Capítulo 36

Era quarta-feira à noite, e amanhã viajaríamos para o Brasil. Eu nem preciso dizer o tamanho da minha ansiedade... Minhas orações eram constantes, mas sempre acontecia alguma coisa que trazia à tona todas as preocupações. 

- Atende, dona Thelma, por favor! - De soslaio, vejo Ash revirar os olhos ao meu lado. Era a quarta vez que tentava ligar para o número da nossa governanta, mas nada, e isso me deixava agoniada. Até que, para o meu completo alívio, alguém atendeu.

- Ana? - Questiona duvidosa.

- Dona Thelma! Sou eu sim! - Levanto-me do sofá e começo a caminhar de um lado ao outro - Como a senhora vai?

- Estou bem, minha querida! Tudo na paz de Deus! A que devo a honra de sua ligação para o meu número particular? - Pergunta sem rodeios.

- Vou ser direta... - Conto à bondosa senhora tudo o que estávamos planejando fazer, e como precisaríamos de sua ajuda para que o plano desse certo.

- Fico muito feliz em saber disso, minha querida! - Sua voz transmite toda a sua emoção - Há apenas um pequeno problema.

- E qual seria? - Começo a temer.

- Seus pais e a pequena Sofi planejam viajar, neste fim de semana, para a casa de praia no Rio de Janeiro.  

Meus pais compraram um casa de praia em Búzios, região dos lagos do Rio, há uns quinze anos. E ao longo desse tempo íamos para lá aos fins de semana, pelo menos uma vez ao mês.

- Tudo bem, creio que isso não será um grande problema! Obrigada pela ajuda, dona Thelma, nos vemos amanhã! 

- Até amanhã, menina Clara! Façam boa viagem! - Nos despedimos e eu coloquei o celular na mesinha lateral 

- Tudo certo? - Ashley aparece ao meu lado.

- Creio que sim! Vou atualizar o Roy acerca de algumas coisas. - Vou para a varanda e assim que ponho os pés para fora do cômodo, deparo-me com Dominic sentado em um banco.

- Dom! - Saúdo-o ao me aproximar.

- Ana! Como vão os preparativos da viagem? 

- Bem! - Sento-me ao seu lado reparando no livro que ele segura em suas mãos - Está gostando do que lê? - Como sempre, não contenho minha curiosidade.

- Confesso que tenho tido um pouco de dificuldade, mas o Roy tem me ajudado bastante! - Sorri.

- Normal! A bíblia é um livro complexo, mas ao mesmo tempo simples. - Ele dá risada - Toda vez que você for meditar nesse livro - Toco no objeto - Convide o autor. Ele amará te ensinar e tirar suas dúvidas. 

- O Roy me disse a mesma coisa!

- O Roy é um excelente professor também! - Digo me levantando - Tenho aprendido muito com ele. - O jovem senhor concorda maneando a cabeça. Em seguida, olha-me como se estivesse ponderando algo.

- Ana... O que você está prestes a fazer não será algo fácil, eu sei! - Abaixo o olhar sabendo que ele se referia à conversa com minha mãe - Mas é o certo! Eu sei que não sou a melhor pessoa para falar sobre pedir perdão e perdoar - Ri secamente - Mas tenho certeza que a sua mãe está arrependida pelas coisas que fez. 

- Amém! - Ficamos por um tempo em silêncio - Eu preciso falar com o Roy agora, ele está? 

- Sim, minha filha, deve estar no escritório ou em seu quarto.

Agradeço e entro no apartamento dos meus vizinhos. Olho na sala e na cozinha, mas não há ninguém. Bato à porta do escritório e ninguém responde, por último bato em seu quarto. Nunca tinha entrado lá antes, não fazia ideia de como era o interior daquele cômodo. 

Segundos depois a porta é aberta revelando um Roy agitado com os cabelos bagunçados e roupa bem informal. 

- Oi, amor, que bom que chegou! - Disse puxando-me para dentro e deixando a porta atrás de nós aberta. O ambiente, assim como o resto da casa, é moderno e clean. Há uma enorme cama King size com uma cabeceira ripada, duas mesas de cabeceira e uma grande poltronas próximas à janela. Em uma das paredes haviam duas portas, provavelmente a do banheiro e do closet. Era simples e sofisticado - Estou arrumando a mala, mas não faço ideia do que levar! - Coça a cabeça.

- Calma, amor! - Dou risada do seu nervosismo e olho sua bagagem - Você precisará levar roupas mais frescas, não esses casacos! - Digo tirando algumas peças exageradas - O que me faz lembrar de algo que vim te falar. Minha família viajará nesse fim de semana, provavelmente ficaremos sozinhos em São Paulo, ou teremos que voltar para New York.

- Para onde eles irão? - Pergunta curioso.

- Para nossa casa de praia no Rio de Janeiro.

- E não podemos ir juntos? - Fico surpresa com sua pergunta. 

- E você quer viajar com a minha família? - Franzo o cenho.

- É claro! Também estou indo para conhecer minha nova família. - Abre um lindo sorriso.

- Seria... Maravilhoso, meu bem! - Jogo-me em seus braços - Obrigada! 

- Não precisa agradecer, minha linda! Agora vem, vamos terminar de arrumar essa mala e dar uma olhada nas coisas da pequena. 

Terminamos de organizar a bagagem dele que, nitidamente, era muito menor que as minhas, e fomos para o quarto de sua irmã. 

- CLARINHA! - Grita ao me ver - Estou animada para a nossa viagem! - Começa a pular e bater palmas no ar.

- Eu também! Vamos dar uma olhada nessa mala? - Pergunto indo em direção à cama. A mala de Emily, diferente da bagagem do irmão, tem muito mais roupa de calor. Dessa forma, mudamos poucas coisas - Perfeito! Agora acho melhor dormimos, pois madrugaremos! - Beijo a bochecha da pequena e dou um selinho em Roy - Amo vocês! 

- Também te amamos! - Em diz me abraçando.

- Eu amo mais! - Roy sussurra em meu ouvido, fazendo-me rir.

Saio do apartamento pela varanda, e lá me despeço do meu sogro, que naquele mesmo fim de semana retornaria para a França. Entro em casa e converso mais um pouco com Ash, antes de deitar. Minha amiga, assim como Dominic, também deixaria o apartamento naquele fim de semana. No entanto, não iria para longe, pois conseguiu alugar um apê no mesmo prédio que nós. Charlotte já tinha retornado há alguma semanas para a França, assim como David, que aliás, fazia muita falta. 

***   

Emily dormia tranquilamente ao nosso lado. Roy lia um livro, mas em momento algum soltava minha mão. Quanto mais nos aproximávamos, mais nervosa eu ficava e ele percebeu isso, pois fechou o livro e o guardou no bolso da poltrona à sua frente. 

- Vamos conversar! - Vira-se um pouco para mim.

- Sobre o quê?

- Qualquer coisa que te faça esquecer seus medos e anseio! - Suspirei me afundando na poltrona do avião.

- Amor, eu não consigo controlar! - Resmungo.

- Já sei! - Exclama animado - Conta-me um pouco sobre São Paulo e sobre o Rio de Janeiro. Particularmente,  eu sempre tive mais vontade de conhecer o Rio. 

- O Rio é realmente mais atrativo por suas belezas naturais. Já São Paulo é o centro financeiro do Brasil. Sempre achei um pouco parecido com New York, muitos prédios, edifícios simbólicos, muitos carros e pessoas na rua... é uma metrópole tipicamente urbana. - Dou de ombros.

- E o Rio? - Pergunta curioso.

- Ah, o Rio.. Eu sou um pouco suspeita para falar de lá. - Suspiro - Amo as praias, a natureza, as pessoas... Quando eu era mais nova, insistia para nos mudarmos, mas papai não poderia abandonar o emprego para atender os caprichos de uma criança. - Dou risada das lembranças de minha infância - Tenho certeza que você irá amar, assim como Em! - Olho rapidamente para a menina que dormia como um anjo há centímetros de nós.

- Eu tenho certeza que irei amar, só por que você estará ao meu lado! - Aproxima nosso rosto depositando um beijo doce em meus lábios. No mesmo instante ouvimos o piloto nos informando que estávamos preparando para aterrissar. Roy, parecendo uma criança curiosa, ergue a cabeça sobre o meu banco, tentando olhar a paisagem pela pequena janela do avião.

- Bem-vindo ao Brasil, meu bem! - Sorrio.

***

- Bela casa! - Roy comenta ao entrarmos pelos portões da minha antiga residência.

- Olha quantas flores! - Emily corre em direção ao canteiro próximo à nós, cheirando uma linda flor rosa, cujo nome não fazia a menor ideia.

- Dona Thelma cuida muito bem do nosso jardim! - Aproximo-me dela.

- Quem é dona Thelma? - Arranco a pequena flor e coloco entre seus cabelos soltos - Ficou linda! 

- Eu já falei dela para vocês! É uma adorável senhora que irá amar te mimar! - Seguro sua mão a direcionando à entrada principal. Pego a chave, que por sinal ainda está em meu chaveiro, e abro a grande porta pivotante. 

- Uau! - A pequena sussurra observando tudo. Aperto suas bochechas e olho para Roy, que possui um pequeno sorriso em seu rosto.

- Está feliz? - Pergunto me aproximando.

- Muito! - Acaricia minha face.

- Minha menina, vocês chegaram! - Escuto a voz da adorável senhora. Corro em sua direção sendo recebida com um abraço amoroso - Que saudade, pequena Ana! 

- Thelminha! - Aconchego-me mais em seus braços - Estou feliz por não ter demorado tanto dessa vez! - Nos separamos e ela olha através de meu ombro com um sorriso em seus lábios.

- Ana, querida, não vai me apresentar? - Pergunta tentando conter a animação. 

- É claro! - Pego em suas mãos e juntas nos aproximamos dos outros - Roy! Em! Está é a dona Thelma, minha querida cuidadora. - Viro-me para a senhora e falo em português - Dona Thelma, estes são, Roy, meu namorado, e Emily, sua irmã.

Eles se cumprimentam enquanto eu sigo traduzindo suas frases.

- Querida, já preparei o quarto de hospedes para o rapaz, já a pequena ficará em seu quarto, é isso? 

- Exatamente! - Olho para Emily que nos observa com seus olhos curiosos, alheia ao que estávamos falando. - Vamos subir e nos acomodar antes que eles cheguem! - Dirijo a palavra aos dois. 

Subimos a grande escada, carregando nossas bagagens. Roy, obviamente, carregava a maior parte do peso. Emily não para de falar o quanto está gostando de nos ouvir falar em português e como deseja aprender essa nova língua.

- Eu confesso que também me interessei pela língua mãe da minha adorável namorada. 

- Esta viagem será uma ótima oportunidade para os dois aprenderem algo! - Chegamos diante do quarto de hóspedes - Amor, este será o seu quarto, fique à vontade, e se precisar de algo basta me chamar, nesta porta. - Aponto para o meu quarto, que ficava em frente ao seu.

- Pode deixar! - Diz entrando no cômodo. 

- E eu? - Emily pergunta com expectativa.

- E você, mocinha, o que acha de dividirmos o quarto? - Agacho em sua frente.

- OBA! - Ela me envolve em um abraço tão violento e animado que nos leva ao chão. Levantamos rindo da situação e seguimos para o quarto.

Emily se apaixonou pelo meu quarto, principalmente por causa do meu mini estúdio de ballet. Decidimos não desfazer nossas bagagens, já que partiríamos para o Rio na manhã seguinte. Olho no relógio e vejo que já são cinco horas. Sofi deve estar voltando da faculdade a qualquer momento.

Desço as escadas e me deparo com Em e dona Thelma preparando alguma coisa na cozinha. 

- Em, cadê o seu irmão? - Pergunto me aproximando. 

- Estou bem aqui! - Viro em sua direção e me surpreendo ao vê-lo segurando um buquê contendo várias espécies diferentes de flores - São para você! Dona Thelma deixou que eu colhesse algumas. - Pego as flores e o abraço agradecida pelo lindo gesto.

- Amo você, meu amor! Obrigada! - Seguimos para a cozinha, onde Thelminha me entregou um jarro para pôr as flores. 

- Mas o q... - Viramos ao ouvir uma voz vinda da sala. Sofi deixa a bolsa cair no chão e nos olha boquiaberta. - Mas... - Pisca algumas vezes, e de repente ela corre em minha direção, envolvendo-me em um abraço apertado.

- Mia sorella! Que saudades! - Digo sentindo as lágrimas de felicidade rolarem em meu rosto.

- Aninha! - Sua voz sai abafada - Você está aqui! - Ela se afasta e toca o meu rosto ainda desacreditada e começa a rir - Eu te amo tanto! - Depois começa a chorar, fazendo todos os presentes rirem de suas reações. 

- Eu também amo você, sorella! - Acaricio suas bochechas.

- O que é sorella? - Escuto Emily perguntando ao irmão. Viramos juntas em sua direção e ela arregala os olhos, escondendo sua cabeça no abdome do irmão. Aproximo-me dela e começo a fazer cócegas em sua barriga. A menina se contorce de tanto rir e eu paro quando ela se vira para nós. 

- Sorella significa irmã em italiano, princesa! - Explico e ela olha da minha irmã, para mim - Oi, Sofi! - Diz timidamente.

- Você me conhece? - Sofia pergunta incrédula em seu inglês perfeito. Aponta em minha direção - Essa desnaturada fala de mim? - Empurro-a com meu corpo e ela me mostra a língua - Sou eu mesma! Muito prazer em te conhecer, Em! - Diz abraçando minha cunhada, que retribui alegremente - E você! - Aponta para o meu namorado abrindo um grande sorriso - É um grande prazer em, finalmente, conhecer o homem que tirava o sono da minha irmã!

- SOFI! - Esbravejo totalmente envergonhada. Roy dá sua linda gargalhada e eles se cumprimentam, como se fossem velhos amigos.

- Tenha certeza que o prazer é todo meu, Sofi! Obrigada pela ajuda! - Pisca para ela.

- Ninguém merece! - Sento-me ao lado de Emily.

Conversamos por um tempo enquanto dona Thelma preparava o nosso jantar. Em um momento sinto a angústia me tomar e resolvo subir para conversar com Papai. Peço licença e percebo Roy me observando atentamente.

Entro em meu quarto e sigo para a varanda, meu local favorito para orar. Desaguo tudo diante do meu Deus! A hora estava chegando e eu me sentia completamente perdida. Achava que estava pronta, saberia o que falar e como agira, mas não era verdade. Dobrei meus joelhos próximo a sacada e chorei, humilhei-me e clamei por socorro. 

- Senhor ajuda-me! - Sinto minhas forças indo embora e as lágrimas continuavam a rolar. Sinto duas mãos tocarem meus ombros. Roy! Ele começa a clamar a Deus em meu favor. Sua oração era o combustível que eu precisava naquele momento. Eu estava fraca, sem forças, perdida em minhas dores, mas ele intercedia por mim.

- Estou com medo! E se eu não conseguir fazer isso? - Digo escondendo o rosto em minhas mãos. - Um soluço escapa de meus lábios.

- Ei! - Sua voz suave e rouca, sussurra atrás de mim. Sinto seus braços me envolvendo em um abraço apertado - Deus jamais deixará você passar por esse momento sozinha esqueceu? - Suas mãos me viram, fazendo-me encarar seus lindos olhos verdes. Em seguida, ele pega o meu rosto em suas mãos - E eu irei O auxiliar com isso, estarei ao seu lado não importa o que acontecer, meu amor! - Fecho os olhos ao sentir sua mão acariciando minha face - Jamais se esqueça disso! - Diz colocando uma mexa de cabelo atrás da minha orelha. Volto a encará-lo e contemplo seu olhar profundo direcionado a mim.

Em seus olhos havia amor, força, segurança, e suas palavras me transmitiam o mesmo. Lentamente, ele aproxima nossos rostos, fecho meus olhos sentindo o toque suave dos seus lábios nos meusImediatamente sinto aquele peso sendo retirado do meu coração dando lugar à paz. Sentia-me anestesiada e cuidada. Sim, através de Roy eu sentia o cuidado de Deus por mim. E era estranhamente maravilhoso!

Como um grande estalo, lembro-me perfeitamente do sonho que tive com Roy há alguns meses, na Cabana Delyon. Era exatamente como tinha acabado de acontecer. Estávamos nesta mesma varanda, neste mesmo momento. Mais uma vez eu chorei, no entanto, o meu choro era de gratidão! 

- Obrigada por cuidarem de mim! - Sussurro para Deus e para o homem da minha vida.

Minutos depois estávamos de pé, prontos para descermos novamente. Respirei fundo, segurei a mão de Roy e, juntos, descemos. Ele me levou para o jardim, onde Em e Sofia corriam em uma brincadeira qualquer. Apoie minha cabeça no ombro do meu namorado e me permitir relaxar um pouco. Como um furacão Emily passa por nós entrando na casa sendo seguida por Sofi, que consegue segurá-la pouco depois. Minha irmã ia dizer algo, mas congelou ao olhar em direção à porta.

- Quem é essa menininha adorável, Sofi? 

Enrijeço ao ouvir sua voz. A mulher se aproxima da minha irmã e entra em meu campo de visão. Ela desvia seu olhar das duas, percebendo nossa presença. Seus olhos encontram os meus, e o sorriso, que antes estava presente em seu rosto, desaparece. 

- Filha! - Sussurra. 

>>>><<<<

Meeeeeeeu Deeeeeus!! Está chegando o tão esperado momento!! 

E aí, genteeeee, o que vocês acham que vai acontecer? Qual será a reação da Ana? Contem pra mim! 

Acho que amanhã vai ter mais! Estou pensando se começo a postar todos os dias a partir de hoje ou a partir de sexta... O que acha??  🤔 🤔

Não esqueçam de clicar na estrelinha ⭐ e comentar! Amo interagir com cada um ❤️

Att.

NAP 😘

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