Capítulo 08

- Não acredito que você deixou de me contar um detalhe super importante, Megan! - Seguia a minha chefe pelos corredores da empresa em busca de explicação.

- Ana, não é tão ruim assim! - Vira-se para me encarar, fazendo com que eu quase esbarrasse nela.

- Ah não! Claro que não! - Digo colocando as mãos na cintura - Dividir uma parte da minha casa com completos desconhecidos não é tão ruim assim! - Respondo irônica.

- Eles não são tão estranhos assim... enfim - Impaciente, retoma a caminhada em direção à sua sala - Tenho certeza que mudará de ideia assim que conhecer seus vizinhos! - Virou-se novamente, e dessa vez foi inevitável me chocar contra ela - Aliás, você não tem trabalho a fazer?

- Você precisa parar de virar assim! Quer me matar? - Passo a mão em meu vestido me recompondo.

- Deixe de drama, Ana Clara! - Abre a porta de seu escritório - E só me procure se for algo relacionado ao trabalho - Posteriormente fecha a mesma em minha cara sem nem esperar um resposta.

- Que grossa! - Sussurro.

- Eu escutei isso! - Diz do outro lado da porta. Reviro os olhos e retorno para minha sala.

A manhã foi bem produtiva, foquei na coleção de conjuntos esportivos neon. Confesso que não fazia nem um pouco o meu estilo, mas enquanto estivesse trabalhando para alguém, não poderia reclamar. De certa forma, eu até que gostava de trabalhar para outra pessoa, isso me dava a chance de fazer coisas que talvez nunca ousaria fazer se fosse autônoma. 

Toc Toc

Levanto a cabeça e vejo Ashley parada na porta.

- Bom dia, Ana Clara! Como vai? - Saúda, um pouco retraída.

- Bom dia, Ashley! Vai tudo bem! - Levanto-me e a convidei para se sentar em minha frente - Já almoçou?

- Vim te perguntar justamente isso. - Com um balançar de cabeça, recusa a se sentar - Estou indo em um restaurante aqui perto e gostaria de saber se você quer me acompanhar. - Essa seria uma ótima oportunidade de conhecer melhor minha companheira de trabalho.

- Seria ótimo! - Exclamo - Espere só eu terminar de enviar um e-mail e já vamos.

Ela concorda e vai em direção às prateleiras perto da porta onde tinham alguns objetos pessoais, que me inspiravam e alguns porta-retratos. De soslaio vejo-a pegar uma fotografia onde estávamos Sofia, papai e eu em meu aniversário do ano passado.

- É a sua família? - Virou mostrando o objeto em suas mãos.

- Sim! Meu pai e minha irmã. - Envio o e-mail e começo a organizar minha mesa. 

- Não acredito nisso! - Diz colocando uma das mãos na boca - Esse é o...

Levanto e olho para a imagem que ela segurava em suas mãos e abro um sorriso nostálgico

- Thomas Daves - Completo sua sentença. Como sentia falta desse homem...

- Vocês...? - Gesticula entre o porta-retratos em sua mão e eu.

- Somos grandes amigos! - Aproximo-me dela.

- Ele é incrível! - Diz encarando a imagem do rapaz. Crispo em sua direção e ela fica sem graça - Digo, o trabalho que ele faz é incrível! - Não pude deixar de rir de sua reação.

 - É sim! - Coloco a bolsa no ombro e sigo para a porta - Vamos, estou faminta. - Ashley deixa o objeto em seu lugar e me segue.

Escolhemos ir em um restaurante de comida tailandesa que ficava perto da empresa. O garçom nos levou para uma das mesas perto da janela e nos entregou o cardápio. Ashley e eu escolhemos o mesmo prato, Pad Thai, um dos pratos mais famosos da cozinha tailandesa.

- Então, Ashley - Puxo conversa - Você trabalha na Carolina Herrera há muito tempo?

- Pode me chamar de Ash - Sorri - Estou lá há pouco mais de um ano - Mexia no guardanapo de tecido em seu colo - Estudei no Canadá e assim que me formei, consegui uma oportunidade de vir para cá. - Olha para mim - E você? Soube que estudou aqui mesmo.

- Na verdade, concluí o curso aqui. - Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha - Eu comecei em uma das melhores faculdades de moda do Brasil. Acabei me destacando e ganhando uma bolsa para estudar na Parsons. Enquanto estudava, consegui um estágio na Carolina Herrera, e o resto você já sabe.

- Que sorte! - Comenta Ash admirada.

- Não acho que tenha sido sorte. - Olho pela janela pensativa - Foi Deus!

- Você é cristã? - Questiona.

- Sou! - Volto a encarar a mulher sentada em minha frente - Mas sinto que estou vacilando ultimamente.

Ela sorri tristemente e diz.

- Eu te entendo! - Encara um ponto qualquer na calçada ao nosso lado - Afastei-me da igreja quando entrei na faculdade. - Se ajusta na cadeira - Eu sempre colocava a culpa na falta de tempo e nos trabalhos, mas a verdade é que a escolha foi minha! - Olha para mim - Se eu quisesse, conseguiria organizar o meu tempo e minhas prioridades. Mas pelo visto, Deus não era minha prioridade.

Olho para ela sem saber o que falar. Talvez ela tivesse razão, mas não continuamos a conversa, pois nossa comida tinha chegado. Enquanto comíamos, falávamos de várias coisas aleatórias e ríamos como se fossemos velhas amigas. Ash e eu nos demos muito bem, e pelo tempo que passamos juntas, pude ver que tínhamos muito em comum.

Em uma de nossas conversas, peguei-me olhando pela janela, foi quando avistei duas pessoas vindo em nossa direção, mas apenas uma era conhecida. A menina loirinha, possuidora de grandes olhos verdes e um sorriso cativante, minha vizinha. Ela pulava e gesticulava falando animadamente com a mulher, que provavelmente era sua mãe. Quando a garotinha passou por mim, ela olha para dentro do restaurante e me pega a encarando. Imediatamente para de pular e abaixa a cabeça, mas quando já estava prestes a sair do meu campo de visão, vira-se para traz e acena timidamente em minha direção. Eu sorrio e retribuo o gesto. Satisfeita, ela abre um grande sorriso, vira-se para frente e continua a saltitar ao lado da mulher.

- Parece que ela gostou de você - Diz Ash observando toda a cena.

- Pois é! - Volto minha atenção para minha colega e peço a conta ao garçom - E parece que ela é minha vizinha. - Dou de ombros.

- Parece? - Ela ri.

- Longa história! - Pagamos a conta e saímos do restaurante. No caminho de volta, contei sobre o episódio de ontem com a menina, e sobre a tal varanda estranha. E é claro, Ashley ria o tempo todo da minha situação.

- Está rindo porque não é com você! - Passamos pelo saguão, onde cumprimentei Kevin e as recepcionistas Nancy e Shelly.

- Desculpe-me! - Lamenta-se.

- E se eles forem uma família de assassinos? - Questiono em um tom zombeteiro, fazendo-a rir ainda mais.

- A garotinha não tem cara de ser assassina. - Entramos no elevador.

- E quanto aos pais dela? - Coloco uma das mãos no queixo pensativa - Acho que vou comprar alguns cadeados no fim do expediente. - Rimos juntas.  

- É bom se prevenir! - Pisca para mim.

Chegamos em nosso andar e fomos direto para a sala de criação. Precisei apenas passar em minha sala para pegar alguns materiais. Assim como a manhã, a tarde também foi muito produtiva ao lado de Ash, que se mostrava uma excelente profissional.

O nosso expediente tinha acabado há meia hora, mas a conversa com Ashley não cessava, até que ela olhou no relógio e se apressou.

- Ana, preciso encontrar o Mike agora. - Diz triste por ter que se despedir - Estou com meu carro, você quer uma carona?

- Não, eu preciso fazer algumas compras antes de ir para casa. Mas obrigada! - Agradeço.

- Foi muito bom te conhecer. - Abraça-me - Espero que todos os outros dias sejam assim. - Despede-se e se afasta.

A tarde do outono estava linda, então resolvi ir caminhando para o mercado que ficava há 5 quadras dali. Chegando lá, comprei tudo o que julgava importante e necessário para encher minha despensa. É claro que não poderia faltar chocolates e sorvete na minha lista, afinal a minha visita mensal estava por vir, e só esses itens para aliviar minha TPM.

Cheguei em casa quase sete da noite, exausta, assim como no dia anterior. Guardei as compras em seus devidos lugares e fui tomar um banho, Não demorei muito dessa vez, pois a fome falava mais alto. Saí do chuveiro, ajeitei meus cabelos e coloquei uma roupa qualquer.

Fui para a cozinha preparar um macarrão com queijo. Liguei a TV e coloquei um louvor da banda Hillsong United. Abri o armário em busca de alguma taça, e para minha felicidade, encontrei. Peguei o suco de uva integral, que coloquei no freezer assim que cheguei em casa, e despejei o líquido no recipiente. Preparei meu prato, sentei na mesa e ao som de "Prince of Peace" fiz minha refeição.

Ao finalizar, coloco o prato e os talheres na lava-louças e vou em direção à porta da varanda. Estava cogitando a ideia de dar uma olhada no ambiente externo quando fui interrompida pelo som da campainha. Assustada, abaixo um pouco a televisão, coloco a taça na mesinha ao lado do sofá e vou atender a porta. Ao olhar pelo olho mágico não consegui reconhecer a figura masculina, pois ele estava de cabeça abaixada. Um pouco receosa, abri a porta. 

Assim que o homem em minha frente levantou a cabeça e me encarou, meu coração disparou. Ele era alto e vestia um terno preto super elegante. Tinha cabelos loiros, barba por fazer e lindos olhos verdes, que não me eram estranhos. Lindo! Foco, Ana Clara! Respiro fundo, ajeito minha postura e abro um sorriso simpático.

- Pois não? - O homem parece despertar de seus pensamentos e pigarreia.

- Olá! - Abre um sorriso amigável, e que sorriso... Foco! Dizia a mim mesma - Boa noite! 

- Boa noite! - Franzo o cenho.

- Sou Roy Carter! - Estende sua mão em minha direção - Seu vizinho e dono do apartamento que está alugando.

- Ah, você! - Aperto sua mão e ficamos assim por alguns segundos. Até que me toquei - Eu sou Ana Clara Bianchi! - Digo desfazendo o contato e colocando minhas mãos na lombar.

- Sim, eu sei. - Esfrega a nuca com uma das mãos.

- Sabe? - Pergunto desconfiada.

Foi quando ele deu um passo para o lado, revelando a garotinha loirinha de olhos verdes! Ah os olhos verdes! Sabia que seus olhos tinham me lembrado alguém. Arqueio as sobrancelhas, surpresa e cruzo os braços.

A menina, que até então estava com a cabeça baixa e com as mão atrás das costas, olha para mim e abre um sorriso tímido.

- Olá, Clara! - Retribuo o sorriso ao lembrar da nossa conversa de ontem, quando ela disse que preferia me chamar daquela forma. Abaixo-me ficando em sua altura.

- Olá, pequena! - Ela sorri ainda mais.

- Eu gostaria de pedir desculpas por ter te incomodado ontem. - Olha para o homem ao seu lado, provavelmente seu pai, e depois volta sua atenção para mim - Eu sinto muito!

- Tudo bem! - Toco em seus ombros - Não precisa se desculpar! Você só queria saber quem era sua nova vizinha. - Dou de ombros. A pequena olha para o lado novamente e abre um grande sorriso.

- Viu, ela me entende! - Foi inevitável não rir. Levanto-me e encaro o meu vizinho.

- Ela não deveria ter feito isso! - Fala sério - E já conversamos a respeito - Coloca a mão no cabelo da menina - Emily e eu gostaríamos de te desejar as boas-vindas! - Isso, mesmo! O nome dela é Emily, não posso me esquecer! Penso.

Ela olhava para ele com expectativas. Roy sorri e acena com a cabeça. No instante seguinte, Emily tira as mãos das costas e me estende um lindo buquê de astromélias.

Surpresa com o ato, abaixo-me mais uma vez, pego o buquê de suas mãos e deposito um beijo em seu rosto.

- Muito obrigada! - Levanto e me viro para o meu vizinho - De verdade! 

Ele me olha profundamente e sorri

- Não há de que!

- Não sabíamos qual flor escolher - Diz Emily - Então olhando na internet, descobrimos que a  astromélia simboliza amizade duradoura. Portanto achamos perfeita para a ocasião, pois queremos que nossa amizade seja duradoura! - Dá pulinhos e bate palminhas - Não é? - Pergunta empurrando Roy com seu pequeno corpinho.

O rapaz pigarreia e disse que sim, um pouco sem graça.

- Fico lisonjeada e impressionada! - Digo com sinceridade - Por uma amizade duradoura! - Exclamo estendendo o dedinho mindinho em sua direção e ela prende seu pequeno dedinho no meu. Sem pensar duas vezes, empurrou nossas mãos na direção do homem ao nosso lado, e quando ele entendeu o que a menina queria que ele fizesse, balançou a cabeça, abriu um sorriso que fez aparecer duas covinhas em suas bochechas, e juntou nossos dedos.

Sem demora, Roy coloca as mãos no ombro de Emily e diz.

- Agora está na hora de dizer Boa noite à senhorita Bianchi e ir para a cama, mocinha! - A menininha resmunga alguma coisa, deseja-me boa noite me envolvendo em um abraço apertado e se afasta.

- Pode me chamar de Ana! - Falo quando estávamos sozinhos - Ou Clara, assim como sua filha!

- O quê? - Roy pergunta confuso, mas logo percebe o mal entendido - Não, não! Emily não é minha filha! - Coloca as mãos no peito - Sou muito novo para isso, Clara! - Ri sem graça.

- Vocês são muito parecidos! - Justifico-me.

- É o que dizem! - Enfia as mãos no bolso e olha para mim - Acho que precisamos conversar acerca de algo - Aponta a para a varanda com a cabeça. Acompanho seu olhar em direção à sacada e depois o encaro confirmando - Que tal amanhã à noite?

- Seria ótimo! - Aceito o convite.

- Então nos vemos amanhã, Clara! - Dá um passo para trás - Boa noite!

- Boa noite, Roy! - Fecho a porta e fico um tempo encostada nela sem, entender muito bem o que tinha acabado de acontecer - Uau - Sussurro cheirando as flores em minhas mãos.

Com um sorriso no rosto, vou para a cozinha, afim de pegar um jarro para colocar o buquê. Repreendia-me por deixar minha mente imaginar coisas por causa desse gesto. Mal conhecia meu vizinho, não fazia ideia de quem ele é, o que faz, se tem namorada ou esposa... Balanço a cabeça para que esses pensamentos se afastassem.

Enquanto ajeitava as flores no jarro encontrei um pequeno bilhete escrito à mão em um papel envelhecido. Abro o bilhete e sorrio ao ler o que estava escrito:



>>>><<<<

Ahhhhhh, genteeeee, como estou amando escrever essa história!!
E aí, o que acharam do Roy Carter??? Gostaram do capítulo?? Muuuuita coisa ainda está por vir, espero de coração que estejam gostando, e desejo que esse livro edifique sua vida de alguma forma 🙏🏼

Não esqueçam de votar, deixando sua ⭐️, assim a história poderá ganhar mais visibilidade e alcançar mais pessoas!!

Deus vos abençoe!!
Att. NAP 😘

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