.
- Vamos, Joel... antes que fique tarde.
Com um arrepio singelo, Joel se mexeu desconfortávelmente em direção a loira, que já estava passos a frente, acelerando para chegar até a adolescente, com quem andou lado a lado.
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𝗧𝗥𝗘̂𝗦 𝗠𝗘𝗦𝗘𝗦 𝗗𝗘𝗣𝗢𝗜𝗦
𝗢 𝗜𝗡𝗩𝗘𝗥𝗡𝗢 foi cruel em aparecer.
A neve branca, um manto macio e felpudo, abraçava silenciosamente o chão. A serenidade da neve contrastava com a quietude da floresta, criando um cenário de beleza fria e até mesmo inexplorada.
As árvores, outrora exuberantes com seu verde escuro e folhas vibrantes, agora se erguiam esqueléticas, os galhos nus, adornados pela neve, se estendiam para o céu branco e nublado. Os carvalhos, antes marcados por uma rica tonalidade escura, destacavam-se vividamente contra o plano de fundo pálido, como uma pintura da natureza.
O sol, uma vez radiante e dominante, agora se tornava uma presença tímida, oculto por nuvens pesadas. Seu brilho, agora branco e gélido, criava uma atmosfera celeste.
A estação era bonita, porém cruel. E sob essa beleza toda, estavam Joel, Bella e Ellie.
Os passos que davam para longe da grande floresta que parecia sem fim, eram pesados e cansados, afundando sob a grossa camada de neve que cobria o chão de todo o terreno pego pela visão dos três.
Os pequenos flocos estavam salpicados até mesmo no cabelo e rosto de Bella, cujo o nariz estava vermelho e o rosto tão pálido quando antes.
Ela odiava o frio. Sempre acabava gripada, suas mãos ainda mais frias do que o de costume, sua roupa acabava sempre úmida, passando todo o frio para seu corpo, sem contar a tremedeira nos dentes e a agonia para dormir.
Além de tudo, nada crescia durante o inverno, o que tornava a estação mais difícil para Denver. O fato de estar longe de casa a atormentava, a esperança daquela missão durar pouco havia sido tirada de si há meses atrás e não parecia que chegaria ao seu fim tão cedo.
A loira se perguntava se Rafael estava indo bem como um líder em seu lugar, se naquele ponto da estação eles já haviam feito trocas, se todos estavam bem..haviam muitas questões em sua cabeça.
Nem Bella e nem o Miller planejavam que a viagem fosse durar tanto, as consequências disso se transformando em uma crescente agonia. E embora a convivência estivesse sendo melhor do que imaginava, ainda era sufocante, de certa forma.
A líder dos Scorpions se pegava querendo voltar a sua vida, não apenas para sua cidade, mas para as confortáveis conversas rotineiras com seus amigos, para as piadas sem graças de Alex, para o abraço de Rafa, a lerdeza familiar de Richy, para sua família.
Em contrapartida, o tempo também era precioso para Joel. Na medida que os dias passavam, as chances da segurança de seu irmão apenas diminuíam. Faziam três meses e se Tommy tivesse tentado contato, sabia que ele estava a caminho e se não houvesse tentado...ele não gostava nem de imaginar e sempre que o pensamento lhe cruzava a cabeça, um aperto se instalava em seu peito.
O mais novo era a única familia que o grisalho tinha naquele mundo e se não tivesse ele, então não teria nada e nem ninguém, apenas vazio.
O pensamento se instalara nas têmporas como um chiado alto, a hipótese de não ter ninguém naquele mundo tinha capacidade de o enlouquecer. Não podia perder mais do que já havia, aquele mundo não podia lhe tirar tanto e ainda esperar que alguém como ele permanecesse de pé.
A inabilidade de viver sem aqueles com qual amavam se estendia por eles dois e queimava como ácido.
Mas Ellie, diferentemente dos mais velhos, não era atingida por aquele sentimento. Ela não tinha ninguém por quem temer ou necessitar, não mais. Se não estivesse sempre cercada pelos braços amorosos de Bella ou mesmo do mal humor de Joel, se sentiria solitária. Contudo, a loira não deixava espaço para que aquilo a atingisse e era ali, naqueles braços, que a Williams obtia a segurança que faltava ao mundo.
A líder, ao contrário do Miller, nunca tentara resistir a Ellie, pois já a conhecia. Toda a estranheza inicial e toda a estranheza de lidar com crianças era algo que ela já havia passado antes, então tudo que restou foi o conforto e a vontade de conhecer uma a outra, apenas a doçura da coisa, enquanto com o homem havia sido o contrário, chegando a ser agridoce.
Para a adolescente, a loira podia ser inacessível as vezes, podia encarar o fundo da alma dela quando se irritava, podia não assumir seus sentimentos e nem entender as piadas de primeira, mas ainda sim, era tudo que Ellie precisava naqueles meses, assim como Joel, que embora fosse um desafio diário, era um com o qual ela já havia aprendido a lidar.
Os laços apenas se estreitaram com o tempo, formando uma forte conexão entre os três, que obtiam dali alguma força para prosseguir.
E com isso, a floresta finalmente havia sido deixada para trás.
Eles andavam em direção a única casa por ali, sendo a única marca de civilização que viam há dias a fio, pela chaminé era possível saber que haviam pessoas. Por estarem perdidos, mesmo com o mapa, o seria feito a seguir era bem claro e quase não precisou ser dito entre Joel e Bella. Precisavam de uma direção e conseguiriam uma, não importando como.
- Ei ei ei! Esperem aí, o que a gente tá fazendo? - Ellie protestou fazendo os dois a olharem com expressões bravas.
- Shiu! Fica quieta - Joel chamou a atenção dela em um tom baixo, quase sussurado, mas continuou sem explicar.
- A gente vai entrar naquela casa, mas não dá pra fazer isso discretamente se você continuar falando alto e chamando atenção. - Bella completou, expondo o plano.
- Tá bom, tá bom - a adolescente respondeu, revirando os olhos, a loira apenas suspirou, um sorriso leve enquanto prosseguia.
Logo, o plano se tornava claro como água na mente de Bella. Eles se dividiriam, não poderiam entrar ameaçando, pois não sabiam o que havia lá dentro. Seguindo a mesma lógica, também não podiam entrar desprotegidos e esse seria o papel de Joel, que entraria depois.
- Eu vou pela frente com a Ellie e bato na porta, você vai pelo fundo, tenta abrir por lá, já que não dá pra saber com o que estamos lidando.
- Pela frente não é mais arriscado? - a menina questionou.
- Não se eu contar uma história trágica, mas fica com a arma pronta, se algo acontecer...já sabe - ela alertou.
- Atirar, depois perguntar - a garota completou, colocando a arma em seu bolso, onde ficava bem escondida.
- Isso.
Com um olhar que escondia a determinação, as mulheres se separaram de Joel, que por sua vez, andou devagar em direção a porta dos fundos.
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Os barulhos das colheres contra as louças eram os únicos a serem ouvidos no ambiente, o trio, reunido na mesa da sala da cabana, tomava sopa. A refeição quente era o suficiente para espantar o frio de seus ossos e pareceu até mesmo aliviar o nariz de Bella, que insistia em irritá-la aquele tempo quase todo.
A cabana de madeira era muito bem iluminada pela luz difusa que entrava pelas quatro janelas no local, esta luminosidade fazia o trabalho muito bem, se espalhando pelo cômodo e rostos dos presentes, acariciando suas feições com seu brilho esbranquiçado. A temperatura do ambiente também era muito mais agradável, talvez pela lareir, juntamente a sopa, que apaziguava o frio em seus corpos, espalhando quentura.
Os móveis eram incrívelmente bem feitos em madeira maciça, provavelmente a mão. Como um bom carpinteiro que era, Joel não pode deixar de reparar nos detalhes.
A senhora dona da casa havia se mostrado estranhamente destemida e até mesmo amigável com eles, mesmo com todo o papo furado que haviam lhe oferecido, era quase como se soubesse que era uma armação, mas não se importasse com isso, talvez fosse o poder de Bella, que havia lhe oferecido uma gentileza inicial, ou a mais velha era mesmo gentil demais para aquele mundo.
Em frente ao comportamento dela e mesmo ao fato de não mostrar ameaça alguma para eles, Joel havia pegado leve, mantendo sua própria arma a vista, mas nunca apontada para ela, em sinal de respeito pela hospitalidade. Era quase estranho que uma arma apontada para a mais velha não fosse o suficiente para impedi-la de atender as necessidades básicas deles, como a óbvia fome e frio com o qual lidavam.
Aquele fato fez o Miller não confiar inicialmente e houve certa resistência à sopa, mas quando ela se colocou na mesa com eles para comer, a desconfiança começou a abaixar. O fato de ainda existirem pessoas assim no mundo era quase desconexo para ele, que ainda mantinha sua cara fechada.
- Seu pai é sempre assim? - a idosa questionou Ellie, que era a mais falante, como sempre.
- Ele não é meu pai. E é sempre assim, é a cara dele - ela respondeu, entre uma colherada e outra.
Com o passar dos minutos, a refeição foi terminada e ao seu fim, veio a desconfiança e mais perguntas, o Miller já havia feito muitas delas, mas ainda mais vieram. Quem morava ali, aonde estavam, se ela havia visto alguém passando pelas redondezas nos últimos meses, cada pergunta com um papel específico.
Como a própria anfitriã havia dito para ele, seu marido, que havia saído para caçar, estava a caminho e aquele fato se provou quando o homem mais velho passou pela porta, longos minutos depois, quando Joel e a loira já estavam lhe aguardando.
O velho que adentrara a casa tinha traços asiáticos, uma expressão fechada e um arco nas mãos, além de uma blusa de couro escura e grossa.
Com um único passo largo ele se colocou na sala de sua casa, a pouca neve de suas roupas e botas caindo em flocos contra o chão de madeira. Assim que seus olhos escuros vagaram pela sala a procura de sua esposa, acabou encontrando o rosto de Bella primeiro, bem a frente da poltrona onde a mais velha e dona da casa estava sentada.
Uma expressão de descontamento passou pelo rosto pálido e enrugado do homem e antes mesmo que qualquer reação contra a moça pudesse ser realizada por ele, Joel se revelou de trás da pilastra, não dando chances para outro, a arma em suas mãos calando qualquer coisa que pudesse ser feita contra a loira.
Bella, por sua vez, se mantinha próxima a anfitriã o tempo todo, também preparada para qualquer tipo de coisa que pudesse ocorrer, embora duvidasse que fosse muito longe. Sua própria expressão era séria, encarando a cena a sua frente e esperando o desenrolar, confiando em Joel.
O homem desconhecido colocou o arco de lado e encarou a líder a sua frente, mudando a direção das orbes escuras para Joel, que ainda mantinha sua arma apontada e pronta.
- A arma também.
- Quem é você mesmo?
- Eu 'tô só de passagem - O Miller respondeu, segurando a arma na direção do homem, que tirava a jaqueta que lhe cobria os ombros - Pega a arma com a ponta dos dedos, puxa longe.
As instruções de Joel eram bem claras e assim foi feito, contudo, assim como sua a mulher, ele não pode deixar de debochar do Miller com sua expressão.
Colocando a arma no móvel a sua esquerda, os olhos escuros do asiático, que agora havia retirado seu capuz, não demoraram a se encontrar com os de sua esposa e ele logo a questionou:
- Não atirou porque?
- A arma estava lá daquele lado - ela sinalizou, enquanto se balançava na cadeira, falando com tanta naturalidade que era quase estranho - e eles não me machucaram.
- É, deu pra ver - o marido a respondeu, enquando se movia mais a dentro da sala, quase como se Joel não tivesse mantendo a mira na direção dele.
Assim que o recém chegado analisou a mesa de centro e as louças ali presentes, juntamente ao mapa, mais um questionamento foi feito por ele.
- Fez sopa para eles? - o tom era quase ofendido, enquanto encava a mulher sentada, que ainda se balançava levemente ao lado de Bella, a expressão quase indiferente.
- É, fiz sim. Está frio lá fora - a mais velha se explicou e o homem, em seguida, se sentou em uma cadeira também, próxima ao fogo crepitante da lareira.
Logo, Joel não demorou a questionar o homem sobre o paradeiro de seu irmão e sobre a localização de onde estavam, já que haviam se perdido do lugar exato no mapa há alguns dias, nada muito diferente do que já havia questionado a mulher, embora esperasse respostas diferentes.
Depois do caçador questionar a esposa da veracidade dos fatos que ela havia apontado a Joel, ele mesmo mostrou onde estavam no mapa estendido na mesa.
As coisas foram escalando, primeiro a presença de Ellie, que foi revelada pela mulher, fazendo a adolescente descer as escadas apressada e segundamente, as respostas do homem, que deixava claro que ele não fazia idéia de onde Tommy estava, na verdade, não parecia ver muitas pessoas por ali, o que deveria ser comum, já que era um local isolado.
Assim que assimilou o local apontado, Joel guardou sua arma no coldre em um movimento quase brusco. Ele deixou seu corpo cair sob a pontrona mais próxima, onde apoiou a testa sob o punho fcehado, seus olhos de fecharam por alguns segundos, uma centelha de preocupação havia se transformado em algo ainda pior.
Eles tinham visto Cody, repleta de infectados, dos piores tipos. Se Tommy tivesse ido para a direção errada, então haveria uma explicação bem simples para o fato de não ter dado mais sinais pelo rádio. E a probabilidade cada vez maior enchia a cabeça do Miller, fazendo sua expressão se fechar, embora as sombrancelhas ainda estivessem juntas, formando uma expressão quase dolorida que demorou a deixar sua face.
A breve historia contada pelo proprietário sobre já morar lá antes do surto foi explicativa, ele até mesmo pediu desculpas pela forma como se referiu a Tommy, mas foi bem realista em sua continuação: tinha muitos infectados em todos os lugares ao redor dali e de Cody, todas as cidades, até a reserva de indígenas, qualquer um dos lugares em que o Miller mais novo poderia ter pisado tinha grande potencial de ser o motivo de seu sumiço.
Antes que a situação de Joel pudesse piorar, Bella se levantou do pequeno banco que ocupava lado da senhora e se sentou na poltrona ao lado do contrabandista.
- A gente vai pro Oeste, pro Colorado. Alguma dica? - ela questionou.
- Sim..vão pelo leste - o semblante do homem era bem sério enquando respondia, olhando bem para Bella enquanto o fazia. Ele logo se inclinou sobre a mesa para apontar no mapa - E nunca atravessem esse rio aqui. Nunca.
- O que tem do outro lado? - Ellie questionou.
- Morte - a voz meiga pertencente a mulher respondeu - nunca vimos quem está lá do outro lado, mas já vimos os corpos que deixam para trás. Uns infectados, outros não. Se o seu irmão estava a oeste do rio, ele já era.
As palavras atingiram bem no ponto fraco.
Era o que Joel mais estava evitando, pensar na probabilidade de seu irmão estar morto, apenas como mais um dos cadáveres deixados para trás. Sem vagalumes, sem nada. Então toda aquela missão, todo o risco que havia tomado, as vezes que poderia ter morrido, tudo teria sido em vão.
A probabilidade de estar sozinho no mundo era desconcertante.
Por um segundo, o olhar que ele deu para a mulher mais velha em sua frente não era o de atenção no que dizia, era de dor. Suas sombrancelhas juntas e os olhos em um brilho perdido, as orbes se desviaram para o tapete de pele no chão, onde ele manteve os olhos fixos, enquando todo aquele barulho em sua mente se tornava ainda mais alto, até doer.
Bella, que estava extremamente perto dele, não demorou a alcançar o braço do homem onde deixou um aperto, aquele era um gesto que ela mal pode controlar, como se suas mãos fossem automaticamente consola-lo. E ela sabia o que era aquele olhar..sabia bem.
- Vocês não assustam a gente - Ellie disse, olhando os mais velhos e tentando se apegar a aquelas palavras.
- Eu assustei ele.
A risada ácida do outro lado foi como farpas numa ferida recém aberta para o homem, cujo a face não relaxou. Seus olhos atormentados foram levados até a loira por um leve movimento de cabeça, ela continuava a segurar o braço dele. Mesmo por cima de todas aquelas camadas de roupa, ele jurava que ainda sentia o calor das mãos dela, o toque doce de suas que lhe resgatava e alcançava de seus pensamentos dolorosos por segundos mínimos. Logo, sua mente se mergulhou em uma onda pior ainda e ele sentiu que apenas precisava correr, sair dali, mesmo que seu corpo se recusasse a obedecer.
- A gente já vai...obrigada, de qualquer forma. Desculpa, pela arma e pela mentira - a loira se apressou em sua despedida, se levantando em supetão da poltrona macia e se inclinando para pegar o mapa. Ela sabia o que fazer, sempre soubera.
O homem ao seu lado não moveu um músculo. Assim que o toque se afastou, ele engoliu a seco mais forte ainda, sentindo como se houvesse uma mão invisível agarrando e esmagando seus pulmões e coração, impossibilitando a respiração e espalhando uma dor aguda.
A mão, outrora em seu braço, foi até a costa de sua mão sob o sofá. Aquela era a pele dela contra a dele, o toque realmente quente contra sua carne, os dedos cujo as pontas tinham cicatrizes de cordas de violão acariciavam a pele e sua voz calma lhe dizia que já era hora. E mesmo que a ouvisse de forma longínqua, como se estivesse embaixo d'água, o ato fez a respiração se tornar um pouco mais fácil e assim que um leve aperto foi deixado ele percebeu que não podia, não podia desabar numa sala de cabana, na frente de desconhecidos, tão pouco em qualquer outro lugar no mundo.
Suas pernas e o corpo apenas se moveram automáticamente, o levando para fora da casa o mais rápido que conseguira. A mão gentil continuava na dele, o agarrando com um pouco mais de força pelos quatro dedos.
A mudança brusca de temperatura foi o suficiente para despertá-lo, seu cérebro se recusava a aceitar aquilo, seu irmão não poderia estar morto.
- Tá tudo bem? - Ellie questionou, fazendo Bella a olhar com uma cara feia.
- Eu tô bem. Eu tô bem - ele repetia, para ela e para si mesmo, seus olhos se virando para o sol, sua mão se encolhendo sob a de Bella, que o segurava pelos dedos. O polegar calejado dele alcançando a mão dela por alguns segundos.
Sob toda a bagunça, ele ouvia a voz de Ellie repetindo alguma coisa e a voz da mais velha a reprimindo.
- Dá um tempo, Ellie! - ela disse para a garota, que concordou com a cabeça, segurando o coelho que havia pegado da casa em suas mãos.
Com um levantar brusco de cabeça, o grisalho respirou mais forte, o ar finalmente entrando em seus pulmões.
- Melhor?
- Eu já falei, eu tô bem! - ele disse, soando mais agressivo do que esperava, mas naquele minuto, a devolvida habilidade de respirar era um pouco mais importante.
- Certo - com um passo para trás, a mulher tirou suas mãos dele, um suspiro aliviado escapando dos lábios dela.
Merda.
Não era isso que ele queria dizer, mas também não conseguia fazer o contrário.
Na verdade, toda vez que ela se afastava, as palavras se prendiam na garganta dele, que percebera desde quando começou.
Bella tinha que lutar pelas palavras que ameaçavam sair, lutava para controlar seus impulsos e o coração que batia tão forte no peito, mas era quase insuportável.
A distância que a loira havia colocado entre os dois era obviamente consequência do que ele havia dito, mas havia demorado. E mesmo que houvesse sido imediato, no momento em que as palavras haviam sido proferidas ele já sabia que não seria o suficiente, que nem mesmo o mais bem regrado tratamento de silêncio seria suficiente, pois sua intenção com aquelas palavras era faze-la parar com aquilo tudo, era mante-la longe e poupar seu próprio coração.
O que queria era que ela parasse de ser tão fodidamente teimosa, tão cheia de sorrisos e coragem, mas aquela era simplemente Bella sendo quem era, o que sempre lhe fascinava.
Não havia nenhuma maneira de impedir o furacão de sentimentos que lhe pertenciam, ele não podia impedi-la de sorrir tão abertamente, não podia desviar seus olhos dos dela porque uma força maior os atraía. Não podia parar o coração e impedi-lo de bater por ela.
Era impossível se desvencilhar daquela mulher e disso ele já sabia, mesmo em Boston. Ela era sua maldita sina, pois de alguma forma, mesmo de longe, lá estava ela, em sua cabeça, em seus sonhos em um ciclo que nunca parecia terminar, mas dessa vez era pra valer.
Dessa vez ela estava ali, ele podia alcança-la, ele podia ouvir sua voz, ouvir a risada e aquele era sempre o som que, quando junto a risada de Ellie, lhe enchia de vontade de viver. Isabella já não era mais uma memória de alguém que havia perdido, ela era bem real e estava ali, segurando a mão dele há segundos atrás, o agarrando para longe de mais uma crise, a sua luz na escuridão.
O quão aterrorizante era o amor. O quão doloroso era o medo que vinha junto a ele.
Em um suspiro alto e audível, Joel andou para longe da cabana, sentindo seu coração pesado mais uma vez.
Olá pessoas! Demorei mas voltei ;) esse é mais um dos capítulos que são de progressão emocional, só invés de prosseguir na história da série, necessariamente. Estava passando das quatro mil palavras, então não quis ir muito a frente, até porque gostei de como terminou aqui. Enfim, eu volto em breve, já que o EP 6 é meu favorito e eu estou há meses esperando para escrever ele 🤭
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