Capítulo 9
Permaneço assim por poucos segundos, até que percebo algo bastante familiar naquele abraço, principalmente quando o mesmo se torna mais apertado. Sem realmente acreditar, ergo uma das mãos, que ainda segurava o copo com água, até a altura do meu ombro.
Minha mão toca a sua. Imediatamente abro os olhos e viro-me para trás. Era ele! Ele estava aqui! Seus olhos analisam o meu rosto com preocupação. As mãos que antes me consolavam, seguram minha face com delicadeza e cuidado, como se eu fosse feita de porcelana. E é exatamente assim que estou me sentindo neste momento.
Envolvo sua cintura com força e enterro meu rosto em seu peito. Como se fosse possível, sua presença me deixa ainda mais sensível, fazendo-me chorar brutalmente.
— Roy! — minha voz sai embargada e quase que inaudível. Falar seu nome intensificava a dor e o sentimento de vergonha. O que ele pensaria de mim?
— Shhhh! — seus braços me envolvem. Uma de suas mãos acaricia meu cabelo e a outra minhas costas — Tudo ficará bem, meu amor! — aperta-me mais ao seu corpo.
— Roy, — tento falar mais uma vez — eu não fiz isso! Eu juro! Não fui eu!
— Por favor, acalme-se, Clara! — pede com certa angustia — Você está tremendo, amor.
Tento controlar minha respiração e lágrimas, o que é difícil. No entanto, seu abraço e afago foram catalisadores para que eu me acalmasse. Roy ergue meu rosto, fazendo-me encará-lo, ainda com os olhos marejados. Coloca uma mexa do cabelo que estava em meu rosto atrás da orelha e solta um suspiro pesado. A preocupação ainda estava ali, evidenciada pelos vincos em sua testa.
— O que aconteceu, querida? — questiona acariciando de leve minhas bochechas.
Desvio o olhar para a paisagem lá fora e uma lágrima rola novamente.
— Ei! Olhe para mim. — junto forças para fazer o que ele pede.
— Estou sendo acusada de passar informações para outra empresa. — seus olhos se arregalam, assim como os meus, quando recebi tal notícia. Conto absolutamente tudo o que aconteceu nesta manhã — Mas eu não fiz isso! — apresso-me em me defender ao finalizar a história — Jamais seria capaz de fazer algo tão desprezível! — seguro suas mãos com força.
Roy me olha com incredulidade.
— Clara, você acha mesmo que eu duvidaria de você?
— Você conhece o Alain há muito mais tempo do que eu, e... — ele me cala pondo o dedo indicador em meus lábios.
— Lá vem você com essa história de tempo novamente. — revira os olhos — Eu o conheço há mais tempo, é verdade, há praticamente vinte e oito anos. — abre um pequeno sorriso — mas eu a conheço o suficiente para saber que jamais faria isso, minha linda. Colocaria minha mão no fogo por você, mas jamais faria isso por ele.
Sinto os olhos arderem e ele me puxa para os seus braços, o melhor lugar que poderia estar neste momento.
— Eu confio totalmente me você! — sussurra no meu cabelo — Ou acha mesmo que eu escolheria uma pessoa que não confio para passar toda a minha vida ao lado dela? — pergunta em tom brincalhão.
— Obrigada! — ergo o rosto e o encaro sorrindo, dando-me conta do que acontecia — Você realmente está aqui! — a ficha começa a cair.
A angustia que sentia há alguns minutos, aos poucos ia sendo substituída pela felicidade de ter o amor da minha vida novamente ao meu lado.
— Em carne e osso. — balança uma das mãos no ar.
— Eu te amo! — seguro seu rosto e não espero uma resposta, uno nossos lábios.
O beijo era calmo e repleto dos mais diversos sentimentos. Como senti falta do seu beijo, do seu carinho, da sua voz, da sua presença... Como eu senti falta deste homem por inteiro!
Nos separamos, cada um com um sorriso de contentamento nos lábios. Roy me olhava com paixão, fazendo-me arrepiar, mais uma vez dando espaço para os insetos que habitavam o interior do meu corpo.
— Então... — começa a dizer fazendo suspense — Surpresa! — ergue os braços e abre um enorme sorriso divertido.
Dou uma gargalhada alta e ele me acompanha, antes de se colocar de pé e me ajudar a levantar também.
— Eu amei a surpresa, amor! — dou um abraço decente no meu noivo.
— Bom, era para eu ter conseguido preparar algo romântico, mas você chegou mais cedo e estragou tudo. — dá de ombros.
— Queria eu ter chegado no horário de sempre — suspiro e desfaço nosso abraço.
— Eu tenho certeza que as coisas irão se ajeitar, linda! Descansa no senhor e Ele mesmo te justificará no tempo certo. — sorri sem mostrar os dentes — Vamos orar por esta causa.
Assinto.
Roy estende a mão e eu a seguro.
— Tenho uma surpresa para você lá em cima. — diz me deixando curiosa. Começamos a subir juntos.
— Não gosto de surpresas, Roy Carter!
— Que mulher não gosta de surpresas? — dá uma rápida olhada para mim sorrindo de lado — Você não gosta é de ficar na curiosidade.
— É, tem razão.
Chegando em meu quarto, antigo quarto de Roy e nosso futuro aposento, ele abre a porta e me dá passagem. Ao entrar respira profundamente e sorri.
— Preciso dizer que eu amei a nova essência deste quarto — franzo o cenho — o seu cheiro é maravilhoso, Claro.
Sorrio desviando o olhar, sinto as bochechas arderem. Ele deposita um beijo em minha testa e volta a segurar minha mão.
— Preparada?
— Não! — digo e ele ri.
Atravessamos as portas francesas que dão acesso à varanda do quarto. De cara avisto o elemento diferente. Solto a mão de Roy e caminho devagar, para não o assustar. Não deu muito certo, pois ele vira a cabeça preguiçosamente em minha direção e solta um miado baixo.
— E aí, garotão! — abaixo-me acariciando seus macios pelos brancos com tons de caramelo — Como está? Sentiu minha falta?
Como se entendesse o que eu falava, Cookie solta outro miado, desta vez mais longo. Sorrio e o pego nos braços. O bichano se remexe algumas vezes antes de se acomodar em meu peito. Viro-me para Roy, que nos observava da entrada do quarto, e com um movimento de cabeça, o chamo para nos sentarmos no banco/balanço de madeira.
Meu noivo se senta e logo eu me acomodo ao seu lado. Como em New York, ele passa um braço pelos meus ombros e faz leves carícias em mim. Fecho os olhos e solto um suspiro, ainda acariciando os pelos de Cookie.
— Eu senti tanta falta disso, de nós. — apoio a cabeça em seu ombro — aquela varanda não é a mesma sem você, Clara. Na verdade, minha vida não é a mesma sem você.
— Acho que posso dizer o mesmo. — comento — soube que nos últimos meses você se afogou no trabalho. — olho de cara feia para ele.
— Engraçado, eu soube o mesmo de você. — um sorriso torto aparece em seu rosto.
Meu coração dispara. É inevitável não me aproximar e acabar com o espaço entre nós. Roy segura o meu rosto delicadamente com a mão livre e retribui o doce e apaixonante beijo. Seu nariz roça na lateral do meu rosto fazendo leves carícias.
— Eu amo você, Ana Clara! Com todas as forças do meu ser! — diz depositando um demorado beijo em minha testa.
***
— Amanhã eu passo aqui às 9h para te pegar. Aí podemos tomar café da manhã juntos, o que me diz? — pergunta unindo nossas mãos e se aproximando de mim.
— Acho perfeito! — sorrio como uma boba apaixonada.
— Ótimo! — leva minhas mãos até sua boca dando um selinho, em seguida une nossos lábios — Nos vemos amanhã, amor! Bonne nuit, mon chéri!
Mais uma vez o sorriso abobalhado preenche o meu rosto ao ouvi-lo falar em francês.
— Bonne nuit!
Fecho a porta e me apoio na mesma, ainda sem acreditar que ele finalmente chegara. Foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido neste dia.
E falando neste dia...
Olho ao redor e mais uma vez me encontro sozinha. Tranco a porta e sigo até as portas da sacada. Fecho todas elas e subo devagar. Lembro-me, ao entrar no quarto, que não estou totalmente sozinha. Pedira a Roy que deixasse cookie para me fazer companhia por esta noite.
Sento na cama e bato no lugar ao meu lado.
— Venha cá, garoto! — ele sobe em um salto. Gira no mesmo lugar algumas vezes e deita junto a minha perna — Parece que a mudança no fuso horário te deixou ainda mais preguiçoso.
Recebo um miado baixo como resposta. Na mesma hora o celular vibra ao meu lado.
— Oi, papai! — tento parecer um pouco mais animada.
— Decidiu parar de fugir do seu velho? — pergunta zangado.
— Não estava fugindo, seu Samuel. — acomodo-me da cama, encostando as costas na cabeceira.
— Não estava, Ana Clara? — questiona com o mesmo tom.
Cookie resmunga e sobe no meu colo.
— Papai, eu só não queria preocupa-los. Só isso. — ouço um suspiro do outro lado.
— Pois você fez exatamente o contrário. — fecho os olhos esperando pela próxima repreensão — O que está acontecendo, minha filha?
— As coisas lá no trabalho não estão nada bem. — digo por fim — Desde as primeiras semanas na empresa, já tinha percebido que não seria fácil. E realmente não foi. — faço uma pausa breve antes de continuar — As pessoas são diferentes, a empresa é diferente, o cenário é diferente.
— Mas isso é uma questão de costume, querida. Com o tempo as coisas irão se ajeitar. — sua voz me traz um certo conforto.
— Eu pensava da mesma forma, até hoje. — falo baixo.
— O que aconteceu hoje? — pergunta preocupado. Quando o assunto era sua família, papai já ficava em estado de alerta.
— Resumidamente, fui acusada por algo que não fiz. Estão pensando que eu tenho sido a x9 dentro da Chanel, papai.
— Como isso aconteceu? — Mais uma vez conto a história toda para ele.
— O senhor não tem noção de como eu fiquei ao ouvir todas essas acusações. Minha vontade era de voar no pescoço daquela mulher. Ela é terrível! Só Deus para literalmente me segurar. Caso contrário teria feito uma loucura. Meu nível de estresse está elevadíssimo.
— Pelo menos esse tempo que você permanecerá em casa será bom para você descansar sua mente e coração. Continue orando, minha filha, e descanse no Senhor. Lembre-se de Romanos 8.33: quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Ele te justificará no tempo oportuno!
— Amém! O Roy me disse a mesma coisa. — comento sem muito ânimo.
— Se ao menos ele estivesse ao seu lado neste momento... Melhor serem dois do que um — cita Eclesiastes 4.9.
— Ah, acabei esquecendo de contar. Ele chegou hoje. — meu sorriso se alarga ao falar do Roy.
— Que notícia maravilhosa, Clara! Fico feliz e aliviado em contemplar o cuidado de Deus por você, minha filha! O seu noivo chegou bem no momento em que você mais precisava. Louvado seja Deus por isso. Ele é um ótimo rapaz!
— É verdade. Estava pensando isso antes do senhor me ligar. — o silêncio se instala, mas resolvo quebrá-lo — Sabe, pai, eu sei que essa situação fugiu completamente do meu controle e não há muito o que eu possa fazer. Eu fiquei completamente arrasada, mas creio que no meio desse furacão todo, o nome do Senhor ainda será glorificado. Não sei como, mas será!
— Eu não tenho sombra de dúvidas! A bíblia diz que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Essa situação irá contribuir sim, filha. No tempo certo você entenderá. Por enquanto, dedique-se a fazer a vontade do seu Pai.
Imediatamente me recordo da conversa que tive há uma semana com o pastor Johnny. O que Deus esperava de mim?
Converso por mais alguns minutos com o meu pai. Em seguida tomo um banho, apago as luzes e deito na cama, dormindo logo em seguida. No meio da madrugada ouço alguém me chamar. Viro-me algumas vezes, mas o cansaço fala mais alto do que a voz suave que sussurra ao meu ouvido.
E aquela foi a primeira vez que eu O ignorei.
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Meu amorzinho chegou 😍😍😍😍 Ah, gente, eu sou muito apaixonada por esse personagem!!
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