Capítulo 18
Se passaram dois dias desde a ligação com Viviane e a conversa com Roy. Desde então, não paro de pensar nos últimos acontecimentos. Já estava bem melhor do resfriado/gripe. Roy e Emily estavam na casa da avó, que chegara de viagem ontem, mas estavam sempre me ligando para saber como eu me sentia ou se estava precisando de algo.
Após aquela noite, liguei para Megan explicando o que tinha acontecido, e pedi perdão por não ter avisado sobre minha falta. Ela não reclamou, pelo contrário, ignorou minhas explicações querendo saber o porquê do meu vizinho ter atendido a ligação. Mais uma vez precisei explicar o motivo para que sua curiosidade fosse sanada e qualquer tipo de pensamento malicioso fosse deletado, mas não adiantou nada.
No momento, estava sentada na cama com o celular em mãos, sem saber o que fazer. Ligaria para minha família exigindo algum tipo de explicação ou não?
Ignorando minhas dúvidas, fui em direção ao closet para pegar minha agenda, que estava dentro de uma das bolsas, afim de saber quais seriam os meus compromissos nessa semana. Ao abri-la um pedaço de papel cai no chão, automaticamente abaixo para pegar e me surpreendo ao ver o pequeno cartão de visita.
Com um sorriso no rosto, vou em direção a minha cama, pego o celular e digito o número que está no cartão. Sento na beira da cama e espero a pessoa do outro lado da linha atender. Após chamar 5 vezes, ela atende.
- Alô! - Ela saúda do outro lado.
- Charlotte? - Questionei.
- É ela! Quem deseja?
- É a Ana Clara, a mulher que sentou ao seu lado em um voo...
- Ah, minha querida, quanto tempo! Se eu soubesse que demoraria a me ligar eu teria pego o seu número - Deu risada, deixando-me sem graça.
- Desculpe-me por isso! Não queria incomodá-la. - Digo.
- Não incomoda! A que devo a honra? - Essa pergunta me pegou desprevenida, pois sinceramente, eu não fazia ideia do motivo de eu estar ligando para ela.
- Err... - Decidi contar a verdade - Eu não sei! Na verdade, eu acabei de encontrar o seu número e senti vontade de te ligar. - Bato em minha testa com uma mão e ela ri mais uma vez.
- O que está acontecendo em sua vida, querida? Abra o seu coração! - Pediu amavelmente. E assim o fiz.
Após conversarmos, por mais ou menos 1h, ela precisou desligar, mas antes combinamos de almoçarmos juntas amanhã, pois ela estava em New York. Coloco o aparelho na mesa de cabeceira e vou para o banho, pois daqui a pouco meus vizinhos passarão aqui para irmos juntos ao culto em sua igreja.
Saio do banho e coloco a roupa que escolhi, calça branca, blusa branca e uma blusa de lã em um tom mais claro de marsala.
Coloco alguns acessórios simples e organizo minha bolsa. Pego minha bíblia, o celular e vou para a sala. Ao sentar no sofá o aparelho começa a tocar. Olho no visor e me surpreendo ao ver a foto de Papai na tela. Atendo a ligação sem pensar duas vezes.
- Oi, papai! - Digo calmamente. Precisava ter paciência e domínio próprio naquele momento.
- Clara, minha filha, como você está? - Questiona incerto.
- Estou bem! - Silêncio - E vocês?
- Também estamos bem, graças a Deus! - Escuto o meu pai suspirar pesadamente do outro lado - Imagino que esteja se questionando o porquê de sua mãe ter atendido a ligação.
- Ela não é... - Tento me controlar - Papai, eu te farei uma pergunta e eu peço que não minta para mim, por favor! - Pedi, mas sabia que ele nunca mentia.
- Jamais faria isso, Clara! - Diz com amor. Respiro fundo e encaro o teto.
- Vocês estão juntos, não estão?
- Estamos, minha filha! - Responde sem precisar pensar.
Fecho meus olhos sentindo um aperto em meu coração. Minhas mãos começam a tremer, mas me recusava a desabar na frente dele. Junto o pouco de força que me resta e digo em um sussurro.
- Nos falamos depois! - Desligo a ligação e me encosto no sofá sem reação. Apenas a dor e eu. Meus olhos começam a arder, sinal de que as lágrimas estavam chegando, mas antes que elas caíssem em meu rosto, escuto a campainha tocar.
Já imaginando que seriam meus vizinhos, levanto-me respirando fundo, pego a bolsa, a bíblia e sigo para a porta. Ao abrir vejo Emily e Roy à minha espera, os dois com um lindo sorrido no rosto, mas a expressão do meu vizinho muda de alegre para preocupação, certamente ele percebeu que eu não estava muito bem. Decido quebrar o clima.
- A paz do Senhor, irmãos! - Forço um sorriso e deposito um beijo na testa da pequena, que vem me dar um abraço.
- A paz! - Respondem juntos.
- Está ansiosa para conhecer nossa igreja, Clarinha? - Questiona-me Emily ao entrarmos no elevador. Ela segura minha mão e me olha com seus grandes olhos verdes curiosos.
- Muito! - Digo. Em todo o percurso evito o olhar questionador de Roy.
Ao chegarmos na garagem, Em solta minha mão e corre em direção ao carro, deixando-me sozinha com seu irmão.
- O que aconteceu, Clara? - Ele pergunta se aproximando de mim - Eu sei que você não está bem!
- Ficará tudo bem! - Digo olhando para ele e apressando meus passos, mas ele me impede de prosseguir.
- Sabe que se precisar conversar estou aqui, não sabe? - Diz olhando profundamente eu meus olhos. Sacudo a cabeça em afirmação e seguimos para o carro.
Como das outras vezes, Roy abre a porta do carona para que eu entre e ajeita sua irmã no banco de trás. Contorna o carro e toma seu lugar no banco do motorista. Ele olha em minha direção, mas eu desvio o olhar.
O percurso até a igreja foi rápido, não demorou nem 10 minutos. Passei toda a viagem olhando pela janela perdida em pensamentos. Meu coração ainda estava doendo, mas internamente eu clamava a Deus para me curar e retirar essa dor.
Ao sair do carro, observo o local. O templo é grande, mas não tão grande, e possui uma arquitetura moderna. Emily, segura minha mão e meu vizinho nos guia até a entrada do edifício.
Na porta, somos recebidos por um casal de recepcionistas, super simpáticos. Lembrei-me de minha antiga igreja no Brasil. Roy me apresentou aos dois e em seguida entramos. Assim como a fachada, o ambiente interno era moderno, mas sem muita pompa. As pessoas começavam a chegar, algumas até paravam para nos cumprimentar.
- Costumamos ficar mais na frente, mas acho melhor nos sentarmos nos fundos hoje. O que acha, Clara? - Roy me questiona.
- Acho uma boa ideia! Obrigada! - Dou um pequeno sorriso. Após escolhermos nossos assentos, dobro os meus joelhos e começo minha oração. Assim que me conecto com o trono, não consigo dizer muitas palavras, mas foi o suficiente para sentir o meu coração um pouco mais leve. Levanto-me enxugando as poucas lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Olho ao meu redor e não encontro Roy. Passo os olhos pela igreja e o encontro perto do altar, ao lado dos músicos, falando com uma mulher loira. Eles olham em minha direção e logo reconheço a pessoa. Tracy.
Desvio o olhar em busca de Emily. Não encontro a garotinha em lugar algum, inclusive as outras crianças. Talvez já tenham ido para a escolinha. Pensei. Abro minha bíblia e medito mais um pouco na palavra que Deus me deu essa manhã.
"Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar"
Josué 1.9
Era o que eu precisava, esforçar-me e ter bom ânimo. Após a ligação de sexta-feira, sentia-me péssima, sem vontade e força para continuar. Não sei o porquê, mas as coisas não faziam mais sentido. Esses últimos três anos eu lutei para ser forte e ajudar a minha família, mas parecia que todo esse esforço não serviu para nada! E agora eu estava confusa, com medo, sem saber o que aconteceria daqui para frente. Meu coração doía, como ele doía... Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Roy.
- O culto já vai começar. - Sentou-se ao meu lado e me observou por alguns instantes.
- O que foi? - Questionei.
- Nada! - Balançou a cabeça - Às vezes eu tenho vontade de saber o que se passa aí. - Disse apontando para minha cabeça.
- Não queira saber! Eu que sei, não consigo entender, imagine outras pessoas... - Falei rindo sem humor e ele sorriu.
- A paz do Senhor, igreja! Boa noite! - Somos interrompidos por um homem branco, alto, de cabelos loiros e olhos azuis falando do púlpito. Ele me lembrava alguém, mas não conseguia me recordar quem. Todos levantaram e demos início ao culto com uma oração feita pelo tal homem.
Em seguida o ministério de louvor começou a cantar a música Good Good Father, na versão do Casting Crowns, o solista era um homem negro e alto com uma voz de tirar o fôlego.
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Fechei meus olhos e louvei junto com a igreja, exaltando o nosso Pai que é tão bom e agradecendo pelo seu amor por nós, filhos falhos e cheios de pecados. No clímax da música eu cantava em plenos pulmões declarando que todos os caminhos dele são perfeitos! E aquela verdade aos poucos foi mudando algo em meu interior.
Em seguida uma jovem morena de cabelos enrolados e de estatura média, começou a solar a música Even When It Hurts, do Hillsong. E ao som do teclado eu já me derramava em lágrimas, conhecia aquela música de cor e salteado. Ela estava sendo a minha música naqueles dias.
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Eu me sentia sem forças, não encontrava palavras, apenas lágrimas. Nada mais fazia sentido, a dor parecia só aumentar a cada dia... Mas em meio ao furacão que estava a minha vida, minha alma só queria adorá-lo! E como diz uma parte da canção "Mesmo quando não fizer sentido cantar, mais alto, então, cantarei em Teu louvor. Cantarei somente em Teu louvor!"
No meio da canção sinto alguém me abraçando, não precisei abrir os olhos para identificar que o dono do abraço era Roy. Em seus braços sentia o consolo e o conforto que estava precisava. E mais uma vez eu chorei, e chorei como uma criança nos braços do Pai. Ele beijava meus cabelos e me apertava ainda mais em seu abraço, como se esse ato fosse aliviar minha dor. E de certa forma, aliviava.
E o culto continuou nesse mesmo clima. No momento da palavra me surpreendi quando o pregador nos pediu para abrirmos em Josué 1. Com um sorriso em meus lábios, acompanhei a leitura da palavra já me deliciando com o maná que vinha do Céu.
As palavras do pregador Daniel Conegero vieram como flechas certeira, atingindo o meu coração.
"Seja forte e corajoso foi a declaração de encorajamento que Josué escutou do próprio Deus. Ao dizer que Josué devia ser forte e corajoso, Deus estava animando e fortalecendo o líder hebreu que havia recebido a responsabilidade de conduzir o povo de Israel na conquista da Terra Prometida, após a morte de seu antigo líder, Moisés.
Esse encorajamento é tão importante e emblemático que Deus o repete três vezes seguidas a Josué (Josué 1:6-9). De fato essas palavras certamente foram muito significativas a Josué. Deus lhe falou que ele deveria ser forte e corajoso num momento decisivo de sua vida.
A missão que Josué havia recebido do Senhor não era fácil. Ele foi comissionado pelo Senhor a conduzir Israel a usufruir da promessa divina feita aos seus antepassados; e isso incluía entrar na terra, derrotar os inimigos que ocupavam aquele território e se apossar da herança prometida por Deus.
Mas eu te questiono hoje, quais são os seus inimigos? Qual é o desafio que você precisa enfrentar para, aí sim, desfrutar das suas promessas, da terra prometida que mana leite e mel?
Definitivamente ser escolhido do Senhor não significa ter uma vida fácil, tranquila e ociosa. Desfrutar da bênção do Senhor e se deleitar na certeza de suas promessas não implica necessariamente uma vida de passividade.
Força e coragem à parte, fora, da Palavra de Deus não passam de esforço tolo e atitude inconsequente. Josué devia ser forte e corajoso ao passo que estivesse agindo rigorosamente conforme toda a Lei de Deus. Marten H. Woudstra explica que a Lei de Deus é a sua palavra revelada, entretecida na história da salvação e impregnada com atos redentores de Deus em favor do seu povo.
O servo de Deus só pode ser eficazmente forte e corajoso se sua vida estiver alicerçada na Palavra de Deus; se nela ele meditar dia e noite e não se desviar de seus mandamentos de forma alguma."
Eu sabia exatamente o que Deus estava falando comigo. Tenho conhecimento de quais são os meus inimigos e desafios, e não, não eram inimigos externos. Naquele momento, o meu maior inimigo era o meu enganoso coração, aquele que me dizia que eu seria uma tola se liberasse o perdão! Que seria enganada novamente e que não valeria a pena todo esse esforço.
Há anos Deus me alertava sobre a necessidade de liberar o perdão à mulher que me magoou de tantas formas possíveis. Usava o papai, Sofia, Thomas, Roy, Charlotte e Sua própria Palavra, mas eu estava tão cega, mergulhada em minha dor, que eu não dava ouvidos. No entanto, hoje algo mudou em mim, e eu consigo sentir que o Espírito Santo começou a trabalhar de uma forma diferente. Já passou da hora de perdoá-la!
O culto terminou, e a pequena Emily veio correndo ao nosso encontro. Ela nos contava animadamente como foi a escolinha e sobre o que ela aprendeu.
- Roy, meu amigo! - Olho para o lado e vejo o mesmo homem que solava a primeira canção cantada pelo ministério de louvor.
- Evans! - Meu vizinho cumprimenta o amigo com um abraço masculino - Quanto tempo, cara! Estava viajando?
- Estava! Fui visitar minha família na Flórida. - Ele olha em minha direção - Não vai me apresentar sua amiga? - Olha para Roy desconfiado, e o mesmo vira para mim e sorri.
- Evans, essa é a Ana Clara, minha vizinha. Clara esse é o meu velho amigo, Evans! - Diz com alegria.
- Ah sim, a moça que alugou o apartamento do lado. - Estende a mão em minha direção - É um prazer conhecê-la Ana Clara! Ignore a parte do "velho" - O seu comentário me fez rir.
- O prazer é meu, Evans! - Apertei sua mão.
- Não está esquecendo de ninguém? - Questionou a pequena que estava ao meu lado.
- De forma alguma! - Disse abaixando e ficando na altura de Emily - Como está a minha sobrinha favorita? - Apertou suas bochechas.
- Estou bem, tio Ev! - Sorriu largamente.
- Eu tenho uma surpresa para você, mas só te darei no natal! - Evan disse ao se levantar, ajeitando a coluna.
- Obaaaa!! - Ela começou a pular e bater palminhas.
- Ro, achei você! - Uma voz enjoada disse atrás de nós, nos fazendo virar em sua direção.
A dona da voz foi em direção ao meu vizinho enlaçando sua cintura e beijando uma de suas bochechas. Ele desfez o contato rapidamente afastando a mulher.
- Atrapalho alguma coisa? - Virou-se nos olhando com desdém.
Tracy...
>>>><<<<
Quem estava com saudades da Charlotte? Essa senhorinha também é uma grande benção!!
Finalmente a Ana decidiu fazer o certo! Perdoar!
Novos personagens chegando e essa linda história se desenrolando... vamos conosco, pois ainda tem muuuita coisa pela frente!!
Não esqueçam da ⭐️!! Até Domingo!!
Att. NAP 😘
Ministração Completa - https://estiloadoracao.com/seja-forte-e-corajoso/
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