Capítulo 58

>>>> POV Roy Carter <<<<

Seguro a mão gelada e sem forças da minha esposa. Ela me oferece um sorriso fraco e mexe o dedão. Uma tentativa de acariciar a minha.

O anestesista aplica a anestesia com cuidado. Em seguida, nós a ajudamos a se deitar. Abaixo-me quando ele se afasta, ficando tão próximo a ponto de sentir minha própria respiração rebatida em sua face. Através de seus olhos consigo ver que a dor ainda está ali, queimando sua cabeça, mas ela se mantém firme. Sei que faz isso para não me preocupar. E eu tento não refletir a angústia que grita em meu peito, por não ter mais o que fazer pelo amor da minha vida.

— Eu amo tanto você! Você é a melhor coisa que me aconteceu ao longo desses vinte e nove anos — a voz embarga — Por favor, não me deixe!

— Confie em Deus, Ro! — analisa cada parte do meu rosto — Eu também amo muito você!

— Está preparada, Ana? — o ginecologista pergunta, com um sorriso simpático. Ela apenas assente.

Com tudo e todos em seu devido lugar, o parto inicia. Respiro fundo, pela milésima vez neste dia. Minha esposa aparenta estar calma, o completo oposto de mim.  Eu seguro sua mão, mas na verdade ela quem me passa força. Em alguns momentos espio por sobre o tecido que esconde o membro inferior de Clara. Nenhum sinal do pequeno Matt ainda, apenas cortes e sangue.

— Está suando, querido! — aperta bem de leve minha mão.

— É muito sangue... — sussurro esfregando o cabelo — E o nosso filho está demorando demais para nascer...

— Vai dar tudo certo, amor!

Poucos minutos se passam até ouvirmos o comentário do médico.

— Parece que temos um bebê grandão por aqui!

Aproximo-me a tempo de ver as longas, mas ao mesmo tempo pequeninas, pernas do meu filho. Na mesma hora um sorriso enorme nasce em meus lábios. Ele é puxado e todo o seu corpo vem para fora, completamente sujo de sangue. Seu rostinho retorce em uma careta e logo um choro forte e alto invade o ambiente, fazendo-me rir e chorar ao mesmo tempo.

— Nosso bebê nasceu, Ro! — olho para Clara, que não está muito diferente de mim. Seu sorriso é a coisa mais linda e me enche de alegria e esperança. Beijo seus lábios com amor.

— Obrigado por me dar o melhor e mais lindo presente, mon cheri! A felicidade que estou sentindo não cabe em mim! — ela enxuga meu rosto.

Afasto-me para ver o que estão fazendo com o meu filho, que parara de chorar. Uma enfermeira termina de limpá-lo e o embrulha em uma manta verde claro.

— Será que a mamãe deseja segurar o pequeno Matthew? — ela pergunta caminhando para perto de Clara com o nosso embrulhinho nos braços. Não desvio meus olhos dele em momento algum.

— Com certeza! — minha querida esposa estende as mãos e recebe o nosso filho em seus braços. É uma cena perfeita! Uno-me a minha família com o coração transbordando de gratidão — Seja bem-vindo, meu amor! A mamãe te ama, bambino! — ela sussurra com a voz embargada.

— Nosso filho é lindo! — digo emocionado. Ao ouvir minha voz, ele se remexe e abre os olhos, nos fazendo rir.

— Olha, querido! É só ouvir a sua voz que já se atiça! — seus lábios tremem contendo a emoção — Ele tem os seus olhos! — Clara me fita rapidamente antes de voltar a acariciar a mãozinha dele— Você é perfeito! — Beijo sua testa demoradamente.

— Eu amo vocês! Nunca me cansarei de dizer! — a felicidade está estampada em seu rosto. De remete, seus olhos começam a ofuscar, e ela franze a testa.

— Roy, pegue o nosso filho! — desfaço o sorriso e fico em alerta. Tomo Matthew de suas mãos, não aproveitando a sensação de tê-lo pela primeira vez em meus braços.

— Doutor! Acho que ela não está bem! — Digo com desespero. Só então percebo que o doutor Shepherd, que estava em um canto da sala de cirurgia, já tomara sua posição.

A enfermeira pega meu filho dos meus braços e o leva para fora. Fico desnorteado, sem saber o que fazer.

— Você precisará sair, senhor Carter. Um enfermeiro se aproxima.

— Eu não deixarei minha esposa sozinha! — digo firme, segurando a mão dela, totalmente gelada.

— Ro... Vá, por favor! — pede com a voz fraca.

— Não vou sair daqui! — abaixo-me.

— Cuide do nosso filho por enquanto! — sorri, mas seu olhar está perdido.

— Clara, olhe para mim! — seguro seu rosto, mas ela não consegue focar em meus olhos.

— Tirem ele daqui! — doutor Shepherd ordena sem a cautela costumeira.

— Seja forte, amor! Você vai conseguir! — selo nossos lábios e me afasto indignado. Para a minha infelicidade e preocupação, vejo o corpo da minha esposa tremer com brutalidade antes de ser empurrado para fora.

No corredor, fecho os olhos e me apoio na porta. Sinto um soluço entalado na garganta e resolvo deixa-lo sair livremente. Arrasto-me até o chão e começo a interceder pela mulher da minha vida.

— Ela confiou o tempo todo em Ti! — digo entre soluços — Pai, eu decidi confiar e crer que o milagre irá acontecer. O Médico dos médicos é o senhor! Faz o que só Tu podes fazer. Precisamos do nosso milagre!

Não sei por quanto tempo permaneci ali. No entanto, recordo-me do meu filho. Não sei ao certo para onde o levaram. Decido ir para o lugar mais óbvio. Ao chegar lá vejo algumas famílias reunidas em frente ao grande vidro transparente, admirando os novos membros que chegaram ao mundo. Do lado de dentro pais bobões segura seus filhos nos braços, apresentando-os aos demais.

— Senhor Carter? — olho para o lado, deparando-me com a enfermeira que levou o meu filho de mim.

— Onde está o meu filho? — pergunto em alerta. Ela sorri e aponta com a cabeça para o lado de dentro do berçário.

— Venha ver o seu bebê. Acabaram de aviar aos familiares, eles já devem estar chegando. — concordo com a cabeça e a sigo — Aqui está o meninão. Ele é tão comportadinho, quase não chora.

— Posso pegá-lo? — aponto para mim mesmo — Ainda estou usando a roupa apropriada.

— Pode sim! — ela o retira do berço aquecido e me entrega — Fique à vontade!

Ajeito-o em meus braços e me permito contempla-lo com mais atenção. Apesar das longas pernas, ele é tão pequeno e cabeludo. Os traços do seu rosto são delicados e me lembram um pouca sua mãe. Minha doce Clara. De olhos fechados e mãos unidas, Matthew vira o rosto, o enterrando em meu peito. Isso me faz sorrir.

— Você é o nosso grande e preciso presente divino, garotão! — ele se remexe e resmunga, mas permanece com os olhos fechados — Sua mãe e eu te amamos com todo o nosso ser! — toco sua mãozinha. Ele agarra o meu dedo e sorri de lado. Tal ato me encanta.

De soslaio, vejo um movimento a mais do lado de fora do berçário. Minha família está em peso grudada no vidro, a fim de conhece-lo.

— Que tal darmos um oi para algumas pessoas especiais? — Matt abre, preguiçosamente, os grandes olhos e fita direto os meus. Ele realmente tinha os meus olhos. A sensação de ser pai é tão boa! É maravilhosa na verdade — Obrigado, Senhor! — caminho até a janela de vidro, todos estão afoitos para vê-lo. Inclusive Emily, que pula de animação.

— Diga oi, Matt! — inclino-o um pouquinho, dando melhor visão para os telespectadores. Charlotte e Sofia choram abraçadas. Emily para de pular e olha vidrada para o irmãozinho. Meus tios e primo estão sorrindo, também admirando o mais novo membro. Meu pai... bom, seus olhos estão marejados e ele se controla de todas as formas possíveis para não desabar de emoção.

Fico segurando o meu filho por mais alguns minutos até precisar coloca-lo no berço novamente. Saio do berçário e sou recepcionado por eles. Recebo felicitações e abraços. Alguém até trouxe balões coloridos e um grande urso de pelúcia escrito Matthew Bianchi Carter. A alegria era plena, até David perguntar sobre Clara.

Pressiono os lábios e respiro fundo. Explico tudo o que o doutor tinha nos falado antes do parto. Sobre a possível hemorragia, a cirurgia e as escolhas.

— Eu não sei o que está acontecendo agora, mas ela não estava bem quando saí da sala. Antes de me colocarem para fora, vi que ela voltou a convulsionar. E o obstetra nem tinha terminado a sutura... — respiro com dificuldade ao lembrar aquela cena terrível.

— Sinto muito, cara! Deus está cuidando da AC! — Dav me abraça com força — Thomas e Lauren estão vindo para cá. Conseguiram um voo assim que souberam. Não sei nada sobre Evs e Ash. — concordo.

— Eu juro que aquela miserável vai pagar! — Sofia, que cochichava com Charlotte, fala mais alto — Eu disse que se alguma coisa acontecesse com a minha irmã, ela não sairia ilesa!

— Sofia, vamos esperar para ver o que vai acontecer! Não podemos fazer nada com a cabeça cheia.

— Do que ela está falando? — franzo o cenho e olho para o meu primo, que suspira e tenta falar, mas é impedido pela minha cunhada.

— O irmão daquele traste, que você um dia chamou de amiga, ligou para o David e contou o que a irmã fez. Parece que ela não aguentou a pressão da culpa.

— O que Louise fez?

— Ela bateu com a cabeça da minha irmã na parede, Roy. Ela tentou matar a minha irmã e o meu sobrinho! — diz entre soluços.

— O QUÊ? — pergunto alto demais, chamando a atenção dos que estavam ao nosso redor.

— Acalme-se, querido! Não vale a pena ficar... — interrompo minha avó.

— AQUELA LOUCA TENTOU ASSASSINAR O MEU FILHO E A MINHA ESPOSA, VÓ! NÃO ME DIGARA PARA FICAR CALMO!

— Roy, não desconte em sua avó! — meu pai diz firme.

Esfrego o rosto, de tanta raiva. Olho para o bolso de David e vejo uma parte da chave de sua moto. Em um movimento rápido, pego-a e corro para o estacionamento.

— ROY! — escuto sua voz atrás de mim — VOLTE AQUI! NÃO FAÇA NENHUMA BESTEIRA!

Ignoro-o e continuo correndo, mesmo sabendo que ele irá me alcançar. Encontro a moto não muito distante da entrada principal. Subo na mesma e ligo-a. David segura minha mão sobre o guidão.

— Primo, me escute! Não faça isso! Não agora!

Olho para ele, mas não digo nada. Coloco o capacete e dou a partida, afastando-me de lá o mais rápido possível. Por causa da alta velocidade, chego a mansão de Alain em menos de quinze minutos. Subo a escadaria principal de dois em dois degraus e aperto a campainha constantemente, até que Inès, a funcionária de confiança da família Wertheimer, atender.

— Querido Roy... — passo por ela sem ao menos cumprimenta-la.

— Onde está Louise? — Caminho apressado até a sala de estar, mas não a encontro.

— O que aconteceu, menino? — a senhora pergunta atrás de mim.

— Preciso falar com a Louise! — volto para o hall de entrada.

— Roy? — ela aparece na porta do escritório — O que faz aqui? — meus olhos ardem de ira.

— Você ainda tem a coragem de me perguntar o que eu faço aqui? — fecho as mãos em punhos.

— Pensei que estivesse no hospital. Como a Ana está? — dá um passo em minha direção. Preencho o espaço entre nós e a seguro pelos braços. Um gemido de dor sai de seus lábios —

— VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE FEZ? TEM NOÇÃO DE QUE QUASE MATOU O MEU FILHO, E POR SUA CAUSA, A MINHA ESPOSA ESTÁ ENTRE A VIDA E A MORTE NESTE MOMENTO? — grito em plenos pulmões.

— Me perdoe, Roy! — leva as mãos a boca e começa a chorar — Eu passei dos limites! Sinto muito!

— APOSTO QUE JÁ TINHA PLANEJADO TUDO ISSO! VOCÊ NÃO TEM SENTIMENTOS, LOUISE! — Solto-a com desprezo e dou alguns passos para trás, ou faria alguma loucura — Eu não quero que você se aproxime de mim ou da minha família nunca mais! Esqueça que nós existimos! Caso contrário, juro que não responderei por mim!

— Roy...

— E se alguma coisa acontecer com a Clara... — engulo em seco e aponto em seu rosto — Você irá responder, diante da lei, pelos seus atos inconsequentes. Então ore para que a minha esposa se recupere o quanto antes, pois nenhum advogado da Chanel será capaz de te livrar dessa. Devo te lembrar que sua família não é a única influente aqui na França! — ameaço-a, mesmo sabendo que só de fazer isso estou perdendo a razão.

— O que está acontecendo aqui? — Andrew desce a escada depressa — Roy! Como está a Ana? — ele se aproxima, lançando um olhar de desgosto para a irmã, que se encolhe — Estava terminando de me arrumar para te encontrar no hospital.

— Graças a sua irmã, ela não está nada bem. — sento no último degrau da escada e enterro o rosto nas mãos — Eu não posso perde-la, Andrew! Ela é o amor da minha vida!

Ele me abraça lateralmente.

— Eu não sei nem o que dizer, cara! Minha irmã se superou em suas idiotices. Meu pai já está sabendo e ficou irado. Deve estar chegando a qualquer momento. O que podemos fazer para ajudar vocês?

— Orar!

— Pode deixa! Estamos juntos nessa, irmão! — aperta meu ombro.

Meu celular tocar no bolso. Pego-o rapidamente e atendo sem ver o chamador.

— Alô?

— Filho! Onde você está? Precisa voltar para o hospital. — sua voz é séria — Eu sei que não está conseguindo lidar com os sentimentos no momento, mas nós estamos aqui para te ajudar! Você não está sozinho nessa! —suspira — Não cometa o mesmo erro que eu. A sua esposa e o seu filho precisam de você, Roy!

>>>><<<<

Capítulo fofo e tenso para iniciarmos a semana?? Temos sim!! 🥺 Estou super preocupada com a Clara, mas confesso que também estou muito feliz com o nascimento do baby Carter 😍🥰 E o Roy, meu povo... seu estado é de partir o coração! O coitado está arrasado 😔 Queria poder consola-lo 😫

Att.
NAP 😘

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