cap.010; quem eu sou?

O céu estava tingido de laranja e roxo, e as estrelas surgiam lentamente no alto do vilarejo da Nação da Terra. Amadahy sentia o ar fresco da noite, mas ele não lhe trazia o alívio que tanto procurava. Desde que chegara ali, sua mente era um labirinto de perguntas, e a única resposta que ela sabia era que precisava se lembrar de quem era. Só então conseguiria decidir seu caminho de volta.

Caminhava entre as cabanas de pedra e argila, sentindo a textura do chão sob seus pés descalços, como se buscasse algum tipo de conexão, algum fio que pudesse puxar para revelar as memórias perdidas. Por que a floresta chamava tanto? Por que era tão difícil ficar ali, no meio das pessoas, quando tudo que realmente parecia querer era o abraço silencioso das árvores?

– Amadahy, - uma voz suave chamou seu nome, interrompendo seus pensamentos. Ela virou-se e encontrou um velho homem de olhar profundo e mãos firmes. Chamavam-no de Ancião Huan, o mais sábio do vilarejo.

– Sim? - respondeu ela, forçando um sorriso.

Ele olhou para ela por um longo momento antes de gesticular para um banco de pedra. –Sente-se comigo, menina. Você parece perdida.

Amadahy hesitou, mas sentou-se ao lado dele. Huan era conhecido por enxergar a essência das pessoas, e ela sentia-se vulnerável sob seu olhar, como se ele pudesse ver cada parte quebrada dentro dela.

– Às vezes, - começou ele, – os espíritos das árvores, do vento, da terra... eles guardam partes de nós quando queremos esquecer. Mas eles devolvem quando estamos prontos para lembrar.

Ela arregalou os olhos, o coração batendo mais rápido.

– Você acha que é isso que está acontecendo comigo?

Huan sorriu levemente, inclinando a cabeça.

– Você sente o chamado da floresta, não é?

Amadahy assentiu, lutando contra a vontade de desviar o olhar.

– Sinto... como se tivesse algo lá que é parte de mim. Algo que deixei para trás.

O ancião suspirou e pousou a mão enrugada sobre a dela.

– Os caminhos que percorremos com o coração são muitas vezes esquecidos pela mente. Mas eles nunca desaparecem.

Ela baixou a cabeça, sentindo as palavras dele como uma verdade que reverbera dentro dela. Desde que chegara ao vilarejo, percebia que algo em seu espírito ansiava por aquele lugar. Mas, ao mesmo tempo, algo na floresta a chamava de volta, como uma antiga promessa que ainda precisava cumprir.

– Eu me lembro de correr pela floresta quando era pequena, - disse ela, a voz quase um sussurro. – Lembro de ouvir o canto das aves e de sentir o vento como uma melodia em minha pele. Mas é tudo tão... vago.

– Isso porque você carrega um pedaço da floresta dentro de você, - disse Huan com um brilho no olhar. – Ela é sua casa tanto quanto é seu passado.

Amadahy ficou em silêncio, absorvendo cada palavra. Talvez ele estivesse certo. Talvez ela fosse parte da floresta, e a floresta, parte dela. Mas, se fosse verdade, então por que saíra de lá? O que acontecera para que ela tivesse deixado aquele lar?

O ancião observou seu olhar distante e sorriu.

– Eu conheço um lugar. Fica além das montanhas. Dizem que as pedras lá sussurram histórias antigas. Talvez você devesse ir até lá.

Ela o encarou, surpresa.

– Você acha que isso me ajudaria a lembrar?

– Às vezes, lugares sagrados guardam as respostas que o coração busca, - respondeu ele com serenidade. – Mas a escolha é sua, Amadahy. Apenas saiba que a memória que procura talvez já esteja em você. Ir até lá pode ser apenas uma maneira de permitir que ela se revele.

Amadahy assentiu lentamente, seu coração agora pulsando com uma mistura de excitação e ansiedade. Era assustador, mas ao mesmo tempo, era a primeira vez que sentia que tinha um propósito claro. Precisava descobrir quem era antes de voltar à floresta. Sabia que só entenderia seu verdadeiro lar quando se lembrasse de quem tinha sido.

Agradeceu ao ancião, que apenas acenou com a cabeça, o olhar brilhando com uma sabedoria que parecia antiga como a própria terra. Naquela noite, deitada em sua cama simples de palha, Amadahy não conseguiu dormir. Sua mente voltava à ideia das pedras que sussurravam, das histórias gravadas no tempo. Sentia que aquele era o próximo passo em sua jornada para se lembrar.

Na manhã seguinte, ao nascer do sol, ela partiu. Não era uma caminhada fácil; as montanhas que o ancião mencionara eram íngremes e cheias de trilhas escorregadias. Mas ela seguiu em frente, sentindo a presença invisível do espírito da terra a guiando.

Horas depois, chegou a um vale cercado por grandes rochas, todas cobertas de musgo e líquens. O silêncio ali era profundo, e o ar parecia mais denso, como se cada respiração trouxesse consigo a sabedoria de eras passadas.

Amadahy sentou-se em uma pedra e fechou os olhos. Respirou fundo, conectando-se com o chão, sentindo as pulsações da terra embaixo de seus pés. E, então, algo começou a mudar. Em sua mente, imagens surgiram. Uma menina correndo pela floresta, rindo com o vento. Uma mulher de cabelos longos e olhos gentis, ensinando-a a ouvir o sussurro das folhas. E um vulto de sombras, uma figura indistinta que a fazia sentir medo e dor, como se aquele ser tivesse tirado algo muito importante dela.

Amadahy ofegou e abriu os olhos, o coração acelerado. As memórias vinham aos poucos, mas ela sabia que estava no caminho certo. Aquela floresta, aquele lar esquecido, era um lugar onde crescera, onde aprendera a ser parte da natureza, a ouvir e entender a voz da terra. E também era onde algo sombrio acontecera, algo que a fizesse esquecer quem era.

Mas agora ela estava decidida. Voltaria para a floresta, enfrentaria o que quer que estivesse escondido em sua memória. Talvez houvesse dor, talvez houvesse medo. Mas sabia que só enfrentando esses sentimentos poderia, enfim, lembrar-se completamente de quem era.

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1. votem e comentem para a continuação.
2. desculpem a demora, estou com um grande bloqueio criativo e ele não vai embora nunca.
3. eu pensei em uma fanfic com o Sokka, o que vocês acham? Algo que não remeta ao avatar em si, mas a tribo da água. Algo diferente, e curto. Uma short fic.

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