Capítulo 37

Ao olhar nos olhos da jovem senhora, diferente de como eu imaginava, não sentia dor, raiva, remorso, tristeza ou decepção. Tudo o que conseguia sentir era saudade, meu peito doía com a saudade que martelava em meu coração.

Sinto as mãos de Roy em meus ombros, como um claro sinal de apoio e força. Para o meu corpo, seu toque foi o sinal que precisava para sair da inércia.

Sem perceber o que estava fazendo, me desvencilho das mãos de Roy e corro em direção à mulher que tanto odiei nos últimos anos, me jogando em seus braços. Imediatamente sou acolhida em um abraço quente e confortável. Sinto o meu corpo tremer sem parar e as lágrimas embaçarem minha visão.

- Mamãe! - Minha voz sai abafada entre seu peito. Soluçava, e não conseguindo mais ficar de pé, meu corpo escorregou, junto com o dela. De joelhos no chão, choramos abraçadas - Mamãe me perdoe! Me perdoe! - Ele agarrou o meu rosto, forçado-me a olha-la nos olhos.

- Eu que preciso pedir perdão, meu amor! - Sua voz quase não saía - Perdoe-me por todo mal que causei a você e toda a nossa família! - Soluçava - Perdoe-me por ter sido uma péssima mãe! Eu estava cega, Ana! Eu...

- Shhh! - A interrompi - Eu te perdoo! Eu te perdoo! - Balanço a cabeça em afirmação - Eu te amo, mamãe! - Lancei-me em seu pescoço - Eu te amo! - Sussurrava sem soltá-la em momento algum.

- Eu te amo minha filha! - Acariciava meus cabelos.

Aquele momento estava sendo um divisor de águas em minha vida. Sentia-me finalmente livre de toda dor, culpa, amargura ou medo. Éramos apenas nós, mãe e filha, partilhando a tão esperada reconciliação.

Ainda abraçada à mamãe, avisto papai de joelhos atrás de nós chorando e agradecendo. Nossos olhos se cruzam e eu vislumbro um lindo sorriso em sua face. Ergo minha mão o chamando, rapidamente ele se aproxima e nos envolve em seu braços.

Ficamos assim por um longo tempo, talvez horas, não faço ideia! Para mim parecia uma eternidade, mas era o que precisávamos. O peso de outrora que estava em meus ombros e coração, foi totalmente substituído pela alegria genuína de estar ao lado da minha família novamente, dessa vez, completa!

Ainda no chão, vejo Sofia se juntar a nós com os olhos vermelhos e o rosto molhado. Acaricio o seu rosto agradecendo internamente por ela não ter feito a escolha errada.

- Eu tenho muito orgulho de você, sorella! - Sorrio - Você é uma grande inspiração para mim.

- Eu te amo, Aninha! Oramos tanto para que esse momento chegasse... - Enxugava as lágrimas que ainda teimavam rolar em sua face. Conhecendo minha família, poderia imaginar quantas orações foram feitas para que esse dia chegasse. Madrugadas clamando, jejuando e intercedendo pela intervenção do altíssimo.

Sobre os ombros de minha irmã, vejo Emily caminha devagar até o irmão, despertando-me e me lembrando que não estávamos sozinhos. Viro-me para os meus pais com um grande sorriso no rosto.

- Papai! Mamãe! Quero que conheçam duas pessoas extremamente importantes para mim! - Levanto-me e caminho em direção aos irmãos Carter, parados na entrada da varanda observando-nos atentamente. Olho para Roy e percebo em seus olhos uma mistura de ansiedade e aflição, mas o sorriso não deixava o seu rosto.

- Está tudo bem! - Sussurro ao chegar perto dos dois, ele meneia uma vez a cabeça, concordando comigo. Volto minha atenção à minha família - Estes são Roy e Emily Carter! Meu namorado e minha cunhada. - Aponto respectivamente para cada um falando em inglês, o idioma compreendido por todos naquele cômodo. Meus pais se aproximam de nós trazendo em seus rostos grandes sorrisos - Roy! Em! Estes são os meus pais, Viviane e Samuel Bianchi!

- É um prazer, finalmente poder conhecê-los, senhor e senhora Bianchi! - Roy dá um passo em direção aos dois e estende a mão para o meu pai que, sem rodeios o puxa para um abraço bruto.

- Bem-vindo a família, rapaz! Estava ansioso para conhecer o homem que conseguiu amolecer o coração da minha Clara! - Diz piscando para mim.

- PAI! - Esbravejo fazendo os dois rirem. Roy se vira para mamãe pegando sua mão e depositando um beijo em seus dedos, como costuma fazer comigo.

- Senhorita, Bianchi! - Diz cortês.

- Apenas Viviane, querido, sem formalidades por favor! - Sorri amavelmente para ele - Fico muito feliz em conhecer o famoso Roy.

Sinto uma mãozinha em minhas costas. Olho para trás e vejo Emily se escondendo atrás de mim. Achando graça de sua timidez, pigarreio e dou um passo para o lado tornando a pequena o centro das atenções. Ela abaixa a cabeça e cruza as mãos em frente do corpo.

- Ah! Esta é a pequena Emily! - Mamãe diz vindo em nossa direção e se abaixando diante da minha cunhada - Como você está, princesinha? Sou Viviane, mas se quiser pode me chamar de Vivi.

- Pode ser Vi?- A pequena questiona levantando o rosto, fazendo o sorriso de mamãe aumentar ainda mais.

- Mas é claro que pode, princesa! - Ela puxa Emily para um abraço e a garotinha logo se solta fazendo o mesmo.

- Que maravilha! Ganhei uma nova filhinha! - Papai diz encantado ao se aproximar das duas ao meu lado. Em olha para mim com um enorme sorriso em seu pequeno rostinho. Pisco em sua direção, e enquanto ela era o centro das atenções vou em direção ao meu namorado o abraçando lateralmente. Ele suspira ao meu toque e deposita um beijo em minha testa.

- Está mais tranquilo? - Questiono, apenas para ele ouvir,  sem desviar o olhar dos meus pais e da minha pequena cunhada.

- Sem dúvidas! - Responde no mesmo tom.

- Desculpem-me atrapalhar este lindo momento em família, mas o jantar está servido! - Dona Thelma nos avisa. Roy me olha curioso para saber o que a senhora tinha acabado de falar.

- Hora do jantar! - Digo resumindo, segurando sua mão e o levando para a mesa.

***

Após o jantar, todos fomos para a varanda afim de conversarmos mais, no entanto, não nos demoramos, pois em menos de 6h estaríamos pegando a rodovia. Nossos pais se recolheram, assim como minha irmã. Emily estava dormindo no colo do meu namorado, que admirava o silêncio da noite.

- Ro! - Toco em seu braço o despertando de seus pensamentos. Levanto-me ficando de frente para ele - O que acha de colocarmos a Em na cama?

- Ótima ideia!

Com facilidade, Roy levanta da cadeira e me segue rumo ao andar superior. A casa já estava silenciosa. Chegando em frente ao meu quarto, abro a porta e dou passagem para que ele entrasse.

Observo o meu namorado colocar a irmã, cuidadosamente, na cama e cobri-la com um edredom quentinho. Deposita um beijo em sua testa e caminha em minha direção. Ao se aproximar me envolve em um abraço apertado, que logo retribuo. Afasto-me um pouco para encará-lo.

- Eu sei que já está tarde e precisaremos acordar cedo amanhã, mas gostaria de conversar com você!

- Tudo bem! - Indico a varanda com a cabeça e caminhamos para a sacada - Está tudo bem? - Percebo um pouco de preocupação em sua voz.

- Está tudo mais do que bem! - Ofereço um sorriso sincero - E é justamente por isso que eu quero conversar com você, amor! - Ele suspira aliviado e sorri segurando minhas mãos - Você mais do que ninguém sabe como foi difícil para mim enfrentar os meus medos e aflições! - Olho para nossas mãos unidas e brinco com seus dedos entrelaçados aos meus - No meu íntimo, eu realmente achava que não iria conseguir, mas você em todo o tempo esteve ao meu lado me ajudando e encorajando a não desistir - Suspiro voltando a encará-lo - Roy, eu não sei como seria se eu não tivesse você ao meu lado. - Ele abre a boca para dizer algo, mas coloco um dedo em seus lábios o impedindo de continuar - Eu sei, que de alguma forma eu conseguiria fazer isso! É óbvio, pois quem realmente me sustentou e fortaleceu foi Deus! Sempre é Deus! - Sorrio - Mas eu quero te agradecer por se deixar ser o auxiliador que Deus escolheu para cuidar de mim e me ajudar nessa caminhada. - Ele se aproxima encostando nossas testas. Seguro seu rosto entre minhas mãos - Eu te amo, meu amor! Como nunca amei ninguém!

- Você é o amor da minha vida, Ana Clara Bianchi! Eu farei qualquer coisa por você, sempre! - Ele toma o meu rosto em suas mãos e me puxa para um beijo casto e cheio de amor.

***

Era inverno no Brasil, no entanto, nunca considerei que essa estação realmente existia em nosso país, principalmente depois de ter conhecido outros lugares onde o inverno se fazia presente e era bem rigoroso. Tínhamos acabado de chegar ao nosso destino, e lá estava o sol, brilhando como sempre sem nenhuma nuvem para bloquear a sua glória.

- Roy, querido, espero que goste de sol e praia! - Mamãe diz ao entrarmos em nossa casa de praia em Búzios.

- Na verdade, eu não tenho muita experiência com eles, mas espero contornar isso nesta viagem! - Responde divertido.

- Eu amo praia! - Emily diz animadamente descendo do colo de Sofi e se aproximando de nós.

- Excelente! - Mamãe bate palmas - Só não esqueçam do protetor solar!

- Não se preocupe, mamãe! Estou aqui para isso! - Pisco em sua direção - Venham, vou levá-los aos seus quartos.

- Mas eu pensei que iria dormir com você, Clarinha! - Diz Emily fazendo bico.

- Retificando... Venham, vou levá-los aos nossos quartos! - Pegamos as bagagem e subimos. Ao chegarmos no andar superior, levo Roy para o seu quarto e sigo com a pequena para o nosso.

- Clara, esse lugar é lindo! Eu não quero mais sair daqui! - Ela abre os braços e se joga em minha cama - Quando podemos ir à praia? - Levanta a cabecinha me olhando com expectativa. Olho a hora no relógio em meu pulso e constato que ainda é cedo.

- Bom, logo após organizarmos nossas coisas, tomarmos o café e nos arrumarmos! - Digo me jogando ao seu lado.

- OBAAAAA! - Grita me abraçando.

- Tá bem! Tá bem! Vamos arrumar logo nossas coisas!

Após desfazer as malas e organizar as coisas no guarda-roupa, trocamos de roupa e descemos para encontrar com o pessoal para o café.

- Ana, olha o que eu encontrei por aí! - Mamãe me entrega uma grande bolsa cheia de poeira - Acho que a pequena Emily irá gostar. - Abro e me deparo com vários brinquedos de praia, de quando Sofi e eu éramos mais novas.

- Nossa! - Sento no sofá levando Em comigo - SOFI, VENHA AQUI!

- JÁ VOU! - Grita lá de cima. Em menos de minuto o furacão, versão adulta, desce correndo as escadas - O que foi?

- Lembra disso? - Mostro alguns brinquedos que ela não desgrudava.

- Caraca! Eu lembro desse baldinho, eu fazia meus melhores castelos com ele... - Analisou o objeto nostalgicamente - Bons tempos!

- Eu também quero fazer castelos de areia! Podemos, Clarinha? - Emily mexia nos brinquedos escolhendo os que levaríamos para a praia.

- Mas é claro! Faremos um castelo enorme! - Digo sorrindo.

- E adivinha quem será a princesa desse grande castelo! - Sofi senta ao lado da pequena.

- Quem? - Ela questiona curiosa.

- Você, oras! Quem mais é a nossa princesinha? - Emily ri envergonhada e Sofi olha para mim. Levanta-se e senta ao meu lado no sofá - Qual a sensação de ter uma filha? - Sussurra olhando para a pequena.

- Ela não é minha filha, Sofia! - Repreendo-a no mesmo tom.

- Ainda! - Diz me encarando - Você sabe que quando se casarem ela ficará com vocês, não sabe?

- Eu sei, mas... - Já tinha parado para pensar algumas vezes e nunca vira aquilo como um empecilho. Pelo contrário, Emily e eu sempre tivemos uma conexão forte e inexplicável. Não seria problema cuidar dela juntamente com Roy. Mas considerá-la como filha? - Olha Sofi, eu amo a Emily e cuidarei dela com todo o amor e carinho. Darei a atenção necessária e sempre estarei ao seu lado, mas jamais serei sua mãe! Jamais usurparei o lugar da Zoe!

- Ninguém está falando em usurpar o lugar de sua mãe, Aninha! Mas a menina precisa de uma figura materna, e ela a vê como tal. - Sorriu segurando minha mão - Sabe, você sempre cuidou de mim como uma mãe cuida de um filho, então tenho certeza de que irá se sair muito bem! Não se espante se um dia ela, sem querer, te chamar de mamãe... - Sorriu zombeteira e voltou para o lado da pequena, deixando-me refletir.

- Madames! - Roy aparece na sala - O café da manhã está servido.

- Oba! - Sofi comemora ao lado de Emily - Vamos ver quem chega mais rápido? - As duas levantam e saem correndo.

- Agora são dois furacões... Acho que a casa não ficará de pé até domingo! - Levanto-me e ele estende a mão para mim, que a pego ao me aproximar.

- Tenho que concordar com você! - Diz rindo.

Todos tomamos o maravilhoso café preparado por Roy e papai. Mas não era apenas Emily que estava ansiosa para chegarmos na praia, todos estávamos comendo rápido para aproveitarmos o dia ao máximo.

- Pegaram tudo o que precisamos? - Papai perguntou.

- Sim, Sam! - Mamãe respondeu rapidamente - A mala dos dois carros estão lotadas!

- Então, não vamos perder mais tempo! - Senta no banco do motorista.

- Ah, papai, podem ir na frente, sei onde vocês ficarão! Preciso fazer algo antes de irmos. - Digo.

- Tudo bem, querida! - Procuro algo em minha bolsa enquanto eles se distanciam de nós.

- Quer ajuda? - Roy se aproxima.

- Negativo! - Pego o protetor solar e sacudo no alto - Agora vocês dois sentem quietinhos aqui para que eu passar em vocês!

- Isso é realmente importante? - Em pergunta desanimada.

- Com toda certeza, mocinha! - Passo nela primeiro - Ainda bem que lembrei de passar antes de chegarmos na praia, você não pararia um segundo.

Alguns minutos se passaram e os dois estavam protegidos e prontos para começarem a enfrentar um dia de sol no Rio de Janeiro.

- Vamos! - Guardo o protetor na bolsa.

- Ei! Não está esquecendo nada, mocinha? - Olho para Roy com a sobrancelha arqueada.

- Pois é! - Sua irmã cruza os braços - Você também precisa se proteger, mocinha!

- Ops! - Faço cara de inocente tirando o protetor da bolsa.

- Vamos logo com isso, Clarinha! Já estamos perdendo tempo demais aqui, eu quero mergulhar, nadar, fazer castelos de areia, cavar, correr...

- Estou vendo que teremos um longo dia pela frente... - Roy suspira enquanto pegando o protetor de minhas mãos.

***

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