𝟬𝟴. 𝗦𝗢𝗥𝗥𝗜𝗗𝗜 𝗗𝗜 𝗣𝗜𝗨

𝟬𝟴. 𝗦𝗢𝗥𝗥𝗜𝗗𝗜 𝗗𝗜 𝗣𝗜𝗨
(Sorrir mais)

𝐀𝐘𝐋𝐀

Depois do que aconteceu hoje à tarde, não consegui mais olhar na cara de Daniel, e muito menos a de Lukas. E para complicar ainda mais, Alice chegou minutos depois e viu a cena toda.

Que constrangimento.

Mas isso não é pior. Minha mente não me deixava em paz nem sequer um segundo, tudo voltada a aparecer na minha cabeça: O rosto molhado dele, sua respiração ofegante, suas mãos apertando minha cintura e aquele sorriso, o sorriso que acabava comigo.

— Você vai me contar tudo o que aconteceu. — Ela deu uma risada, se jogando na minha cama.

— Contar o que? — Perguntei, penteando meus cabelos. Alice revirou os olhos.

— Não se faça de sonsa, Ayla. Eu vi vocês dois encharcados saindo do jardim. — Abriu um sorrisinho. — Daniel chegou bem na hora, não foi?

— Chegou..

O sorriso de Alice se alargou ainda mais.

— Que pena, é uma pena. Deve ter estragado o clima de romance.

— Que clima, menina? — Guardei a escova na penteadeira. — Você está assistindo muitos filmes de romance.

— Você é muito sonsa, Aylinha. Isso é feio, sabia? — Arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Eu estava muito bem sozinha no jardim, mas seu primo querido brotou do chão e me molhou inteira com a mangueira. — Falei, me jogando na cama ao seu lado.

— O seu problema é achar que consegue me convencer com essa conversinha fiada.

— Mas é a verdade, Alice. Foi ele que começou. — Falei, encarando o teto.

Só de lembrar Lukas me segurando com aqueles braços…

— E você gostou, não gostou? — Ela perguntou me encarando, e eu abri um sorriso em resposta. — Eu sabia!

— Mas, isso não vai mais acontecer. Lukas acha que ainda sou uma bobinha, Alice.

— E você é. — Franzi o cenho, me virando
para encará-la. — Uma tonta.

— Dá pra parar de me ofender de graça?

— E você dá para parar de se fazer de doida? Você é uma tonta e Lukas um cego que não vê o que está bem no nariz dele. É visível que você ainda é louca por ele. O que me surpreende é você ter a audácia de ficar tentando esconder. Não adianta, Ayla. Para de negar, esse sentimento não vai morrer ou sumir.

Bufei, passando a mão pelo meu rosto.

Ela não entende que isso tudo é maior do que eu? Mas vai passar, Lukas não vai conseguir brincar comigo de novo.

Ele não vai.

— Mas mudando de assunto… — Alice olhou para mim com um sorrisinho que eu conhecia bem.

Ela estava aprontando alguma.

— Lá vem..

— Eu pensei em sairmos juntas para o parque de diversão. O que você acha?

— Sério? Eu amaria.

— Então está combinado, depois de amanhã às sete. 

Isso está estranho.

— E quem vai levar a gente?

Ela sorriu outra vez.

Estava demorando!

— Claro que vai ser Lukas.

— Ah, não. De jeito nenhum! — Protestei, me levantando da cama. — Podemos pedir um Uber, ou algo do tipo.

— Não vai rolar, Lukas já ficou de levar a gente.

— Você não colabora, né?

— Qual o problema? Não vejo nada demais nisso. Você também não deveria ver, já que sempre diz que não sente nada por ele. — Deu de ombros.

— Só vou se ele for embora assim que deixar a gente lá.

— Ele tem um encontro com uma garota, então não precisa se preocupar com ele.

Meu coração errou as batidas.

Sair com outra.

É claro que ele faria isso, como sempre fez. Lukas sempre olhou para as outras garotas, mas nunca para mim.

Para ele, Ayla sempre foi invisível, e sempre será.

Todo o clima e tensão que eu sinto quando estou perto dele…. Isso tudo é apenas invenção da minha cabecinha oca que sempre me fez de boba.

Nada disso realmente existe.

Eu preciso acordar.

— Ah, ótimo. — Fingi estar aliviada, mas meu peito parecia se rasgar por dentro. — Vamos fazer outra coisa? Estou cansada de falar dele.

— Eu queria um lanche, estou com fome. — Comentou, alisando a barriga.

Dei graças a Deus por ela não ter percebido meu desconcerto.

— Então.. vamos procurar algo? — Sorri fraco.

— Ayla… você não ficou com ciúmes, né? — Alice perguntou.

— Do Lukas? Por que eu ficaria? — Questionei, andando até a porta do quarto.

Droga, acabei de me entregar.

— Não sei, mas vamos deixar para lá. Você deve estar feliz que ele vai a um encontro e não vai nos incomodar.

— Vamos à cozinha, vou preparar alguma coisa pra gente. — Ignorei seu comentário, abrindo a porta.

Assim que chegamos na cozinha, fui direto para a geladeira procurar os ingredientes que eu iria precisar para preparar os sanduíches.
Alice se sentou à bancada, parecendo animada.

— Finalmente vou comer sanduíches da chefe Ayla. — Comemorou, batendo palminhas. Eu sorri, começando a preparar os sanduíches.

Estava concentrada cortando os tomates, quando o celular de Alice começou a tocar. Alice se levantou, saindo da cozinha e indo para a sala. Mas não demorou muito para que a garota voltasse.

Sua cara não estava nada boa.

— Aconteceu algo? — Perguntei, parando de cortar os tomates.

— O filho do dono do café, ele é o meu grande problema. O garoto não sabe fazer nada, é um filhinho de papai. Resumindo, vou precisar ir embora. — Alice falou, visivelmente zangada.

— Mas e os sanduíches?

— Me desculpe. — Ela falou um pouco cabisbaixa. — Eu tenho certeza que não vai faltar oportunidade para você cozinhar para mim.

Alice se despediu de mim, saindo da cozinha.
Logo depois Lukas entrou com uma expressão confusa no rosto.

— Por que Alice saiu tão apressada? Ela quase me derrubou, e nem falou comigo. — Lukas ainda estava com o cabelo molhado, mas havia trocado de roupa.

Nossa…

— Problemas no trabalho. — Respondi rápido, e voltei a cortar os tomates.

— Quer ajuda? — Ele perguntou, se pondo ao meu lado.

— Não precisa, eu posso fazer sozinha. — Tirei as cebolas das suas mãos que ele já estava se preparando para cortar.

— Mas eu quero ajudar — puxou as cebolas das minhas mãos novamente e colocou em cima da tábua de cortar. — É feio se negar receber ajuda, sabia?

— Feio é quem se intromete onde não é chamado. — Retruquei, olhando para ele que parecia não estar nem aí para a minha insatisfação com sua presença.

Ele continuou cortando as cebolas com toda tranquilidade do mundo.

Uma coisa que Lukas sempre foi bom em fazer, era ignorar as coisas e as pessoas quando ele queria. E eu sei disso, porque eu o observava melhor do que qualquer outra pessoa.

— Eu não quero a sua ajuda, Lukas. — Exclamei irritada, e peguei a faca da sua mão.

Ele respirou fundo, e olhou para mim.

— Qual o seu problema? Eu só quero ajudar você — ele franziu a testa, parecendo irritado.

Senti uma pontada de culpa me atingir ao ver sua expressão.

Por que eu estava tratando ele tão mal? Ele só queria me ajudar. Lukas não merecia isso, e eu estava o afastando como se fosse a pior pessoa do mundo.

Era óbvio que a minha frustração não tinha nada a ver com ele, e sim comigo. Minha frustração era tão irracional.

Lukas não me devia satisfação nenhuma. Eu não tinha nada com ele, e nunca ia ter. Eu precisava entender isso. Precisava me convencer que não havia motivo para sentir o que estava sentindo.

Mas, lá no fundo, eu sabia que não queria aceitar a verdade. E isso só me machucava ainda mais.

“Você é uma tola, Ayla.”

Meus pensamentos me acusaram, e isso só piorou tudo.

— Foi mal... Lukas — minha voz saiu mais baixa do que deveria.

— Eu não escutei, pode repetir? — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

Como sempre não levando nada a sério, não poderia esperar menos de Lukas Marques.

— Desculpa, Lukas. — Falei alto — Satisfeito agora?

Era inacreditável como ele nunca perdia a oportunidade de me irritar.

— Claro que eu te desculpo, Aylinha. — Respondeu, e pegou novamente a faca que eu ainda segurava — Agora vai deixar eu te ajudar?

— E eu tenho escolha?

— Não.

— Então corta essa cebola direito, caso contrário eu te expulso dessa cozinha e não irei pedir desculpas outra vez.

— Você quem manda, chefe Ayla! — Fez uma continência desajeitada.

— Você é tão idiota.. — balancei a cabeça, rindo.

— Sabe o que você deveria fazer? — Ele disse, fazendo eu o encarar. — Sorrir mais, Aylinha. Você fica mais bonita quando sorri.

Meu coração disparou. Mas tentei não demonstrar o quanto o seu elogio tinha causado efeito sobre mim.

Tudo que se relacionava a Lukas bagunçava coisas que eu pensava que estivessem arrumadas há muito tempo.

— Menos conversa e mais trabalho, Lukas. — Tentei fingir indiferença com o seu comentário, pena que meu coração não fazia o mesmo.

Lukas gostava do meu sorriso?

O que importa?

Ele está saindo com outra.

E obviamente, só poderia estar querendo me enlouquecer com esses joguinhos idiotas,  jogos esses que não faço ideia de como e de quando entrei.

🧁

— Nossa, tá muito bom, véi — Lukas elogiou o sanduíche, enquanto mastigava.

Sorri, colocando o meu no prato.

— Eu comeria uns mil desses, sem brincadeira. — Ele continuou, enquanto eu me sentava à mesa.

Sempre amei receber elogios sobre o quanto minha comida era saborosa e feita com carinho, até mais do que quando elogiavam a minha aparência. Tudo que envolvia culinária fazia meu coração palpitar dentro de mim, como se dissesse que esse era meu caminho. Então, ser elogiada por algo que envolva isso, por mais simples que seja, como um sanduíche, eu me sentia orgulhosa e sabia que estava caminhando na direção certa.

— Meu plano falhou..

— Que plano? — Lukas perguntou, parando de mastigar.

— De você ficar calado. — Brinquei, fazendo ele revirar os olhos.

— Você vai precisar de muito mais se quiser me ver calado, Aylinha. — Parei por um instante, tentando entender. E ele continuou com aquele maldito sorriso malicioso.

O que ele quis dizer com isso?

Será que…

Não pense bobagem, Ayla.

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