𝟬𝟵. 𝗡𝗢𝗧𝗧𝗘 𝗣𝗜𝗔𝗖𝗘𝗩𝗢𝗟𝗘

𝟬𝟵.  𝗡𝗢𝗧𝗧𝗘 𝗣𝗜𝗔𝗖𝗘𝗩𝗢𝗟𝗘 
(Noite agradável)

𝐀𝐘𝐋𝐀

Alice tinha marcado para às sete o nosso passeio no parque, mas já eram sete e meia e nada dela dar sinal de si. Eu já tinha ligado várias vezes mas só dava caixa postal. Lukas também não sabia nada, e também parecia impaciente para que ela aparecesse logo.

— Se ela não aparecer em trinta minutos, não vai ter como eu levar vocês. — Lukas comunicou, se jogando no sofá.

Revirei os olhos, irritada. Se ele estava tão apressado assim para o encontrinho romântico, por que não ia de uma vez?

— Ninguém está te prendendo aqui, a gente pode ir de Uber — rebati, voltando a checar meu celular mais uma vez.

Nada dela. Cadê essa garota?

— Será que ela se esqueceu? — perguntou, brincando com a chave do carro entre os dedos.

— Não sei…

Eu já estava pronta para ligar para ela outra vez, quando a porta da sala se abriu revelando a garota com um sorriso de ponta a ponta.

— Desculpem a demora, aconteceu um imprevisto. — explicou, ela parecia meio afobada. — Podemos ir?

Lukas nem respondeu nada, ele levantou em um pulo, já seguindo para fora da casa.

Ele realmente estava muito ansioso para esse encontro. Não era de se estranhar. Lukas estava todo arrumado como eu nunca tinha visto. Ele sempre foi do tipo que fazia questão de atropelar a moda com aquelas vestimentas largadas dele.

Entramos no carro e ele logo deu partida. De vez em quando Alice me lançava um olhar, seguido de um risinho.

Não sei o porquê de tanta felicidade.

O caminho poderia ter seguido em completo silêncio, mas Alice e Lukas não fechavam o bico por um segundo sequer. Eu não conseguia entender como eles achavam tanto assunto para conversar em um curto período de tempo.

— Lukas que horas você vai buscar a gente? — Alice questionou o primo.

— Iiiih, não sei Alicinha.

— A gente pede um Uber, Alice. — falei depois de um tempo em silêncio — Não precisa incomodar ele.

— Incomodar? Ele foi quem se ofereceu para nos dar essa carona.

Franzi o cenho.

Por que ele faria isso?

Deve ser por conta de Alice… Ele se preocupa com ela.

— Dar uma carona para vocês não é um incômodo. — Lukas disse, olhando para mim pelo retrovisor.

🧁

Após alguns minutos, finalmente chegamos ao parque de diversão. Os olhos de Alice brilharam quando saímos do carro vendo todas as luzes brilhantes que se destacavam na noite.

Eu pensei que assim que Lukas nos deixasse no parque, ele iria para o bendito encontro dele. Mas ele não fez isso, muito pelo contrário:

— Lukas, fica um pouco com a gente? — Alice pediu, animada.

Olhei para ela com olhar cortante, mas a maluca não me deu atenção.

Parece que o que ela disse anteontem fugiu da sua mente completamente.

Lukas olhou em volta todo o ambiente, ele parecia estar pensativo.

— Acho que vou ficar uns minutinhos, não mata ninguém, né? — Ele brincou, e Alice   olhou para mim com um sorriso vitorioso.

Só pode ser castigo.

— Vamos na roda-gigante! — Apontou para o brinquedo, puxando eu e Lukas.

Fomos comprar nossos bilhetes, e assim que Lukas pagou, corremos para a fila do brinquedo. A fila estava mediana, mas o que me chamou a atenção foi a quantidade de casais em todo o parque.

O que é isso? Pensei que o principal público fosse as crianças.

— Não poderia ter entrado em outra fila, vei? — Ele perguntou para Alice — Olha o tanto de gente.

— Mas esse daqui é o melhor brinquedo do parque. — Minha amiga explicou, tirando um suspiro de Lukas. — Para de ser estressadinho.

— Eu queria algodão doce — murmurei baixinho, mais para mim mesma do que para ela. Mas Alice escutou.

— Eu também. — Ela direcionou seu olhar para o primo — Lukas, pode ir comprar para nós duas?

— Eu?

— Sim. Porque se eu for, Ayla também vai — Concordei com a cabeça — E você sabe que quando Ayla vê os doces das barraquinhas, ela quer comprar e experimentar todos.

Que mentira.

Tá, talvez ela esteja certa.

Mas antes que Lukas pudesse dizer algo a respeito, Alice arregalou os olhos, se escondendo atrás de mim.

— O que foi, maluca? — Sussurrei, me abaixando.

— Eu… eu vou comprar os algodões doces. E Lukas fica com você, Ayla. — Ela respondeu um pouco rápido demais e saiu depressa, sem ao menos dar chance de falar algo, deixando eu e Lukas complementamente confusos.  

— Cê entendeu alguma coisa? — Ele perguntou, observando ela se afastar.  — Ela ficou tão pálida que parecia ter visto um fantasma.

Alice estava me escondendo algo, e eu iria descobrir.

Se passaram alguns minutos, a fila já tinha diminuído e nada de Alice aparecer. Eu estava preocupada demais com seu sumiço repentino.

De repente, meu celular vibrou.

Era uma mensagem de Alice, dizendo que tinha que ir embora. Ela não me explicou mais nada, me deixando ainda mais confusa.

Suspirei.

Parece que a noite do parque foi oficialmente cancelada.

— O que foi, Aylinha? — Lukas perguntou. Ele deve ter notado a minha cara de decepção.

— Alice, ela foi embora para casa. — Ele franziu o cenho, acho que estava mais confuso do que eu.

— Mas aconteceu alguma coisa?

— Não, acho que não.

Ele olhou para seu relógio de pulso, e depois para mim.

— Olha, eu vou pegar um Uber e você pode ir ao seu compromisso, tá? — falei, um pouco desapontada.

Alice pisou na bola.

— Não, eu… eu vou ficar com você, tá legal? — Ele disse, fazendo eu arregalar os olhos completamente surpresa pela sua atitude. — Calma aí.

— Não precisa, Lukas..

Ele não disse mais nada, apenas pegou o celular e digitou algo.

— Vamos lá, Aylinha? — Guardou o celular no bolso, apontando para a roda-gigante.

Pisquei algumas vezes.

Não me diga que Alice…

Não, ela não seria capaz disso.

Ou seria?

— E o seu encontro?

— Não era tão importante assim — deu de ombros e eu não soube o que dizer. Mas senti um peso enorme ser tirado de dentro de mim.

Assim que a fila diminuiu, foi a nossa vez de entrar na roda-gigante. Lukas se sentou ao meu lado, ele parecia um pouco animado demais para andar num brinquedo tão lento.

O brinquedo começou a subir lentamente. Escutei ele sussurrando um “que massa” enquanto olhava para baixo. Me arrisquei a fazer o mesmo e pude ver as pessoas do parque que estavam bem pequeninas por conta da altura, mas logo me deu um frio congelante na barriga e voltei a visão depressa.

Valha meu Pai.

— O que foi, Ayla? Cê tem medo de altura? — Um riso escapou dos seus lábios.

Não havia me dado conta que essa roda-gigante poderia ser tão alta.

— É que eu nunca fui numa roda-gigante antes — confessei.

— Ah, então eu sou a primeira pessoa a te acompanhar.. — abriu um sorrisinho. — É um prazer.

Revirei os olhos.

Ele não se cansava de me provocar?

Se passaram alguns minutos que estávamos em silêncio, apenas “aproveitando” a companhia um do outro, quando Lukas resolveu se manifestar:

— Daqui dá pra ver as estrelas — ele disse, apontando para o céu.

Abri um sorriso, a noite estava realmente muito linda.

— Nossa, a lua está linda hoje — falei, admirada.

— Tá muito linda mesmo — ouvi ele murmurar.

Desviei meu olhar para ele, que já estava me encarando.

Eu não sabia que Lukas gostava de admirar a lua.

Lukas esticou as pernas e se recostou no banco, completamente relaxado.

— Pô, que vista daora… — ele murmurou, admirando as luzes da cidade ao longe.

Eu tentei olhar de novo, mas bastou perceber o quanto estava mais alto para minha mão apertar a dele.

— Meu Deus, a gente tá muito alto. Isso aqui tem trava dupla, né? — perguntei, olhando para a barra de segurança como se ela fosse ceder a qualquer momento.

Lukas riu baixinho.

— Claro que tem, Aylinha. Mas, se quiser, eu seguro você.

Eu revirei os olhos, mas senti meu rosto esquentar.

— Dispenso. — Tentei soltar minha mão da dele, mas Lukas apertou de novo, um sorriso brincando nos lábios.

— Sei…

Eu suspirei, tentando ignorá-lo. Mas então, sem aviso, as luzes do parque piscaram e a roda-gigante parou.

Travei.

— Lukas, que foi isso?

Ele olhou para baixo e deu um risinho.

— Parece que deu uma paradinha… Que romântico, né? A gente bem no alto, sozinho, com a lua como testemunha… — Ele virou o rosto para mim, os olhos cheios de malícia. — Se fosse num filme, a gente se beijava agora.

Eu o encarei com uma expressão indignada.

— Você acha que eu tô preocupada com romance agora, Lukas?

— Não? Então por que você tá se inclinando pra mim?

Meu corpo congelou no mesmo instante. Eu não estava me inclinando! Estava?

Ele riu da minha cara e olhou para frente, satisfeito.

— Relaxa, Aylinha. Se fosse num filme, esse seria o momento que você perceberia que eu sou o amor da sua vida.

Eu bufei.

— Se fosse num filme, esse seria o momento em que eu te empurraria daqui de cima.

Ele gargalhou.

— Pena que eu tô segurando sua mão, né? Se eu cair, te levo junto. E isso não seria muito romântico.

— Lukas, por favor, não fale mais nada. Aqui não tem nada de romântico — disse entre dentes, fechando os olhos com força.

Ele deu de ombros, virando o rosto para mim.

— Pô, não é? Olha só: uma vista maneira, um ventinho que mexe no seu cabelo, um cara bonito do seu lado... — Ele sorriu presunçoso. — Qualquer pessoa normal aproveitaria o momento.

Eu poderia responder alguma coisa, mas a cabine balançou por conta do vento, e sem perceber, me inclinei um pouco mais para o lado dele.

Lukas notou.

— Ué… Tá fugindo do vento ou tá vindo pra perto de mim?

Meu rosto pegou fogo.

— Cala a boca, Lukas.

Ele riu baixinho e foi só então que percebi o quão próximos nossos rostos estavam. O vento de novo mexendo nos fios do meu cabelo, e os olhos dele descendo ligeiramente até minha boca antes de voltarem para os meus.

Minha respiração falhou por um segundo.

Ele ia dizer alguma coisa, mas então as luzes do parque acenderam e a roda-gigante voltou a se mover.

A tensão que pairava no ar se desfez num segundo, e eu finalmente consegui desviar o olhar, fingindo que nada tinha acontecido.

Mas eu senti.

E pelo sorriso de canto que Lukas tentou esconder, ele também.

— Você é muito dramática — ele comentou assim que a gente pisou em terra firme.

— Não acho, tem pessoas que realmente tem medo de altura.

— Ou será que você se aproveitou da situação só pra segurar minha mão? — Debochou andando ao meu lado.

— Eu não me chamo Lukas Marques para se aproveitar de pessoas em situações sensíveis, tá bom? — falei em um tom divertido e ele gargalhou.

A sensação de estar na companhia dele, especialmente depois da roda-gigante, estava me pegando de surpresa. Aquela tensão no ar, as provocações, o jeito como ele parecia se divertir comigo… Eu estava começando a me perguntar se, talvez, ele estivesse sentindo o mesmo.

E eu não queria admitir, mas essa noite no parque estava sendo mais divertida do que o planejado.

Obrigada, Lukas.

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