𝟬𝟳. 𝗖𝗢𝗠𝗘 𝗕𝗔𝗠𝗕𝗜𝗡𝗜
𝟬𝟳. 𝗖𝗢𝗠𝗘 𝗕𝗔𝗠𝗕𝗜𝗡𝗜
(Como crianças)
𝐀𝐘𝐋𝐀
Depois de algumas horas procurei um lugar para organizar meus pensamentos, ou pelo menos tentar. Achei o jardim dos fundos uma ótima opção para quem não queria ser vista. O lugar parecia ser muito bem cuidado, as flores eram lindas e a grama bem aparada. Mas, pelo que notei ninguém aparecia por aqui a não ser o sr. Júlio, o jardineiro.
Ou seja, o jardim será o meu novo refúgio a partir de agora.
Respirei fundo, sentindo o cheiro fresco da grama. Entrar em contato com a natureza sempre me fazia relaxar nos momentos de tensão. E depois de passar uma noite com Lukas, algo em meu peito não me deixava em paz. Acho que é a ansiedade por não saber se aquilo significou algo para ele, ou o porquê dele agir tão estranho pela manhã.
No fundo, havia significado muito para mim.
Me aconcheguei na grama, fechando os olhos pela claridade do sol. Mas minha tranquilidade logo foi interrompida.
Dei um grito quando senti um jato de água gelada caindo sobre meu corpo, virei meu rosto rapidamente para trás.
- Lukas, você me molhou, seu idiota! - Exclamei, me levantando.
- Foi mal, senhorita açúcar. - Ele gargalhou, segurando uma mangueira do jardim.
- O que você tá fazendo aqui? - Passei a mão pela minha roupa, estava encharcada.
- Eu estava regando as flores do jardim - sorriu, se aproximando. - Mas aí... eu vi uma flor bem murchinha no canto, então resolvi regar a coitadinha.
Calma aí..
Ele tá falando de mim?!
- Ah, claro... Que ótima ideia, Lukas. - Ponderei todo o jardim, procurando outra mangueira.
Mas não consegui encontrar nenhuma.
- Eu só tenho ótimas ideias, Aylinha. - Lukas parou na minha frente com aquele sorriso idiota. Essa era a oportunidade perfeita para pegar a mangueira de sua mão.
- Você quer tomar banho também?
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, puxei a mangueira de suas mãos e sai correndo.
- Ei, você não vai escapar! - Gritou, correndo atrás de mim.
- Você não me pega! - Cantarolei, dando a língua. Lukas correu até a torneira, pegando um balde.
- Me espere, flor murchinha - disse, ligando o registro e depois jogando água do balde na minha direção. Tentei desviar do jato d'água, mas ele me acertou.
Lukas gargalhou, correndo em minha direção.
- Sai daqui, seu chato! - Falei, jogando água nele, o fazendo ficar encharcado.
- Meu Deus, Ayla - ele cobriu o rosto, enquanto eu jogava água. - Alguma coisa entrou no meu olho..
- Você acha que vou cair nisso? - Baixei a mangueira - Não nasci ontem, Lukas.
- É sério, tá doendo - Esfregou o olho, piscando.
- Deixa eu ver - me aproximei dele, mas antes que eu pudesse reagir, Lukas puxou a mangueira da minha mão.
Tentei me esquivar para o lado, mas meu pé escorregou e acabei me desequilibrando. Esperei atingir o chão, mas isso não aconteceu. Quando me dei conta, em um gesto rápido, as mãos de Lukas agarraram minha cintura, e ele me puxou para si. Suas mãos estavam frias e firmes, e ele me prendia, como se eu pudesse fugir dos seus braços a qualquer momento.
A profundidade enorme daqueles olhos castanhos me queimavam com o olhar, parecendo querer guardar e gravar cada detalhe meu. Alguns fios molhados caíram sobre seu rosto, mas ele não parecia se importar. E em um gesto inesperado, Lukas tirou umas das mãos que me segurava, e levou até a minha face, colocando alguns fios desgrenhados que estavam caídos sobre meu rosto, atrás da minha orelha.
- Acho que você perdeu a guerra, Aylinha. - Ele apertou minha cintura, abrindo um sorriso.
Meu coração batia de forma descontrolada dentro do peito, e eu não sabia se era pela quase queda ou por eu estar tão perto dele que podia sentir sua respiração quente contra a minha pele, fazendo todo meu corpo arrepiar.
Mas se continuasse presa a ele, não saberia o que poderia vir a acontecer.
- Tem certeza? - Perguntei, o encarando.
- O que tá acontecendo aqui? - Daniel apareceu atrás de nós, franzindo o cenho. Arregalei os olhos, me desprendendo de Lukas.
Quando ele chegou aqui?
Olhei rapidamente para Lukas, que agia como se nada tivesse acontecido.
- Que isso, mano? Vocês estão encharcados. - Ele encarou a gente, parecendo confuso. - Por que estavam abraçados?
- É que... - tentei falar algo, mas nada saia.
- Pô, Daniel. Ayla só queria se divertir, tá ligado? Voltar a ser criança. - Lukas brincou, soltando um leve riso.
Só pode ser brincadeira.
- Lukas jogou água em mim e... deu nisso - apontei para a zona que ficou o jardim.
Olhei mais uma vez para Lukas e depois para mim. Estávamos totalmente encharcados, parecendo duas crianças malucas. Tudo aconteceu rápido demais e eu nem me dei conta do nosso estado.
Que vergonha.
🧁
Depois do que aconteceu no jardim, não conseguia mais olhar para Lukas sem sentir aquela sensação queimando todo meu corpo.
A cada dia que passava, tudo ficava mais confuso dentro de mim e Lukas não ajudava muito com as suas atitudes questionáveis.
Eu queria conseguir entender o porquê dele estar tão próximo, mais do que antes. Lukas passou seis anos sem ao menos mandar uma notícia para mim. Nunca foi me visitar, nem mesmo quando Daniel e minha tia sempre iam. Eu sei que não deveria ter esperado nada disso.
Lukas era apenas o melhor amigo do meu primo.
Mas ele também era o garoto que tinha despertado o amor dentro de mim. Ele era o garoto que me dava chocolates e sempre fazia aquelas piadas sem graça que eu sempre morria de rir até a barriga doer. E depois que ele foi embora, sumiu da minha vida por completo. Eu pensava que eu significava algo para ele, mas após esperar tanto por tantos anos, eu entendi que só para mim tinha significado algo.
E mesmo depois de tanto tempo, ainda significava.
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