🧪 ┇ 𝖲𝖤𝖤 𝖸𝖮𝖴 𝖠𝖦𝖠𝖨𝖭

𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮𝟯:
𝗏𝖾𝗋 𝗏𝗈𝖼𝖾̂ 𝗇𝗈𝗏𝖺𝗆𝖾𝗇𝗍𝖾

O rosto sério de Maria foi, em segundos, tomado por uma expressão de surpresa, tanto em seus olhos, quanto na ausência de fala após a apresentação de Bella. Para a loira, a reação era até mesmo cômica, por mais comedida que fosse.

Poder, naquele mundo, não era pra qualquer um.

Contudo, seu nome ecoava aos ventos, assim como o de seu grupo, cujo o símbolo estava por todos os lugares em que passavam. Eram quase territoriais naquele quesito, não havia muito espaço para os Vagalumes desde o fatídico dia em houve um embate entre ambos, pelo menos não no sul e oeste.

E além da óbvia surpresa gravada nas expressões da representante de Jackson, havia também um profundo respeito.

Depois de abrir um questionamento sobre os nomes dos acompanhantes da Xavier e suas respectivas intenções, Maria os colocou em cavalos e em minutos, os três já estavam a caminho da cidade de Jackson, sob a promessa de que havia algo para eles lá.

A medida em que os cascos marcavam a neve, deixando para trás pequenos buracos como momentâneas lembranças das passagens do grupo, Bella sentia em seu âmago, uma sensação estranha se aproximar. Algo sobre aquilo lhe era estranho, quase uma ansiedade por algo que sequer sabia o que era.

O fato de estar em um cavalo diferente de Ellie apenas piorava a sensação, ela mantinha os olhos azuis na garota, quase não olhava para o próprio caminho que trilhava por simples desconfiança. Ela sabia quem eram aquelas pessoas, mas não significava que confiava plenamente nelas, não era ela quem negociava com eles, afinal.

Assim que entraram pelos grandes e imponentes portões de madeira de Jackson, um arrepio passou pelas costas de Bella ao encarar a cidade. Era mesmo tão organizada como havia ouvido sobre, cada pessoa naquele lugar parecia ter seu próprio mundo e fazer suas próprias coisas longe do caos que assolava o lado de fora, suas expressões não eram carregadas de sofrimento como em Boston, elas pareciam livres e aquilo era quase perigoso.

Havia algo bastante próximo a aquilo em Denver, contudo, a maioria das pessoas passava por um tipo prévio de treinamento que impediam que as perdessem facilmente, eles eram uma ex-zona de quarentena afinal e mesmo que estivessem bem longe da antiga localização, ainda sentiam o caos em seus ossos, persistente.

Como de costume, a loira se pegou pensando se era mesmo saudável que as pessoas parecessem tão desatentas do mundo em que viviam. Afinal, se um dia estivessem sob ataque, quem daquelas almas sobreviveriam para contar a história?

A mente da mulher era quase formada, treinada para imaginar as piores probabilidades e previni-las, antes de ter que remediar. A líder que existia dentro dela nunca cessava, estava sempre ali. Ela podia obter alguma vantagem na solidão e até mesmo gostar dela as vezes, mas todo seu corpo e cérebro sempre foi treinado para viver em grupo, pra proteger pessoas.

Talvez fosse por isso que Denver se mantinha em segurança, mesmo que exportassem coisas. Bem, ela gostava de ser linha de frente de coisas bem sucedidas, os Scorpions, Denver...talvez fosse só o começo do que seria uma longa lista futuramente.

A confiança e o peso da responsabilidade pesavam em suas costas em iguais partes e mesmo que assim fosse, ela mantinha a mesma postura e expressão, olhos atentos em sua garota, mesmo com os olhares tortos e curiosos que os membros da cidade lhe davam. Não havia nada a temer e se houvesse, ela haveria de lidar com isso também.

Joel, ainda confuso sobre o que havia acontecido nos últimos minutos, mantinha o ritmo de seu cavalo constante. Não havia perdido o jeito depois de tanto tempo. Ele e Bella costumavam ser obcecados por cavalos, cowboys, velho oeste e suas lendas. O mundo antigo havia lhes rendido algumas habilidades e muitas, muitas histórias para contar, contudo sem ela para completar suas falas, talvez não valesse realmente a pena fazê-lo.

O Miller não fazia idéia de que a fama do grupo de Bella se estendia a ponto das pessoas a conhecerem pelo nome, mesmo longe de Boston. Porém, o fato havia sido o que lhes salvou naquela hora e de qualquer jeito, estava grato por isso. Contudo, ao cavalgar em direção ao desconhecido, ele não podia evitar a sensação estranha de não estar no controle.

Naquele momento, sequer tinha conhecimento prévio de para onde estava andando. Aquelas pessoas sabiam o seu nome, o porque estava ali e ele, não sabia nada sobre com quem estava acompanhado ou o que esperar.

Porém, se Bella confiava neles, Joel também confiava.

A cidade que se estendia a sua frente era quase um vilarejo, o lugar por onde passavam havia vários comércios em madeira, casas cobertas por flocos. Crianças construíam bonecos de neve, gritavam e se divertiam, aproveitavam o melhor que a vida depois do fim podia oferecer. E Joel escaneava tudo com olhos atentos, o lugar era quase como se o tempo tivesse parado, inafetado pelo caos e aquilo fazia seu estômago de revirar.

Fazia sentido toda a agressividade com que foram recebidos se fosse para proteger todas aquelas pessoas, tudo aquilo que tinham ali.

O cavalo do grisalho seguia as pessoas a frente, entre elas a mulher negra, que agora ele sabia, era a líder do lugar. O homem se permitia manter os olhos a frente por ter plena ciência de que Bella estava de olho em Ellie. Ela sempre estava e aquele comportamento protetor não havia passado despercebido aos seus olhos também.

O homem assimilava o novo lugar como se buscasse fontes de novas informações, qualquer coisa que fosse. As orbes castanhas vageavam por entre as casas e pessoas, construções e pequenos detalhes do lugar que parecia bom demais para ser verdade.

Então, ao ritmo do trotar de seu cavalo. De seu limitado ponto de vista, pôde enxergar em um nível acima, a presença de um rosto conhecido. A princípio, ele havia apenas imaginado ser uma conhecidência, a estatura corporal, o fato dele estar em uma daquelas estruturas que faziam a mente do Miller vagear pelos seus dias comuns de 20 anos atrás. Oeste. Por um segundo, ambos se arrepiaram.

Foram milésimos. O homem que Joel observava apenas dava instruções para aquele ao seu lado e então, quando se virou para alcançar alguma coisa, a lateral de seu rosto sendo exposta a plena e tímida luz do sol invernal, tudo pareceu se encaixar. O cabelo muito maior desde a última vez, roupas diferentes, até mesmo seu comportamento e postura.

Segundos de deliberação, o Miller mais velho sequer percebia o trotar do cavalo abaixo de si, ou o barulho da cidade. O mundo se silenciou por aquele tempo que apareceu longo demais. Aquele era seu irmão.

— Tommy!

O grito foi capaz de tirar um arrepio de Tommy, mesmo antes de seus olhos encontrarem os do irmão. Não precisou procurar muito, suas próprias orbes tiveram facilidade em encontrar a figura conhecida e ele, rapidamente começou a se mover na direção do grisalho.

A realização fez o coração de ambos bater forte, quase como um. Em rápido movimento, o moreno ouvia o barulho de seus próprios pés contra o ferro da construção de qual descia. Joel sentia suas próprias botas em passos profundos contra a neve fofa a medida que se aproximava do mais novo, o mundo silenciado e borrado, cujo a única visão clara era a presença de seu irmão ali.

E a colisão de seus corpos foi confortável. Um abraço que unia agonia, saudade e ânsias juntas, entrelaçadas. Naquele momento, não havia desentendimento que impediria que se olhassem e dessem um ao outro uma risada, não haveria diferença que impediria seus olhos de brilharem como estrelas em uma noite escura, em reconhecimento um do outro, mesmo com o tempo passado.

Joel sentiu como se finalmente pudesse respirar de novo. Depois de meses... lá estava ele, Tommy, vivo e bem..

— Que porra você tá fazendo aqui? — a questão foi um alarme soando forte na cabeça de Bella, que de longe, observava tudo.

O aperto de suas mãos na sela do cavalo apenas se tornou mais forte, aonde ela discretamente descontava o sentimento que se abatia sob seu peito como uma eclosão. A cena abaixo de si seguia e ela não sentia o que era esperado de si. Ela não sentia felicidades, saudades, nada disso, nada além de um crescente e estranho sentimento que não sabia nomear.

A única centelha de emoção boa que estava em seu ser naquele momento, era por empatia a Joel, que esteve sufocado pelas incertezas nos últimos tempos, que vinha ansiando pelo bem estar do irmão. De resto, sequer sabia como deveria se sentir, como se comportar, o que fazer..

Ela não se moveu um centímetro para ir em direção de Tommy, o contrário do que Ellie esperava que fosse fazer.

A garganta da loira apenas secou e ela se viu encarando a cena que desenrolava-se a sua frente com uma expressão entorpecida.

Joel, ainda de frente ao seu irmão, deu a ele uma risada. Seus olhos brilhosos e felizes cercados por rugas mínimas de sorriso, bochechas para cima antes de voltar ao abraço do irmão. Ele estava feliz.

Aperto, foi o que Bella sentiu. Como uma fincada repentina em algo que pareceu com sua alma. A risada ecoava em seu cérebro, assim como ecoava no de Ellie.

A cabeça da loira se abaixara lentamente, seus dedos se entrelaçaram a crina castanha dourada do cavalo e os olhos já não mais encaravam a Joel ou Tommy, ou qualquer coisa que pudesse lhe lembrar de sua antiga vida, algo que jamais voltaria. Era como ter sua cabeça embaixo d'agua, abafando os sons ao seu redor.

Sequer era seu direito se sentir daquela forma, mas depois de tudo, de sua briga com Tommy, ou sentimentos conflituosos que a habitavam a cerca de Joel mesmo que tentasse os repelir..tudo aquilo havia construído o momento perfeito para o nó em sua garganta formar.

Quanto tempo havia levado para Joel desse risada com elas? Quanto tempo mais levaria para ele desistir de tudo aquilo agora que finalmente havia encontrado o irmão?

O pensamento veio forte, assombroso o suficiente para fazer a cabeça da moça doer em um choque repentino de desgosto. A dor, ia alem do âmbito físico, o tempo congelado era sua sina. Ela sempre acabava encontrando a pior possibilidade em sua mente e se focando nela e dessa vez, era puro castigo.

Então, um grito cortante a tirou de seus pensamentos. A voz, longínqua, somada a passos pesados na neve, repeliu o clamar de seu peito.

— Bella!

Resgatando sua sanidade como um salva vidas, ao momento profético do reconhecimento. O coração em seu peito acelerou, aquela voz, tão conhecida foi apelar o suficiente para que se sentisse de volta a superfície em um estalar de dedos.

Aquele jeito de gritar seu nome, o timbre conhecido, sotaque impecavelmente brasileiro que ela amava tão profundamente.

Rafael.

Ela levantou a cabeça rapidamente para procurar por ele e seus olhos vagaram pela neve para encontrá-lo entre as poucas pessoas ali perto. Assim que o encontrou, um sorriso pequeno e aliviado tomou seus lábios, a tensão em sua testa formada pelas sombrancelas foi embora em segundos. O assombro sumiu, dando lugar a quentura de um reencontro.

Ela apenas sentiu seu corpo ser levado a ele, descendo do cavalo rapidamente. Seus pés e corpo foram automáticos a se mexer em direção ao homem, que por sua vez andava para ela também, como se seus corpos já soubessem como agir, como se fossem atraídos um para o outro.

O representante dos Scorpions tinha passos largos e rápidos, ele estava igualmente embalado em roupas de couro escuro, como os membros da cidade. Em seu rosto, tinha um leve sorriso que exibia alívio igual.

Andaram um para o outro e se conectaram em um abraço apertado e quente, capaz de espantar o mais rigoroso dos invernos, a mais longa das saudades. A tranquilidade dali tirada era bálsamo para suas almas e a loira, por um segundo, fechou os olhos e respirou, o ar frio que entrou direto para os pulmões não a espantou, nos braços de Rafael, o inverno não parecia lhe atingir. Ele era um pequeno pedaço de casa, um pouquinho de paz e segurança e tudo que ela precisava naquele momento.

A delicadeza com a qual o homem se afastou, como se fosse machuca-la era digna de brilho nos olhos e sorriso. A mão nua dele a tocou mo rosto pálido, o polegar passeou por sua bochecha corada em um ato cheio de uma delicadeza surpreendente, os olhos escuros encararam os dela profundamente.

Com as sombrancelhas juntas, os olhos vasculharam no rosto dela por qualquer sinal de incômodo ou dor, mas a expressão de alívio ainda estava presente em sua face.

Respirando fundo, Bella finalmente se pronunciou.

— Oi — ela disse, simplesmente — é bom te ver denovo.

O sorriso no rosto dela era brilhante, como não era em meses. Ela quase sentia vontade de rir para ele, de se aconchegar denovo e ficar ali pra sempre.

— Puta merda — a exclamação a fez rir baixinho. Típica frase dele..seu cérebro levou um segundo para assimilar a expressão em português — Você tá bem? Onde você tava? Eu pensei que..

— Eu sei. Tá tudo bem..eu tô bem — respondeu, a voz tranquila apenas exibia a realidade de suas palavras.

Há pouco mais de três passos dos dois, Joel e Tommy se afastaram aos poucos, encarando a dupla que se unia bem ao lado deles, com uma expressão interrogativa. Assim que os dois Scorpions se separaram, Rafael colocou seus braços sobre o pescoço de Bella.

Ele sabia exatamente o que ela deveria estar sentindo naquele momento. As palavras, presas em sua garganta, o sentimento acumulado em seu ser como ácido que a corroía por dentro, a culpa maior do que tudo. Não importava..Rafael se virou para sorrir para ela, quase como se estivesse a avisando que estava tudo bem.

A loira, se sentindo acolhida no mesmo segundo, pode dar ao Miller mais novo um sorriso mínimo.

— Tommy — ela deu um aceno de cabeça, retribuído. Foi o suficiente, pelo menos em seu próprio julgamento.

Ellie do outro lado, demorou poucos segundos a mais para ser apresentada. Contudo, aquele meio tempo foi o suficiente para a sensação em seu peito se disseminar como fogo à grama. Abandono, solidão...ela não tinha ninguém. Ninguém para lhe esperar ou sentir saudades, não tinha casa para a qual voltar, nada.

Pelo tempo que aquilo durou, ela sentiu-se sozinha no mundo. Joel havia encontrado o irmão; pela tatuagem, aquele era um dos amigos de Bella também..todo mundo tinha alguém e a ela, restava nada, apenas vazio. Se sentiu de volta a zona de quarentena, onde sua única companhia eram as estrelas no céu e seus quadrinhos..

Bella, que tinha olhos atententos, escaneou a expressão de Ellie e logo percebeu seu descontamento. Sem mais delongas, ela se aproximou com cautela, suas próprias botas deixando pegadas profundas no chão.

Joel, com uma expressão ainda confusa de certa forma, observou-a quando chegou a garota e ofereceu a ela um sorriso pequeno.

— Tá tudo bem, gatinha? — ela questionou, avaliando a expressão da menina, que apenas concordou com a cabeça, os olhos joviais logo alcançando os de Bella.  Um suspiro escapou pelos lábios da mais velha, este formando uma leve nuvem no ar devido ao frio

A loira, ouvindo os passos atrás de si, logo reconheceu o ritmo das passadas como a presença de Rafael. Mais um sorriso tranquilizador foi dado a adolescente e então, a mulher se virou para dizer algumas palavras a seu velho amigo.

— Ah, essa é a Ellie — ela logo encarou a expressão no rosto do Scorpion, que tinha ali gravado, um pouco de surpresa.

Ela era mesmo muito parecida com a mãe.

— Você é famosa, garota — a mais nova sentiu a expressão assombrada se aliviar em seu rosto ao ouvir o tom humorado do homem e deu uma leve risada antes de responder.

— Quer um autógrafo? — ela foi rápida, condescendente com o que sentia, contudo havia humor ali, principalmente na forma com que um sorriso leve enfeitava seu rosto avermelhado pelo frio, tirando uma breve risada do homem que a assistia de perto.

Podendo se preocupar menos, Bella se deixou relaxar minimamente. Contudo, ao se lembrar de onde estava, com quem estava, o sentimento de alívio logo se dissipou, sendo substituído por outra coisa.


Olá, pessoas! Desculpem a demora, eu ia colocar 4k de palavras, porém..acabei deixando pro próximo cap 😈 é muito bom estar de volta <3 obrigado por tudo, inclusive pelos 11k, amo vocês ❤️

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