cap.003; fogo em meus olhos

O suor frio se acumulava em sua testa como gotículas da água da chuva em vidro, sua garganta estava seca como pedras no calor, o seu corpo tremia de frio mesmo estando tão quente dentro do quarto que ela mal conseguia respirar, seu peito subia e descia tão descompassado e seu coração batia de modo duro na caixa torácica, como se quisesse fugir de seu corpo.
  Dizer que ela viveria por muito tempo era como clamar aos deuses por piedade e implorar a nação do fogo para um cessar na guerra, era inútil.

  Doze dias e doze noites.
Era o tanto que ela dormia após ser achada de modo caótico no acampamento, deixar uma garota em roupas maltrapilhas, doente e febril não era algo de se orgulhar, ainda mais para alguém que prezava por honra e poder.
   O som de água batendo em contato com metal fez os ouvidos da menina se animarem e o seu ser ter certeza de que ela tinha sido posta dentro de um navio, um grande navio quente o suficiente para a fazer suar de modo descontrolado.

  Iroh vagou por entre os corredores, uma bandeja com uma chaleira de chá esfumaçado e duas xícaras postas de modo perfeito ali.
  Parando em frente ao quarto ele deu um leve chute na porta para abri-la, a porta por si emitiu um barulho de dobradiças que fez a cabeça latejante de Amadahy se virar para o local.
  O homem sorriu largamente ao ver a garota piscar.

– Você acordou! _ declarou com um sorriso gentil enquanto ia até a mesa ao lado da cama, pondo a bandeja ali ele se aproximou da jovem, sua mão estendida foi até a testa da mesma, uma careta se fez em seu rosto. - Você ainda está com febre. Por sorte eu trouxe alguns remédios caseiros… chá é sempre uma boa opção. Nunca saio de casa sem meu chá.

  Amadahy sentiu todo seu corpo se contorcer de dor, como se algo a queimasse de dentro para fora, os seus olhos giraram em suas órbitas enquanto ela tentava se levantar.

– Por favor, sente. _ Iroh tentou intervir. - Está fraca! Moça…

  Amadahy se sentou na cama, os olhos fixos em algo perto da porta, algo que somente ela conseguia ver.

– Saia. _ Amadahy balbuciou, sua voz profunda.

   Existem monstros traiçoeiros no mundo dos espíritos, e alguns adoravam brincar com a mente daqueles que ficaram muito tempo lá dentro.

– Moça…

  Amadahy se pôs de pé, o espírito saindo porta fora.

– Suas forças não estão recuperadas, deve se deitar. _ a voz de Iroh soou como um lembrete em sua mente.

  Fraca, com febre e morrendo por dentro.
Era isso que Amadahy tinha no momento, porém mesmo assim ela ainda havia tirado forças para andar em meio ao local.
  O navio era grande, as paredes de metal eram densas e compactas.
  Aquele era um navio de guerra, não havia dúvida sobre isso quando ela passou por um quarto servido como arsenal.

  Mas contra quem eles lutavam?

  Amadahy parou seus passos quando o vento gelado invadiu seu corpo, a temperatura fria do lado exterior se chocando com a temperatura quente de seu corpo a fez fraquejar e se encostar na parede da entrada.

– Tio! _ a voz juvenil soou por seus ouvidos mais uma vez. - Por que não impediu ela de vir até aqui?

– Eu tentei. _ Iroh se defendeu. - Mas eu vejo que ela é mais teimosa que você.

– Só você para salvar uma morta viva. _ os passos soaram em sua mente, se aproximando a garota ergueu sua cabeça. - Garota…

  Amadahy arregalou os olhos para a visão em sua frente.
  Todo o convés do navio estava disposto com soldados, não qualquer soldados, porém soldados da nação do fogo.
  Algumas memórias poderiam ser uma bagunça dentro de sua cabeça, porém ela nunca iria se esquecer da noite de terror que passou por conta da nação do fogo.

  Os seus olhos ganharam uma tonalidade de roxo, um roxo tão forte que fez todos ao redor se afastarem quando o vento começou a balançar o navio de modo que a água se agita-se quase afundando a enorme embarcação de puro metal.

– O que é isso? _ Zuko exclamou enquanto tentava se manter estável no local.

– Isso, meu sobrinho. _ Iroh sorriu enquanto encarava Amadahy. - É o poder da Ethereal. _ encarou o mais novo. - Acho que você encontrou a companheira do avatar.

– E como nós a paramos?

– Não sei, nunca vi uma antes. _ riu como uma criança que acabara de ganhar o mais perfeito doce.

   Zuko trancou o maxilar, e, como uma prece, o corpo da garota caiu de joelhos no chão, toda a força sendo exaurida enquanto ela se escorava na parede mais uma vez.

– Incrível. _ sorriu. - Eu posso ter perdido o avatar de vista… mas agora eu tenho algo que ele vai correr para ter.

– Príncipe Zuko _ Iroh o encarou. - Vou levar a garota de volta aos estabelecimentos.

– Sim, Tio. _ concordou, o sorriso se esticando mais. - Nós temos ouro em nossas mãos, devemos cuidar dele.

[...]

  Amadahy levou mais uma colher cheia de sopa até sua boca, o gosto era peculiar, mas era tão bom quanto a primeira vez que ela tinha comido, aquele já sendo seu quinto prato em uma questão de minutos.
  Iroh, sentado do outro lado da mesa junto de seu sobrinho Zuko, a encarava com uma enorme satisfação e até mesmo com interesse.

– Então _ Iroh batucou suavemente o dedo no pote em sua frente. - Qual seu nome?

  Amadahy o encarou, um pouco do caldo escorrendo pelo canto de sua boca e indo até seu queixo, passando a manga da blusa na boca ela limpou o caldo.

– Posso pegar mais? _ quis saber.

  Ela não confiava neles, eles eram da nação do fogo, era claro que não ia confiar neles.

– Claro! _ Iroh sorriu enquanto pegava o prato da mesma, porém a mão de Zuko foi mais rápida e o interceptou.

  Os olhos do garoto eram como raios que cortavam os céus, e como os gelos. Eram frios, sombrios e cheios de pesar.
  Amadahy entendia aquela dor, ela sentiu por anos e anos.
  Os seus belos olhos cinzas foram para os gentios de Iroh, esse que a encarou com um pouco de pesar.

– Amadahy. _ murmurou, os seus olhos se voltaram para os de Zuko. - Posso ter mais?

  Lentamente o garoto soltou a mão do tio, esse que serviu mais a jovem de sua sopa.

– Tenha cuidado, sim? Está quente. _ o homem avisou.

 
Sem pestanejar a menina se pôs a comer mais da deliciosa sopa.

– Você sabe o que você é? _ Zuko resolveu puxar assunto enquanto mexia no seu prato com sopa.

– Não sejamos rudes, sim? _ Iroh encarou o sobrinho, esse que o encarou com certo descaso.

– Eu preciso de respostas. _ o garoto a encarou. - Como foi parar lá? De onde veio?

– E.. eu… _ balbuciou, os seus olhos piscando suavemente. - Eu só… _ encarou a sopa em sua frente, de repente ela não tinha mais o gosto divino que enfeitiçou seus lábios, e sim um gosto amargo como bile.

  Amadahy afastou o prato de sua frente, os olhos presos no caldo que balançava dentro do mesmo, fechando os olhos suavemente ela podia ouvir os gritos daquela noite, podia sentir o medo.

– Eu lembro do fogo. _ murmurou, os olhos se abrindo para o cinza casto ter sumido e dado ao perigoso roxo. - Lembro dos gritos e do fogo… e dele… _ encarou o garoto em sua frente. - Ele fez isso! Por que seu povo fez isso? Estávamos em paz! Por ANOS! Por que matar pessoas inocentes?

– Do que ela está falando? _ Zuko encarou seu tio, esse que encarou a menina em sua frente.

– Você estava lá. _ Iroh murmurou. - Estava no primeiro ataque.

  Amadahy levantou, uma aura lhe circulando o corpo, como um escudo humano, Zuko fora mais rápido, quando ele viu o movimento da menina ele lançou uma bola de fogo em sua direção.
  Fogo.
A garota aprendeu a odiar o fogo, ele havia tirado tudo dela.
Sua felicidade, seu lar, seus amigos e até mesmo o seu propósito. O fogo tinha lhe tirado Aang.

A bola de fogo de Zuko atingiu a garota, essa que reclamou de dor ao cair no chão, sua mão pressionando o local atingido.

– Zuko! _ Iroh exclamou horrorizado.

– Ela começou, tio. _ se defendeu.

  Amadahy se levantou, aterrorizada ela correu para fora do local.

– Hey! Voltei! _ Zuko tentou ir atrás da mesma, porém a mão de Iroh em seu braço o fez parar, olhando por cima do ombro ele encarou seu tio. - O que está fazendo? Ela está fugindo. _ apontou.

– É um navio. _ Iroh lhe devolveu o olhar de desdém de mais cedo. - Ela não vai tão longe, e tenho certeza que não vai pular.

– Mas…

– Deixe ela pensar. _ voltou a se sentar. - Ela passou muitos anos sozinha em algo que não sabemos nem metade da história. Agora sente, terminei a sopa comigo.

  Amadahy se viu sentada em um canto escuro do navio, suas costas presas na parede e seus pés em outra, aquele era um bom esconderijo, Zuko sabia disso, pois quando não queria ficar no quarto ele se escondia ali.
Era o canto mais quieto de todo aquele navio, a menina encarou o ponto em sua frente, uma pequena luz fraca.

– São das caldeiras. _ a voz a fez se sobressaltar.

Zuko estava sentado do outro lado do corredor.

Quando ele chegou?
Ela nem tinha ouvido se aproximar.

– São pequenas faíscas que fazem o navio ir pra frente. _ explicou suavemente, do bolso ele tirou algo em um amarelo brilhante. - Quer um? São caramelos. Eu meio que gosto deles.

Amadahy o encarou sem entender.

– Olhe _ Zuko suspirou. - Não queria atacar, só… foi reflexo, ok? Eu faço isso às vezes. Pode me perdoar?

– Pode me devolver a minha família? _ voltou seu olhar para a luz.

– Não. _ foi honesto. - Mas posso fazer melhor. Eu posso te levar ao Aang.

  O nome fez Amadahy voltar sua visão para Zuko, esse que sorriu, estendendo o caramelo ele a viu pegar com receio.

– É… _ ele sorriu. - Vem, vamos dar um jeito nisso aí.

continua...

votem e comentem pra continuação.
¹ vamos falar dessa capa perfeita feita pela kazzwtora? Eu tava super ansiosa pela capa e ela entregou tudo!!!❤️ Muito obrigada.
² estou planejando uma maratona de capítulos da fic do Zuko. Ou seja, não vão ser capítulos enormes, mas vão ser bastantes capítulos em um dia, em torno de 1600 a 1800 palavras..Uns 5 capítulos por aí. O que acham?
³ tenham paciência comigo, pfv! Estou doente e passando por um momento difícil. Mas prometo voltar pra vocês.

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