Capítulo 36

Roy e eu passamos boa parte da madrugada acordados conversando sobre os novos planos para minha vida profissional. Entramos em um consenso de que antes de aceitar a proposta de Jeanne, precisaria finalizar o meu trabalho na Chanel.

Deus, a própria sabedoria, permitiu-me tomar essa decisão em um período mais tranquilo na empresa. Pós-PFW. Os nervos já estavam acalmados e os sorrisos carimbados nos rostos da maior parte dos funcionários naquela manhã de segunda. Sem perder tempo, vou direto para a sala do CEO. Segundo Emma, ele já estava na empresa.

— Bom dia! — saúdo a secretária de Alain.

— Bom dia, senhorita Bianchi! O senhor Wertheimer está a sua espera.

Agradeço e entro na sala. Ele falava ao telefone, mas se despede da pessoa assim que me vê e finaliza a ligação.

— Ana, como você está? — vem ao meu encontro preocupado — Liguei para você ontem, mas o Roy atendeu e pediu para conversarmos melhor aqui. Ele me garantiu que você estava bem e que não tinha se ferido no sábado.

— Sim! Estou bem sim! Foi uma situação um pouco caótica, mas já passou. E pelo visto foi até favorável para que todos descobrissem quem a Lina realmente é.

Seguimos para o pequeno espaço de estar e sentamos nas poltronas, um de frente para o outro.

— Exatamente! Como tinha dito a você, tudo viria à tona! Nada ficaria oculto! — ergue um dedo — E pode ficar tranquila, pois a Chanel irá te indenizar por tudo o que aconteceu. Desde as acusações até a noite de sábado. E você receberá por todos os dias que ficou sem trabalhar.

— Agradeço, senhor Wertheimer, de verdade! Mas creio que não seja neces...

— Nem tente discordar, Ana! São os nossos princípios e valores! Tudo o que disse irá acontecer. — apenas assinto. Ele levanta da poltrona e caminha até sua mesa. Pega o telefone e digita um número — Judite, nos traga café por favor. — finaliza a ligação e volta para o seu lugar — Bom, você desejava falar algo comigo, certo?

— Sim, por isso estou aqui! — endireito minha postura e tento ser a mais sucinta e objetiva possível — Eu quero agradecer ao senhor por ter me dado a oportunidade de viver essa experiência incrível e inesquecível que tive aqui na Chanel. Era a minha maior realização profissional, e aconteceu bem antes do que eu imaginava. — sorrio com sinceridade — Porém o meu tempo aqui chegou ao fim. Tenho outros objetivos e sonhos para trilhar. Para viver um, preciso abrir mão de outro, e essa foi a minha decisão.

Ele une as mãos e fica em silêncio. Começo a ficar apreensiva. Sua secretária bate a porta, no memento em que ele estava prestes a falar. Os cafés são servidos e eu trato de beber o meu.

— Sinceramente, Ana, não vou dizer que entendo. — bebe um pouco da sua bebida — No entanto, a decisão é sua, e creio que você sabe o que é melhor para a sua vida. — sorri e assente — Foi uma grande honra e um prazer tê-la na Chanel, dando o seu melhor em prol da empresa. O meu sincero desejo é que você tenha muito sucesso na vida! Profissional e pessoal. Volto a repetir, o Roy foi abençoado em ter uma esposa como vocês!

— Agradeço, Alain!

— Irei agora mesmo organizar as papeladas para a sua demissão e assim que tudo estiver pronto, te ligo. — se põe de pé — Dê um abraço em Roy e na Em, por favor!

— Pode deixar! Mais uma vez agradeço por tudo! — cumprimentamo-nos rapidamente e logo saio de sua sala.

A primeira pessoa com quem converso é a Emma, que se entristece e até chora com minha saída, mas também deseja o melhor para mim. Despeço-me dos outros funcionários, que trabalharam comigo no setor de criação de uma das maiores empresas de moda do mundo. Não foi tão emocionante e difícil, como na Carolina Herrera, pois o tempo que trabalhei na Chanel foi muito curto, se comparado com o tempo que trabalhei na CH.

Tinha acabado de colocar o pé para fora da empresa quando a dor volta com tudo. Coloco as mãos na parte posterior da cabeça e solto um grito.

— Senhora, está tudo bem? — um dos seguranças vem me socorrer.

— Não! — digo de olhos fechados e me apoiando nele — Preciso ir ao hospital.

Pela misericórdia de Deus, o hospital mais próximo ficava há duas quadras de onde estávamos. Com o auxilio de outro funcionário, que nunca tinha visto antes na empresa, chego ao pior lugar do mundo. Nem penso em avisar ao Roy, ou ele estaria aqui em menos de cinco minutos.

Sou levada para a ala emergencial, onde espero pouco tempo antes de passar pela triagem e ser atendida.

— Ana Clara Carter! — o médico me chama e eu o sigo — Vejo que tem sentido fortes dores de cabeça. — diz lendo a descrição na folha de triagem. Assinto — Você costuma sentir fraqueza quando as crises acontecem?

— Nos últimos dias sim. — concordo.

— Últimos dias? — desvia os olhos do papel e me encara inexpressivamente — Há quanto tempo tem sentido essas dores?

— Por cerca de duas semanas, mais ou menos. — respondo automaticamente.

— Duas semanas? — ergue as sobrancelhas e eleva um pouco o tom da voz — E esta é a primeira vez que vem ao hospital após essas duas semanas? — assinto.

— Estava uma correria na empresa onde trabalho e...

— A sua saúde sempre deve vir em primeiro lugar. Sempre! — diz seriamente e volta o olhar para o papel — Sentiu perda de equilíbrio?

— Hoje sim! — assinto com a cabeça.

— Teve convulsões.

— Não. — engulo em seco, começando a me preocupar com o rumo da conversa.

— Ansiedade, desinibição ou depressão?

— Ansiedade. Como disse, tem sido um período muito estressante e cansativo. Será que isso poderia ser uma crise de ansiedade? — inclino um pouco o corpo em sua direção.

Ele retira os óculos e apoia na mesa.

— Pode! E espero que seja apenas uma crise mesmo.

— O que quer dizer? — apoio na mesa e não desvio meus olhos dos seus.

— Quero dizer que passarei alguns exames para você fazer, e só saberemos após o resultado deles. — suspira antes de se colocar de pé — Vamos?

— Sim! — antes de sair da sala eu o chamo — Doutor, — ele olha em minha direção — será que podemos fazer mais alguns exames? Faz tempo que não cuido da minha saúde como realmente deveria.

— Tudo bem, passarei alguns exames de rotina, fique tranquila! — assinto e sorrio forçadamente.

Meu celular toca e a imagem de Roy aparece no visor. Desligo na mesma hora.

— Seus pertences ficarão nesta sala. Tire a roupa e vista este roupão. — entrega-me a peça — uma enfermeira virá te auxiliar e a levará até o técnico. O resultado sairá amanhã de manhã, ainda estarei no plantão, então poderei te atender.

— Obrigada, doutor! — agradeço e ele sai.

Troco de roupa rapidamente e fico sentada esperando a enfermeira chegar. Pego o celular e mandou uma mensagem para o meu esposo dizendo que precisei resolver algumas coisas, mas que daqui a pouco iria para casa.

— Ana Clara Carter? — a enfermeira, com um sorriso simpático, aparece na porta.

— Sim! — levanto-me.

— Meu nome é Sofia e irei te auxiliar no processo do exame. Por favor me acompanhe. — pede após me dar algumas orientações.

— Sofia é o nome da minha irmã. — sorrio lembrando da minha sorella. Logo arregalo os olhos — Meu Deus! — exclamo assustando a moça que olha para trás e pergunta se estava tudo bem — Está tudo ótimo! Apenas esqueci que minha irmã chegará esta noite de viagem. — suspiro e ela ri.

Entramos em outra sala e o suposto técnico estava a nossa espera.

— Bom dia, Ana Clara! Me chamo Luige e eu irei fazer o seu exame.

— É um prazer!

— Preciso que me responda algumas coisas, ok?

— Claro! — assinto.

— Você tem asma ou algum tipo de alergia? — nego com a cabeça — Está grávida ou com suspeita?

— Não! — sorrio para ele.

— É diabética? — nego mais uma vez — Desta forma, podemos iniciar sua tomografia.

A enfermeira me auxilia a deitar na maca e me dá mais algumas orientações. O exame demora em torno de quinze minutos. Permaneci o tempo inteiro com os olhos fechados e louvando a Deus internamente. Minhas mãos e pés suavam. Sentia que se abrisse os olhos teria um grande risco de surtar ali dentro.

Após finalizara a tomografia, faço outros exames, dentre eles o de sangue e saio do hospital, com o objetivo de retornar no dia seguinte para buscar os resultados.

O aparelho toca. Retiro da bolsa e atendo.

— Oi, Dav! — saúdo meu primo.

— Fala, AC! Estou indo buscar a sua irmã no aeroporto. Tentei te ligar mais cedo, mas você não atendeu. Está tudo bem?

— Sim! — respondo. Ergo um braço no alto chamando um táxi — Tive uns contratempos e só estou indo para casa agora.

— Ainda vai dar para você ir comigo? — entro no veículo e passo o endereço para o motorista.

— Infelizmente não, Dav! Preciso preparar a janta. — e também preciso de um tempo para pôr a mente no lugar — Tem algum problema?

— Claro que não, priminha! Então nos vemos mais tarde!

— Até mais tarde!

Ligo para Charlotte e pergunto se ela realmente pegaria a Emily na escola. A mesma disse que a levaria para almoçar e depois para o ballet. Suspirei aliviada mais uma vez.

A primeira coisa que faço ao chegar em casa é jogar minha bolsa em qualquer canto e dobrar os meus joelhos.

— Pai, o senhor me conhece por completo! Conhece minha mente, meu coração e meu corpo. Eu não sei o que tem acontecido comigo, mas eu clamo para que não seja algo sério. Não sei se suportaria passar por mais alguma coisa em tão pouco tempo! — começo a chorar — Me desculpe por estar me preocupando antes mesmo de pegar o resultado, é o meu lado humano. Mas, Pai, eu confio em Ti! Sonda o meu coração, esquadrinha a minha mente! Independentemente do resultado desses exames, eu continuarei confiando em Ti.

Após fazer minha rápida, porém sincera, oração, subo para tomar um banho e colocar uma roupa mais fresca. Ao som das canções do Ministério Zoe, começo a preparar o jantar de boas vindas da minha irmã. Seria um novo tempo, não apenas para mim, mas para Sofia também.

Ela estava passando por muitas incertezas e indecisões. Há um ano e meio, iniciou a faculdade de psicologia, entretanto, desistiu no período seguinte dizendo que não era aquilo que desejava. Cogitou fazer fisioterapia, mas desistiu ao ver as matérias que compões a estrutura curricular.

Quando dei a ideia para que ela viesse morar em Paris, era justamente para que minha irmã conseguisse ampliar os horizontes e, quem sabe, encontrar o que tanto procurava.

— Cheguei! — desperto de meus pensamentos com a chegada da pequena, que corre em minha direção e eu a recebo com um abraço apertado.

— Como foram as aulas, meu amor? — pergunto depositando um beijo em sua testa.

— Cansativas! — dá de ombros e senta na bancada — Hoje na aula de matemática aprendemos sobre fração. Muito chato!

— Em contrapartida, aposto que se divertiu bastante na aula de ballet. — Charlotte se aproxima me envolvendo em um abraço lateral — Como vai, minha querida?

Estranhamente, aquela pergunta atingiu meu coração e eu comecei a chorar. As duas, que não esperavam tal reação, vieram me abraçar.

— Por que está chorando, Clarinha? — Emily pergunta com a voz embargada — Por favor, não chora!

— Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, é apenas isso! Mas estou bem! — enxugo as lágrimas e olho para Charly. Seu olhar dizia que não acreditava em mim. Desvio os meus para as panelas no fogão e forço um sorriso — Não sou tão boa na cozinha como o Roy, mas tenho certeza que a comida está maravilhosa!

— Clarinha, já disse que sua comida é melhor que a do meu irmão! Falando nele, esqueci de lavar as mãos quando cheguei.

Dito isso ela sai correndo, nos deixando a sós.

— O que tem te afligido, criança? — nossos olhos se encontram e eu respiro fundo para não voltar a chorar.

— Para ser sincera, ainda não sei! — dou de ombros e solto uma pequena risada — mas seja o que for, Deus está no controle.

— Vovó! — ao ouvir a voz de Roy, meu coração parece se acalmar automaticamente — Que surpresa! Não sabia que ficaria para o jantar.

— Para ser sincera, não ficaria, mas esta comida está me deixando faminta! — os dois se cumprimentam com um agraço materno — Como você está, meu querido?

— Muito bem! — ele se afasta da avó e vem ao meu encontro com um lindo sorriso no rosto. Suspiro apaixonadamente antes de envolver seu pescoço com os braços e unir nossos lábios — Senti sua falta! — apenas assinto e volto a abraça-lo. Se eu abrisse a boca desabaria novamente. Minhas emoções estavam completamente descontroladas.

Abro os olhos e me deparo com Charlotte analisando meu rosto com preocupação. Não dá para esconder absolutamente nada desta senhora.

>>>><<<<

Até segunda! ♥️

Att.
NAP 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top