Capítulo 09
Andava de um lado para o outro em minha sala esperando, impacientemente, minha chefe vir ao meu encontro. Quando a porta é aberta e eu vejo a figura de Megan entrando no cômodo, vou correndo em sua direção.
- E aí? - Questiono.
- Não entendo o porquê de tanto nervosismo! - Passou por mim, ignorando meu olhar de súplica e sentou em uma das poltronas que tinha em minha sala. Colocou a pasta que estava segurando na mesinha de apoio e arqueou uma das sobrancelhas.
- Ela gostou? - Estava tão apreensiva pela resposta
- É claro que ela gostou, Ana Clara! - Revirou os olhos - Repito o que disse há alguns anos, você continua sendo uma das nossas melhores funcionárias! - Abriu a pasta e pediu para que eu me aproximasse. Sem pensar duas vezes, o fiz. - Apenas gostaria que você fizesse uma pequena modificação na gola da blusa feminina. - Pegou uma caneta preta e fez um croqui de como seria essa modificação. - Acho que assim fica melhor.
- Sim, Ficou excelente! - Digo pegando o papel de suas mãos - E o que você acha de mudar a cor da gola?
- Acho uma ótima ideia! - Levantou-se e seguiu em direção a porta - Antes que eu me esqueça - Virou-se em minha direção - Semana que vem terá um ensaio fotográfico com a nova coleção de inverno, e eu quero que você acompanhe a Ashley.
- Tudo bem! Só me passe o local e horário depois - Respondi
- Pode deixar, chefa! - Saiu me deixando sozinha.
Levantei-me, arrumei minha mesa, que estava uma zona. Coloquei alguns papeis dentro da minha bolsa e saí. Já eram seis da noite e eu só queria chegar em casa, tomar uma banho, comer alguma coisa e cama!
Cheguei no apartamento por volta das seis e meia. Caminhei em direção ao sofá e me joguei. Depois de 5 minutos, juntei minhas forças para levantar e peguei o controle da televisão para colocar um sonzinho ambiente. Abri as cortinas e janelas da sala para entrar um pouquinho de ventilação natural. Chegando na porta da varanda, encontrei um papel envelhecido dobrado no chão, escondido entre a cortina.
Bati com o papel na testa, "como tinha me esquecido desse encont... digo, dessa conversa?". Olhei no relógio e reparei que só teria 23 minutos para me arrumar. Corri para o chuveiro e tomei um banho muito rápido.
Coloco uma calça jeans preta e uma blusa de manga comprida larguinha na cor mostarda. Deixei os cabelos soltos, passei apenas um gloss e fui em direção à varanda, mas quando olhei para os meus pés, percebi que ainda estava usando as pantufas. Dei meia volta e escolhi um coturno preto. Olhei-me no espelho e sorri. Estava simples, confortável e uma gracinha.
Fui correndo em direção ao local combinado, pois faltava menos de 1 minuto para as sete. Rapidamente abri a porta, e pela primeira vez entrei na varanda. Quando meus olhos viram a paisagem a minha frente, fiquei sem fôlego. Era uma vista perfeita, em primeiro plano estava o parque Carl Schurz e em segundo plano estava o Rio East em toda a sua glória. Fiquei paralisada encarando a belíssima paisagem a minha frente, até que uma voz grave me fez despertar.
- Bela paisagem, não? - Virei-me para Roy que olhava para a paisagem a nossa frente com as mãos enfiadas no bolso da calça. Ele ainda vestia seu terno, possivelmente tinha acabado de chegar em casa.
- Sim! - Respondi.
- Que bom que gostou - Disse ele, finalmente olhando para mim. Deu um sorriso e veio ao meu encontro.
- Não consigo acreditar que não tinha reparado nisso tudo até agora. - Apontei para frente, depois me virei para ele mordendo o lábio inferior. Ele, que me encarava, desvia o olhar e assente.
- A correria do dia a dia faz isso conosco! - Respirou profundamente - Por um bom tempo eu deixei de contemplar essas maravilhas também.
- Esses últimos dias foram muito corridos devido a mudança. - Analisei - Tenho chegado em casa exausta e só quero minha cama. - Ele ri diante do meu comentário e o meu coração acelera com esse som. Depois que ficamos um tempo em silêncio Roy voltou a falar.
- Vamos sentar - apontou para uma mesinha com duas cadeiras, que até então eu não tinha reparado. Concordei e o segui. Ele puxou a cadeira para que eu sentasse - Eu já volto - Virou-se e foi em direção ao seu apartamento. Em menos de dois minutos ele retorna com duas taças, um saco de comida, e sem a parte de cima do terno, apenas com sua blusa social. - Peço perdão por não ter tido tempo de preparar nada melhor - colocou as coisas na mesa - Como você pode ver, acabei de chegar e estou morrendo de fome, e eu sei que você também não teve tempo de comer.
Arregalei meus olhos e olhei confusa para ele.
- Emily disse que viu você chegando há menos de meia hora. - Sorriu um pouco sem graça passando uma das mãos na nuca - E do jeito que você está cheirosa e arrumada, acredito que só teve tempo de tomar banho.
Não preciso nem dizer o tamanho do meu constrangimento. Simplesmente abaixei a cabeça e encarei minhas mãos.
- Desculpe-me, não queria te deixar desconfortável - Sentou-se - Enfim, está com fome?
- É, você tem razão. - O encarei - Não como nada desde o almoço.
- Que bom! - Abriu a sacola repleta de comida - Eu pedi comida italiana, não tenho certeza se você irá gostar - Colocou um dos potes em minha frente - E, suco de uva integral! - Levantou a garrafa na altura do seu rosto.
- Ótima pedida! - Exclamei - Eu amo comida italiana!
- Bom saber! - Disse terminando de ajeitar a mesa - Teria algum problema se eu fizer uma oração antes de comermos?
- Claro que não! - Respondi um pouco surpresa e envergonhada...
Roy fez uma breve oração, mas foi o suficiente para arrancar lágrimas dos meus olhos.
- ... Amém! - Olhou para mim e franziu o cenho - Está tudo bem, senhorita Bianchi?
- Está sim! Eu que sou chorona mesmo! - Disse enxugando uma lágrima que escorria.
- Impossível resistir à presença do Espírito Santo, não acha? - Abriu sua refeição e esperou até que eu terminasse de fazer o mesmo. Apenas olhei para ele e assenti.
No início da refeição um silêncio se instalou na mesa, até que ele quebrou o silêncio e iniciou uma conversa casual.
- Soube que não é sua primeira vez em New York, senhorita...
- Por favor, sem formalidades! - Ergui minha mão o interrompendo
- Pode deixar, Clara! - Sorriu. E que sorriso... Olhei para o meu prato e respondi.
- Eu morava aqui há 3 anos, mas precisei retornar ao Brasil por problemas pessoais. - Limpei a boca com o guardanapo e continuei - Eu sou apaixonada por essa cidade, não me vejo em outro lugar. - Pensei por um tempo e concluí - Na verdade tem um outro lugar sim, mas isso não importa agora. E vocês?
- O que tem? - Questionou.
- Moram aqui há muito tempo?
- Na verdade não. - Olhou para a paisagem, mas logo voltou a me encarar - Voltamos para cá há 2 anos por problemas pessoas também.
- Entendo.
- Bom, Clara, você sabe o motivo desse jantar. - Ajeitou a postura e eu balancei a cabeça positivamente - Estávamos tentando alugar o apartamento que você está agora há um bom tempo, mas sempre tivemos dificuldades por causa deste ambiente compartilhado. - Deu de ombros - Eu sei que ninguém quer dividir uma parte da sua casa com um estranho.
- Pois é. - Apoiei os cotovelos na mesa e esfreguei a nuca - Confesso que fiquei extremamente assustada quando me deparei com a Emily em minha porta. - Ri nervosa
- Imagino! - Levantou a cabeça e respirou profundamente - Desculpe-me por isso mais uma vez.
- Tudo bem, Roy! - Coloquei minha mão sobre a dele, que estava sobre a mesa - De verdade! - Ele olhou para nossas mãos unidas e eu logo desfiz o contato.
- Sabe, Clara - Ele uniu as mãos e me encarou - Essa situação é muito confusa para a minha pequena. - Aproximou-se e falou mais baixo - Ela não entende o porquê de não termos vizinhos como as outras pessoas. Acho que esse foi o motivo dela ter batido em sua porta e se apresentado naquela noite. - Abriu um sorriso tristonho. - E pelo visto ela gostou muito da nova vizinha.
Aquela era uma situação triste e ao mesmo tempo complicada. Emily parece ser uma criança adorável e tão sozinha. Roy também pareceu ser uma boa pessoa, ainda é muito cedo para afirmar, mas acho que não teria problema dar uma chance para esses vizinhos. Aproximei-me dele e disse no mesmo tom que ele.
- Então diga para ela que sua nova vizinha não irá para lugar algum!
- EBAAAAAAAAAA!! - Demos um pulo e nos afastamos ao ver Emily correndo em nossa direção - UHUUUUUL!! Obrigada, Clara! Obrigada! Obrigada! - Disse me abraçando forte. Gargalhamos diante da reação da pequena.
- Que coisa feia, Emily! - Disse Roy tentando parecer sério - Você não deveria estar fazendo o seu dever de casa?
- Eu já acabei, Ro! - Encostou a cabecinha em meu ombro - E eu não poderia deixar de saber como você estava se saindo. - Piscou ele.
- Você já viu que está tudo bem por aqui! - Levantou-se e começou a recolher as coisas da mesa. - Agora pode voltar, tomar o seu banho e depois ir para a cama.
Emily se aproximou do meu ouvido e "sussurrou" - Ele não é tão chato quanto parece! - Roy revirou os olhos e eu ri dos dois. - Boa noite, Clarinha - Deu um beijinho em minha bochecha e saiu saltitando. Meu vizinho ergueu as sobrancelhas e deu de ombros.
- Desculpe-me pela falta de modos da minha irmã! Ela não deveria estar escutando a conversa dos outros por aí.
- Então você e Emily são irmãos... - Encostei-me na cadeira.
- Somos - Sorriu - Vou deixar essas coisas lá dentro e já volto.
Levantei e me apoiei no guarda-corpo observando a paisagem. Roy se aproximou devagar e se apoiou na sacada assim como eu.
- Gostei da nossa conversa, Clara! - Quebrou o silêncio.
- É, foi agradável! - Olhei para ele.
- Não sei se isso é bom o suficiente. - Falou pensativo e eu ri.
- Segundo o dicionário, agradável é tudo aquilo que transmite prazer, que satisfaz e que agrada - enfatizei a ultima palavra - Então acho que é um bom começo, visto que eu continuarei morando ao lado...
Ele apoiou o braço esquerdo no guarda-corpo e virou para mim, pensando no que eu falei e acabou concordou. - É, acho que você me convenceu!
- Bom, já está tarde e eu preciso descansar! - Afastei-me da sacada - Obrigada pelo jantar e pela conversa, Roy!
- Por nada! - Disse colocando as mãos nos bolsos. - Obrigada você pelo voto de confiança!
-Por nada! - Ele riu - Até mais! - Acenei e fui para o meu apartamento.
Talvez aquela noite tenha sido mais que agradável, diria que surpreendente! Pensei que teríamos uma rápida conversa, mas graças ao bom Deus, meu vizinho pensou em tudo, inclusive na comida, realmente estava faminta!
Tranquei as portas, apaguei as luzes e fui em direção ao quarto. Amanhã seria um longo dia...
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Oieee!! Espero que tenham gostado desse capítulo! Que Deus abençoe cada um de vocês 🙏🏼
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Até a próxima, gente!!
Att. NAP 😘
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