𝟬𝟰. 𝗜𝗡𝗧𝗘𝗥𝗘𝗦𝗦𝗔𝗧𝗢?
(Interessado?)

𝐀𝐘𝐋𝐀

Depois da insistente e desagradável conversa que tive com Alice, consegui me arrumar em paz e descer para, finalmente, tomar o café da manhã.

Alice desceu antes de mim porque estava apressada demais para ver o primo querido, e me deixou para trás.

Estava descendo as escadas enquanto checava algumas notificações no meu telefone, quando escutei as vozes que pareciam ser dos dois vindo da cozinha.

Respirei fundo, procurando alguma maneira de evitar vê-lo depois da conversa que tive com Alice, mas antes que pudesse pensar em alguma escapatória, ela apareceu em minha frente com um sorriso travesso.

— Finalmente você chegou, Lukas e eu não aguentaríamos mais um minuto esperando você aparecer. — Alice cruzou os braços, debochando.

— É verdade, mais um minuto e eu cairia duro de fome — Lukas disse, surgindo atrás da prima.

— Bom dia para vocês também — coloquei meu celular no bolso, abrindo um sorriso amarelo. — Se a fome estava tão grande assim, por que me esperaram?

— Lukas que disse para esperarmos você descer.

Lancei um olhar rápido para Lukas, que me encarava com um sorriso ladino nos lábios.

Ele não desmentiu. Então, era verdade?

— Bem, se esperaram tanto, vamos comer!
— Falei, passando rapidamente ao lado dele.

— Ela está de mau humor? — Ouvi Lukas cochichando para Alice, que soltou uma pequena gargalhada.

Revirei os olhos, me sentando na mesa e esperando que eles fizessem o mesmo. Os dois se mostraram tão desesperados para comer e agora estão enrolando.

— Dormiu mal, Aylinha?  — Lukas perguntou, se sentando de frente para mim. Alice acompanhou ele, sentando ao seu lado.

— Dormi melhor do que nunca, acredita? Igual a um anjo.

— Não parece, já que está tão mal humorada — Ele provocou, pegando uma torrada.

Ele só pode estar tirando onda com minha cara. Minha única vontade é dar uns tabefes nesse rostinho… lindo…

Arregalei os olhos, com tal pensamento.

O que estava acontecendo comigo?

— Daniel não vai descer? — Questionei, tentando não ligar para a sua provocação e muito menos para meus pensamentos.

— Ele não dormiu aqui — Lukas me respondeu, dando uma mordida na torrada.

Olhei para Alice, que também estava com o cenho franzido.

— Como assim “não dormiu”? — Perguntei, confusa.

— Ele saiu assim que você subiu para o quarto — ele deu de ombros, continuando a comer.

Será que ele está envolvido com coisa errada, meu Deus?

Alice levantou as sobrancelhas olhando para mim. Ela queria me dizer alguma coisa.

— Ele não te contou? — Alice perguntou, mastigando um pedaço de pão.

— Ele não me conta muitas coisas.

— Seu primo foi dormir com uma mulher, Aylinha. — Lukas disse de uma forma tranquila até demais. Minha amiga arregalou os olhos, incrédula.

Abro a boca, mas não consigo falar nada. Daniel estava namorando?

— Ele está namorando e não me falou nada? — Perguntei, sentindo uma pontada de decepção me atingir.

— Não é namorada, é só uma ficante — ele bebericou um pouco de café.

Ah, ótimo.

— Ainda bem que sou cristã, imagina ser tratada que nem um objeto? Horrível. — Minha amiga comentou.

Mesmo não sendo cristã, tenho conhecimento sobre os princípios bíblicos, e sabia que um deles é namorar com intenção de casar. Então, Alice não entregaria seu corpo e coração a qualquer um só por um prazer momentâneo.  E eu penso o mesmo.

— Não sei qual a surpresa de vocês, isso é tão normal. — Lukas se pronunciou, abrindo um sorrisinho.

Revirei os olhos com sua fala, típico de homenzinho sem-vergonha como ele. Passou todos esses anos pegando várias, e no outro dia? Nem lembra o nome da garota que se envolveu.

— Eu nunca aceitaria isso — falei, finalmente dando uma garfada na minha panqueca.

— Você é diferente, Ayla. Não é qualquer uma. — Lukas fala, mas quando se dá conta do que acabará de falar, fica em silêncio, parecendo estar constrangido.

Olho para ele assustada com suas palavras, mas logo desviei minha atenção para Alice, que parecia se divertir com a situação.

— Acho que o namorado dela está mais perto do que imagina — Alice pigarreou, soltando uma risadinha ao notar nossas faces confusas.

— Não sabia que Ayla estava namorando — Lukas que antes estava todo cheio de risinhos e piadinhas, agora estava sério.

— Tá interessado, Lukas? — Foi minha vez de provocar e se divertir com a sua cara de poucos amigos.

Por que ele estava tão sério de repente? Esperaria essa reação de Daniel, mas não de Lukas.

— É que…. Daniel surtaria se você namorasse sem o avisar. — Sua voz perdeu a firmeza de repente.

— Para quem esconde as coisas da própria prima, ele não deveria ter essa reação, não acha? — Alice cruzou os braços, olhando para nós dois.

— Você está namorando ou não, Ayla? — Lukas ignorou totalmente Alice, se voltando para mim.

— E você, está? — Fixei meu olhar no seu.

— Você não respondeu a minha pergunta, Aylinha. — Ele manteve o contato visual.

— E nem você a minha, Lukinhas. — Rebati.

— Se eu namorasse, nem aqui eu estaria. — Seu tom voltou a ser firme e debochado.

Abri um sorriso, mas ele sumiu no instante que percebi.

O que estava acontecendo comigo?

— Pois bem, se eu namorasse, Daniel também saberia.

— Mas não vai demorar muito, não é? — Alice perguntou para mim — Na faculdade terá muitos homens interessados em você.

Tenho certeza que ela está dizendo isso só porque Lukas está aqui. Alice não perde uma oportunidade.

Lukas parecia querer dizer algo, mas antes que pudesse se manifestar, seu celular tocou.
Ele revirou os olhos, saindo da mesa e atendendo a ligação.

Alice e eu nos olhamos confusas.

Por que ele ficou tão tenso de repente? Para o Lukas de antes isso não passaria de uma brincadeira provocativa. Mas, agora, ele estava estranho.

🧁

Passei o resto da manhã junto de Alice, aproveitei sua companhia para arrumar as diversas malas que estavam espalhadas pelo quarto. Mesmo com as risadas e conversas entretenedoras da minha amiga, uma coisa insistia em permanecer em minha mente: a atitude de Lukas. Tentei a todo custo fugir desses pensamentos, mas a inquietação formada pela curiosidade me impedia.

Alice suspirou, cruzando os braços.

— Você vai prestar atenção no que estou dizendo ou vai continuar viajando na maionese? — Ela se manifestou, me tirando do transe.

— Desculpa….. é que…

— Está pensando em Lukas de novo? — Ela me interrompeu, abrindo um pequeno sorriso.

— Acha que minha vida gira em torno daquele idiota? — Me encarou com um olhar sugestivo.

— Não acho isso, mas ele é o motivo de estar tão aérea ou estou enganada? — Alice perguntou, guardando a última mala que restava. Bufei, saindo do closet e indo até a minha cama.

Como ela consegue me conhecer tão bem?

— Vamos, me diga — insistiu, se sentando ao meu lado.

— Não consigo entender o seu primo, esse é o problema. — Confessei, bufando.

Eu não conseguia decifrar o que se passava na cabeça de Lukas, era impossível. Passei anos buscando alguma esperança de que ele me olhasse de outra forma, e quando eu finalmente tinha esquecido e aceitado, o bendito reaparece e bagunça tudo dentro de mim. Outra vez.

Eu odiava isso.

Eu odiava como ele bagunçava os meus sentimentos.

Eu odiava como ele me fazia pensar nele o tempo todo.

Odiava aquele sorrisinho idiota que vivia preso em seus lábios.

Odiava a forma como eu desejava tê-lo por
perto.

E como eu odiava mais ainda não conseguir odiá-lo de verdade, e arrancar tudo que eu sentia por ele do meu peito de uma vez por todas.

IDIOTA!

— Então esse é o problema? — Ela sorriu de novo, balançando a cabeça. — Você é muito bobinha, Ayla.

Olho para ela incrédula com o seu insulto.

— Eu não sou boba — me defendi, um tanto chateada.

— Claro que é, não consegue enxergar o que está bem na sua frente.

Cada frase que ela dizia criava um novo nó na minha mente. Essa habilidade só pode ser herdada da família, porque não é possível!

— O que você quer dizer com isso?

— Eu vou deixar você descobrir sozinha, quem sabe um dia você acorda e enxerga de uma vez. — Respondeu, dando tapinhas na minha mão e se levantando.

O que ela queria? Me enlouquecer? Pensei que só o primo dela já era suficiente para fazer esse papel na minha vida.

— Você tá me deixando confusa, Alice.

Ela soltou uma risada, mas não respondeu.

— Você é muito chata, sabia? — Joguei uma travesseiro na sua direção, mas ela se esquivou fazendo ele cair no chão.

— Não me diga, Aylinha. — Debochou, pegando o travesseiro e jogando em mim.
                           

Alice e eu passamos o resto do dia nos divertindo, fazendo tudo o que não pudemos nesses últimos dois anos: assistir filmes românticos, tagarelar sobre tudo e cantar, bem... pelo menos tentar.

Isso tudo foi bom para mim, porque… não pensei tanto em Lukas.

Já eram quase dez da noite, pensei que Alice dormiria aqui, assim podíamos fazer uma festa do pijama. Mas quando ela se deu conta do horário, pulou do sofá apressada. Implorei quase de joelhos para ela fazer companhia para mim, mas a ingrata não aceitou.

Minha maior preocupação tinha nome, e Alice sabia o porquê do meu desespero.

— Não vai embora, dorme aqui — implorei, fazendo biquinho.

— Não posso, amanhã eu tenho que ir trabalhar. — Explicou, procurando sua bolsa.

— Pelo amor de Deus, mulher! — Exclamei, saltando do sofá. — Eu não posso ficar aqui sem o Daniel, você entendeu?

Sussurrei, acompanhando ela.

— Ayla, ninguém vai te morder ou sei lá o quê. — Ela parou para me encarar — Deixa de ser medrosa, menina.

— Não, não. Por favor! — Me agarrei em seus braços, mas ela se soltou, me ignorando completamente.

— Cê viu o Lukas? — Perguntou, indo até a cozinha.

— Não, não vi.. — choraminguei, a seguindo.

— Ele disse que iria me levar embora — ela estava com o olhar fixo no seu celular, digitando algo.

Logo depois Lukas apareceu na cozinha, segurando uma chave de carro nas mãos.

— Vamos, Alicinha? — Balançou as chaves.

— Pensei que não iria aparecer, passou o dia sumido.

— Estava editando alguns vídeos, já que Daniel resolveu passar o dia fora. — Ele falou enquanto eu bebia um pouco de água.

Lukas estava certo, Daniel passou o dia fora e não havia nem mandado uma mensagem explicando que horas voltaria. Eu mal tinha chegado de viagem e Daniel me deixou sozinha. Que ótimo primo!

— Eu já vou pro quarto, tá bom? — Guardei meu copo no armário, me apressando para sair da cozinha. — Que sono!

— Ayla? — Alice me chamou, eu parei e me virei em sua direção.

— Vem comigo e com o Lukas? 

Eu sabia que ela estava planejando algo, e eu não iria cair.

— Puxa, é que… estou morrendo de sono! — Fingi um bocejo, orando para que pelo menos Lukas acreditasse.

— Cê vem com a gente, Ayla. Não vou te deixar sozinha em casa. — O moreno disse, não parecendo acreditar em mim. Eu olhei para minha amiga, que sorria.

Quem ele pensa que é?!

— Olha, eu não estou sozinha, a senhora Mirian ainda não foi emb…

— Ela já foi embora faz tempo, e não adianta insistir. Cê vem com a gente querendo ou não. — Ele ordenou, saindo da cozinha.

— Se eu for, não foi porque você pediu! — Gritei para que Lukas pudesse ouvir.

— Vamos, Ayla! Deixa de preguiça. — Ela se aproximou, me puxando para fora da cozinha — Você pode ficar no banco da frente, ao lado do seu futuro namorado.

Revirei os olhos.

Eu só queria saber o que foi que fiz pra merecer tudo isso.