𝗶. 𝘮𝘦𝘦𝘵 𝘵𝘩𝘦 𝘱𝘭𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘴

Dizer que o teatro foi a primeira paixão da Margaret parecia dramático, mas nem um pouco errado. Mesmo caratê sendo parte da sua vida desde que saiu pelas portas do hospital, e no dia seguinte estava em um dojô com o homem que considerava seu avô, a Larusso nunca sentiu que aquilo era algo só dela. Claro, quando você cresce com alguém para dividir tudo ─ até a aparência ─ fica difícil ter algo para chamar de "seu".

Por isso, quando as luzes quase a deixaram cega no palco e a melodia de "Belle" ─ trilha sonora do seu solo em Bela e a fera ─ começou a tocar pelo teatro do colégio no seu primeiro papel principal, ela sentiu borboletas no seu estômago. Ela nunca as sentiu antes, nem mesmo pela sua paixão de infância ou por algum famoso na televisão. Depois daquela apresentação, os aplausos da sua família a perseguiram pelo resto do ano até a próxima, e desde então esse ciclo se repete. Todo final de ano escolar a família Larusso marca no calendário da geladeira o "dia especial da mae", para que todos que entrem na cozinha saibam o orgulho que eles sentem por ela.

E todo verão ela passa ansiando pelo próximo espetáculo. Com o fim do verão, todas as músicas de "Meninas Malvadas" foram decoraradas pela Larusso, e mesmo sem saber qual seria o seu papel, ela esperava que pudesse interpretar uma das principais para participar das suas partes favoritas. Enquanto o musical repetia na tela do computador, a adolescente murmurava as letras ao mesmo tempo em que fazia carinho em Buggs, seu gato de estimação.

O animal foi resgatado pela adolescente a mais ou menos um ano. Ela estava voltando de um ensaio que durou mais do que ela pensava, e acabou encontrando um bolota de pelos cinzas em uma caixa de sapato na calçada da casa dos Larusso's. O gato não parou de miar pelas primeiras seis noites que dormiu na sala, apenas na sétima noite que Margaret resolveu levá-lo para o seu quarto, onde dormiu agarrada em Buggs em completo silêncio. Desde então ele quase dobrou de tamanho, até as suas orelhas ─ que antes eram redondinhas ─ ficaram pontiagudas e cheias de pelo, o que não mudou foi a sua obsessão pelo quarto da dona.

Ela nunca entendeu o motivo, pois seu quarto não tinha nada demais. As paredes de tom creme eram decoradas com luzes em formato de flores e pôsters da Broadway e alguns artistas ─ incluindo Hamilton e Wicked, seus musicais favoritos ─, perto da cama com lençóis brancos ficava a escrivaninha que ela estava sentada, que era onde ficava as principais coisas da sua rotina: suas maquiagens e o seu notebook. Fora essas coisas, nas gavetas estavam os seus livros escolares e romances, além dos itens de beleza que usava em todas as apresentações. Mais ou fundo do quarto, havia outra porta que dava acesso ao pequeno closet com as suas roupas e figurinos antigos.

Quem ela querida enganar? Até ela não sabia do próprio quarto! Buggy ─ como ela gostava de chamá-lo ─ tinha um cantinho especial ao lado da escrivaninha, com uma caminha macia e os potes de ração e água em formato de coração. Toda a família gostava dele, especialmente Anthony e Daniel, que eram os menos animados quando descobriram que a família ganhou um novo membro. Amanda se preocupa mais com a ração cara e os brinquedos que a filha compra para o animal, enquanto Sam tenta se aproximar do gato, mas em todas as oportunidades ela recebe um miado fino antes do mesmo sair correndo para longe dela.

─ Imagina se eu consigo o papel principal, Buggy? - Mae indagou, sua voz saindo mais fina enquanto abaixava a cabeça para cheirar o gato, que miou baixo mas não saiu do colo da dona.

Ela sorriu, voltando a olhar para o notebook e anotar alguns detalhes sobre as notas que deveria atingir em cada música, além das ideias que passaria para a sua professora assim que tivesse a chance.

─ Ae, Kyler, guarda a minha cerveja! - Uma voz grossa e irritante ecoou pelo corredor, fazendo a morena e o gato saltarem pelo susto.

Do lado de fora, Sam resolveu dar uma festa na piscina enquanto Amanda e Daniel não estavam em casa, uma ideia completamente influenciada pelas novas amigas da Larusso. Margaret não tentou se enturmar com eles dessa vez, estava cansada das mesmas piadas misoginas e flertes descarados, ela até pensou em ir atrás dos pais no clube, mas desistiu ao lembrar que teria que explicar o motivo, e ─ consequentemente ─ depurar Sam para eles.

─ Nojentos. - Murmurou, ao mesmo tempo em que Buggs rosnou na direção da porta, tirando uma risada orgulhosa da humana. - Isso mesmo, Buggy. Não vamos cair nos encantos desses ogros.

O gato miou em resposta, se aconchegando no colo da morena, e em segundos ela já escutou o seu ronco suave. Um sorriso saiu entre os seus lábios antes de voltar a assistir os cortes que encontrou de diversas variantes do musical. Seus olhos piscavam de forma pesada enquanto as músicas soavam em loop pelo quarto, consequências das noites mal dormidas e madrugadas que passou acordada lendo a saga de Percy Jackson.

─ O que tá acontecendo aqui? - Daniel gritou do lado de fora, fazendo Margaret pular na cadeira pelo susto.

Quando as engrenagens da sua cabeça voltaram a funcionar, seus olhos se arregalaram e ela não pensou duas vezes em colocar Buggs com cuidado na cama, e sair correndo até o primeiro andar, quase escorregando no caminho devido aos amigos mal educados da irmã que deixaram o corredor molhado ao sair da piscina.

─ Esse é o meu calção? - Daniel questionava um adolescente que acabará de sair da piscina no momento que a Larusso pisou do lado de fora. - Espere aí, todos estão usando meus calções? - Reformulou a pergunta, soando mais indignado.

─ Ah, você tá ferrada. - Mae zombou a irmã quando a mesma se aproximou dela com os braços cruzados e um bico nos lábios.

─ Ei, você sabia disso? - A indignação de Daniel voltou-se para a outra filha, ao mesmo tempo que Sam mostrava a língua para ela como resposta.

─ Eu?! - Olhou para ele em choque, apontando para si mesma. - Claro que não! Eu passei o dia no meu quarto. - Se defendeu enquanto algumas pessoas começaram a sair.

─ Olha, a festa acabou, pessoal! Vamos lá, tirem os calções e vão embora. - Daniel virou o rosto ao falar, mudando o foco para o principal problema. - Aqui não, gênio. Na casa da piscina. - Disse para um dos adolescentes que ameaçou se despir na frente deles, tirando uma careta de nojo das gêmeas.

─ Daniel, posso falar com você? - Amanda se aproximou deles, não dando chances para o homem negar o pedido ao puxá-lo pelo braço para a cozinha.

─ Eu te falei para não escutar as suas novas amigas. - Mae deu de ombros, analisando a situação da piscina com o nariz franzido pelo cheiro de cerveja barata.

─ Não preciso de outro sermão seu, Margaret. - Reclamou impaciente, jogando os braços do lado do corpo ao bufar. - Era só uma festa na piscina, não tinha nada demais.

─ Tirando o fato que você não pediu para os nossos pais. - Pontuou a outra, fazendo a morena olhá-la irritada. - Que foi? Você sabe que eles iam permitir a festa, eles não são monstros, Sam.

A garota não respondeu, saindo em passos apressados na direção do interior da residência, deixando a irmã para trás. Mae revirou os olhos, suspirando ao perceber que perdeu a sua irmã para as garotas populares sem ao menos perceber. Ela não culpava a irmã ─ embora parte de si quisesse trancar Sam em seu quarto até que o seu cérebro voltasse a funcionar como antes ─, pois caiu pelos encantos dos populares por metade do verão. Pelo menos nenhuma amizade foi negligenciada, já que todos os dias Mae ligava para Avery no acampamento de verão para saber as novidades. Nada mudaria a amizade delas.

• • •

Se Margaret pudesse escolher um lugar para passar o resto da sua vida, definitivamente seria a sua cama. Os lençóis e travesseiros nunca foram tão aconchegantes quanto naquela noite, talvez fosse o universo lhe dando um último momento de descanso antes da volta às aulas, mas a Larusso mal se importou com o que o universo estava preparando para ela quando abraçou um dos travesseiros enquanto assistia Riverdale no notebook. Ela não gostava da série, mas depois de passar trinta minutos procurando algo para assistir, ela tomou medidas drásticas.

Pelo menos é engraçado assistir o drama. Pensou, soltando uma risada baixa quando Jughead e Betty voltaram mais uma vez, pois a adolescente achava patético a forma como eles sempre acabam juntos de alguma forma. Quando ela estava prestes a desligar o aparelho para ir dormir, Margaret escutou duas batidas na sua porta antes que a cabeça de Amanda surgisse na pequena abertura. Sua porta nunca estava fechada, mesmo que seus pais não ligassem para isso.

─ Pode entrar. - Sorriu leve, se ajeitando ao colocar o notebook do seu lado com cuidado ao sentar de pernas cruzadas na cama.

─ Oi, Buggs. - Amanda cumprimentou o gato deitado na sua caminha com um carinho no topo da sua cabeça, logo se aproximando da filha. -Essa série é tão chata quanto os torneios do vale. - Julgou com uma careta engraçada, tirando uma risada da mais nova.

Margaret costumava obrigar os pais e os irmãos a assistir todo tipo de séries e filmes, a maioria eram indicações do pessoal do teatro, e muitas vezes eles não gostavam por ser "adolescente" demais para eles. Ela dizia que era bobagem dos adultos, mas no fundo sabia que um dia também irá odiar esses dramas bobos.

─ Não é tão ruim assim. É boa para passar o tempo. - Deu de ombros, sentindo a cama afundar levemente quando Amanda se sentou ao seu lado.

─ Bom, melhor gastar ele assistindo série do que pintando o seu cabelo outra vez. - Disse sugestiva, passando os dedos pelos fios de cor rosa que caíram do coque mal feito da Larusso.

─ Você sabe que eu odiava as piadas sobre o meu cabelo ruivo.

Ah, e como ela odiava! Já não bastava ter uma irmã gêmea que se encaixava em todos os padrões, até nos mínimos detalhes, era claro que a genética da família de Amanda iria para ela. Não que ela odiasse o seu cabelo ruivo, ela só achava irritante a forma que todos usavam aquilo para diferenciar as gêmeas de forma negativa. Margaret estava cansada de escutar as pessoas perguntando o que deu errado com o seu cabelo quando ela nasceu.

─ E desde quando você liga para o que falam sobre você? Você é uma Larusso. - Amanda a animou, sorrindo doce ao passar as mãos pelas bochechas da filha carinhosamente. - Seu cabelo natural é lindo. Minha prima ficaria feliz em se gabar por ter passado a genética dela para você.

─ Por isso eu sempre fui a favorita dela. Não é a toa que Anthony e Sam ganhavam roupas no Natal, enquanto eu recebia ingressos para ir no teatro.

─ São os privilégios de ser uma das poucas ruivas na família Larusso. - Contou revirando os olhos, dando um suspiro ao olhar para a filha novamente. - Seu pai me mandou aqui para descobrir se você não sabia mesmo sobre a festa.

─ Ele tá dando uma bronca na Sam, não é? - Questionou com um sorriso travesso, segurando a risada com a imagem da irmã levando uma bronca.

─ Digamos que eu mudei a cabeça dele. Como sempre. - Se gabou.

─ Bom, eu não sabia de nada, só descobri quando escutei eles pulando na piscina. - Ergueu as mãos se rendendo, como se estivesse sendo parada pela polícia.

─ Isso é um pouco decepcionante. - Amanda torceu o nariz, inclinando a cabeça enquanto encarava a filha.

─ O quê? Por quê? - Se desesperou, não entendo o que fez de errado.

─ Você é uma adolescente, Mae! Deveria estar aproveitando que seus pais saíram para chamar seus amigos em casa e fazer alguma besteira. - Explicou de forma exagerada e animada, fazendo gestos com as mãos que tiravam leve risadas da mais nova. - Eu estava tão feliz em vê-la se divertindo no início do verão, sem o peso das aulas de teatro ou as outras mil atividades extracurriculares que você faz. As vezes acho que você pega muito pesado com você mesma desde a cirurgia. - Sua feição preocupada fez o coração de Margaret errar uma batida, sentindo-se mal por ver a sua mãe mais preocupada com a sua adolescência do que ela mesma.

─ Eu estou me divertindo, mas de uma maneira diferente. - Afirmou com um sorriso leve nos lábios, levando suas mãos de encontro com as mãos da mais velha. - Claro que as vezes que sinto saudades de gastar toda a minha energia treinando com o papai e o Sr Miyagi no dojô, mas eu me encontrei em outros lugares depois do que aconteceu, um joelho ferrado não vai conseguir me parar. - Admitiu, mais para si mesma do que para a mãe.

Muitas vezes o seu problema no joelho se torna um problema, principalmente quando a situação exige muito esforço físico, o máximo que conseguia fazer era correr alguns quilômetros na velocidade sugerida por um dos seus três médicos. A saudade do caratê as vezes era intensa e a fazia visitar o dojô, mas ela sempre voltava com lágrimas nos olhos por ver as coisas antigas do Sr Miyagi.

─ Quem foi que te criou? - Perguntou de forma retórica, olhando orgulhosa para a filha.

─ Se for te fazer se sentir melhor, eu posso começar a fugir de casa na madrugada para encontrar alguma garoto que o papai não aprova. - Sugeriu com um tom brincalhão.

─ Espera! Tem alguma garoto? - Amanda ficou ereta e arregalou os olhos animada, fazendo a mais nova mexer a cabeça em negação diversas vezes.

─ Claro que não! Eu falei hipoteticamente! - Reafirmou a informação ao mexer o dedo indicador de um lado para o outro.

Amanda riu enquanto revirava os olhos, trocando o assunto depois de notar que a filha falava a verdade. Margaret agradeceu mentalmente, não só por conseguir escapar de mais uma conversa embaraçosa, mas sim por ter uma mãe como a Larusso.

• • •

Definitivamente aquele não era o ano de Margaret Larusso. Havia uma superstição que ela mesma criou: se o primeiro dia de aula for bom, o resto também vai ser. E claro que ela levou isso com ela para todos os primeiros dias, mesmo que soasse dramático, sempre funcionou. E 2017 não seria um ano diferente. Por isso Margaret acordou e escolheu os seus melhores produtos para pele e cabelo, ela escolheu no guarda roupa uma calça jeans com margaridas bordadas nos bolsos e uma blusa branca, que foi ajustada por ela mesma para ficar o mais colada possível em seu corpo, nos pés ela calçou o seu all star preto e branco, um conjunto perfeito para causar uma boa impressão.

Assim que desceu, suas panquecas com calda de chocolate e morangos esperavam por ela, todos os anos as gêmeas e Anthony tomavam de café da manhã o seu prato favorito, uma tradição que Daniel criou especialmente para cada filho. Depois de receber vários discursos de motivação e escutar as mesmas histórias sobre a adolescência dos pais, Daniel deixou os três no colégio e foi para a concessionária. E foi ai que tudo deu errado.

Margaret descobriu que o seu horário e o de Avery não batiam como sempre, resultando em diversas aulas separadas, menos as de teatro e educação física ─ a qual as duas fugiam ─, além do divórcio forçado, a Larusso se atrasou para a primeira aula e teve que entrar de cabeça baixa depois de receber uma bronca do professor. Soava pessimista, mas Margaret apostaria todas as suas esperanças que aquele não era o seu ano, ela só esperava que no teatro fosse diferente. E se não bastasse não ter a sua melhor amiga do seu lado, a Larusso descobriu por uma mensagem que o novo namorado da sua irmã, Kyler, iria jantar com eles aquela noite. Ela quase vomitou com a notícia, pois sentia repúdio pelo garoto, e nem sabia o motivo.

Depois de ter duas aulas entendiantes de química, a morena correu pelos corredores até a sala que Avery estava tendo aula de história ─ sua matéria favorita ─, o que resultou na adolescente quase cair pela falta de ar. Enquanto ela lamentava a manhã miserável que teve, a Darling saiu da sala dando pulinhos alegres na direção da melhor amiga, tendo um sorriso maior que o seu próprio rosto nos lábios.

─ Você não vai acreditar! - Quando Avery olhou para Margaret, a mesma ajeitou a postura, preparada para ser bombardeada pelas novidades. - O antigo professor de história, o Sr. Wallis, foi demitido porque pegaram ele roubando materiais dos outros professores. Ah, mas essa não é a melhor parte! Contrataram uma professora super legal, ela fez o mapeamento considerando as notas dos alunos e liberou a gente mais cedo. - Enquanto ela falava sem parar, ambas começaram a caminhar pelos corredores cheios de alunos esfomeados. - Quase me esqueci! Advinha quem ficou do meu lado? - Olhou para a amiga mexendo as sobrancelhas sugestivamente.

─ Não me diga que é aquele nerd que você tinha uma quedinha ano passado?! - Arregalou os olhos surpresa.

Ew! Você passou tempo demais com as plastificadas. - Julgou com uma careta de desaprovação, o que fez Margaret revirar os olhos rindo. - Mas sim, é ele! - Deu um pulinho animada.

─ Esse menino deve ser burro ou cego por não perceber você olhando para ele igual psicopata. - Ela brincou, dando um empurranzinho no ombro da amiga, que riu com as bochechas vermelhas.

─ Ele é meu parceiro de laboratório, então não deve ser tão burro assim. - Pensou brevemente. - Mas definitivamente é cego.

─ Não acha que tá cedo para pensar em garotos? Ainda temos muito trabalho para fazer no teatro e ainda precisamos de boas notas para não decepcionar os olheiros da Julliard. - Mae disse com um tom preocupado, pensando longe demais.

Talvez fosse a sua ansiedade falando mais alto, pois estava cedo demais para se preocupar com as faculdades. Porém, desde que se apaixonou pelo teatro, sua meta de vida era entra em Julliard e viver sua vida dos sonhos em Nova York com o Buggs e Avery.

─ Credo! Por que você tá pensando em faculdade no primeiro dia de aula do primeiro ano? - Avery olhou para ela indignada. - Sempre esqueço o quão pessimista você é.

─ Não estou sendo pessimista, talvez um pouco ansiosa, mas eu só não quero me envolver em algum drama romântico antes de me formar. - Deu de ombros, levemente desconfortável por admitir aquilo em voz alta.

─ Você não quer viver um romance adolescente como nos filmes? Imagina que romântico casar com o seu primeiro namorado igual a Lara Jean. - Disse com um brilho apaixonado no olhar, tirando uma risada baixa da morena.

─ Eles ainda não casaram Avery. - Lembrou a amiga, que murmurou algo inaudível. - Acho que isso depende, eu acho que amor é uma palavra inadequada, e até confusa se você parar para pensar. É só mais um sentimento que usamos no teatro para emocionar o público, e muitas vezes o romance adolescente não dá certo na vida real. Meu pai é a prova viva disso.

Margaret perdeu as contas de quantas vezes escutou sobre Ali Mills e o seu sorriso brilhante que conquistou o coração do Larusso à 34 anos atrás. Ela ficava aliviada em saber que o relacionamento não deu certo, e consequentemente ele conheceu Amanda e se casou com ela, senão Mae e os seus irmãos não existiriam. Porém ela as vezes ela pensava sobre como a vida amorosa do seu pai foi repleta de amores, que no final apenas viraram histórias para contar. Ela não acreditava que era digna de tais histórias.

─ Você acabou de mencionar "Under Pressure" para mim? Meu deus, Mae, você é inacreditável. - Avery abriu a boca perplexa, rindo da careta culpada que a morena fez ao ser desmascarada.

─ Vamos logo para as coxias, quero saber tudo e mais um pouco sobre o acampamento enquanto comemos os seus brownies! - Margaret rapidamente trocou de assunto, puxando a amiga pelo braço na direção do teatro.

A Larusso agradeceu mentalmente por Avery der tagarela e passar o intervalo inteiro contando sobre o acampamento enquanto elas se escondiam nas cortinas do palco, deixando Mae responsável pelas reações exageradas. No final Margaret confirmou que ─ pelo menos ─ algo de bom aconteceu aquela manhã, e definitivamente foram os brownies da Darling.

• • •

─ Preciso te lembrar das regras? - Margaret perguntou com as sobrancelhas levantadas, encarando o irmão mais novo colocar a mochila nas costas com dificuldade por causa do travesseiro em sua mão.

Depois das aulas, a Larusso passou a tarde procrastinando no próprio quarto com a companhia de Buggs, saindo poucas vezes para ajudar o pai com as compras e a mãe com a mesa do jantar. Anthony não se juntaria com eles aquela noite, pois tinha marcado uma festa do pijama com os amigos do colégio, um "ritual" que realizavam todos os anos desde que se aproximaram, cada ano era em uma casa diferente. Por sorte, a casa desse ano era no mesmo quarteirão que a casa dos Larusso's, e Margaret se voluntariou para levá-lo, aproveitando para passear com Buggs.

Pelo menos uma vez por semana a adolescente levava o gato para passear com uma guia que comprou online. Era inusitado, e todas as vezes pelo menos uma pessoa parava a adolescente para fazer carinho nos pelos cinzas de Buggs. Felizmente ele era amigável com desconhecidos, mas Margaret sabia que ele era assim devido às escapadas que o mesmo dava de vez em quando. Por isso ela começou a levá-lo para passear, uma tentativa de acostumar ele a sair de casa apenas com a guia e um humano.

─ Não dormir até tarde, não ligar para a mamãe de madrugada, só para você ou Sam, e não fazer bagunça. - Anthony listou com os dedos da mão que seguravam o travesseiro, soando desinteressado.

─ Quando foi que você cresceu tanto? - Mae murmurou, bagunçando o cabelo dele com as duas mãos.  - Não esquece da regra principal: divirta-se. - Deixou um selar demorado nas bochechas gordinhas do mais novo, aproveitando que as suas mãos estavam ocupadas demais para impedi-la.

─ Ew! Que nojo, vai ficar marcado! - Reclamou andando para trás em passos apressados para fugir de ter mais marcas de gloss no seu rosto.

─ Bons sonhos, Anthony! - Ela riu, acenando para a mãe do colega dele que esperava o mesmo na porta. - Ok, Buggy, agora somos só nós dois.

Ela agachou para fazer carinho no gato, que ronronou como resposta antes de quase se enrolar na guia para correr atrás de um grilo que passou perto deles. Margaret soltou um gritinho baixo pelo susto, mas logo entendeu o que aconteceu e resolveu seguir o gato atrás do inseto por alguns minutos antes de voltar para a casa. Um pequeno atraso não seria um problema para o tormento que aquela noite seria.

Porém, ela não pode fugir da realidade por muito tempo e teve que forçar Buggs a deixar o grilo em paz para eles voltarem sem um inseto morto para casa. Assim que a adolescente abriu a porta principal e soltou a guia da coleira preta e, o gato saiu correndo na direção das escadas ─ provavelmente para dormir na cama da dona ─ deixando Mae sozinha enquanto deixava a guia no sofá para guardar depois, e logo ela começou a andar em passos lentos na direção da cozinha para poder ir até o exterior da casa onde sua família é Kyler estavam.

Assim que ela avistou os seus pais e o casal, ela colocou um sorriso leve nos lábios, se aproximando o mais simpática possível para causar uma boa impressão sobre a sua família para o namorado da irmã. Mesmo não gostando dele, nunca faria uma cena para envergonhar a irmã.

─ Desculpa o atraso, Buggs quis caçar um grilo no meio do caminho. - Explicou brevemente, cumprimentando a mãe e o pai com um beijo na bochecha, sentando do lado da Sam depois de bagunçar o seu cabelo.

─ Tudo bem, você chegou para na melhor parte. Eu estava explicando para o nosso convidado sobre o prato especial da noite. - Daniel disse para a filha, que em seguida percebeu a faca em suas mãos e o peixe no recipiente preto.

─ E o que é? - Perguntou interessada, juntando os ombros ao se apoiar na mesa para observar o que o pai estava fazendo.

─ A yanagi, ou yanagiba, dependendo da região, é uma faca usada exclusivamente para cortar sashimi. - Olhou para a filha, respondendo a sua pergunta, logo voltando a cortar o peixe em fatias. - Comprou esta belezinha na primeira viagem a Okimawa. Voilá! O famoso toro ao molho ponzo Larusso. - Apresentou orgulhoso para todos.

Daniel pegou o primeiro prato e entregou na direção do Park, enquanto Amanda e Mae batiam palmas para a apresentação espetacular do homem, deixando Sam envergonhada ao rir das duas.

─ Não, obrigado. Não gosto de sushi. - Kyler rejeitou com uma careta de nojo, era sutil, mas mesmo assim eles perceberam.

─ O quê? - Mae não conseguiu segurar a língua, e olhou para ele como se o garoto fosse um alienígena.

─ Tem certeza que não quer provar? - Amanda perguntou para Kyler de forma gentil, reprovando a reação da filha com o olhar.

─ Ele derrete na boca. - O Larusso fez propaganda do prato.

─ Não, peixe me dá nojo. - Mexeu a cabeça em reprovação, olhando para o animal morto e o homem.

Você que me dá nojo. Margaret pensou, não escondendo o desconforto em seus rosto ao olhá-lo de cima a baixo.

─ Você gosta de peixe, e o peixe da escola? - Sam tentou ajudar o lado do namorado, sorrindo esperançosa ao olhá-lo.

─ Ah, peixe frito é demais! Tem peixe frito? - O garoto se animou, olhando para o sogro que pareceu "murchar" com a perguntar.

─ Não, só este peixe fresco que eu peguei no mercado japonês esta manhã. - Explicou levemente decepcionado, fazendo Mae olhar irritada para o garoto enquanto Sam quase se escondia debaixo da mesa.

─ É o seguinte. Por que eu e as meninas não procuramos algo para o Kyler comer?

─ Claro. - As duas responderam juntas, levantando das cadeiras em seguida e acompanhando a mãe sem silêncio até a cozinha.

Assim que elas entraram na cozinha, Amanda começou a procurar algo na geladeira, encontrando alguns pratos prontos congelados que ela poderia colocar no micro-ondas para não gastar tanto tempo. As adolescentes ajudaram a mãe a pegar as coisas, e logo a comida estava dentro do aparelho, fazendo as três se apoiarem na bancada para esperar o tempo indicado no visor.

─ Acha que o papai gostou dele? - Sam olhou para a mulher preocupada.

─ Eu não gostei. - Murmurou a outra gêmea, mexendo despreocupada nas próprias unhas.

─ Independente, se você gosta dele, nós vamos te apoiar, não é? - Amanda deu um empurranzinho no ombro da Mae, que concordou em silêncio para não chatear a irmã. - Não é o fim do mundo ele não gostar de sushi.

─ É, você tá certa. - Sam deu um sorriso fraco, passando as mãos nos braços de maneira ansiosa.

─ Ele gosta de gatos? Porque tudo tem um limite! - Margaret questionou a irmã, soando realmente preocupada com a informação.

─ Sério isso? - Ela a olhou sem acreditar.

─ Dependendo da resposta eu vou saber se ele é bom para você ou não. - Deu de ombros ao explicar, tirando um sorriso fraco dos lábios da garota, mas antes que ela pudesse responder o micro-ondas apitou.

─ Ok, me ajudem a levar isso com cuidado para não se queimar. - Amanda pediu, abrindo o aparelho doméstico e tirando um dos potes, entregando um para cada uma.

Depois de pegar pratos maiores e outros talheres, Amanda passou pelas filhas, chamando elas com o dedo, fazendo Sam rir e acompanhá-la sem reclamar, enquanto Mae pensou em fingir estar passando mal para não terminar aquele jantar, mas logo ela desistiu da ideia e seguiu as duas escondendo a sua feição descontente. A noite ─ definitivamente ─ seria longa.

i. Prometi capítulo novo e aqui estou eu! Como é o início da temporada, as coisas ainda estão mais leves e menos agitadas, por isso os primeiros capítulos vão ser mais sobre a personalidade da mae e as relações dela com a família e amigos.

ii. Espero que tenham gostado, não esqueçam de comentar e votar! E até o próximo capítulo de dose dupla <3

não revisado.

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