Capítulo 33

Há dois meses minha irmã me ligou avisando sobre sua mudança para a França. Quase surtei com o suspense dessa garota ao nos dar a notícia. Realmente imaginei que alguma desgraça tinha acontecido com minha família.

Hoje, falta apenas uma semana para sua chegada. Sofia estava uma pilha de nervos e, praticamente, todos os dias me ligava para despejar seu estresse em mim. Como se já não bastasse minha dose de estresse diário chamada Chanel, principalmente com o evento mais esperado do ano chegando

Para piorar a situação, o desfile da Chanel na Paris Fashion Week acontecerá dois dias antes da chegada da minha irmã em Paris. Mal teria tempo de ver um novo apartamento para ela. Como esperado, o último mês estava sendo uma loucura na empresa. Todos os funcionários, sem exceção, viviam estressados, o que acabou sendo claramente refletido no péssimo humor dentro da Chanel.

Passei a chegar em casa bem mais tarde. Na maioria das vezes, Emily já estava dormindo. A exaustão dominava meu corpo e mente. Tornou-se rotina ir dormir com a cabeça latejando.

Apenas um dia, durante a semana, eu me obrigava a sair do trabalho no horário normal, quarta-feira. Toda quarta, minha família e eu, juntamente com o restante da família Carter, íamos adorar ao senhor juntos. Roy também ministrava o louvor em nossa igreja. E era um dos momentos, no meio da semana, em que minhas forças eram renovadas, assim como minha fé.

Não foi diferente com o culto de hoje. Estávamos prestes a sair do templo quando a voz do pastor Johnny chama nossos nomes.

— Roy! Ana! — o pastor corre em nossa direção — Que bom que consegui alcança-los! — diz controlando a respiração — Eu sei que já está ficando tarde, mas será quempoderíamos conversar rapidamente?

Assentimos. Chloé, esposa do pastor, disponibiliza-se para cuidar da pequena Em enquanto conversávamos, visto que o restante da nossa família já tinha ido embora. Ele nos conduz até seu gabinete, onde nos acomodamos.

— Não irei enrolar. — senta-se a nossa frente, do outro lado da mesa — Os demais pastores e eu estivemos orando e conversando a respeito do que acontecerá com a mocidade quando os líderes atuais se mudarem para a Rússia. Nossos jovens precisam ser muito bem cuidados, e não podemos fazer essa escolha de acordo com o que achamos ser o melhor. A liderança em peso concordou que você trabalhou muito bem com os jovens na época em que houve a última mudança, há alguns anos.

— Oh! — Roy se ajeita no lugar ao meu lado.

— Desta forma, pensamos em vocês para assumirem a liderança dos jovens da nossa igreja.

— Nós? — arregalo meus olhos, quase saltando da cadeira.

— Sei que será algo novo para você, minha filha. Porém não foi uma decisão pautada apenas na vontade de homens. Nós levamos esta questão a Deus. Oramos, jejuamos e o Senhor, com sua infinita misericórdia, nos confirmou.

Troco olhares com Roy, mas permaneço em silêncio.

— Como pastor presidente desta igreja, faço o convite, mas cabe a vocês aceitarem o chamado de Deus nas suas vidas. — sorri gentilmente apoiando as mãos cruzadas sobre a mesa — O nosso Senhor capacita a quem Ele chama.

— Amém! — Roy diz se colocando de pé — Ficamos muito honrado pelo convite pastor Jonh. Minha esposa e eu iremos conversar e orar antes de darmos uma resposta.

— Tudo bem, meu filho! Qualquer coisa basta entrar em contato comigo. — estende a mão para nos cumprimentar — Deus abençoe a semana de vocês!

***

Ajeito o lençol sobre o corpo de Emily antes de desligar a luz do abajur e sair do quarto. Fecho a porta e sigo até o meu quarto. Paro em frente ao escritório ao perceber que a luz está acesa. Bato na porta e Roy me convida para entrar.

— Ainda vai trabalhar? — ele nega com a cabeça. Caminho até ele e levo minhas mãos aos seus ombros — Está tenso. Preocupado com alguma coisa?

— Não sei ao certo. — fecha o notebook e apoia os cotovelos na mesa, unindo as mãos.

— É sobre o convite do pastor Jonh, não é?

— Exatamente! — vira a cadeira nos deixando frente a frente.

Sento-me no pequeno sofá e cruzo as pernas.

— Não duvido que esta seja a vontade e o tempo de Deus para nossas vidas. O problema é que isso me assusta um pouco. — dou de ombros e Roy coça a cabeça — Há muito tempo não participo ativamente na igreja. Eu fui criada no evangelho, já fiz parte do grupo das crianças, dos adolescentes, da juventude e até mesmo do grupo de coreografia, quando entrei para o balett. Porém eu era muito nova. Não sei se conseguiria fazer isso hoje. — pressiono meus lábios.

Roy se inclina e segura uma das minhas mãos.

— Está mesmo me dizendo que você consegue liderar um grupo grande de estilistas, designs, costureiros, mas não conseguiria liderar um grupo de jovens? — ergue a sobrancelha.

— Não é a mesma coisa! Eu estudei anos e tive muita experiencia na área antes de estar na posição que estou. — defendo-me.

— Entendo. E sei também que não é fácil lidar com jovens, por experiência própria. — Roy se levanta e senta ao meu lado — Por outro lado, como o pastor mesmo disse, quem nos capacita é Deus. Eu me lembro sempre da história de Moisés e Jeremias que temeram o chamado de Deus em suas vidas. Às vezes a gente pode até pensar que não sabemos falar, que somos muito jovens, sem experiência, mas Deus dá garantia aos que chamam. Ele promete estar ao nosso lado em todo o tempo, para nos direcionar e colocar as palavras em nossas bocas. Somos apenas instrumentos que Ele mesmo quer usar para alcançar e abençoar outras vidas. Não podemos negligenciar nosso chamado.

— É verdade! — concordo — E outra, não estou afim de ser engolido por um peixe — brinco fazendo referência a Jonas e Roy ri — Brincadeiras a parte. — seguro suas mãos — Eu estarei com você no que decidir. Somos um. Se esta é vontade do Pai, faremos isso juntos.

Naquela mesma noite dobramos nossos joelhos e clamamos a Deus, buscando a confirmação do querer dEle para nossas vidas. E assim o faríamos até receber a resposta do alto.

***

Era sexta-feira, um dia antes do desfile da Chanel na PFW. Saí da empresa no horário normal sem prestar contas a ninguém, apenas Emma sabia sobre meu compromisso. Se fosse em tempos diferentes, provavelmente, sairia do trabalho tarde da noite sem me importar com a vida fora do trabalho.

Porém depois de Deus, hoje, a prioridade é minha família, e nesta noite Emily faria sua primeira apresentação pelo Studio Laviolette na famosa Ópera de Paris. Roy, Dominic, Charlotte e eu estávamos na primeira fila prontos para assistirmos a nossa pequena bailarina brilhando no palco.

As luzes diminuíram e logo o evento começou. O primeiro grupo de bailarinas a aparecer é de uma turma composta por crianças mais novas que a turma da Emily. Meu coração batia forte no peito. Toda vez que ouvia, via ou sentia algo relacionado a balett eu lembrava de tudo o que um dia sonhei. Era inevitável pensar em como seria minha vida se eu não tivesse aberto mão dos meus sonhos...

— Lá está ela! — Charlotte sussurra apontando em direção a mais linda das bailarinas.

A pequena bailava com leveza e com o coração. Os movimentos de Emily eram precisos, perfeitamente ensaiados e aprimorados com o tempo. Tive a oportunidade de assistir a algumas aulas da Jeanne e constatei que ela é uma excelente profissional e professora.

Lágrimas de alegria rolam pelo meu rosto. Sentia-me uma mãe babona. Em certo momento da apresentação, vi meu esposo esfregando o olho rapidamente. Tenho certeza que não foi por causa de um cisco.

Ao fim do espetáculo, a plateia se põe de pé aplaudindo com vontade o belíssimo show dado pelos dançarinos mirins.

— Clarinha, como eu me saí? — Emily pergunta com animação após se juntar a nós.

— Você estava perfeita, meu amor! Me emocionei do começo ao fim! — encho seu rostinho maquiado de beijos e ela solta uma gargalhada gostosa que me dá vontade de apertá-la ainda mais.

— Em, temos tanto orgulho de você, minha princesinha! — Charly comenta chorando.

— Gostou, Do... papai? — pergunta com receio. Era a primeira vez que Dom assistia uma apresentação da filha.

Ele se abaixa ficando da altura dela.

— Eu amei, filha! — responde acariciando seus cabelos — Você era a mais linda de todas!

Ela agarra o pescoço do pai e enterra o rosto no mesmo.

— Obrigada por ter vindo!

Seguro a mão de Roy, que observa a cena emocionado. Ele me abraça lateralmente e beija o alto da minha cabeça.

— Ro, faltou a sua opinião! — põe as mãos para trás e chuta o ar.

— Bem, — começa a dizer, porém é interrompido pela chegada de Jeanne.

— Olá, família! — cumprimenta em um tom amável — Estamos muito felizes com a presença de vocês! Esperamos que tenham gostado da apresentação. A Emily deu o seu melhor em cada ensaio e se saiu muito bem! — Em alarga o sorriso mostrando todos os dentes.

— Foi sensacional, Jean! Posso dizer por todos! — digo com sinceridade.

— Fico lisonjeada em receber tal elogio vindo de você, Ana! — sorri gentilmente — Falando nisso, será que poderíamos conversar?

— Claro! Volto já! — beijo a bochecha de Roy antes de segui-la para um dos camarins.

— Então, eu nem sei por onde começar, na verdade. — fecha a porta atrás de nós — Como já disse anteriormente, a sua filha vive falando de como você é uma ótima bailarina. Eu fiquei pensando em algo e decidi tirar minha dúvida diretamente com você.

— Fique à vontade.

— Você é uma bailarina profissional ou só dança por hobby? — seu jeito me lembra um pouco o da Em. Envergonhada, mas ao mesmo tempo agitada.

— Bom, para dizer a verdade, Jeanne, eu não sou uma bailarina. Não me considero como tal por ter parado de dançar há anos. Este era o meu grande sonho de menina, mas não aconteceu. — sorrio um pouco sem jeito — Hoje eu sou estilista e, infelizmente, não danço mais.

— Sinto muito por isso, Ana. — seu olhar é de pena. Não suporto esse tipo de olhar. Dou de ombros — E você gosta do seu trabalho?

A única pessoa que um dia me fez essa pergunta, há alguns anos, foi o meu esposo. E mais uma vez ela me pega desprevenida.

— Não! — admitir isso em voz alta, mais uma vez, me causa uma sensação estranha. Algo não estava mais se encaixando. Talvez nunca esteve encaixado realmente.

— Não nos conhecemos há tanto tempo assim, mas gostaria de lhe propor algo. — volto à realidade com sua voz — Estamos precisando de uma nova professora, e bailarina, no studio.

— Eu não sou...

— Por favor, deixe-me lhe explicar! — toca meu ombro com delicadeza — Você seria treinada antes de qualquer coisa. Eu ficarei responsável por isso. Desculpe minha inconveniência, Ana, mas onde você trabalha?

— Chanel.

— Nossa! — exclama realmente surpresa — Uau, acho que qualquer proposta que eu te faça, o salário nem chegará aos pés do que você deve receber. — abro um sorriso envergonhado — De qualquer forma, será um bom salário.

— Olha, Jeanne, eu não sei nem o que dizer!

— Não diga nada agora! Apenas pense com carinho. — sorri abrindo a porta novamente — Se a proposta lhe agradar, basta entrar em contato comigo. — entrega-me um cartão de visita.

— Pode deixar! — analiso o papel antes de colocá-lo na bolsa.

— Agora deixarei você voltar para sua família! — toca minhas costas.

— Por falar em família, — viro-me para ela — A Emily n... — pondero por alguns segundos antes de abrir um sorriso verdadeiro — A Em é uma filha incrível!

>>>><<<<

Aposto que a Sofi deixou todo mundo com uma pulga atrás da orelha. E acabou que era uma coisa muito boa 😅 pelo menos o David deve achar isso... Agora, esta autora tem uma pergunta a fazer aos queridos leitores e anseia por respostas! Seus corações estão preparados para fortes emoções? Quem leu UPUP, em algum momento se deparou com essa mesma pergunta e sabe que em seguida veio lapada atrás de lapada. Enfim, até o próximo capítulo 🌟

Att.
NAP 😘

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