Capítulo 11

— Eles não têm um pingo de noção! Estou cansado desse povo que só sabe encher o meu saco. — David resmunga ao lado do primo enquanto derrama suas lamúrias acerca de alguns clientes.

— Que coincidência, parece que eles souberam escolher o segurador ideal — abro um sorriso torto. —Dav me lança um olhar mortal, ao mesmo tempo que Dom e Roy riem do mesmo.

— O que quer dizer com isso, priminha?

— Pensei que fosse inteligente, priminho! — pisco para ele.

— Vejo que seu humor melhorou bastante. — sorri largamente — Tenho certeza que o motivo tem nome e sobrenome.

— Não começa! — murmuro me levantando da mesa onde estávamos sentados.

— Quem começou dessa vez foi você!

— Quer beber algo, amor? — trato de ignora-lo.

— Não! Obrigada, meu bem! — Roy responde achando graça da situação.

— E você, Dom? — Pergunto ao meu sogro.

— Obrigada, Ana, mas meu copo ainda está cheio.

— Certo... — viro-me para ir até a cozinha da casa.

— Ei! Não está esquecendo de alguém? — prendo uma risada e viro o rosto em direção ao David, que me olha com uma cara de pidão.

— Tem razão! Acho que a Emily deve estar sedenta de tanto correr e brincar por aí.

Dou as costas para os três e só escuto as risadas.

— Querida, está se divertindo? — Charlotte pergunta ao entrar na cozinha, pouco depois de mim.

— Estou sim, Charly! — sorrio e lhe ofereço um copo com suco de abacaxi.

— Obrigada! — agradece ao pegá-lo. Ela bebe um gole antes de falar sorrindo — É bom ter o nosso Roy de volta, não é?!

— É maravilhoso! — digo olhando para a mesa onde o meu noivo e os outros dois continuam sentados rindo, provavelmente de alguma palhaçada dita por David.

— Desculpe-me a intromissão, Ana, — diz com cautela, talvez ponderando se comenta ou não — mas eu imaginava que você ficaria mais contente com a chegada do meu neto. Entretanto, você parece um pouco dispersa e... triste?

Solto um suspiro e bebo um gole da minha bebida antes de olhar para a astuta senhora ao meu lado. Deveria imaginar que nada passa despercebido diante de Charlotte.

— Estou tendo alguns problemas no trabalho.

— Problemas? Que tipo de problemas? — apoia o copo de vidro na bancada de mármore branco e me dá ainda mais atenção.

— Não sei se este é o local e o momento ideal para conversarmos sobre isso — desvio o olhar para a festa de aniversário que rolava a todo vapor no lado externo.

— Ana, o momento ideal somos nós quem criamos. — ela toca o meu braço — Venha, vamos lá para cima.

Penso por um instante antes de ceder ao seu pedido. Charlotte sobe a escada e eu a sigo em silêncio. Sou conduzida até uma pequena biblioteca localizada perto da área privativa.

— Pronto, aqui teremos privacidade e sossego. — sorri, oferecendo-me uma das poltronas para que eu sente. Agradeço e o faço.

— Bom, não irei enrolar. Sei que você não me deixará sair daqui até que lhe conte tudo. — ela assente e toma o lugar a minha frente — Ontem eu fui acusada de passar informações privilegiadas a outra empresa.

Ela se espanta por um segundo, mas recobra a postura.

— Isso é uma acusação muito séria! Eles ao menos têm provas? — franze o cenho.

— Infelizmente, sim. Parece que as informações foram enviadas através do meu e-mail na manhã de ontem.

— E o que eles fizeram com você?

— O Alain me afastou temporariamente da empresa até que eles analisem todas essas informações. — sinto meus olhos arderem — Agora eu não tenho nem a chance de analisar por mim mesma essa situação. Estou afastada da Chanel e sem meu computador, o único local onde meu e-mail fica logado.

Levanto-me e ando até a janela.

— Acalme-se, Ana! As coisas irão se resolver, você vai ver, querida! Se quiser, podemos ver um outro jeito de tentar arranjar informações.

— Mas como? — lanço um olhar interrogativo — Não vejo outra alternativa. Quer que eu invada a Chanel no meio da noite?

Charlotte solta uma gargalhada e se levanta, vindo para o meu lado.

— Não mesmo! — toca meu ombro — Você disse que o e-mail foi enviado na manhã de ontem.

— Sim. — respondo sem interesse.

— Podemos começar por aí. — ergo uma sobrancelha — Você sabe exatamente o horário que o e-mail foi enviado?

Tento me recordar das informações contidas nos papeis que Louise praticamente jogou em cima de mim.

— Não tenho certeza, mas acho que foi às 9:28 da manhã.

— E o que você estava fazendo neste horário? — pega um bloquinho de papel e uma caneta em cima da mesa e volta a sentar na poltrona.

— Não lembro, Charly! — Respondo frustrada, indo ao seu encontro.

— Force sua mente, querida. — pede enquanto escreve algo no papel.

Faço isso por uns segundos, então me recordo de algo. Pego o celular rapidamente e vejo o histórico de ligações. Às 9:31 eu estava em uma chamada com um parceiro espanhol. Então por volta das 9:28 eu estava chegando à cede da Chanel.

— Acho que esse horário eu estava chegando à empresa, Charly. — arregalo os olhos.

— Tem como provar isso? — questiona tirando os olhos do papel e fitando os meus.

— A Chanel é rodeada por câmeras de segurança! — Alargo o sorriso e me levanto.

— Não fique muito animada! — pede, fazendo um gesto para que eu me sentasse novamente — ainda temos outras questões que precisam ser analisadas.

— Certo! — sento-me, bem mais animada e motivada.

— Próximo ponto, — olha para o papel mais uma vez — quem teria acesso ao seu computador?

— Bom... — apenas uma pessoa teria acesso diário ao meu computador — a única pessoa que tem acesso é a Emma.

— Emma? — Charlotte arregala os olhos espantada — Emma Cass?

— Sim. Ela é a minha secretária.

— Conheço a Emma há anos. Ela era a secretária da Zoe quando trabalhava na Chanel. — diz com certa incredulidade — A minha filha nunca teve problemas com ela, pelo contrário, sempre dizia que era uma das poucas pessoas na Chanel que ela podia confiar, assim como o Alain.

— E eu penso o mesmo. No entanto, não a conheço como a minha sogra conhecia. — fecho os olhos e esfrego o rosto com as mãos — Não é possível! Deve haver outra explicação.

— Você saberia dizer onde a Emma estava neste horário?

— Não exatamente. — volto a encarar Charlotte — Assim que cheguei ao nosso andar, ela veio ao meu encontro.

— E você acha que daria tempo de ela enviar o e-mail e esconder as evidências nesse meio tempo.

— Não! — digo sem ao menos pensar, pois era praticamente impossível.

— E você percebeu algo diferente em sua sala naquela manhã?

— Nossa, Charlotte, isso está parecendo um daqueles programas de investigação. Estou me sentindo em um interrogatório. — jogo meu corpo no encosto da poltrona.

— Só estou tentando ajudar, querida. — abre um pequeno sorrido — E então? Algo diferente?

Penso mais um pouco e volto a me sentar ereta.

— Na verdade, sim! — engulo em sego — O cabo do meu computador estava conectado na tomada, e eu costumo desconectá-lo sempre que saio da sala. Assim como a Emma.

— Você acha que ela poderia ter esquecido?

— Talvez. Na pressa de sair da sala...

Um silêncio toma conta do lugar. Nenhuma de nós duas queríamos acreditar nesta possibilidade. Porém era a que mais fazia sentido naquele momento.

— Não lembra de nada mais estranho?

— Deixa eu pensar. — levanto e caminho de um lado ao outro. Já começo a sentir a cabeça latejando de leve. Pressiono-a com os dedos. Repasso aquela manhã diversas vezes até que me lembro de outro detalhe. Um detalhe que não deveria ter passado despercebido.

— Aconteceu outra coisa! — Charly levanta e vem até mim — No momento em que Emma e eu estávamos entrando na nossa sala, encontramos uma funcionária saindo de lá. — travo o maxilar — Como pude ter sido tão idiota? Mas isso não vai ficar assim!

Vou até a poltrona, pego o celular e procuro o contato na minha agenda.

— O que irá fazer, Ana?

Coloco o aparelho no ouvido e controlo a respiração. Um toque, dois toques...

— Alô?

— Lina? — pergunto com certa fúria.

— É ela. — responde com tranquilidade — Quem está falando?

— Ana Clara. Ana Clara Bianchi.

— Ah... Oi, senhorita Bianchi. — muda o tom — A-aconteceu alguma coisa?

Seu nervosismo denuncia que minhas suspeitas estão corretas.

— Não! — digo rápido demais — Na verdade, gostaria de saber se o nosso almoço está de pé na segunda.

— Ah, sim! Claro. — responde com mais naturalidade.

— Onde iremos nos encontrar? — pergunto olhando para porta da biblioteca, no momento em que ela é aberta revelando um Roy confuso e preocupado, olhando da avó para mim.

— Que tal no restaurante japonês que fica próximo da empresa? Sabe onde é?

— Sei sim. — Roy fecha a porta e se aproxima de mim devagar.

— Se você quiser posso passar em sua sala para irmos juntas.

— NÃO! — grito e volto a me controlar — Não será necessário, pois eu estarei na rua resolvendo algumas coisas.

— Tudo bem! Então nos vemos na segunda ao meio dia.

— Até lá! — desligo a ligação em seguida — Na segunda irei tirar essa história toda a limpo. — olho para Charly ela me olha com preocupação.

— Tem certeza, Ana?

— O que está acontecendo aqui? — Roy pergunta completamente confuso.

— Acho que descobri quem é a verdadeira informante da Chanel. — conto para eles o que tinha acontecido naquela manhã, e como foi um pouco suspeito, visto que não tínhamos proximidade alguma para ela querer almoçar comigo — Acredito que esse convite foi uma desculpa para justificar sua presença na minha sala.

— Tem razão. Isso está muito estranho, amor. — Roy se senta ao meu lado, segurando minha mão — Mas acho que é um pouco arriscado você ir sozinha encontrar essa mulher. Se eu não tivesse que ir na empresa amanhã, iria com você.

— Não se preocupe, Roy! — acaricio sua mão e ofereço um sorriso — Tenho certeza de que não estarei sozinha. — olho para Charlotte — Charly, não sei nem o que dizer! Muito obrigada pela grande ajuda.

— Ah, querida! Eu que fico feliz em poder ser útil. Acho que já posso mudar de profissão. — diz dando risada e se pondo de pé.

— Bom, acho melhor descermos e aproveitarmos o restante da festa. — suspiro também me colocando de pé.

— Sim, a Emily estava procurando por vocês. — Roy nos direciona para a porta.

— Senhor! Essa menina estava parecendo um furacão. Não parava um segundo. — a avó comenta com pesar.

— Veja pelo lado positivo, Charly. Mais tarde ela vai bater na cama e dormir rapidinho. — pisco para ela que concorda rindo.

***

Após o fim da festa, ajudava David e Roy a levar os presentes de Emily para o seu quarto. Dominic chama o filho para auxilia-lo com algumas coisas.

— AC, — olho para Dav, ele para o que está fazendo e respira fundo — o Roy me contou o que aconteceu com você ontem. Eu sinto muito por tudo isso!

Assinto e dou de ombros.

— Espero poder resolver isso na segunda-feira.

— Tome cuidado! Esse pessoal é espertalhão e não costuma brincar em serviço. — lembro-me do que ele me dissera em minha primeira viagem à França.

— É verdade mesmo que você trabalhará para o Alain?

— Isso mesmo! — digo sorrindo.

— Boa sorte! Apenas não se iluda com aquele pessoal! — toma um gole do seu café. Espero que ele continue, mas nada sai dos seus lábios. Resolvo ignorar seu comentário.

— Mas saiba que pode contar comigo, e com a nossa família, para o que precisar. Estamos ao seu lado e sabemos que você não fez nada disso.

— Obrigada, David! É muito importante saber que existem pessoas que acreditam em mim, além da minha família. — agradeço sentindo a emoção invadir meus olhos lacrimejados.

— Somos praticamente da mesma família, não poderia ser diferente. — diz tocando o meu ombro.

— David? — olhamos para a porta de entrada, onde Giovanna fitava o homem ao meu lado com certo receio.

Dav resmunga algo e dá um passo em direção à mulher, mas eu seguro o seu braço. Ele me olha com o cenho franzido.

— Se precisar de ajuda com essa aí, é só falar! — digo com seriedade. Ele abre um sorriso largo.

— Pode deixar, qualquer coisa eu chamo você e a Lau. Ela está doida para ter uma conversinha com a Gio.

— Pois eu também! — olho feio para a mulher que ainda permanecia parada a alguns metros de nós. Ela desvia o olhar para o chão — Vá lá, qualquer coisa grita.

David faz cara feia, mas se afasta em silêncio.

— Está tudo bem? — Roy se aproxima, envolvendo minha cintura com uma das mãos. Observamos os dois se afastando.

— Acho que ficará.

>>>><<<<

Capítulo extra hoje!! Eeeeeeh!! 🙌🏼🙌🏼😂😂
Não esqueçam da 🌟

Att.
NAP😘

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