cap.001; a queda dos sábios

  Havia um silêncio mórbido no ar, embora sentados lado a lado, nem um dos dois jovens de arrepiar a falar, nenhum deles querendo ter a primeira palavra dita, porém eles não precisavam de palavras para expressar aquilo que sentiam.
  Pela primeira vez em um ano Aang sabia como Amadahy estava se sentindo, para ele o peso era muito pesado, mas para ela poderia ser mais do que só pesado, poderia ser mortal.
  O avatar era para ser aquele que salvava o mundo, aquele cujo devia proteger o povo, enquanto o ethereal devia morrer para salvar o avatar.

  Eles eram o salvador e a causa perdida.

-- Eu não quero isso. _ Aang foi o primeiro a  romper o silêncio, Amadahy o encarou com o canto dos olhos. - Eu não pedi pra ser o avatar e eu definitivamente não quero que você se sacrifique por mim!

-- Aang...

-- Não! _ o garoto se levantou e a encarou, frente a frente ele parecia ainda mais poderoso, não só uma criança. - Eu não posso ser aquele que lhe dá esse fardo... não eu. Amma... você é minha melhor amiga, eu não poderia viver com você morrendo por mim em uma missão suicida.

-- O mundo precisa do avatar, Aang _ a garota segurou as mãos do amigo. - O mundo vai precisa de você. _ apertou as mãos do mesmo em conforto. - E onde você ir, eu vou estar a dois passos atrás de voce.

-- Esse é o meu medo. _ suspirou. - Eu não quero isso... não para você.

-- Vamos fazer uma promessa! _ a garota se levantou para ficar frente a frente ao mesmo, os dedos mindinhos se entrelaçando suavemente. - Quando um precisar do outro, nós vamos voltar para a fonte, não importa quanto tempo passe... fechado?

   Aang sorriu suavemente, um leve aceno de cabeça.

-- Fechado!

   Amadahy se inclinou suavemente em direção ao mesmo, seus braços passando ao redor dos ombros do menino, esse que a abraçou suavemente, sua cabeça descansando no ombro da garota.
  Ali, em frente à mesma fonte onde eles vieram a se conhecer, com a lua no alto do céu radiante, eles fizeram um pacto silencioso, um ao qual eles não podiam quebrar.

-- Você e eu, Aang... até o fim do mundo.

Oh, o fim do mundo.
Dizem que mestres do ar são pacíficos e calmos, que eles prestam por palavras e atos gentis. Porém eles podem ficar violentos quando tudo que eles trabalhavam e mais cuidavam estava prestes a queimar nas mãos dos seres mais terríveis do mundo.
   A muito tempo os quatro elementos viviam em harmonia, isso foi até a nação do fogo resolver começar uma guerra em busca do avatar.
  A nação do fogo almejava poder e resistência, eles queriam desequilibrar o balanço do mundo, queriam mostrar que eram os seres superiores, e de algum modo eles conseguiram.

••••••••••°°••••••••••

  Era o dia do meteoro passar pela órbita da terra, aquilo significava que a festa no templo do ar do sul estava se aproximando.
  A cada 100 anos o meteoro passava pela terra, sua grande bola de fogo sendo visível a olho nu, dando aos jovens e adultos esperanças de um mundo maior e melhor.
 
Os mais jovens estavam animados, todos ajudaram nos preparativos para o grande festival na noite seguinte, seria uma grande festa, cheia de comida, música e dobras de ar, com visitantes de todos os cantos, mestre do ar do norte, leste e oeste.

-- Vamos! _ Aang puxou Amadahy por entre as pessoas do mosteiro, essas que os observavam com sorrisos. - Vamos perder a chegada deles, Amma.

-- Estou indo, Aang. _ a menina sorriu enquanto o seguia de perto.

  Desde a descoberta infortuna, Aang e Amadahy não haviam se desgrudado mais, porém os monges mais antigos não pareciam felizes com tal comportamento, afinal, eles tinham muito o que aprender e evoluir ainda.
  De acordo com os pergaminhos antigos o avatar e o ethereal, embora ligados, deviam seguir caminhos opostos aqueles cuja intervenção era inevitável.

-- Vamos!

  Aang parou seus passos abruptamente, algo que fez o corpo de Amadahy se chocar com o do mesmo.
O seu braço passou ao redor da cintura de Amadahy, o garoto observou como os olhos cinzas da jovem brilharam e com um salto eles sentiram o ar os levitar até um dos pontos mais altos do mosteiro, uma das grandes torres.
  A torre era imensa, dali de cima eles podiam ver todo o enorme arco do mosteiro e até mesmo quando os bisões voadores se aproximavam pelas cordilheiras.
  Haviam centenas deles, cada um com mestres bem treinados e com alunos que vinham para a comemoração.

-- Uau. _ a menina sussurrou em encanto. - É tão lindo!

Aang sorriu enquanto encarava a garota ao seu lado, seu aperto nunca saindo da mesma para evitar cair.
  Havia algo de mágico em como os olhos de Amadahy brilhavam com o contraste do sol, como ela sorria com as coisas simples como folhas voando com o ar.

-- Vai ser uma enorme festa, posso dizer. _ o garoto falou, Amadahy o encarou com um sorriso.

-- Estou animada para isso.

••••••••••°°••••••••••

     Amadahy havia se conectado com uma das mestre do ar do norte, havia algo especial nela que a fazia se lembrar de si quando ainda vivia na vila com sua família.
Ela era elegante, rígida e precisa uma pessoa justa, além do mais, ela era a única ao qual parecia responder suas perguntas, por mais bobas que fossem.

-- Então _ Amma encarou a mais velha, ambas estavam perto das árvores do pomar, a mais velha sentada de modo elegante e viril em um dos bancos feito da mais fina madeira de pinheiro, enquanto Amadahy estava em pé a observando com encanto nos olhos. - Vocês tem coisas diferentes e... culturas distintas. _ sorriu. - Pode me ensinar?

-- É a primeira vez que vejo um ethereal realmente querendo aprender algo. _ a mais velha sorriu, porém esse não era o mesmo sorriso direcionado a Amadahy minutos atrás, esse tinha algo diferente. - Interessante.

-- Eu só gosto de aprender, mestre. _ sorriu suavemente, ainda tentando ser educada, como sua mãe e os monges do sul ensinaram.

-- Talvez um ethereal não possa ter tanto conhecimento. _ avisou enquanto se levantava, algo que fez a jovem dar um passo para trás.- Deixe isso para o avatar, sim? Conhecimento de mais não vai te levar a local algum.

   Amadahy suspirou suavemente ao vê-la se distanciar, seu pé chutou uma das pedras soltas e ela se sentou emburrada com as costas na parede de pedra.
O avatar, todas as conversas que Amadahy tinham, todas as pequenas intervenções, todas levavam ao mesmo patamar: o avatar.

-- Sempre o avatar _ rolou os olhos. - Por que não posso ser normal e importante pela primeira vez? _ com fúria no olhar ela encarou a grande bola de fogo que circulava o céu. - Eu só queria ser importante pela primeira vez… é pedir muito?

  Mas o céu não podia responder isso, pois ele estava muito focado na grande esfera de fogo.

••••••••••°°•••••••••

   Quando a noite caiu e o grande banquete fora servido, todos os monges, crianças e idosos foram dormir.
Em uma parte do mosteiro, onde os jovens ficavam, Aang havia se esgueirando até a saída de seu quarto compartilhado, se arrastando até o local onde Amadahy dormia e deixado uma única carta deixada no travesseiro de Amadahy, essa que dormia calmamente.

  Fora um sono sem sonhos, sem esperanças e sem distúrbios.
  Fora o primeiro sono sem lembranças da jovem Amadahy.

  Uma luta nem sempre era justa, ainda mais quando ela vinha de alguém que tinha o poder de uma enorme esfera de fogo no céu.
  A nação do fogo estava poderosa, pois o meteoro era aquele que unia forças para eles, era o que eles mais almejavam.

Eles vieram na calada da noite, quando todos já dormiram e poucos faziam a ronda, como ratos em caçada do queijo mais delicioso.
    Quando os gritos soaram ao lado de fora foi um alerta para os mais jovens no quarto.
   Amadahy sentou na cama rapidamente, os olhos arregalados enquanto olhava para seus colegas de quarto tão confusos quanto ela.
A porta do recinto foi aberta abruptamente, um mestre Gyatso assustado, mas tentando manter a calma para não assustar os mais jovens, entrou no recinto.

-- Vamos! _ exclamou em alerta.

   Amadahy levantou rapidamente algo que fez o papel cair , ela o pegou vendo a letra de Aang em uma letra apressada.

-- Aang? _ chamou ao olhar ao redor para seus amigos. - Mestre Gyatso, Aang não esta aqui. _ alertou o mestre, esse que arregalou os olhos.

-- Temos que ir. _ o mesmo a puxou pelo ombro.

-- Não, eu preciso achar Aang. _ exclamou. - Ele pode estar em perigo.

   A garota se soltou das mãos do mais velho e se pôs a correr por entre o local onde viveu por quase dois anos.

-- AMADAHY! _ o mestre gritou em desespero, mas já era muito tarde.

     O fogo se alastrava pelo local como água correndo em uma nascente. Pessoas morriam ao seu redor, pessoas ao qual a garota conviveu por um longo ano, pessoas ao qual ela aprendeu a respeitar e amar, o fogo queimava as árvores e deixava o rastro da morte, degradava vidas e deixava marcas jamais esquecidas.
  Os passos da garota eram rápidos em meio aos destroços do local, uma enorme bola de fogo atingiu o portão de pedra ao qual Amadahy estava passando, o impacto do fogo a fez cair com um enorme baque no chão; os seus braços foram arranhados no chão de pedra, sua cabeça girou por conta da pancada e ela sentiu tudo rodar ao seu redor enquanto se levantava, ainda procurando por Aang.

   Amadahy tinha apenas 14 anos, ela completaria 15 anos daqui a alguns meses. O sangue escorria por sua testa enquanto ela se levantava e sua visão estava confusa, assim como seu espírito abalado, sua roupa de dormir estava suja pela poeira e sangue, o colar que ela sempre usava - um ao qual Aang tinha consertado tantas vezes que havia feito algo a mais para ela - havia se perdido no meio do caminho, assim como a carta que ela segurava.

O seu choro soou pelo local como uma lamúria aterrorizada.
Ela estava sozinha, no meio de corpos de pessoas que um dia foram sua família, pensando em sua pequena casa na vila e como teria sido se ela tivesse ficado lá.
Como seria sua vida se ela não fosse escolhida?
Ela seria alguém importante para alguém?
Ela seria amada por alguém? Se casaria e teria filhos como sonhou em tenra idade? Teria uma pequena casa só para ela?
  Ela nunca saberia, e ela sabia disso.

-- AANG!  _ o seu grito soou doloroso, arranhando sua garganta e ardendo os seus olhos.

  O som de passos a fez girar no local, os seus olhos arregalando quando ela pode ver a enorme bola de fogo se aproximando dela.
  Mas ela não conseguia pensar na morte, nem em como morreria naquela noite, ela so conseguia pensar em algo, em uma coisa, em uma pessoa.

-- AANG!

   Dizem que a morte é algo calmo, mas não fora para Amadahy.
Ela sentiu o fogo queimando sua pele, o ar tentando entrar em seus pulmões, seu corpo ser arrastado por entre o local.
E ela havia marcado aquela máscara, os chifres do demônio, e os olhos frios sem vida, aqueles olhos estavam olhando para ela, sua vida sendo tirada pela tirania do fogo.

– Aang…

continua...

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