Capítulo 11

Estava com os olhos fechados afim de que aquela dor passasse logo, não tinha forças para me levantar, então permaneci encostada na parede do corredor. Senti uma mãozinha acariciando meu rosto e um chorinho baixinho, mas não abri os olhos para conferir quem era.

-Clara, fala comigo por favor! - Emily dizia - Não me deixa também! 

- CLARA! - Ouço outra voz, dessa vez era Roy, claramente preocupado - O que aconteceu aqui? - Sinto ele pegar o meu pulos e conferir minhas pulsações.

- Eu estou bem... - Tentei dizer, mas acho que minha voz falhou.

- Ela está viva! Obrigada, Jesus! - Declarou a pequena, ainda com a voz chorosa.

- Clara, eu vou pegar você no colo agora, tudo bem? - Perguntou meu vizinho.

- Ok - Sussurrei.

Sou erguida do chão, mas ainda não consigo raciocinar direito com aquela dor latejante. Sinto a cama macia embaixo de mim, fazendo-me relaxar um pouco mais. Tento mais uma vez abrir os olhos, mas parece que só piora. 

- Em, fique aqui ao lado da Clara enquanto eu pego o kit de primeiros socorros. 

- Tá bem! - Ela segura uma de minhas mãos a acariciando - Tudo vai ficar bem, Clarinha! Estamos aqui com você e não iremos te abandonar! - Foi inevitável não sorrir. Tentei lutar contra a dor mais uma vez, e com sucesso. Apesar da vista um pouco embaçada, vejo Clara com os olhinhos fechados mexendo a boca, estaria ela orando? Que cena linda de se ver...

Roy entra no quarto segurando uma caixa de primeiros socorros. Quando olha para mim suspira aliviado e abre um pequeno sorriso. 

- Você nos assustou, senhorita Bianchi! - Aproximou-se sentando na beira da cama ao lado de sua irmã - Como se sente? 

- A cabeça ainda dói, mas estou um pouco melhor! - Digo.

- Assim que eu fizer esse curativo iremos ao hospital para você ser examinada melhor. - Sinto uma pequena ardência quando o algodão gelado toca em minha pele. Aperto seu punho na tentativa de fazê-lo parar, mas ele solta uma risada e cuidadosamente tira minha mão de lá. 

- Não acho necessário irmos ao hospital, já me sinto melhor! E pelo visto o corte foi bem superficial. - Não suporto hospitais.

- Não é pelo ferimento, Clara, e sim pela pancada! - Termina o curativo - Se você não se lembra, essa foi a segunda vez, em um dia, que você bateu com a cabeça. 

- Segunda vez? - Questionou Emily, que até então estava muito quieta para o meu gosto. 

- Esbarrei em seu irmão enquanto corria hoje mais cedo. - Respondi.

- Hum... - Olhou para o irmão, que desviou o olhar me encarando.

- Então, conte-me o que aconteceu dessa vez! - Pediu o meu vizinho enquanto guardava tudo dentro da caixa. 

- Acho que ela se assustou com o Cookie, Ro. - Respondeu Emily.

- Com o Cookie? - Perguntou Roy um pouco incrédulo 

- Cookie? Quem é Cookie? - Estava perdida.

- Cookie é ele. - A pequena apontou para o outro lado da minha cama, me fazendo virar a cabeça. Vejo o mesmo gato peludo, que antes estava em meu corredor, deitado na ponta da cama. 

- AHHHHH - Grito tentando me sentar na cama, assustando o animal, que correu em direção à porta - TIRA ESSE BICHO DAQUI, TIRA ELE DAQUI, POR FAVOR! - Minha cabeça começa a latejar novamente.

- Em, tira ele daqui! - Ordena Roy - Calma, Clara! - Ele segura meu rosto tentando me acalmar. - Ele não está mais aqui. 

Fecho os olhos mais uma vez, na tentativa de me acalmar e diminuir a dor de cabeça, que se intensificou com o estresse de agora. Depois de um tempo, abro os olhos e vejo um Roy me encarando como se eu fosse um ser anormal.

- O que foi? - Pergunto.

- Você tem pavor de gatos? - Arqueou uma das sobrancelhas. 

- Sim! Chama-se ailurofobia. - Dei de ombros - Preciso ir ao banheiro. 

- Tudo bem! - Ele me ajudou a levantar - Não tranque a porta! Vou lá em casa pegar a chave e o documento do carro e já volto para irmos ao hospital.

- Mas...

- Sem "mas", Clara! - Falou sério, saindo rapidamente do quarto.

- Ok, né?! 

***

- Eu disse que estava tudo bem, Roy! - Cruzei os braços olhando pela janela.

- Eu não ficaria tranquilo enquanto não tivesse a certeza disso, Clara! - Resolvi ficar em silêncio para não descontar minha impaciência no homem atencioso ao meu lado.

Estávamos no carro do meu vizinho voltando para o apartamento. Tínhamos acabado de sair do hospital, onde o médico me deu medicações por causa da dor, fez alguns exames e raio-x para ver se eu tinha sofrido algo mais grave. Mas graças a Deus, a dor que estava sentindo era apenas devido a pancada.

Já estava sem paciência, como disse anteriormente, não suporto hospitais. Só queria que aquele dia acabasse logo... Acho que a TPM está colaborando, e muito, para esse meu stress!

- Clara, o médico falou que você deveria repousar - Emily começou a falar quebrando o silêncio -Dessa forma, você precisará desmarcar o compromisso que você tinha para esta noite... 

- Ela realmente terá que desmarcar o compromisso dela para ficar de repouso em casa. - Ele me encarou sério - Então nem adianta tentar fazer a cabeça dela, Em!

Olho para trás e vejo a pequena cabisbaixa com um bico na boca. Aquilo me parte o coração. Viro-me para ele e ergo uma das sobrancelhas. 

- Na verdade, acho que o meu compromisso para esta noite ainda está de pé, e me fará muito bem! 

- Se você diz... - Vejo um pequeno sorriso em seus lábios, enquanto escuto sua irmã bufar no banco de trás. Tento me conter para não rir da pequena Emily, tenho certeza que ela ficará muito feliz com a surpresa.

Chegamos no estacionamento do prédio e fomos em direção aos elevadores. No caminho, seguro na mão de Emily e a puxo para um abraço lateral.

- Não precisa ficar com essa carinha, princesa! Tenho certeza que vocês irão se divertir bastante hoje. - Entramos no elevador e Roy aperta o botão do nosso andar. 

- Eu sei, mas só queria que você estivesse com a gente. - Diz encarando o chão. Olho de soslaio Roy observando nossa cena com um sorriso divertido no rosto. 

Ao sairmos do elevador, abaixo-me ficando na altura da minha vizinha - Você faria algo por mim?

Ela me encara sem entender onde quero chegar, mas sacode positivamente a cabeça - Sim! 

- Então, assim que você chegar em casa, separará um ótimo filme, colocará uma roupa bem bonita e ajudará o seu irmão com os preparativos da noite, como se eu fosse estar com vocês, sendo a convidada de honra. Pode ser? 

- Não é a mesma coisa, Clara!

- Apenas faça isso, princesa! - Beijo seu rosto e me levanto. Ela corre para dentro nos deixando sozinhos.

- Tem certeza que você prefere passar a noite conosco ao invés de descansar? - Pergunta Roy encostado no alisar da porta.

- Tenho! Seis horas? 

- Seis horas! 

- Até mais, vizinho! - Despeço-me e entro em minha casa. 

Ainda são três horas e cinquenta minutos, vejo que dá tempo de descansar um pouco. Após tomar um banho e deixar tudo preparado para mais tarde, coloco o despertador para às cinco e meia e durmo assim que fecho os olhos, pois estava realmente cansada.

***

Levanto-me no horário previsto e começo a me arrumar, afim de surpreender minha mini vizinha. Exatamente às seis horas, pego um pote de sorvete, algumas barras de chocolate e outros doces que tinha comprado há dois dias e coloco em uma ecobag. 

- E agora, por onde eu vou? Pela porta principal ou pela varanda? - Questiono-me com a mão no queixo. Decido ir pela varanda, já que eles costumam fazer o mesmo. 

Ao chegar na porta do apartamento ao lado, logo avisto Roy e Emily com aventais fazendo alguma coisa na cozinha. A cena era fofa e não pude conter um sorriso, até que Roy percebe minha presença e abre um sorriso radiante. Assim é jogo sujo, meu filho!

Ele se vira para a irmã e questiona - Em, o que acha de termos mais uma pessoa conosco esta noite?

- A pessoa que eu queria não está disponível, então a resposta é não! - Disse a pequena sem dar muita atenção. 

- Bom, então o que eu digo àquela pessoa? - Aponta em minha direção. Emily olha para mim,  seus olhinhos brilhavam de animação. Larga a colher que estava segurando no balcão, e corre em minha direção me dando um forte abraço.

- Você veio!! - Afasta-se um pouco e me encara - Mas e o seu compromisso? 

- Acabei de chegar em meu compromisso! - Ela me olha com um olhar questionador, não entendendo o que estava acontecendo.

- Seu irmão já tinha me convidado hoje cedo, e ele queria fazer uma surpresa para você. - Digo acariciando seu rosto. Ela olha para Roy e agradece.

- Você é o melhor do mundo, Ro!! - Segura minhas mãos e me puxa para dentro da casa - Agora vem, temos muito o que fazer! 

Pela primeira vez entro na casa dos meus vizinhos e fico boquiaberta com o estilo moderno e a decoração minimalista. Assim como o meu apartamento, a cozinha era totalmente integrada com a sala. Em primeiro plano tinha um grande sofá cinza de frente para uma TV gigante. Ao lado do sofá, duas cadeiras e uma mesa de centro com pouquíssimos objetos. Atrás do sofá estava a mesa de jantar, com 8 cadeiras. Na parede paralela à varanda estava a cozinha, totalmente planejada, com uma grande ilha central. 

Estava encantada admirando o apartamento quando Emily me desperta - Foi nossa vó que projetou! - Diz cheia de orgulho.

- Uau! Ela é arquiteta ou designer? - Questiono.

- Arquiteta - Diz Roy tirando o avental e vindo em nossa direção. - Fico feliz que tenha vindo, Clara! Como se sente? 

- Obrigada! Sinto-me bem melhor, consegui descansar um pouco antes de vir... - Ergo a sacola com as coisas que trouxe de casa - Trouxe algumas besteiras para a gente.

- EBAAA!! - Emily bate as mãos animadamente. 

- Não precisava ter se preocupado com isso, mas obrigada! - Pega a sacola de minhas mãos. 

- Clara, venha ver os filmes que eu separei, quero que você me ajude a decidir. - Pegou minha mão me levando em direção a TV. 

Escolhemos um filme infantil beeem antigo, operação cupido com Lindsay Lohan, Emily nunca tinha visto e se interessou por ele. Ajeitamos as guloseimas na mesinha de centro. Quando tudo estava pronto, meu vizinho fecha as cortinas da casa remotamente, deixando o ambiente mais escuro. 

Sentamos no sofá e logo a pequena deita em meu colo, colocando os pés no colo do irmão.

- Assim ficarei com ciúmes! - Exclama Roy.

- Não é todo dia que eu tenho um colo feminino para abraçar, Ro! E a vovó nem sempre está aqui. - Olho para ele e percebo como sua expressão mudou radicalmente. Conheço meus vizinhos há pouco tempo, mas já deu para perceber que eram apenas os dois, e pelo visto essa história mexia bastante com ele. 

O filme começou, mas não consegui prestar muita atenção, observei que Roy olhava para a TV, mas os pensamentos estavam em outro lugar. Em todo o tempo eu acariciava os cabelos da pequena, resultando em uma menininha desmaiada em meu colo antes mesmo do  filme finalizar. 

- Parece que alguém não resistiu. - Comenta o homem ao meu lado.

- Pois é - Dou uma risada baixa para não despertá-la. 

- Deixe-me pegá-la. - Ele tira a menina do sofá e a carrega em direção ao corredor. 

Algum tempo depois retorna à sala indo em direção a cozinha. - Sorvete? 

-  Huuum... Com certeza! - Levanto para ajudá-lo. Pego as taças de sorvete que estão no balcão e em uma delas coloco calda de morango - Vai querer calda? - Pergunto para ele.

- Não, prefiro o sorvete sem nada. 

Terminamos de colocar a sobremesa em silencio e voltamos para o sofá. 

- Está tudo bem, Roy? Percebi que ficou disperso durante todo o filme. - Ele me encara um pouco surpreso.

- Nada com o que deva se preocupar, te garanto - Sorriu levando uma colher da sobremesa à boca. Mas eu, curiosa como sou, não consegui ficar com a boca fechada.

- Notei que vocês falam bastante sobre a avó de vocês, mas nunca sobre seus pais... - Ele me olha com uma expressão mais séria, deixando-me bem constrangida - Desculpe-me, Roy, não queria me intrometer. - Levanto-me e coloco a taça na pia - Acho melhor eu ir, obrigada pelo convite e pela noite! - Passo por ele, mas sinto sua mão segurando meu pulso.  

- Não vá, Clara! Fique mais um pouco, por favor. - Olho para sua mão em meu braço, mas ele não desfaz o contato.

- Tudo bem! - Ele me solta pedindo para que eu o siga em direção a varanda. Nos encostamos no guarda-corpo observando a paisagem a nossa frente.

- Esse assunto é bem delicado para nós, principalmente para a Em. - Começa - Costumamos falar mais sobre a nossa avó, pois ela é a única mulher que temos em nossa vida. Nossa mãe faleceu há pouco mais de 3 anos.

- Sinto muito! - Controlei-me para não segurar suas mãos - Não precisa continuar, Roy, não quero que se sinta mal!

- É difícil falar sobre isso, mas às vezes é necessário! - Sorri - Ela faleceu vítima do câncer. Estava lutando contra essa doença há dois anos... - Desvia o olhar refletindo - Foram tempos complicados, vê-la sofrer e não poder fazer muita coisa para ajudar... A Emily era muito nova e não entendia o que estava acontecendo, mas sentia que as coisas não estavam bem. - Silêncio - A nossa avó ficou um tempo conosco, nos ajudando e cuidando da minha irmã enquanto cuidávamos da mamãe. - Suspirou - Até que Deus resolveu convocá-la para as mansões celestiais.

Fico em silencio, pois não sei o que falar. Imagino como ele deve ter se sentido, pois quando soube que poderia perder o meu pai, senti que meu mundo desabaria. 

Ele sorriu novamente e me encarou - Mas eu tenho um amigo que cuidou de nós durante todo esse vale. Ele nos sustentou, consolou e reanimou, nos mostrou que ainda não era o fim! Não sei o que seria de nós sem a presença do Espírito Santo, Clara! Ele é tudo para mim! - Fechou os olhos - "Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós." 

- João 14 - Sussurrei.

- As pessoas ao nosso redor não compreendiam o porquê de estarmos, entre aspas, bem. É claro que sofremos, e muito! Até hoje sentimos sua falta, afinal é a nossa mãe! - Deu de ombros - Mas quando passamos por momentos difíceis com Deus ao nosso lado, as coisas são diferentes. Ele toma as nossas dores, nossos sofrimentos e aflições. Troca o nosso fardo pesado pelo dEle, que é leve! "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" Mateus 11.28-30 - Sorri - E quando achamos que não iremos mais suportar, ele nos coloca de pé, mostrando que a nossa força não vem de nós, mas sim dEle, que nos sustenta todos os dias! - Suas palavras são profundas - Consegue me entender? 

Sacudo a cabeça em confirmação 

- Ele cuida de nós em todo o tempo, Clara! - Diz me olhando profundamente. Levanta uma de suas mãos em direção ao meu rosto e enxuga minhas lágrimas, que até então não tinha percebido que caíam. - Saiba que não é apenas a Em que se alegra por ter você como vizinha! - Ele fecha os olhos e se afasta novamente. 

- Eu nem sei o que falar diante disso tudo, Roy... - Sorrio - Isso é mais uma prova do cuidado e do amor de Deus para com seus filhos! Glórias a Deus por isso! 

Naquele momento, sinto o meu coração queimar novamente, uma chama que há tempos não ardia. E eu sabia exatamente o que deveria fazer naquele momento. 

- Roy, eu realmente gostei muito de ter passado esse dia com vocês, muito obrigada! Mas agora preciso voltar para casa! - Ele me olha e abre um sorriso singelo.

- Eu também gostei... Boa noite, Clara! Durma com Deus! 

- Amém! Boa noite! 

Corri para meu apartamento, tranquei tudo, apaguei as luzes e fiz o que precisava ter feito há muito tempo. Entrei em meu quarto, fechei a porta e dobrei os meus joelhos. Tentei abrir o meu coração, mas tudo o que saía era o meu choro. 

Uma mistura de adoração, clamor e gratidão, não sei ao certo, mas tenho certeza que Ele sabe decifrar o real significado de cada uma das minhas lágrimas! Eu o desejava intensamente, minha alma estava faminta e sedenta por mais dEle. Ao ouvir as palavras do meu vizinho, não pude resistir a presença do Espírito Santo me convidando para retornar ao lugar que jamais deveria ter saído.  

Sim, Deus ainda me ama, cuida de mim e me espera de braços abertos pronto para me perdoar e sarar minhas feridas! 


>>>><<<<


A paz, povo lindo!! Como vocês estão?? Como é lindo ver o cuidado e amor de Deus conosco, mesmo sem merecer! Espero que esse capítulo tenha falado profundamente ao seu coração assim como falou ao meu. 

Vou deixar um louvor que Deus colocou em meu coração enquanto escrevia esse capítulo.

Fiquem na paz de Jesus e até a próxima!! 

Att. NAP 


https://youtu.be/tgs3ux9GPxY

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