CAP. 2 | PEGA NO PULO.

MINHA CABEÇA estava doendo como o inferno. Tenho certeza de que ressaca é algum tipo de castigo divino. Mais uma vez estou me amaldiçoando por ter bebido tanto, jurando a mim mesma que nunca mais farei isso. Por mais que eu saiba que é uma mentira deslavada, vou fingir que é uma promessa muito válida.

Voltei pouco antes do céu estar completamente iluminado pelo sol da manhã. Noite passada, pouco antes de chafurdar nas doses de tequila, mandei uma mensagem avisando que a sessão acabaria muito tarde e que passaria a noite na casa da amiga que estava comigo. Felizmente, nenhum dos dois estava acordados quando cheguei, isso significa que tive tempo suficiente para um banho e algum tempo de sono.

Quando desci até a cozinha atrás de um remédio para dor de cabeça, encontrei minha mãe preparando algo que parecia uma enorme bacia de salada de maionese. Franzi o nariz, meu estômago quase devolvendo qualquer coisa que tivesse nele.

— Você está péssima – Ela comentou.

— Eu sei – Resmunguei, abrindo a geladeira atrás de algo para beber. Minha língua parecía uma lixa.

— Noite das garotas?

— Tasha tinha vinho – Dei de ombros. – foi divertido.

Ela concordou com a cabeça e voltou a mexer a tigela.

— Seu pai decidiu preparar um churrasco hoje para a final do Superbowl – Ela voltou a falar parecendo mau-humorada. – E se eu tenho que passar por isso, você também têm.

Soltei um gemido.

— Quem está lá fora? – Perguntei, só agora dando espaço em minha mente para reparar no burburinho do lado de fora.

— Alguns vizinhos, amigos do seu pai – Ela colocou a tigela nas minhas mãos. – Coloque isso na mesa do jardim e não deixe seu pai perceber que você bebeu todas ontem. Ele realmente acha que você foi ao cinema.

Ela estava sorrindo com o canto dos lábios, mal conseguindo disfarçar. Fiz o que ela pediu, seguindo para a porta dos fundos. Claro que eu não havia convencido minha mãe com aquele papo de cinema, mas ela muito menos estressante que meu pai com os questionamentos dele. Posso lidar com as piadinhas dela, mas não com os sermões eternos dele.

Quando sai, o sol forte incomodou meus olhos sensíveis. Caminhei até a mesa e deixei a salada alí, antes que tivesse a chance de correr para dentro novamente, fui chamada por meu pai para ser (re)apresentada aos amigos e vizinhos.

Muitos sorrisos polidos, conversa fiada sobre como foi a faculdade e quais são os planos para o futuro. Meu pai fala orgulhosamente sobre a filha veterinária enquanto eu apenas aceno com a cabeça desejando a morte. Eu sei que ele está feliz por eu ter me formado, eu também estou, mas é constrangedor ser exibida como uma de suas medalhas. É frustrante que meu pai só se importe com a filha perfeita para mostrar.

Assim que finalmente pude escapar dali e dei graças ao ar condicionado da sala de casa, acabei tropeçando em alguém que não imaginava encontrar tão cedo.

Logan – Falei com um sorriso no tom de voz. – Não sabia que gostava de futebol.

— Não gosto – Resmungou, encostado contra a parede perto da janela. Sua mão segurando um charuto estava pendendo para o lado de fora. – Seu pai é insistente.

— Oh, isso com certeza ele é – Me encostei ao lado dele. – mas pelo menos sabemos a quem puxei.

Logan me olhou com o canto dos olhos.

— Como foi o cinema?
Havia zombaria em sua voz.

— Foi ótimo – Respondi com um sorriso. – Você não faz idéia.

— Eu faço – Disse, fazendo uma pausa para tragar o charuto. Uma nuvem espessa de fumaça envolveu sua cabeça e aquilo era tão sexy que senti vontade de me aproximar mais. Depois que a fumaça dissipou, ele continuou: – Seu cheiro de destilaria diz isso.

É, ele é bom. Minha mãe me conhece desde que nasci, é normal que ela saiba que bebi todas, mas esse cara? Como ele pode saber só com o cheiro?
Ele só quer me provocar, definitivamente é isso.

— Sabe, Logan – Comecei, chegando mais perto dele, o suficiente para adentrar em sua nuvem de fumaça. É inebriante. Tem um cheiro intenso e excitante que me faz querer descobrir se é o mesmo da pele dele. – Isso não parece ser da sua conta. Por que está tão interessado?

— Porque você é uma mentirosa terrível.

Franzi as sobrancelhas. Além de alguém de poucas palavras, Logan também parece ser do tipo que vai direto ao ponto.

— Incomoda tando você que eu esteja mentindo?

— Para seu pai? Sim – Concordou. – É um bom homem. Essa merda não é legal, meu chapa.

Seu jeito de falar me fez dar uma risada alta.

Meu chapa? – Repeti com humor. No entanto, ele não parecia compartilhar do mesmo sentimento. Logan me lançou um olhar de canto com os olhos apertados.

— O que tem de errado?

— Nada, só é... engraçado – Dei de ombros. – Então, vai ficar escondido aqui o dia todo?

— Pretendo ir embora bem antes do dia acabar.

— Meu pai vai ficar decepcionado.

— Ele vai sobreviver.

Percebi os pelos do bigode dele se agitando quando ele bufou baixo. Acabei me distraindo, observando os traços fortes do rosto dele. Ele tem uma cicatriz na lateral do rosto, isso me deixou curiosa para saber como ele a ganhou. Também fiquei curiosa para saber se ele tem mais. É tão atraente.

— Pare com isso.

Sua voz áspera me arrancou do meu devaneio.

— Parar com o quê?

— De me olhar desse jeito – Resmungou. – E fazer isso com a boca.

Não tinha me dado conta de que estava mordendo os lábios enquanto o observava.

— Isso te deixa nervoso? – Perguntei em tom de voz baixo. Ele soltou um bufo zombeteiro.

— Não se ache tanto.

Revirei os olhos e comecei a me afastar indo em direção as escadas.

— Ótima conversa, mas acho que vou descansar um pouco. Noite agitada, sabe? – Pisquei para ele. Logan apenas me olhou, não se dando ao trabalho de responder minha provocação.

Subi para meu quarto e me joguei na cama, pegando meu celular para verificar as mensagens do dia. Enquanto tentava me distrair, não pude evitar não pensar no homem mau-humorado lá embaixo. Ele parece ter uma casca bastante dura. Muitos anos de silêncio e rabugentisse. É estranho como meu pai conseguiu quebrar a resistência e se tornar amigo dele, mas considerando o que minha mãe disse sobre o Afeganistão, provavelmente um salvou a vida do outro.

Fechei os olhos e aquele par de olhos castanhos estava tatuado em minhas pálpebras. Nunca fui do tipo que curte homens mais velhos, nem na faculdade quando todas as minhas amigas estavam interessadas nos professores. Mas algo em Logan é tão interessante, totalmente instigante de uma maneira que não me permite simplesmente parar de pensar nele. Talvez a aura de introversão misteriosa, a maneira como ele fala mais com os olhos do que com palavras.

Um calor que não tem nada a ver com o sol escaldante do verão no Arizona lambeu meu corpo. Eu sabia que estava relacionado ao homem no andar de baixo. Provavelmente isso é neuo patético da minha parte pensar nele dessa maneira, mas é inevitável também.

Rolei na cama e tentei me distrair com algum vídeo estúpido no Instagram. Tentando ao máximo afastar meus pensamentos do fruto proibido. Acho que usar esse termo sobre ele pode ser um pouco exagerado. Talvez Logan não seja tão proibido assim. É claro que ele é um dos amigos do meu pai e possui provavelmente mais do que o dobro da minha idade, mas quem disse que uma garota não pode sonhar?

Mais do que sonhar. Quem disse que uma garota não pode tentar a sorte? Tenho auto-estima o suficiente para saber que sou bonita. Não havia uma aliança na mão dele, e se Logan fosse casado, definitivamente eu já saberia.

Minha cabeça está fervilhando com as possibilidades. Todos os cenários criados pelo meu cérebro. Em todos eles Logan está me fodendo contra alguma superfície com força o bastante para quebrar meus quadris. Isso me tira o fôlego por alguns segundos, enviando uma pulsação forte em direção ao meu núcleo. É semelhante ao que senti quando fui envolvida pelo cheiro do charuto dele mais cedo.

Decidi descer novamente. Nenhum plano de ação pronto, apenas pensando em sondar o homem. No andar de baixo não o vi em lugar nenhum e quando perguntei a minha mãe sobre ele, sua resposta foi decepcionante:

— Logan já foi – Ela empurrou uma jarra de limonada em minhas mãos. – Ele nunca fica muito tempo.

— Por quê? – Perguntei tentando não soar interessada demais.

— Algo sobre o pai dele – Ela explicou, também ocupando suas mãos com uma jarra. – Algo sobre ele ter Alzheimer e precisar de cuidados.

— Isso é horrível – Murmurei me sentindo mal por ele.

Seguimos para o quintal e deixamos as coisas na mesa.

— Por que nunca vi Logan por aqui antes? – Perguntei, já que a maioria dos amigos do meu pai eram rostos conhecidos, alguns menos, outros mais.

— Eles se reencontraram há mais ou menos três anos – Ela contou se servindo de uma marguerita. – Você estava na faculdade, querida, passou muito tempo longe.

Percebi o toque de crítica. Ela sempre reclamou por eu ter ficado alguns verões sem visitá-los.

— Eu precisava trabalhar, mãe – Revirei os olhos. – Não era sensato abandonar um emprego estável.

— Sim, sim – Ela suspirou. – você tem razão, querida. Eu só estou querendo dizer que sentimos sua falta nesse tempo.

Me aproximei mais para abraçá-la.

— Eu também senti saudades – Falei, deitando minha cabeça em seu ombro.

Um grito de comemoração por algum ponto idiota do jogo me fez pular de susto. Ela riu de mim, mas isso não foi engraçado para mim. Peguei uma bebida e decidi voltar para dentro de casa. Quando passei em frente a mesa de centro da sala, avistei o telefone do meu pai. O sorriso praticamente igual ao do Gato de Alice no País das Maravilhas surgiu no meu rosto quando rapidamente apanhei o aparelho.

Não tinha senha, meu pai não gosta dessas coisas porque está sempre esquecendo e precisando trocar por outra que definitivamente esquecerá também. Não foi difícil encontrar o número de Logan entre os contatos e rapidamente salvar no meu celular.

Coloquei o telefone do meu pai de volta onde estava e subi correndo para meu quarto. Eu estava louca para mandar uma mensagem para ele, mas me controlei o suficiente. Eu queria pensar na coisa certa para mandar e não fazer isso no impulso. Não sei até onde ele aceitaria levar uma provocação como essa. E se ele me entregasse ao meu pai?

Quando a noite chegou, eu estava me preparando para dormir. Antes de deitar, peguei o aparelho e abri no número de Logan mais uma vez, meus dedos flutuando acima da tela.

" • 𝚁𝚘𝚞𝚋𝚎𝚒 𝚜𝚎𝚞 𝚗ú𝚖𝚎𝚛𝚘, 𝚎𝚜𝚙𝚎𝚛𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚗ã𝚘 𝚜𝚎 𝚒𝚖𝚙𝚘𝚛𝚝𝚎."

Enviei a primeira mensagem e então em uma respiração rápida já estava escrevendo e enviando as seguintes:

" • 𝙵𝚘𝚒 𝚞𝚖 𝚝é𝚍𝚒𝚘 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜 𝚚𝚞𝚎 𝚟𝚘𝚌𝚎 𝚜𝚊𝚒𝚞. 𝙾𝚜 𝚘𝚞𝚝𝚛𝚘𝚜 𝚊𝚖𝚒𝚐𝚘𝚜 𝚍𝚘 𝚖𝚎𝚞 𝚙𝚊𝚒 𝚗ã𝚘 𝚜ã𝚘 𝚗𝚎𝚖 𝚍𝚎 𝚙𝚎𝚛𝚝𝚘 𝚝ã𝚘 𝚒𝚗𝚝𝚎𝚛𝚎𝚜𝚜𝚊𝚗𝚝𝚎𝚜."

Não havia percebido que estava sentada na cama. Meu rosto estava quente, mas eu sabia que não tinha nada a ver com timidez ou constrangimento.

" • 𝙴𝚗𝚝ã𝚘... 𝚋𝚘𝚊 𝚗𝚘𝚒𝚝𝚎, 𝙻𝚘𝚐𝚊𝚗."

Nenhuma das mensagens foram lidas imediatamente e eu meio que já esperava por aquilo. Logan parece ser o tipo de homem que o celular vive perdido por ai. Mesmo assim, eu sei que ele verá em algum momento. Deixei o aparelho de lado e apesar de toda a excitação, me forcei a dormir.

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