Capítulo 03
Sento-me em uma das cadeiras em que Sofi e eu estávamos há algumas horas. Tentava me preparar para o que estava por vir, mas falhei absurdamente.
- Thomas, aconteceu alguma coisa? - Questiono com a voz um pouco alterada. Ele ficou em silêncio durante um minuto, que para mim parecia uma eternidade, até que resolveu falar.
- Minha Aninha - Suspirou - Vou ser direto, sem enrolação.
- Você já está enrolando - Comento sem paciência.
- Hoje na reunião, recebi uma ótima oportunidade para trabalhar exclusivamente com o pessoal da Hugo Boss. - Conta um pouco nervoso.
- Isso é excelente, Thom! - Exclamo - Mas o que tem de errado com isso?
- O problema é que eles querem me enviar para Paris. - Responde, pegando-me completamente desprevenida. Um silêncio desconfortável se ergueu entre nós, até que quebro o silêncio.
- E você aceitou? - Pergunto receosa.
- Ainda não. Eles me deram o prazo de um dia. - Solto o ar que, até então, não fazia ideia de estar prendendo - Eu tirei a tarde para pensar sobre o assunto, antes de conversar com você. - Continuou - Você sabe que esse é um dos meus maiores sonhos, não sabe? - Questiona-me.
- Eu sei! - Respondo com dificuldade - E parece que você já tomou uma decisão.
- Eu não posso perder essa oportunidade, minha Aninha! - Justificou-se - É a minha carreira!
- E quanto a nós, Thomas? - Deságuo minha irritação - Como ficaremos? Você pensou nisso? - Levanto-me da cadeira indo em direção ao guarda-corpo.
- É claro que pensei! - Responde sério - Podemos dar um jeito quanto a distância.
- Distância? Você quer continuar um relacionamento à distância, Thomas? - Pergunto andando impaciente, de um lado ao outro da varanda - Acha mesmo que isso daria certo?
- Ana Clara, acalme-se! - Fala com um pouco de irritação - Isso também não está sendo fácil para mim! Mas eu realmente acho que podemos tentar.
Agarrei-me ao guarda-corpo e o questiono temendo sua resposta - Por algum momento, passou em sua cabeça a ideia de nos casarmos? - Fez-se um silêncio por um tempo até conseguir obter minha resposta.
- Minha Aninha, você sabe que iniciamos esse relacionamento com a intenção de casarmos. - Responde-me calmamente - Eu amo você, e o que eu mais desejo é viver uma vida inteira ao seu lado! - Exclama - Mas como poderei me casar com alguém que só declarou seu amor quando percebeu que poderia me perder? - Questionou-me - Você nem sabe se realmente me ama, Ana. E eu não me refiro ao amor fraternal.
Aquelas palavras atingiram em cheio o meu coração, pois era a mais pura verdade. Eu não faço ideia do que realmente sentia por ele. Desde que nos conhecemos, tornamo-nos grandes amigos, soube desde o primeiro dia que sempre poderia contar com ele. E foi exatamente assim! Ele nunca media esforços para cuidar de mim, me agradar e demonstrar o seu amor e paciência. Thomas era uma das pessoas mais especiais da minha vida, isso era fato, mas não era o suficiente para um casamento. Ele tinha razão.
- Ah, Thom ... Sinto-me uma idiota egoísta - As lágrimas rolavam pelo meu rosto, mais uma vez durante aquele dia - Desculpe-me! Há tanta coisa acontecendo aqui, eu só queria ter você ao meu lado novamente - Desabafo - E só em pensar que irei te perder também... - Soluço - Por favor me desculpe!
- Ei! Você não irá me perder, minha Aninha! - Responde-me de forma carinhosa - Não importa a distância ou o tempo. Se seremos namorados ou amigos, eu sempre estarei ao seu lado!
- Eu sei, e sou muito grata por isso! - Falo enxugando as lágrimas. Ele tinha o dom de me acalmar - Você merece realizar todos os seus sonhos e ser muito feliz! Sempre estarei aqui torcendo por você!
- Eu sei, disso! - Suspira - Agora me conte como está o seu pai e o que está acontecendo em sua família. - Pede carinhosamente.
Respirei fundo, sentei-me na cadeira novamente, e contei absolutamente tudo para ele. Thom me aconselhou, me consolou, me fez rir e orou por mim. Ao fim de nossa conversa, senti uma paz sem igual, sabia que nosso namoro poderia não dar certo, no entanto, tinha plena convicção de que jamais perderia o meu amigo. Olhei a hora na tela do celular e fiquei chocada, pois já era quase meia noite. Levante-me e fui em direção ao banheiro, para poder fazer minha higiene pessoal. Troquei de roupa e logo deitei ao lado de Sofia, que dormia como uma pedra. Estava tão exausta, que não demorou nem 5 minutos para que eu me juntasse à minha irmã em um sono profundo.
***
- Acorde, Bela adormecida! - uma voz familiar me despertou, acompanhado de um cafuné maravilhoso em minha cabeça.
- Só mais um minuto... - Sussurro.
- Tem certeza que perderá o café da manhã que preparei com tanto carinho para minhas meninas? - Desperto imediatamente ao reconhecer aquela doce voz.
- Dona Thelma! - Exclamo abraçando a senhora rechonchuda sentada na ponta de minha cama - Que saudade! Que saudade! Que saudade! - Repetia freneticamente enquanto a esmagava!
- Aninha querida! Assim você me fará chorar! - Responde retribuindo o meu abraço - Você faz tanta falta nesta casa!
Afasto-me e olho para a senhora sentada à minha frente e sorrio.
- Continua linda como sempre! - Ela sorri um pouco envergonhada pelo elogio e logo levanta.
- Muito obrigada, querida! Mas seu café irá esfriar. - Segura minha mão, fazendo-me levantar - Vamos logo!
- Tudo bem, vamos lá! - Coloco minhas pantufas e sigo dona Thelma até o Térreo.
- Aninhaaaa!!!! - Sofi grita entrando na sala correndo em minha direção com um sorriso enorme em seu rosto - Tenho uma ótima notícia, papai despertou essa madrugada, e segundo o doutor, hoje de manhã ele já terá alta!
- Sério? Que notícia maravilhosa! - Abraço minha irmã e dona Thelma vem logo em seguida.
- Deus é bom, meninas! - Diz nos apertando em seus braços - Agora vão tomar o café de vocês para irem buscar logo o seu Samuel!
- É pra já! - Fala Sofi sentando em seu lugar. Dou um beijo na bochecha da senhora e acompanho minha irmã.
A alegria era tanta, que mal pude degustar as delícias que a governanta fez para nós. Assim que acabamos, tomei um banho rápido e em menos de meia hora estava pronta. Bati na porta do quarto de minha irmã e logo em seguida ela abriu.
- Vamos! - Diz apressada. Peguei a chave do carro de papai e segui em direção à garagem. Chegamos ao hospital em menos de 10 minutos. Já na recepção, nos informamos em qual andar e quarto ele estava e logo subimos. Ao nos aproximarmos da porta, vimos um homem alto de meia idade, que vestia um jaleco, saindo do quarto.
- Olá, sou Ana Clara Bianchi, filha do Samuel Bianchi - Apresentei-me.
- Olá, sou o doutor Kalil - Nos cumprimentou.
- Ele está bem, doutor?
- O pai de vocês está bem, diante das circunstâncias. No entanto, precisa ter a atenção redobrada quando sair daqui - Diz o doutor - Muitos não sabem, mas após uma pessoa ter o primeiro infarto, o risco de um segundo episódio aumenta cerca de 30% - Minha irmã e eu trocamos olhares preocupados - No geral, os cuidados são os mesmos para prevenir o infarto, mas devem ser adotados com mais rigor e com o acompanhamento de um cardiologista, com consultas regulares e conforme o profissional orientar.
- Tudo bem, doutor - Disse - Mais alguma orientação?
- Soube que o pai de vocês não costuma fazer atividade física - Confirmo com a cabeça - Ele precisa! É uma questão de saúde e urgência. - Alertou - Mas é necessário consultar o médico que ficará responsável por ele, para saber o tipo de atividade e o nível de exercício adequado para o pai de vocês. Evitar gordura e sal! Nada de álcool!
- O papai não bebe! - Exclamo - Graças a Deus!
- Procurem aferir a pressão com frequência, e se possível, evitar o estresse. - Sofia suspira ao meu lado - Sigam as recomendações com cuidado, pois se acontecer uma segunda vez, pode ser ainda pior ou fatal! - Conclui o doutor Kalil.
- Obrigada pelas orientações, doutor - Agradeço apertando sua mão - Já podemos vê-lo?
- É claro! - Responde com um sorriso simpático - Acabei de liberá-lo! Se vocês me derem licença, preciso ver outro paciente.
- Tudo bem, doutor. - Despediu-se e seguiu seu caminho. Sofi e eu entramos no quarto de nosso pai, e ao vê-lo não contive a emoção.
- Papai! - Digo correndo em sua direção me derramando em lágrimas - Oh Papai, o senhor está bem! - O abraço ao chegar em seu leito.
- Minha menininha! Você está aqui! - Diz papai acariciando meus cabelos - Precisei parar no leito para você vir visitar o seu velho! - Fala com a voz mais fraca que o normal.
- Por favor, não diga isso ou me sentirei ainda pior! - Peço, desfazendo o abraço e desviando os olhos para o chão.
- Clara, minha filha, estou apenas brincando! Não se culpe! - Desvia os olhos de mim para olhar Sofia que estava parada na entrada do quarto, cabisbaixa - Nenhuma das Duas!
Sofi olhou para nós e sorriu tristemente. Papai fez um sinal com as mãos para que ela se aproximasse, e assim ela fez. Ao chegar, Sofi abraçou nosso pai aos prantos, assim como ele. Papai sempre foi forte, mas naquele momento pude ver como meu velho não estava bem. Minha família precisa de mim, e vê-los daquela forma só confirmou o que vinha pensando desde a noite anterior, e eu resolveria isso assim que chegássemos em casa.
- Pronto para irmos? - Pergunto quando eles se separaram.
- Não vejo a hora de chegar em casa, tomar um bom banho e comer uma comida decente.
- Papai, o senhor não ficou nem dois dias aqui. - Diz minha irmã rindo - Não tem o direito de reclamar da comida do hospital.
- Tem razão, minha filha! - Papai responde enquanto eu o ajudava a se levantava do leito.
Em seguida, colocou as roupas que Sofia trouxe. Ajeitamos tudo o que tinha para ajeitar e fomos para casa, parando no caminho apenas para comprar alguns remédios na farmácia.
- Lar doce lar - Comenta papai ao entrarmos em casa. - Nada melhor do que estarmos em nossa casa, com nossa família! - Diz de forma vibrante indo em direção ao grande sofá - Precisamos fazer um culto em ações de graça.
- Papai, não invente! O senhor acabou de se recuperar de uma parada cardíaca!
- Minha menina, venha cá - Aponta para que eu me sentasse ao seu lado - Não compreende como Deus foi misericordioso com o seu velho?
- Eu compr ... - Tentei falar, mas fui interrompida.
- Eu preciso agradecer ao dono da vida por ter me dado mais uma oportunidade de estar aqui. - Segura minhas mãos - Clara, eu não tenho a intensão de convidar ninguém! Quero apenas agradecer ao meu Deus junto com minha família! - Sorrio com aquela explicação.
- Tudo bem, seu Samuel! - Aperto sua mão - O senhor me convenceu!
- Ele tem o dom de nos convencer. - Olhamos para minha irmã que voltava da cozinha com um copo de água em mãos - Hora do remédio. - Diz entregando o copo ao nosso pai.
Olhei as horas no celular e decidi resolver os assuntos pendentes antes do almoço.
- Bom, preciso resolver algumas coisas relacionadas ao trabalho. - Digo me levantando - Sofi, se precisar de algo, basta me chamar. - Dou um beijo em cada um e caminho em direção à escada - Desço na hora do almoço.
Chegando ao quarto, fui direto para a sacada, aquele estava se tornando o meu lugar favorito para resolver problemas. Olho para a bela mata virgem que cercava nossa casa, nunca me cansava de admirá-la.
- Paizinho, me dê sua direção! - Conversava com Deus - Estou com tanto medo de fazer uma escolha errada. E se não for isso que você quer de mim? - Fecho meus olhos - Eu já não sei o que fazer! Nada mais faz sentido em minha vida, pra que voltar à Nova York? Não terei mais o Thomas, minha família precisa de mim, e mesmo tentando fazer tudo para agradar e orgulhar aquela... - Respiro com dificuldade, pois só em pensar nela a raiva me dominava - Aquela mulher ingrata e mal amada! Que raiva, meu Pai! É isso, raiva, muita raiva! - Explodo - Eu fiz de tudo para ser motivo de orgulho para ela, a troco de quê? De nada!
Sento-me em uma das cadeiras e encaro o celular em cima da mesinha. Juntando coragem, pego o aparelho e disco o número da minha chefe. Depois de 3 toques, ela atende.
- Megan Sullivan - A voz dela soou do outro lado da linha.
- Megan, sou eu, Ana!
- Ana! Como estão as coisas por aí? E o seu pai? - Pergunta.
- O meu pai acabou de receber alta e já estamos em casa. - Respondo rapidamente.
- Que notícia maravilhosa! - Exclama - Isso significa que em breve teremos nossa estilista de volta!
- Então, Megan... - Estava temerosa por sua reação - As coisas não vão nada bem por aqui. - Solto um suspiro - A minha família precisa de mim nesse momento!
- Não tem problema, Ana Clara, eu darei o tempo que for necessário para vocês colocarem as coisas em ordem! - Sua resposta me surpreende.
- Não, Megan, você não compreendeu. Eu agradeço muito a sua ajuda e compreensão diante de tudo o que está acontecendo em minha vida pessoal, mas eu estou me demitindo! - Digo sem rodeios
- Você sabe o que isso quer dizer, Ana? - Questiona com preocupação - Abrirá mão de sua carreira?
- A Minha família precisa de mim, Megan! Eu abriria mão de qualquer coisa por eles. - Naquele momento, tive a certeza de que estava fazendo a escolha certa.
- Bom, se é isso que você deseja, ajeitarei os documentos para você, e assim que estiver tudo pronto eu te aviso.
- Megan, eu gostaria de te agradecer também pela confiança que depositou em mim ao me contratar. - Agradeço - E peço perdão pelo inconveniente.
- Você foi uma das melhores funcionárias que tivemos nos últimos anos! - Elogia-me - Terá um futuro brilhante pela frente. Uma pena por não ser na Carolina Herrera!
- Obrigada! - Agradeço mais uma vez.
- Fique bem, Ana! - Diz e desliga a ligação em seguida.
Apoio o celular na mesa e jogo a cabeça para trás, afim de organizar os meus pensamentos.
- Você se demitiu por nós? - Pulo de susto ao ouvir a voz da minha irmã. Levanto, coloco o celular no bolso e vou em direção à Sofi.
- Nós precisamos uns dos outros neste momento, mia sorella! - Ela me abraça com tanta força que preciso dar um passo para trás, afim de me equilibrar.
- Vá com calma, pequena! - Digo, rindo de sua reação.
- Vocês estão fazendo uma reunião familiar e resolveram deixar o patriarca de fora? - Questiona papai, que assistia a cena em pé na porta do meu quarto.
- Papai, a Aninha voltará para nós - Sofia comenta segurando uma de minhas mãos
Ele olha para mim buscando respostas.
Como assim, Clara? - Franziu o cenho.
- Acho que chegou a hora de voltar para casa - Abro um pequeno sorriso.
O homem de quase meia idade vem em nossa direção e pergunta com certa emoção na voz - Você tem certeza, minha menina?
- Nunca tive mais certeza! - Respondo.
Ele se aproxima ainda mais e nos abraça. Percebi que esse abraço era repleto de significados, e um deles era gratidão. Gratidão por estarmos unidos mais uma vez, principalmente em meio ao vale.
- Como nos velhos tempos! - Sussurrou Sofi.
- Como nos velhos tempos! - Concordo beijando o alto de sua cabeça.
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Olá, pessoal! Como vocês estão??Mais um capítulo "Para noooossa alegria" ♫
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Até a próxima!!
Att. NAP 😘
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