CAP. 3 | UM HOMEM RUIM


NA MANHÃ SEGUINTE evitei olhar o celular imediatamente. Não quero ser ansiosa sobre isso. Eu conheço a possibilidade de rejeição e não quero encará-la por enquanto. Apesar de ser alguém muito confiante, eu sei que as coisas não funcionam assim e estou pronta para trabalhar um pouco mais duro nisso.

Depois de tomar banho e me vestir para o dia, finalmente fui até meu celular para verificar as mensagens. Um biquinho tomou meus lábios quando constate que não havia nada de Logan. Mesmo sendo algo com o qual eu já contava, o sentimento de decepção não foi menor.

Não demorei para decidir que isso não seria um fator para tornar meu dia ruim e guardei o celular, começando minhas tarefas. Hoje é segunda-feira e eu tenho consultas para realizar. Existem muitos ranchos no estado, os fazendeiros precisam de veterinários o tempo todo para checar a saúde dos animais de grande porte. Não é como se minha agenda estivesse tão cheia, mas tem sido um bom começo.

Foi só na hora do almoço quando estava dirigindo de volta que meu celular vibrou com uma mensagem dele. Meu estômago se revirou apenas com os pensamentos de como essa mensagem poderia ser. Parei no farol vermelho e peguei o celular:

" • 𝙴𝚞 𝚖𝚎 𝚒𝚖𝚙𝚘𝚛𝚝𝚘, 𝚜𝚒𝚖. "

" • 𝙾 𝚖𝚞𝚗𝚍𝚘 𝚝á 𝚌𝚑𝚎𝚒𝚘 𝚍𝚎 𝚝é𝚍𝚒𝚘, 𝚊𝚌𝚘𝚜𝚝𝚞𝚖𝚎-𝚜𝚎."

Essa foi certeira e nada gentil. Mas também não sei o que me levou a acreditar que Logan seria mínimamente amável por mensagem. Deixei o celular de lado, escolhendo ignorar aquilo e continuar com o meu dia. Depois de almoçar e checar alguns materiais, estava saindo novamente para visitar outro rancho. Meu pai como bom aposentado que é estava na garagem fazendo reparos em sua moto.

- Saindo outra vez?
Perguntou.

- Alguém aqui tem que trabalhar - Brinquei com um sorriso. Ele riu e balançou a cabeça. Parei com a mão no trinco da porta, minha língua coçando para fazer a pergunta. - Uhn... pai?

- O que, querida?
Respondeu sem desviar os olhos do que já estava fazendo.

- Como você e Logan se tornaram amigos? - Perguntei. - Ele não parece ser do tipo que faz amizades.

Meu pai deu uma risadinha.

- E ele não é mesmo - Respondeu. - Acontece que eu salvei a vida dele. Então acho que ele me aguenta no pé dele mais por gratidão.

- Ele sempre foi assim? - Ergui uma sobrancelha.

- Como se tivesse um pau na bunda? - Ele perguntou com uma risada, eu concordei. - É o jeito dele. Por baixo daquilo tudo ele é um bom homem.

Concordei com a cabeça, sabendo que mais perguntas fariam meu pai desconfiar de um interesse excessivo da minha parte. Abri a porta:

- Até mais tarde pai.

- Até mais tarde, querida.

Pisquei para ele e entrei no carro. Dei uma olhada no celular antes de sair, vendo as mensagens dele. Ele disse que meu pai é insistente, mas isso é porque ele ainda não me conhece.

" • 𝙳𝚎𝚟𝚎 𝚜𝚎𝚛 𝚙𝚘𝚛 𝚒𝚜𝚜𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚟𝚘𝚌𝚎 é 𝚝ã𝚘 𝚛𝚊𝚋𝚞𝚐𝚎𝚗𝚝𝚘, 𝚍𝚎𝚟𝚎 𝚟𝚒𝚟𝚎𝚛 𝚎𝚗𝚝𝚎𝚍𝚒𝚊𝚍𝚘."

Mordi levemente o lábio para segurar uma risada e mandei embaixo:

" • 𝚀𝚞𝚊𝚕 𝚏𝚘𝚒 𝚊 ú𝚕𝚝𝚒𝚖𝚊 𝚟𝚎𝚣 𝚚𝚞𝚎 𝚏𝚘𝚍𝚎𝚞 𝚍𝚎 𝚟𝚎𝚛𝚍𝚊𝚍𝚎?"

Sai com o carro da garagem, uma gargalhada deixando meus lábios. A imagem daquele rosto tão lindo e tão irritado me faz querer rir ainda mais. É claro que ele não respondeu, mas tenho certeza de que vai.

JÁ ERA TARDE quando cheguei em casa. Estava exausta depois de dirigir por tanto tempo. Comi algo rápido e subi correndo para um banho, ansiando pela minha cama.

Depois do banho, me sentei aínda de toalha na cama com o celular em mãos. Logan respondeu poucas horas atrás, mas o trabalho não permitiu que eu visse mais cedo.

" • É 𝚊𝚕𝚐𝚞𝚖𝚊 𝚋𝚛𝚒𝚗𝚌𝚊𝚍𝚎𝚒𝚛𝚊 𝚍𝚎 𝚖𝚎𝚛𝚍𝚊?"

Revirei os olhos. Apertei o botão para uma chamada de vídeo, esperando ansiosamente que ele não recusasse. Um sorriso estampou meus lábios quando ele aceitou a chamada.

- Boa noite, Logan - Posicionei a câmera para que ele viesse apenas meu rosto.

- Que porra é essa, garota? - Ele praticamente rosnou. Admito que sua voz tão baixa e raivosa enviou sinal diretamente para minha boceta.

- Não, não foi uma brincadeira - Respondi sua pergunta. - Na verdade, é uma dúvida bem válida.

- De que merda você está falando?

Observei onde ele estava, parecia meio escuro, como o interior de um carro. Uma gola branca aparecia entre um terno preto.

- Você é tão rabugento, parece que não fode nada além do seu punho há muito tempo.

Ele pareceu chocado, como se finalmente eu tivesse conseguido arrancar a expressão estoica de seu rosto dizendo algo tão absurdo.

- Isso não é da porra da sua conta.

Me recostei nos travesseiros.

- Por que você atendeu? - Perguntei curiosa.

- Porque você ligou, não é óbvio?

- Você parece não gostar muito de falar, então poderia só ter ignorado.

Ele não respondeu imediatamente. Os lábios apertados em uma linha fina, o rosto transformado de uma carranca. Ele ainda é tão bonito que poderia me fazer chorar.

- Não sei, na verdade... - Ele parou de falar, desviando o olhar. - Eu só atendi.

- Costuma atender outras ligações?

- Não.

Sorri novamente.

- Me sinto especial agora - Falei provocadora. Ele grunhiu, parecia prestes a desligar. - Onde você está agora?

- Como assim?

- Parece estar em um carro. Não é um pouco tarde para passear por ai?

- Estou trabalhando - Respondeu.

- Do que você trabalha?
Perguntei curiosa. Eu realmente quero conhecê-lo.

- Por que você está interessada?

Revirei os olhos diante de seu comportamento resistente.

- Porque estou interessada em você, Logan - Falei. - Quero conhecer você.

- Sou motorista - Respondeu ainda parecendo desconfiado.

- Isso é legal - Poderei. - Qual tipo de carro você dirige?

- Uma limousine.

Meus olhos devem ter brilhando imediatamente, tenho certeza de que até ele percebeu isso.

- Você sabe o que vou perguntar - Comecei com um sorriso malicioso nos lábios. E ele sabia, quando bufou de irritação.

- Não...

- Qual é, Logan? - Falei tentando instigá-lo.

- Eu disse que não.

- Você já transou na limousine? - Perguntei ignorando suas advertências. Percebi ele afundando no banco. Ele desviou o olhar não me olhando. - É uma pergunta genuinamente curiosa.

- Você não tem que saber.

- Mas eu quero - Aproximei meu rosto da câmera, um doce sorriso tomando conta do meu rosto naquele momento. - Por favor.

Ele pareceu prender a respiração, irritado demais até para me repreender.

- Não - Respondeu entre os dentes, quase um rosnado. - a resposta é não.

Deslizei a ponta da língua pelos lábios.

- Era a resposta que eu queria - Falei, não completando da maneira como gostaria, mas deixando no ar.

- O que isso significa?

- Acho que é hora de dormir - Falei, ignorando-o deliberadamente. - Já é tarde e amanhã tenho que trabalhar cedo.

Ele resmungou alguma coisa. Algo parecido com "pirralha" ou algo assim.

- Boa noite, Logan - Falei, novamente mantendo uma voz suave e sorriso doce. Ele me olhou profundamente por alguns segundos.

- Boa noite, garota.

Soprei um beijinho para ele antes de desligar. Bem, isso decididamente parece um avanço.

EU AINDA PODIA sentir cada calo das mãos ásperas contra minha pele. Não é real, eu percebo isso na hora que acordo sozinha em minha cama ensopada de suor.

Deitada no escuro do meu quarto, ainda ofegante depois do sonho mais fodido que já tive na vida. Pensei em pegar o celular e mandar uma mensagem. Talvez ele estivesse acordado, eu não sei. Mas pensei melhor a respeito e decidi que não era a melhor idéia. Não no momento. Eram quase quatro da manhã. Ainda madrugada, o céu mergulhado no veludo negro. Meu cérebro não parava de reproduzir as imagens tão vividas que pareciam memórias de algo real. Minha boceta apertou quando pensei nas mãos enormes e na pressão que ele exercia no meu núcleo durante o sonho. Não, definitivamente mandar mensagem para ele não seria a melhor idéia agora.

Então continuei deitada, rolando de um lado para o outro durante algum tempo e sem sinal algum de sono. Conclui que não conseguiria mesmo voltar a dormir, então desliguei o alarme antes que ele pudesse tocar no horário programado. Foi lamentável ter que levantar com tão poucas horas de descanso. Me aprontei para o trabalho com a consciência de que não é nem o meio da semana e eu já me sentia como se tivesse sido atropelada por um ônibus. Depois de pronta, desci para preparar algo para levar e comer na estrada. Havia apenas minha mãe na cozinha.

- Você levantou cedo - Ela comentou assim que me viu.

- Não consegui dormir direito - Resmunguei caminhando até a geladeira.

- Você nunca lidou bem com o calor daqui, não é?

Eu suspirei e balancei a cabeça negativamente. Eu nunca gostei desse calor, ou dessa cidade. Tudo muito seco e árido demais. Minha mãe sempre achou que eu ficaria de vez em NY depois que me formasse, eu sei que a surpreendi com a decisão de voltar. Surpreendi até eu mesma com essa decisão e continuo me questionando sobre ter sido a melhor escolha ou não.

Depois de preparar algo rápido, arrumei minha bolsa e me despedi dela.

Logan's POV

FOI UMA NOITE de merda no trabalho. Bem, meio que todas as noites eram igualmente ruins, mas essa foi pior do que a maioria. Uma despedida de solteiro com sete caras barulhentos e bêbados para caralho que se pudesse, Logan já os teria expulsado de seu carro.
Infelizmente ele não pode. Ele precisa do dinheiro e esses mauricinhos sem noção são os que pagam melhor.

Agora ele estava dirigindo para casa, esperando chegar e dormir algumas horas antes da próxima viagem. Ele foi contratado para levar algumas pessoas em um cortejo fúnebre e isso costuma ser na parte da tarde. Ele estava exausto, sentia cada maldito osso de seu corpo doer. Logan se odeia por isso, ele odeia os sinais óbvios de sua inevitável velhice. Não é como se ele estivesse se recusando a envelhecer, ele apenas odiava a vulnerabilidade que aquilo trazia.

Assim que ele despencou na cama como um saco de pedras, tomando apenas o cuidado de se livrar do paletó e da camisa social para não amassarem, seus olhos já estávam se fechando, beirando a inconsciência de um sono exausto. No entanto, assim que estava prestes a desligar, seu celular vibrou anunciando a chegada de uma nova mensagem.

A reação imediata de Logan para essas coisas é sempre ignorar. Ligações, mensagens, emails, ele não liga para nada disso. Porém, sua mente faz um carrossel voltando diretamente para ela. A pirralha desbocada que lhe foi apresentada tão pouco tempo atrás, mas que já funciona como café em seu sistema, tirando seu sono.

Poderia ser ela mandando mensagem? - Logan se esforça para ignorar o maldito pensamento. Foda-se se for, ela nem deveria ter meu número. – Apenas uma tentativa de se livrar dos pensamentos insistentes sobre a filha do único homem que ele pode considerar realmente um amigo. Logan não tem culpa se a garota decidiu que ele era diversão, afinal, o que alguém como Kloe veria nele se não fosse potencial para passar o tempo?

A curiosidade venceu. Agora sua mente estava cheia dela. Sua voz, seu cheiro, seus olhos e o jeito com a boca brilhante de gloss labial se move em um biquinho. Ele se repreendeu mentalmente por pensar naquilo. Logan sentou-se de mau-humor e pegou o celular com raiva. Ele nem sabia com quem estava bravo. Com ela por deixá-lo daquele jeito ou com ele mesmo por se permitir pensar na pirralha.

Quando viu que a mensagem não era dela e sim do cliente de mais tarde, sua raiva não abrandou nem um pouco. Agora ele estava irritado por ter perdido o sono por nada. Ele estava desperto, apesar de ainda cansado, o sono escapou.

O homem saiu da cama e foi até seu armário onde apanhou um charuto. Conformado com a idéia de que se revirar na cama não lhe traria vantagem alguma. Logan foi até a varanda se sentou pesadamente na cadeira de balanço velha que rangia tanto quanto suas costas que alí ficava. Seus olhos correram pela paisagem ressecada do rancho e suspirou enquanto tocava fogo no charuto.

Ele teve apenas alguns minutos de paz antes que o cara contratado como cuidador de Charles viesse até ele para trazer mais problemas como sempre. Logan ouvia sem emitir nenhum som, fumando o charuto devagar.

— E os remédios ele...

— Já entendi, chará – Resmungou com impaciência, finalmente se cansando daquela ladainha sem fim. – Vou conseguir mais essa semana.

O homem estava prestes a dizer mais alguma coisa, no entanto ele se calou assim que receber um olhar de Logan. Ele se afastou e voltou para dentro.

Outro suspiro vindo do velho homem na cadeira. As perguntas feitas pela garota noite passada voltaram para sua mente. Sobre não foder ninguém e sobre já ter transado em sua limousine. Um grunhido frustrado escapou entre os lábios cerrados quando ele pensou mais sobre isso. Realmente, já faz algum tempo desde a última vez e que Logan estava dentro de uma mulher. Ele sente falta, não vai mentir sobre isso. O calor, o toque, aliviar a tensão simplesmente empurrando forte em alguém.

Ele sabe que poderia ir para o inferno por pensar tal coisa da filha de seu amigo, mas ele não acharia nada ruim ter àquela coisinha malcriada em seu banco de trás. Isso com certeza o tornava um homem ruim.

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