🧪┇𝖡𝖱𝖮𝖳𝖧𝖤𝖱𝖧𝖮𝖮𝖣
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭𝟵:
𝖨𝗋𝗆𝖺𝗇𝖽𝖺𝖽𝖾
A cidade árida e cinzenta lá embaixo logo foi revelada pela claridade dos raios tímidos do sol, coberto pelas nuvens pesadas no céu. Embora houvesse certa quietude vista de cima, aquela era uma falsa perspectiva de paz que pairava.
O que parecia ser uma sala de reuniões agora era o ponto de encontro dos cinco. A grande vidraça se estendia de uma ponta a outra no cômodo, deixando-o completamente iluminado pelo dia que finalmente chegara.
Ao centro, uma longa mesa de madeira maciça com cadeiras. As paredes brancas tinham quadros e assim como todos os móveis e o chão, estavam cobertos por uma camada de poeira acumulada por tempo o suficiente para fazer o nariz de Bella irritar.
Escorada sobre a mesa, ao lado de Joel, Henry e Ellie, a mulher tentava pensar e assimilar as novas informações que ouvira. A realidade era nua e crua e mais tensa ainda do que esperavam, estavam cercados, sem saída.
Para somar, Henry também havia revelado que era um apoiador, isso significava que era quase um traidor, então..eram muitas coisas para assimilar.
Além de que, há dez dias a cidade de Kansas City havia retornado a seu nome, se libertando do comando da Fedra, como imaginavam, o povo havia tomado o controle completo de tudo, com um tipo de revolução.
De alguma forma, eles precisavam sair de lá sem precisar colocar tudo em risco, afinal tinham duas crianças com eles, além de um jovem com uma arma descarregada que nunca havia matado na vida. Portanto, era melhor evitar o confronto direto com as pessoas da cidade e para isso precisavam tanto de Henry e de suas preciosas informações.
Dito isso, ele não demorou a apresentar seu plano de saída: pelos túneis, já que as estradas possíveis estavam cercadas. A princípio, parecia uma boa ideia.
Parecia.
- Vocês não perceberam que tem algo de errado nessa cidade? Além das coisas estranhas que já viram - Henry questionou.
- Não tem infectados, eu percebi - Bella foi ligeira em responder, o outro logo confirmou com a cabeça.
- Ah, tem infectados sim, só não na superfície - ele disse, olhando para a loira - a Fedra prendeu todos lá embaixo há 15 anos e nunca mais deixou subirem, foi a única coisa boa feita por aqueles facistas.
- E você quer que a gente entre no túnel? - Joel perguntou, quase incrédulo.
- Todo mundo pensa que tá cheio de infectados, inclusive a Kathleen ou seja, a gente não vai esbarrar com o pessoal dela - o irmão mais velho explicava claramente, quase empolgado com seu próprio plano, um sorriso animado em seus lábios enquanto prosseguia - Mas quer saber um segredo? Tá vazio.
Ele revezava o olhar entre Joel e Bella, mas logo, o grisalho o questionou.
- Você já desceu? - a pergunta veio rápida, apenas para diminuir brevemente o sorriso do garoto.
- Não, mas o cara da Fedra com quem eu trabalhei falou que tava limpo, completamente.
O grisalho imediatamente suspirou desconsiderando aquela possibilidade. Sua mão esquerda apoiada na cintura, mas antes que pudesse dizer algo, foi a vez de Bella de fazê-lo.
- Aé, espertalhão!? e aonde eles estão, então? E os esporos? - o tom ganhou certa preocupação enquanto tentava pensar em todas as probabilidades possíveis - você disse que fazem 15 anos! Você sabe o que acontece com um infectado que vive mais de 10 anos, garoto?
- Eles limparam tudo! - Henry argumentou contra a loira, tentando permanecer em sua linha de raciocínio, apenas porque não havia outro jeito e porque sabia, ou pelo menos, confiava que estava certo.
- Quando foi isso? - Bella questionou.
- Há uns...três anos - ele respondeu, se apoiando sobre a madeira da mesa, Joel negou com a cabeça e sequer precisou protestar, a loira fez isso antes dele, denovo.
- Ah, que ótimo..- o sarcasmo foi rápido na resposta da moça.
- Tá, talvez tenha um ou dois, mas vocês dão conta - Henry dizia e Bella suspirou em resposta.
Claro, se aquilo fosse verdade, eles dariam conta, mas a vã probabilidade de cairem em uma enrascada já era o suficiente para se preocupar, afinal tinham duas crianças com eles.
- E se tiverem mais? - Joel questionou, agora com ambos os braços apoiados na mesa, ao lado da loira.
- É, tipo aqueles com olhos de morcego - Ellie completou.
- Peraí, vocês já viram um estalador? - a questão dele veio acompanhada de uma expressão incrédula, Bella quase deu risada antes de responder.
- Três - a resposta foi simplória, ganhando um tom duro com ela.
- E saíram vivos? Viu só, são as pessoas certas! - ele finalizou seu argumento enquanto olhava para Joel.
A forma como ele falava dos Estaladores como se fossem o pior perigo que pudessem enfrentar enchia Bella de dúvidas. Talvez ela vivesse em outra realidade, mas em seu mundinho, os Estaladores não eram assim tão temidos. Ela até havia adquirido facilidade com eles, afinal morar em um trem barulhento sempre atraia visitas indesejadas.
O que realmente lhe trazia medo eram os stalkers, os baiacus e principalmente, as pessoas.
- Vamos ter sorte se a coisa mais perigosa que acharmos forem estaladores - ela declarou, ao sair de seus pensamentos.
- Se a coisa ficar feia lá, a gente vira e sai por onde entrou, tá? - Henry assegurou.
- Ah, esse é seu ótimo plano? - o questionamento do mais velho veio acompanhado de uma expressão tensa.
- Não, esse é meu plano arriscado para caralho, mas pelo que eu tô vendo...- os olhos escuros do jovem que falava passaram de Joel para Bella - é a única chance.
O olhar se manteve. Ela sabia que ele estava certo, na verdade, ela mesma havia usado aquele argumento para o homem na noite anterior.
Antes que pudesse confirmar, Sam, que estava sentado na mesa, deu leves batidas na madeira para chamar atenção do irmão.
O pequeno gesticulou em língua de sinais para o irmão e Henry, enquanto respondia, verbalizou o que dizia.
- Eles estão falando que vão ajudar a gente a fugir - logo, o menino concordou com a cabeça, um leve sorriso nos lábios.
Os olhos do irmão mais velho voltou rapidamente aos três em sua frente, que o encaravam serios, quase incertos.
- Não é? - um ligeiro e quase imperceptível sorriso estava nos lábios de Henry enquanto questionava os mais velhos.
Em silêncio, Bella concordou com a cabeça.
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Os passos que os cinco davam eram certeiros e rápidos, em direção a entrada dos túneis.
Assim que Henry indicou a porta onde deveriam entrar, a loira juntamente ao grisalho, deu passos largos a frente dos mais novos, mantendo-se em posição de proteção.
Ela e Joel compartilhavam o peso de proteger o grupo e por isso estavam preparados, fortemente armados para caso algo não ocorresse como o esperado.
O lugar consistia em corredores escuros, unidos e mal cheirosos. As paredes tomadas por musgo verde somava ao amarelo original da superfície, formando um jogo de cores que só poderia ser visto com a ajuda das lanternas.
Enquanto os quatro iluminavam o caminho, Bella mantinha a carabina com a bandoleira em posição, esperando qualquer mínimo sinal de movimento.
Joel apontou sua lanterna para o extenso corredor subterráneo ao qual adentraram e assim que analisaram, Henry começou a falar:
- Tá vendo? Tá tudo vazio, o plano deu certo! - como reação, o mais velho sinalizou para que o jovem se calasse.
- "O plano deu certo"? a gente tá aqui há dois segundos, não tem garantia - o Miller alertou.
Segurando a lanterna para frente, Henry se inclinou para falar com Bella.
- Seu marido é meio pessimista, hein?
- Ele não é meu marido - a resposta foi rápida e afiada. Joel, segundos atrasado, estabeleceu a mesma coisa.
- Eu não sou marido dela.
A reação de Henry foi surpresa, enquanto Ellie, por sua deu uma risadinha baixa.
- Se prepara pra correr, garoto. Iluminem tudo, é nos cantos escuros que ficam os Perseguidores - foi a única coisa dita por Bella, que acelerou o passo andando na frente até mesmo do Miller, ela mesma alcançou sua lanterna e rapidamente trocou de arma para o colt, como se dispensasse a ajuda do homem ao seu lado com a iluminação.
O ímpeto que lhe possuiu a fez andar a frente, se afastar daquilo e nem soube direito o porque, ou fingia que não. Mas ela sabia que estava passando dos limites nos últimos dias, que havia ignorado as temidas palavras ditas por Joel sobre não se envolverem demais no passado e aquilo teria consequências.
Não era nada a ver com as palavras ditas por Henry, Bella só tomou aquilo como desculpa.
Mas se lembrava exatamente da expressão de Joel enquanto, há dias atrás, estabelecia os limites que ela não deveria cruzar. Em contraste, também se lembrava do sorriso mínimo nos lábios dele quando ela comentou sobre a música naquele carro, do brilho nos olhos castanhos enquanto ela cruzava os malditos limites.
Embora tivesse se arrependido das palavras horas depois, ela gostava de saber que ainda tinha capacidade para isso, gostava de saber que ele ainda lembrava de tudo, gostava de vê-lo sorrir, não o suficiente para as covinhas aparecerem, mas o suficiente para os olhos brilharem.
Era tudo confuso, as palavras dele contrastavam com suas ações, o homem era uma incógnita complexa demais.
Mas Bella tinha um jeitinho de lidar com ele, por mais complicado que fosse, como havia feito na noite anterior. Ela sabia o que falar e como fazê-lo confiar nela, sabia como atravessar os muros sob os quais o Miller se protegia sem que ele mesmo reparasse no que ela estava fazendo.
Mas ela sabia, lá no fundo tinha conhecimento de que se continuasse assim não teria como evitar o maremoto de sentimentos, porque ele já estava lá, aguardando para ser liberado. Porque aquele homem era assim, tão viciante quanto morfina e tão perigoso quanto.
E por isso esteve tão pensativa desde a manhã, talvez devesse mesmo ficar em seu canto ao invés de ficar ali, procurando abraço nos espinhos das flores, porque iria doer e ela sabia.
Sabia que boa parte daqueles espinhos na alma de Joel haviam sido colocados por ela, que se ele a afastasse, embora sequer tivesse tentado, seria por sua própria culpa e o medo de encarar as consequências de seus atos passados nunca esteve tão claro.
Seus pés ágeis a levaram rapidamente para uma porta escura de ferro pesado. O respingar da água no corredor era audível, assim como o chiar que vinha de dentro da sala aonde ela estava prestes a espiar.
Aproximando seu rosto da porta, Bella viu pelo pequeno e circular vidro laminado centenas de pequenos esporos que pairavam o ar, flutuando como flocos de neve mortais, o lugar perfeito para os Perseguidores.
Embora os pelos da loira tivessem se arrepiado, ela não teve medo, se quer tampou a boca ou o nariz.
Com um simples e largo passo para trás, ela sinalizou para que os quatro não se aproximassem da porta e entrassem pelo corredor da lateral e assim foi feito.
Com passos largos, a cada minuto que passava eles tinham mais certeza de que o lugar havia mesmo sido limpo. Contudo, enquanto apontavam a iluminação para um dos cantos, um Perseguidor foi visto, não houve tempo de reações, afinal a criatura correu rapidamente para o lado oposto da luz, mergulhando em um mar de sombras que lhe favorecia.
Logo, depois de minutos, eles puderam adentrar um corredor um pouco mais estreito e limpo. Conforme se aproximaram do fim, podiam ver as paredes azuis claras daquela parte, ganhando vida através de adoráveis desenhos Infantis.
De imediato, os olhos de Joel foram cativados por um o grande castelo amarelo que rondava a porta de entrada. O traço falho e torto se repetia nas outras três paredes, formando figuras distintas, porém igualmente encantadoras.
Ao lado de Bella, flores de inúmeras cores desabrocharam sob uma linda montanha de verde exuberante. Enquanto isso, ao lado de Ellie, um amplo arco-íris contornava a paisagem desenhada ali, onde crianças e flores gigantes em tons vibrantes criavam um cenário mágico.
- Uau - Ellie suspirou, encantada.
Tendo pedido permissão para o irmão, Sam, com seu sorriso aberto, estava prestes a entrar no local, andando em passos pequenos em direção a porta. Logo, a mão de Joel impediu o garoto de entrar, afinal era um lugar fechado que desconheciam.
O Miller, que estava na frente, não demorou a abrir a porta devagar e nem precisou terminar de fazê-lo para o barulho de vidro quebrando no outro lado.
- Uma armadilha de barulho? - Bella sussurou e o homem concordou com a cabeça em resposta.
Aproveitando que sua arma já estava em mãos, ele abriu apenas o espaço suficiente para que ela entrasse, apontando a arma para todos os cantos, Joel não demorou a entrar também, não queria a deixar entrar sozinha em um possível lugar perigoso.
Contudo, lá dentro não havia nada além das garrafas quebradas, nenhum sinal de pessoas.
- Tá limpo - ela disse, depois de dar alguns passos ao fundo.
- Entrem - o Miller disse e só então os três entraram.
Analisando a sala melhor, o lugar era de tirar o fôlego. Uma típica sala infantil, como se tivesse saído direto de uma pré escola antes do surto, quase um recorte do mundo anterior. Haviam coloridas estantes, brinquedos por todo canto, mesinhas pequenas e de plástico, além das paredes completamente pintadas por desenhos parecidos com aqueles na parte externa.
No teto, circulares fendas pelas quais a luz do dia entrava e iluminava o cômodo, este era grande, ao fundo havia o que deveria ser uma improvisada área para jogar futebol, devido a presença de um gol.
Quanto mais entravam, mais os três mais jovens ficavam admirados, ao contrário de Joel e Bella que estavam pensando na saída.
A loira dava passos em direção ao próximo corredor, apenas para encontrar mais uma porta que estava bem fechada. Com passos largos em direção ao centro novamente, ela pode encontrar Ellie e Sam empolgados, sentados em uma das mesinhas infantis enquanto Henry dizia que talvez fosse melhor ficar até o anoitecer.
O grisalho logo olhou para as crianças novamente e então, depois de encarar os olhinhos suplicantes Ellie, ele mexeu a cabeça para o lado, não tinha muitas opções a não ser aceitar. Seriam longas horas preso naquela sala subterrânea até poder sair a noite, mas com sorte, valeria a pena.
- Tem uma porta do outro lado, eu tranquei. mas a gente sabe que pessoas moravam aqui e se não tem nenhum sinal delas... - a loira logo expôs o que pensava.
- Se transformaram - O Miller completou.
- Ou subiram - ela disse, tirando sua mochila das costas, mas não deixando as armas longe nem por um segundo.
Bella logo se aproximou de Joel, que se mantinha longe dos mais novos.
- Essa história de terem limpado...eu não engulo isso. Infectados não somem assim, eles são uma praga. Quer dizer, cadê os corpos? - o grisalho desabafou baixinho suas observações.
- Foi o que eu pensei. Talvez não estejam aqui, mas em algum canto eles estão..eu chuto que a parte leste, onde estavam os esporos, dá para o esgoto ou algo assim..- a conclusão dois trouxe um suspiro baixo a ambos.
- Acha bom ficarmos aqui? - ele a questionou.
- Como eu disse, por enquanto está tudo bem, mas é bom sempre estar preparado pro pior...
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Sentados sobre uma mesa, os mais velhos se mantinham com expressões sérias e nenhum assunto a mais.
Do outro lado, a realidade era outra, Ellie e Sam jogavam bola e riam alto enquanto tentavam manda-lá para o gol.
Joel, que tinha os braços cruzados na frente do corpo, foi o primeiro a falar, seus olhos fixados em Ellie antes de voltar a Henry.
- Se você...era apoiador para cuidar dele, eu não deveria ter falado nada. Eu não sei como é a sua situação - a fala do homem surpreendeu a loira, embora não deixasse transparecer.
A expressão do outro era tranquila, mas logo se tornara assombrada. Joel continuou mesmo assim.
- Eu não tô falando que deveriam só deixar para lá, mas levando tudo em conta parece até crueldade..mandar um exército atrás de você por isso.
Ele negou levemente com a cabeça, era mesmo injusto imaginar um jovem como ele sendo caçado pela cidade apenas por aquilo.
Henry abaixou a cabeça levemente e umideceu os lábios antes de prosseguir.
- Eu não estava sendo completamente sincero com você mais cedo.
Os olhos castanhos de Joel foram atraídos para ele e o vislumbre de expressão confusa passou pelo rosto da loira.
- Sobre nunca ter matado alguém. Teve um cara, um cara importante - os olhos dele vagaram para o outro lado do cômodo, lembrando vividamente do momento - não sentia medo, não era egoísta, sempre perdoava os outros.
A cabeça do mais novo pendeu para o lado, um sorriso doloroso e nostálgico em seus lábios.
- Já conheceu alguém assim? O tipo de pessoa que você segue pra qualquer lugar - por um momento, os olhos do homem foram até a loira, em um vislumbre, voltaram a Henry - E eu queria mesmo...queria seguir. Mas aí o Sam....ele ficou doente, Leucemia.
Houve uma pausa, o momento mais difícil de sua vida passando pelos seus olhos, a escolha que tomara ainda o assombrava.
Bella, por sua vez, sentia a empatia somente aumentar. Ela sabia bem o que era lidar com um irmãozinho pequeno e doente, era somente essa a sua preocupação no mundo antes do surto e antes de Joel.
- Enfim, é..tinha um remédio que funcionava e, opa, que surpresa..não tem muito sobrando e era tudo da Fedra, então...se eu quisesse, teria que dar uma coisa importante. Eu dei uma coisa importante, o cara importante, o líder da resistência de Kansas City, irmão da Kethleen.
O olhar de Joel perdeu sua seriedade e ganhou um tom diferente, entre pena e realização, seus olhos exibiam os dois.
As sobrancelhas de Bella se juntaram em uma expressão de lamento, ela sabia bem o que era aquilo, escolher de forma egoísta por algo somente seu, aquele lhe era um sentimento familiar.
- Eai? Ainda acha que deveria pegar leve comigo? ou eu sou o vilão? - de início, nenhum dos dois respondeu - não sei porque estão enrolando, a resposta é fácil.
Apesar de tudo que havia acontecido em sua vida, a loira ainda mantinha o instinto protetor de uma irmã mais velha e uma conexão materna eterna em seu coração. Conhecia bem aquela necessidade de proteção, aquele sentimento animalesco que tira das pessoas as piores e as melhores partes.
- Não há vilões nesse mundo, Henry. Apenas sobreviventes. Você fez o que tinha que fazer...mas eles também estão fazendo o que acham ser certo - Bella disse, tentando achar as palavras corretas.
- Me matar não vai trazer ninguém de volta - Henry disparou e a mulher não soube se aquilo era uma argumentação ou qualquer outra coisa, mas respondeu mesmo assim.
Ela não pode evitar o empático sentimento que apenas crescia e logo, a líder cheia de discursos dentro de si emergiu, era isso que ela fazia para os Scorpions em momentos difíceis, sabia que tinha um talento com palavras.
- Ela sabe e não quer só matar você, ela quer que você sofra. Não há nada mais perigoso do que a vingança e acredite, eu entendo como ninguém, mas aquele garoto não tem nada a ver com isso e se depender de mim, hoje vocês saem dessa cidade em segurança.
A expressão de Henry passou de dor para descrença em poucos segundos seus olhos brilhavam pelas lágrimas que já ameaçavam descer antes, mas era diferente agora, agora elas eram de alívio.
Ele se sentiu leve, o fato de não ter sido julgado pelo que fez e até mesmo ter sido apoiado foi inesperado, não soube o que falar ou agir, mas estava grato, muito grato. Logo, as palavras saíram de sua boca.
- Muito obrigada - foi simples, mas junto a um meio sorriso e olhos com lágrimas, foi como o mundo para Bella.
- Não é nada. Você é um ótimo irmão, Henry. Eu tenho certeza que aquele garoto concorda comigo.
A lágrima pendente em seus olhos desceu pela bochecha, mas ele apressou em enxugar.
Joel encarava tudo com uma admiração discreta, mais uma vez, as palavras de Bella foram melhores do que qualquer coisa que ele pudesse ter pensado em dizer.
Um sorriso tomou os lábios da loira que se levantou da cadeira devagar, tomando seu tempo.
- Bem, acho que já esperamos demais - o grisalho disse derrepente, enquanto se levantava em direção a Ellie.
- Certo.
A loira, que já tinha levantado também, alcançou sua mochila e a colocou sobre a mesa na frente de Henry. Ela ainda tinha um leve sorriso no rosto e enquanto alcançava o coldre em sua mochila e o encaixava na coxa, ela ouviu a questão.
- Aquilo que você fez ontem..fazia tempo que eu conheci alguém que sabia língua de sinais.
- Não foi nada demais - ela disse, negando com a cabeça e colocando a garrafa de vodka sobre a mesa - eu era policial, eles nos ensinavam esse tipo de coisa. Agora eu não saio do olá e do meu nome, mas acho que serviu, né?
- Serviu sim.. vem cá, você pretende fazer alguma comemoração ou...? - ele se referia a garrafa na mesa, ela deu uma risada sincera em resposta.
- Claro. Todos nós vamos ficar loucos - a loira sorriu e então, tirou de sua mochila uma camiseta desgastada - já ouviu falar em molotov?
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Finalmente do outro lado.
O ar não era exatamente fresco, mas só o fato de não ser um lugar fechado já dava a Bella algum tipo de alívio. A loira andava lado a lado de Joel, sem lanternas acesas, apenas a luz da lua iluminava a cidade abandonada.
- É, não tem ninguém e nem vai ter porque - Henry explicava ao irmão o motivo das lanternas apagadas - o meu plano funcionou! Nem precisava de um Molotov - ele dizia orgulhoso.
- Não sei pra que tanto falatório - o Miller disparou, fazendo Bella e Ellie sorrirem, apenas Joel sendo Joel. O jovem ao lado da garota deu uma risadinha.
- Só tô dizendo. Eu mandei bem, pega a direita, segue a rua, o declive fica depois da última casa e então, livres.
- Vem cá, o que vocês vão fazer depois daqui? - A loira questionou, andando mais devagar para acompanhar e olhar para Henry. No bolso para garrafas em sua mochila, o molotov se mechia.
- Ainda não sei - ele respondeu, sendo sincero.
- A gente vai para o Wyoming - disse Ellie, ganhando um olhar duro de Joel em resposta - o que? É um estado gigante, cabem mais duas pessoas.
- É verdade, ou cada um pode seguir seu rumo - Foi a vez do jovem de dizer.
Os cinco continuavam andando pela avenida, muitos carros em ambos os lados. A escuridão podia dificultar a visão do que estava há metros a frente, mas naquele momento, tudo parecia tranquilo.
O céu acima de suas cabeças era escuro, sem estrelas, somente a pendente lua crescente, que derramava seu brilho sobre a rua e rostos joviais lá embaixo. As casas e todos os carros abandonados sobre a rua não eram nada além de um leve tracejado de luz, que compunha a escura paisagem sob a qual os cinco andavam.
- Ele vai mudar de idéia, vai por mim, ele é assim mesmo. É sempre "não, Ellie. Não, nunca nunca, jamais vai acontecer!" - a garota imitava a voz grossa de Joel, a fim de tirar onde com ele. - aí eu falo que vou pedir mais um milhão de vezes e ele...
Um tiro ecoou, seco e alto, interrompendo tragicamente a fala da garota.
Bella não controlou o xingamento que escapou de seus lábios, rapidamente ela se agarrou a Ellie e ambas se abaixaram para se proteger, Joel por sua vez, em passos largos e rápidos, se aproximou das duas.
A reação rápida de todos foi correr e se esconder atrás de um carro.
- Da onde isso tá vindo? - Henry questionou.
- Cala a boca - os mais velhos disseram ao mesmo tempo.
Bella lançou um olhar preocupado a Henry, que não se moveu, embora quisesse muito fugir dali.
- Não olha - ela alertou.
Depois de olhar pela terceira vez e identificar a fonte dos tiros, Joel se moveu lentamente de volta a proteção e trocou um olhar com Bella, logo ela se inclinou mais para ouvi-lo.
- Se ninguém se mexer, ele não vai acertar. Eu vou dar a volta e entrar na casa pelos fundos para pegar ele.
- Tá louco? Ele vai te matar - a loira protestou.
- Tá escuro, a mira dele é uma merda, ninguém vai me matar - ele argumentou - você fica aqui, protege eles.
- Joel...- a voz abaixou o tom, a preocupação foi clara ali, assim como a tensão da decisão a ser tomada. Os dois estavam tão próximos que quase compartilhavam o mesmo ar, ar este que era pesado.
- Você confia em mim? - ele questionou, olhando fundo no azul e se focando neles, sua expressão ainda mais séria do que antes. As mãos calejadas do homem tatearam pelo ombro da loira, onde ele deixou um leve apertão, quase como se tentasse a convencer da veracidade de suas palavras.
- Claro - ela respondeu, o olhar fixado nos olhos do homem. Sua expressão tão preocupada que fazia sua testa franzir. O toque quente e preocupado de joel ainda em seu ombro, tirando dela um suspiro pesado, o maldito toque e aqueles olhos castanhos sendo o suficiente para convencê-la.
Com um acenar de cabeça, o grisalho começou a lentamente se mover para o outro lado e em pouco tempo, estava fora de vista.
A respiração de Bella falhava, mal respirando enquanto tentava acompanhar o lugar onde os disparos acertavam, mas sem sucesso, estava escuro demais pra isso. As mãos sempre frias da loira agarraram as de Ellie e as duas descontavam ali a tensão do momento, a preocupação, os nós dos dedos de ambas esbranquiçavam com a força depositada.
Em poucos minutos, um último tiro veio, dessa vez, lá de cima, causando nos quatro um silencioso temor. Bella apenas torcia para que não fosse em Joel, para que tudo ocorresse como ele mesmo havia dito, caso contrário, estaria perdida.
Logo, quando o silêncio estava sendo demais, causando desesperança, o estrondo alto ecoou por trás deles, alertando os quatro. O pequeno Sam, perspicaz, sinalizou para as luzes que se aproximavam. Quando todos se viraram, depararam-se com uma caravana de caminhões e carros, um exército completo.
Desespero e adrenalina, foi a coisa em comum que tomou aos quatro.
- Vai, vai, vai, vai! - Henry instigou, e num instante, todos se levantaram, correndo para escapar da visão.
Os passos se aceleraram e o caminhão apenas se aproximava mais, atropelando todos os carros que impediam em seu caminho, deixando para trás um grande rastro de destruição.
Ellie disparava tiros a esmo, enquanto Bella, mirando no motorista com dificuldade, acabava por fazer o mesmo. A adrenalina pulsava, forçando-a a equilibrar o pensamento rápido com a ação frenética. Apesar de querer desesperadamente acertar, ela se manteve ao lado de Ellie, consciente de que correr juntas era mais seguro, mesmo que significasse um passo mais lento.
Lá no alto, Miller segurava firme sua arma de longo alcance, tentando alinhar um tiro no motorista, mesmo que a velocidade do caminhão tornasse a tarefa difícil. O suor escorria pelo seu rosto enquanto tentava lidar com a adrenalina e a necessidade de proteger aos quatro.
Ao perceber a cobertura que o grisalho dava a eles, a mais velha se sentiu aliviada e até mesmo amparada. Lá de cima, Joel com certeza tinha uma visão melhor do que ela no meio do caos.
Os passos que o grupo lá dava lá embaixo eram fortes, cada impacto no asfalto desgastado reverberando urgência. Em meio à corrida, Bella puxou Ellie para perto, percebendo o aumento vertiginoso da velocidade do caminhão. O mundo ao redor desfocava, tornando cada segundo crucial para escapar.
Em consequência ao puxão, a loira e sua garota foram para um lado, enquanto os outros dois, para o outro. Foram precisos passos fortes e mais velocidade para que mudassem a direção para o centro. O suor começara a pintar a expressão de Bella, que ainda corria em frente ao caminhão, cujo o farol fazia um perfeito e desesperador jogo de luzes ao chão.
Inerte da situação de perigo, Joel tentava desemperrar o gatilho de sua arma com força e até mesmo certo desespero. Sua respiração era alta e o barulho do caminhão se tornava ainda mais forte lá embaixo. Precisava agir, aquela arma velha precisava funcionar ou o preço seria caro demais.
Quando finalmente pode dar outro tiro, foi preciso apenas um, certeiro.
O estrondo do vidro perfurado foi o prelúdio da perda de controle do caminhão, que se desviou violentamente para o lado, destruindo tudo em seu caminho. O ruído ensurdecedor dos pneus rasgando o solo antecedeu o impacto do veículo contra uma das casas vazias à beira da rua.
Por sorte, as garotas estavam longe o suficiente.
Bella segurou firmemente a Ellie, evitando que a garota tropeçasse no ímpeto da fuga. Conscientes de que seus perseguidores não desistiriam tão fácil, trocaram um olhar rápido, entendendo exatamente o que precisavam fazer.
Sem hesitar, iniciaram outra corrida, afastando-se do veículo descontrolado em direção a Sam e Henry.
Enquanto o faziam, as duas apenas ouviram o baque insurdecedor atrás de si, este que acompanhou o imenso calor e impacto da explosão que não foi leve em suas costas. As chamas recém-nascidas marcaram o rastro deixado pelo caminhão em seu encontro com a casa e formaram nuvens pesadas de fumaça que impediam a visão plena. Ao chão, milhares de pequenos detritos em chamas.
Henry, com passos cuidadosos, se aproximou das duas e as acompanhou de volta para a segurança, atrás de um carro novamente.
A respiração de todos era rápida e audível, o medo corria volátil e se tornava ainda mais poderoso quando percebiam o grande grupo que se aproximava, todos integrantes armados até os dentes.
Eles eram somente quatro, somente dois armados, contra todos aqueles caras prontos para mata-los.
- São eles - o homem de cabelos longos no centro disse - vão em duplas, dá a volta e pega ele.
Os quatro se apoiavam no carro, Bella fechou os olhos por um instante, para acalmar seus nervos e engoliu em seco.
- Fim da linha, Henry! - a fina voz do lado oposto anunciava, Bella pensou ser Kethelen - quer aparecer e nos polpar tempo?
Ela dizia enquanto, junto ao seu grupo, andava em meio a fumaça. Os olhos de todos ao lado dela escaneavam o terreno caótico a procura de qualquer coisa e o nervosismo apenas aumentava cada vez que chegavam mais perto.
- Não? Tá, tudo bem, não importa.
A agonia se esticou ainda mais. Os olhos escuros de Henry se focaram em Bella e nas crianças. Sua mente sabia exatamente o que fazer, embora quisesse negar a probabilidade a todo custo.
- Não. Não faz isso - a loira sussurou, embora não tivesse certeza se poderia pará-lo. O jovem suspirou e negou com a cabeça, antes de gritar.
- Eu tô saindo! Mas deixe as crianças em paz - a exigência dele não foi bem recebida. Do outro lado, a líder negou com a cabeça.
- Não - sua voz irritantemente fina fez um zumbido nos ouvidos de Bella. Ela quase não pode acreditar no que ouviu - Sinto muito. A garota tá com os dois que mataram o Bryan e a Ella e o Sam..ele tá com você.
- Você não entende! - ele gritou de volta.
A raiva e o desespero de todos queimava mais forte do que todo o fogo que cercava aquele lugar, nenhuma explosão seria forte os suficiente para o que possuiu o coração de Bella quando ouviu as frases seguintes que Kethelen proclamou.
- Eu sei o porque você fez o que fez. Mas já parou para pensar que talvez fosse bem melhor ele morrer?
- Ele é uma criança! - o grito estridente foi um cheio de raiva. Seus olhos foram até Sam e a imagem da possível morte de seu irmão para aquela maldita doença foi forte demais.
- E crianças morrerem, Henry. O tempo todo. Você acha que o mundo todo gira em torno dele? E que ele vale...tudo? É isso que acontece quando se brinca com o destino.
Enfurecida. Era assim que Bella se sentia, mesmo que aquelas palavras não fossem exatamente para si, agora era, principalmente porque a vida de Ellie e Joel estava em jogo e era trabalho dela protegê-los.
Quando Henry se inclinou para dizer a ela o que a mesma mais temia ouvir, a mulher suspirou fortemente em protesto.
- Se prepara para pegar eles e correr - ele falou, olhando bem fundo nos olhos dela - por favor, Bella.
Relutante, ela concordou. Não tinha outra saída, eram muitas pessoas, caso atirasse na líder como desejava, teria muitas armas apontadas para sua cabeça e de seus amigos.
As mãos dos três que permaneceriam foram entrelaçadas em um momento poderoso, porém de deprimente sacrifício.
- Está na hora, Henry. Acabou.
O jovem respirava forte. Mal acreditava o que estava fazendo, mas as palavras de Bella ecoavam na sua cabeça. Ele era um bom irmão e estava sendo um agora, custaria sua vida, mas seu garotinho estaria em segurança e em boas mãos.
Ele olhou para a loira uma última vez. Evitou olhar para Sam, para não perder toda a coragem. Com uma última lufada de ar, ele se levantou, rapidamente.
Na mesma medida em que seu ato de se levantar foi rápido, os passos que dava em direção a mulher eram pequenos e devagar, a caminhada para a morte sendo um pouco prolongada. Os olhares idealizados para se encontrar prenderam-se, o de Henry, com um temor escondido e de Katheleen, uma bravura inabalável.
Ela logo deu de ombros. Antes de despejar mais palavras sonsas.
- Acaba assim, é a vida - foi o que disse, antes de alcançar a pistola em seus bolsos e engatilhar.
Contudo, antes que algo pudesse ser feito, bem atrás deles, aonde a explosão ocorrera, um baque forte e alto foi ouvido. O barulho do caminhão lentamente entrando na terra onde, lentamente se abria uma cratera enorme, era aterrorizante.
Assim que o automóvel foi completamente consumido pela terra desnivelada, todas as miras de armas presente foram apontadas naquela direção, até mesmo a de Kathleen, que se desviou de Henry.
Os chiados dos infectados logo foram ouvidos.
Uma horda inimaginável de criaturas emergiu como um enxame voraz. Centenas deles, cada um mais grotesco e ameaçador do que o outro, avançando com uma determinação assustadora.
Os disparos começaram em reação, uma sinfonia de tiros ecoando no ar. Balas cortavam o ar, atingindo infectados em uma dança caótica de violência. A cena era uma fusão de horror e resistência, com a cratera se transformando em um campo de batalha impiedoso.
As criaturas, distorcidas e desfiguradas pela infecção, cambaleavam sob os impactos das balas, mas sua marcha implacável persistia. Cada tiro era uma tentativa de conter a maré imparável, mas embora conseguissem, a enormidade da horda era avassaladora.
Com um grande passo para trás e em desespero, Henry encarou a loira completamente aflito.
- Corre!
Dito e feito, eles começaram a correr em direção a casa onde joel havia adentrado. Com excessão de que o caminho até lá acabara de se tornar mais inacessível ainda do que antes.
Bella agarrou em Ellie como da última vez e Henry se manteve junto ao seu irmão, portanto se formaram duas duplas correndo sem muita direção certa, apenas precisando sair do caos.
A loira atirava nos alvos mais próximos e fáceis enquanto Joel, lá de cima, dava conta daqueles que estavam fora do campo de visão da mulher, principalmente aqueles em suas costas.
As duas, perdendo completamente Henry e Sam de sua vista em meio ao tumulto e bagunça crescente, começaram a se preocupar mais ainda. Não haviam planos, não havia saída, apenas a oportunidade de correr para fora do tumulto pelos lugares menos cheios.
Percebendo a ausência de balas em seu Colt, Bella tentou alcançar a carabina e nesse mesmo momento, Ellie tropeçou no chão. Abaixando a altura da garota, a mais velha agarrou o infectado que a ameaçava e o jogou no chão, onde deu um tiro certeiro na cabeça, o suficiente para imobiliza-lo e alçar a garota do chão.
Não muito longe, da mesma cratera de antes, surgira a imponente criatura. Um baiacu. A última fase do cordyceps tão grande e forte quanto nunca. Seu corpo massivo e inchado era uma visão surreal, como se a infecção tivesse concedido uma última forma de vida antes de se extinguir. A pele escamosa, marcada por feridas e tumores, refletia as chamas da casa ao fundo, a criatura segurava pessoas pelas pernas e as jogava com força contra o chão, causando uma dolorida e certeira morte.
- Segura! - Bella ofereceu sua mão para a menina novamente, que a agarrou e então, elas correram novamente.
Os corações batiam fortes. O de Joel, lá de cima, parecia bater em sua garganta. O cheiro de queimado e morte eram tenebrosos e o atingiam mesmo lá em cima, ver o local de cima também era apavorante e ele precisava protegê-las lá embaixo a todo custo.
Um tremor começara a surgir e tomar conta de seus ossos, de suas mãos. O medo tão voraz começara a surgir sob a superfície de seu ser, tomando conta de tudo. Ele apenas temia não ser rápido o suficiente para protegê-las. Sua garganta fechara por alguns segundos, deixando pouco ar a ser respirado, mas mesmo assim, Joel não parou.
As garotas percorreram o caminho mais vazio, como o ideial. A mais velha colocou a mais nova atrás de si e voltou a atirar, seus olhos finalmente encontrando Sam e Henry, debaixo dos carros.
Bella se quer precisou limpar o caminho até os garotos, pois o grisalho lá em cima, se certificava disso. Assim que se aproximaram do carro onde os dois se refugiavam, o barulho alto se passadas atrás de si foram ouvidas, acompanhadas de gritos e gemidos, de pessoas e de infectados.
Um arrepio percorreu sua espinha. Alcançando sua própria faca no coldre, ela não demorou a atingir um dos infectados que importunavam os irmãos e do lado oposto, Ellie atingiu o outro.
Os dois se levantaram juntos debaixo do carro e denovo, estando tão perto da casa onde Joel estava, era mais fácil correr sem ser pego.
Os corredores que estavam próximos eram facilmente atingidos por Bella que corria com tanta velocidade quanto antes. O caos ao redor amplificava, uma dança frenética de corpos retorcidos e gemidos guturais.
A loira perdia o ritmo e ficava para trás enquanto atirava, mas devido ao caminho limpo em suas costas, ela não se importou com o fato. Ellie dessa vez mantinha sua atenção em Sam, com quem corria, tendo segurança de que lá de cima, Joel olhava para Bella.
Subindo a elevação para a entrada da casa, com passos largos e claramente necessitados, eles estavam quase na casa, podendo até mesmo ouvir alguma movimentação de lá.
O trio mantinha o passo constante em direção ao que parecia ser finalmente a saída.
Foi aí que foram surpreendidos por Kathleen, que deu passos largos e apontou a arma diretamente para Henry denovo.
- Para! - ela exigiu.
A loira que estava há apenas alguns metros e nas costas da morena, parou exatamente onde estava pois o medo a possuiu, mas não por muito tempo, os passos seguintes foram silenciosos e calculados. Sabia que não daria tempo para recarregar e a faca era muito arriscado, já que a mulher tinha uma arma.
Ao fundo, o barulho dos infectados ainda era alto e audível, um lembrete da necessidade de agir logo.
- Tá vendo isso, Henry? É tudo culpa sua!
Kathleen viu a expressão de pânico de todos os presentes. Ellie mantinha a boca aberta e os olhos arregalados, assim como Henry, se diferenciando que o último tinha um toque de tristeza com o que ouvira. Joel, que acabara de chegar, foi o primeiro a desviar os olhos da cena, para algo ao lado da líder.
Kathleen, reparando que Ellie também havia olhado para algo atrás de si, abaixou um pouco a arma, somente o suficiente para algo.
Algo grande e flamejante.
- Ei, vadia!
O coquetel molotov aceso fez com que sua chama dançasse ao lado direto do rosto de Bella, que em milésimo de segundo foi arremessado no peito de katheleen. Embora a líder de Kansas tivesse dado um tiro na direção da loira, o projétil apenas atravessou o ar pelo lado esquerdo do corpo, deixando para trás um rastro de sangue no ombro mas nada além disso.
A reação de Henry foi tampar os olhos do irmão, embora os seus próprios fossem atraídos para a imagem da mulher que havia lhe aterrorizado queimando aos gritos no chão, as labaredas se enrolando ao redor da mesma. Não havia satisfação, mas havia alívio. Para Bella, era mesmo satisfação, embora seus próprios olhos azuis estivessem bem longe da visão a sua frente.
O cheiro de queimado subia e o fogo estava prestes a se alastrar pela grama. A loira correu cambaleante em direção a Joel, que a tomou em seus braços, a guiando com os outros para bem longe do cenário caótico e tumultuoso.
Olá, pessoas! Aproveitei que já tinha atrasado e escrevi tudo até onde eu consegui ;) eu não tô achando esse cap meu 100%, mas agora que estarei de férias, acredito que tudo vá voltar ao normal.
Enfim, agora que postei esse cap, tenho milhões de edits com spoilers que eu ia postar semana passada, até reparar que não poderia fazer isso ksksks
Enfim, sem mais falação, até semana que vem! 💚
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