𝟬𝟭. 𝗟𝗔 𝗥𝗜𝗨𝗡𝗜𝗢𝗡𝗘

    𝟬𝟭. 𝗟𝗔 𝗥𝗜𝗨𝗡𝗜𝗢𝗡𝗘
             (O reencontro)          

𝐀𝐘𝐋𝐀

                              

Tradutor de palavras:
Mamma — Mamãe.
Papà — Papai.
Per favore! — Por favor!
Dramma — Drama.
Vecchio — Velhote.
Bambina — Menina.

Já se passavam pouco mais de seis anos desde que, de alguma maneira, minha vida havia mudado. Desde o dia em que Daniel, tia Márcia e… Lukas foram embora para outro estado, para outra vida, sem mim.

Eu não queria guardar esse ressentimento de abandono, não quero ser vista como egoísta ou algo do tipo. Mas, essa sensação de pertencer a um lugar, mas logo ser expulsa e arrancada dele, de um ambiente que por muito tempo te fez se sentir acolhida e feliz.

Não queria chegar a falar de Lukas, mas é quase impossível não tocar neste nome, neste nome que me traz tantas memórias e sentimentos não resolvidos, que por algum motivo, ainda se mantém guardados em meu peito.

Odeio admitir isso.

Eu nunca havia sido vista por algum menino da minha escola, na verdade, era até melhor assim. Só que, quando me deparei com Lukas, um garoto mais velho e muito bonito me dando atenção… eu não pude acreditar.

Ele me enxergava, e fazia questão de me encaixar nos passeios e conversas estranhas que tinha com meu irmão. Mas, esses privilégios e momentos de conforto foram tirados de mim, sem ao menos uma despedida digna. Ele foi embora às pressas, parecendo agitado, querendo fugir de algo.

Quebrando o meu coração.

Não me pergunte o que poderia ser, porque, não faço a mínima ideia.

Desde então, Dani e a Tia Mamá sempre marcavam presença nos natais e finais de ano da família Mologni. Confesso que, para mim, essa era a melhor época do ano. Não apenas pelo significado do Natal, mas pela visita de quem tanto amo e sinto falta: eles dois.

Ano passado em uma das visitas, meu irmão me propôs uma oferta irrecusável: morar com ele em São Paulo, enquanto faço faculdade.
Custei a acreditar que isso era real, mas quando o vi conversar com meus pais de uma forma bem “adulta” e responsável, acordei para a realidade.
Mamma e papà foram bem relutantes no começo, mas eu tinha consciência de que eles sabiam que isso me faria muito bem. Então, aceitaram a proposta, com a tia Márcia sempre em supervisão, é claro.

Passei um ano estudando na minha casa, com os meus pais sempre me apoiando.
“Eu passaria nessa faculdade a qualquer custo”, foi isso que repeti para mim mesma durante este longo ano. Daniel disse para não nos preocuparmos com a questão da mensalidade da faculdade ou qualquer questão relacionada aos estudos, porque ele pagaria tudo. A nossa família sabia que o “canal sem-futuro” dele havia trazido muito retorno financeiro em pouco tempo, mas eu preferi concorrer a uma bolsa de estudos, pelo meu próprio mérito.

E adivinha? Consegui!

Quando finalmente passei na faculdade, chegou a hora de ir embora, dar um breve adeus aos meus pais.

E aqui estou, no aeroporto, pronta para enfrentar uma nova vida; longe das memórias que tanto me afligem.

— Ô, meu Deus! Por que as crianças crescem? Por quê? — Meu pai exclamou, fazendo com que pessoas que passavam ao nosso lado, olhassem para ele, de um jeito indiferente.

— Lucio, per favore! — Mama o repreendeu. — Quanto dramma, vecchio!

— Se acalmem, mamma e papà. — Eu suspirei, sorrindo. — Não é como se eu não voltasse nunca mais.

— Deus me livre, minha filha. — Mamma se benzeu.

— Estou desolado, sinceramente. — Papai choramingou.

— Vai ficar tudo bem, papà. — Eu sorri, o puxando para um abraço. — O senhor verá que não sou mais a mesma bambina de anos atrás.— Ele permaneceu calado, fungou mais uma vez e se soltou do abraço para me encarar.

— Você já é uma mulher, meu amor. Provou isso desde que aceitou a proposta do seu primo, e lutou pela vaga na faculdade. — Seus olhos estavam marejados. — Vou sentir sua falta, mas estou muito orgulhoso de você, meu doce croissant.

Tenho certeza que papai não sabe o quanto suas palavras me transmitiram conforto e carinho, agora estou bem mais calma.

Enxuguei minhas lágrimas, encarando mamãe. Ela suspirou, me prendendo em um abraço tão caloroso quanto o do papai.

— Ayla, minha filha. Eu sei que você é forte, e muitas das vezes, cabeça dura. — Soltei uma risada nasal.  — Mas, eu peço uma coisa e quero que você escute com atenção. — Ela disse firmemente, já me encarando.

Eu conheço esse olhar, mamãe está falando sério. Com certeza me dará um conselho que servirá para o resto da minha vida.

— Meu amor, você é jovem. Não viveu quase nada, e espero que saiba que a vida não se resume apenas em trabalho e estudos. Há muitas outras coisas. Se escolhermos nos fechar para elas, talvez, o pior sentimento será o arrependimento. Então, quero que não se prive. Viva a vida, mas com cuidado, claro. — Ela parou por uns segundos. — Se caso encontre uma pessoa que te faça feliz, segura e muito bem, não a deixe ir embora. Não a decepcione, não procure a confusão se pode ter calmaria.  Você não entende agora, mas logo entenderá. — Ela sorriu. — E se precisar de ajuda, não hesite em me ligar.

Parei por alguns segundos tentando raciocinar tudo o que minha mãe havia dito nestes poucos minutos. É, realmente, mamãe sempre tem os melhores conselhos que uma mãe pode dar a sua filha.

— Obrigada, mamma. — Eu sorri, acariciando suas mãos.

— Ah, quase esqueci. — Ela bateu na testa. — Lucio, onde está o bolo?

Papai piscou algumas vezes, arregalando os olhos.

— Não me diga que esqueceu o bolo, seu cabeça de vento! — Ela exclamou com seu sotaque forte, batendo na cabeça do velhote.

— Calma, calma. — Ele sorriu, fazendo a mamãe parar de bater na sua cabeça. — Está aqui, aqui. — Ele mostrou o bolo, que estava segurando atrás de suas costas. Mamãe suspirou, pegando o bolo.

— Não sei como vou aguentar seu pai, e ainda mais sem você. — Ela disse, entregando a embalagem. — Toma, sei que Daniel e Lukas amam bolos de chocolate feitos por mim.

Esse nome, maldito nome! Eu espero que quando estiver na casa de Daniel, Lukas não apareça. Ele é a pessoa que menos quero ver quando chegar.

Suspirei, sorrindo.

— A senhora não esquece de nada, não é? — Dei uma piscadela, segurando a vasilha com o bolo, que ainda estava quente.

— É claro que não, sou uma Mologni. — Ela sorriu com os olhos marejados. — Ah, e assim que chegar em São Paulo, não deixe de nos ligar. Seu pai e eu não sairemos de perto do telefone. — Ordenou, enxugando as lágrimas que começaram a cair.

A última chamada do voo anunciava que meu tempo estava se esgotando, suspirei mais uma vez. Me abracei com a mamãe e o papai, que agora estavam mais chorosos do que nunca.

Depois de me despedir deles, saí em direção ao embarque. Olhei uma última vez para trás. Mesmo distante podia vê-los abraçados, e assim como o papai que não parava de chorar, lágrimas desciam pelo meu rosto de forma silenciosa. Deixar pessoas para trás nunca será fácil, e naquele momento eu entendi como poderia ser doloroso.

Quando desembarquei no aeroporto, saí em procura de Daniel que havia combinado de vir me buscar. Eu entrei em tudo que era lugar, mas não consegui encontrar o “Sr pernas de pau” . Estava entrando em desespero quando a voz de alguém ressoa atrás de mim:

— Ayla? —  Me virei para trás, reconhecendo o dono daquela voz que me fez arrepiar a espinha.

Não é possível.

Lukas?

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