0.8 | DEVOÇÃO.
PROVAVELMENTE Logan achou que eu nunca descobriria o que ele fez naquela noite. É claro que ele inventou uma desculpa para que minha bolsa tivesse aparecido magicamente no banco de trás do meu carro. No entanto, não havia desculpa que justificasse a notícia de um homem que deu entrada no hospital local com múltiplas lesões no rosto, claramente vítima de um espancamento.
Três dias depois, quando Logan foi convidado para assistir um jogo pelo meu pai, me sentei ao lado dele no sofá e pousei minha mão sobre a dele quando sabia que ninguém estava olhando. No momento em que meu pai se levantou e saiu com alguma piadinha sobre tirar água do joelho, nos deixando sozinhos já que minha mãe estava na cozinha preparando o jantar.
— Obrigada – Falei em tom baixo, por alguma razão sem conseguir olhar diretamente para o rosto dele, só me concentrando em seus dedos.
— Pelo quê?
— Você sabe – Revirei os olhos. – A cidade toda sabe que o homem foi parar na emergência, só não sabem como. Eu sei que foi você.
Logan engoliu o nó na garganta, desviando o olhar para a televisão mesmo que não desse a mínima para o jogo idiota.
— Alguém precisava dar uma lição nele.
— Tenho certeza de que ele aprendeu – Brinquei com os dedos dele. – Aquele cara nunca mais vai chegar perto de mais nenhuma mulher, com ou sem consentimento.
— Isso é quase o suficiente para mim – Logan bufou.
Puxei a mão dele para o meu colo e me distraí por alguns instantes enquanto traçava as linhas ásperas.
— Eu contei aos meus pais o que aconteceu – Falei. – Quero dizer... não exatamente, eu só falei que não estava mais tão segura com as visitas, existem muitos malucos por aí. Meu pai disse que finalmente algum juízo entrou na minha cabeça e disse que falaria com um amigo dele que tem um consultório no centro. Começo lá na segunda.
— Isso é bom – Ele disse baixo, não percebi, mas seus olhos me observavam com atenção agora.
— Pretendo denunciar... em algum momento – Balancei a cabeça. – Só não agora, talvez seja medo do que vem depois, não quero ficar marcada por isso, mas também sei que é a coisa certa para fazer.
— Faça as coisas no seu tempo, querida – Ele me olhou, sua expressão era séria, mas havia calor em seus olhos. Logan parecia afetuoso. – Só saiba que você vai estar segura. Àquele imbécil nunca mais vai tocar em você.
Eu sorri, sabendo que realmente podia confiar em suas palavras.
— Quero recompensar você.
— Você não precisa fazer nada. Fiz o que qualquer homem decente deve fazer.
— Você foi me encontrar sem questionar, Logan – Ergui os olhos para encontrar os dele. – Não fez perguntas inconvenientes e nem comentários, você só... sentou lá e cuidou de mim. Você me trouxe para casa, rebocou meu carro, até gasolina nele você tinha colocado quando acordei. Isso não é algo que qualquer homem faria.
— Você realmente não precisa – Ele apertou levemente minha mão. – Conte como uma retribuição pelo outro dia.
Ouvi passos, eram meu pai voltando. Lancei um último olhar para Logan, deixando claro que não estava encerrando àquilo daquela maneira e que aínda iria agradecer de alguma maneira. Ele manteve a expressão firme, tão teimoso quanto só ele.
TENHO UMA vaga idéia do que quero fazer para retribuir o que Logan em fez. Ou pelo menos mostrar minha gratidão de uma maneira fofa. Logan não é um homem fofo, mas não quer dizer que ele não mereça.
Chamei Tasha para vir até em casa. Quando fui recebê-la na entrada da casa, ela pulou em mim me abraçando com força. Contei a ela de forma resumida o que aconteceu por ligação e ela ficou furiosa.
— Como você está? – Perguntou em tom baixo.
— Agora estou melhor – Afirmei. – Vamos para o meu quarto, lá eu explico melhor.
Passamos pela sala e ela acenou timidamente para meu pai e Logan. Ele lançou um olhar de reconhecimento para ela, acenando com a cabeça suavemente em sinal de cumprimento.
Assim que entramos no quarto e ela sentou na cama, as perguntas começaram:
— Como tem estado nos últimos dias?
— Melhor do que achei que ficaria – Dei de ombros. – Eu estava apavorada. E com raiva, tanta raiva... por não ter conseguido agir melhor.
— Mas você agiu – Ela segurou minha mão. – Não tem como prever nossas reações, nós fazemos o que podemos nessas horas.
Balancei a cabeça.
— Você está certa, eu meio que entendo agora – Me recostei contra a cabeceira da cama. – Depois que a coisa passou e eu soube o que Logan fez, eu...
— Logan? – Ela me interrompeu. – O que ele fez?
— Ele foi atrás do cara e arrebentou ele para valer – Contei com um sorriso. – Não sou a favor de violência na maioria dos casos, mas não vou negar que o que Logan fez me deixou bem aliviada.
— Como ele soube o que aconteceu?
— Liguei para ele – Contei. – Ele veio tão rápido. Ele fez tudo certo. A gente não espera que um homem com a aparência dele, tão... bruta, saiba ser tão suave, mas ele foi. Ele ficou lá, quieto e só cuidou de mim.
Tasha balançou a cabeça, como se estivesse ponderando alguma coisa.
— Como você fez por ele.
— É, meio que sim – Soltei um suspiro. – Ele disse a mesma coisa.
— E qual é o problema?
— Nenhum, eu só queria agradecer – Dei de ombros. – Pela forma como ele agiu, mas ele não quer.
— Você pode fazer algo surpresa – Ela sugeriu.
— Como o quê? – Perguntei interessada.
Tasha começou a dar algumas ideias. Ela é bem criativa na verdade e suas sugestões eram boas. Eu sabia que Logan não aceitaria nada grandioso, ele provavelmente daria as costas e iria embora. Mesmo assim continuamos pensando no que poderia ser uma boa escolha. Eu realmente queria fazer algo especial.
Quando minha mãe chamou todos nós para o jantar e nos reunimos na mesa. Acabei ficando ao lado de Logan, mas por uma configuração arranjada propositalmente por Tasha.
— Entediado? – Perguntei baixo para Logan.
— Cansado – Suspirou.
Ele parecia mesmo cansado. Claro que ele meio que sempre parece, mas especialmente essa semana. Posso imaginar que o motivo é o trabalho, não é muito difícil presumir isso. Lentamente a idéia de como irei agradecê-lo por sua conduta começou a se formar em minha mente. Ele vai reclamar, mas é claro que sim, ele reclamaria de qualquer coisa simplesmente por ser uma bunda rabugenta, mas pelo menos ele aínda poderá aproveitar.
Logan's POV
AO CHEGAR em casa naquela noite, Logan sentia cada osso de seu velho corpo doer. O homem mancou um pouco até o banheiro onde arrancou a camisa para verificar o motivo dos pontos estarem queimando encontrou um pouco de sangue. Claro que não tinha nada a ver com o trabalho dela, Kloe fez pontos excelentes nas condições que tinha, e Logan não aceitou ir a emergência, então ele não poderia reclamar. A questão é que ele não tomou nenhuma das precauções recomendadas.
Ele lavou da melhor forma e tomou os remédios, esperando que resolvesse. Logan retornou até o quarto e despencou na cama. Não tinha nenhum trabalho marcado para esta noite, e ao mesmo tempo que seu corpo exausto agradecia, sua mente agitada se preocupava.
Não é como se ele sempre estivesse precisando de dinheiro. Mas ele está economizando. Logan anseia por paz e silêncio. Alguns anos atrás ele decidiu que passaria seus últimos anos em alto mar, onde ninguém encheria a porra do saco dele. Então ele tem guardado dinheiro para um barco, que com o tempo ele percebeu que não seria pouco dinheiro. Além disso, tem as despesas com Charles, que ele realmente não se importa em arcar considerando tudo, mas acaba fazendo com que ele tenha que trabalhar turnos a mais e se negligenciar completamente.
Ele se lembrou da expressão da garota quando disse que não gozava há muito tempo. Como ela riu sem acreditar nas palavras dele. Ele não tinha tempo nem mesmo para cuidar de si mesmo, chegando em um ponto onde estava tão cansado que se tornou indiferente, ele não sentia falta. Claro que isso só durou até ter aquela coisinha bonita de joelhos na frente dele. Logan grunhiu só de lembrar da sensação dos lábios dela envolta de seu pau.
Nada saia da mente dele. Logan conseguía reviver em sua mente cada segundo exatamente como aconteceu. Ele sente as pontas dos dedos formarem com a sensação do toque na pele macia como seda. Ele se lembra dos gemidos, cada um deles, como se fossem musica em seus ouvidos. Ele olhou para a marca de dentes que agora já estava quase sumindo e isso só serviu para deixá-lo mais duro.
Logan ainda se sente um bastardo filho da puta por ter fodido a filha do melhor amigo dele. Na verdade, ele se sente ainda pior por ter gostado do que fez. Mas ele não é o tipo que se arrepende. Logan sabe que já cometeu muitos erros, mas nunca foi o tipo de homem que choraminga pelas atitudes que tomou.
Os remédios começaram a fazer efeito e ele adormeceu profundamente pouco depois. Não durou muito, já acostumado com as horas racionadas de sono. Quando se levantou cambaleando, conseguiu ouvir os resmungos do quarto do lado. Ele tropeçou para fora até se apoiar na batente da porta do quarto de Charles.
— Que diabos tá acontecendo aqui? – Perguntou quando observou o cuidador se afastar da cama.
— Ele se recusa a comer.
Logan esfregou os olhos, expulsando os resquícios de sono.
— Por quê?
— Porque essa lavagem é horrível – Charles resmungou.
— Eu sou enfermeiro, não cozinheiro – O outro se justificou.
Logan não queria lidar com àquilo. Ele sabe que deveria, que poderia tentar alguma coisa, mas ele nunca foi bom mediador. Alguém poderia dizer que ele é um velho ranzinza, mas ele era ainda pior quando jovem. Ele está disposto a se matar de trabalhar para pagar o enfermeiro e os remédios, mas ele não é do tipo que tem paciência. É simplesmente o jeito dele.
Antes que ele se irritasse de verdade com a situação, seu celular vibrou no bolso do jeans. Logan o pegou e saiu resmungando atrás de seus óculos. Quando conseguiu encontrá-los, voltou para o aparelho.
Era uma oferta para um trabalho. Não tinha muita descrição, era até um hotel um pouco longe da rota e ao que parece estavam querendo reservá-lo por algum tempo. Sua cabeça já estava doendo só de imaginar o que poderia ser. Despedidas de solteiras ou formatura. Mulheres amam se aprontar em hotéis, SPA's ou merdas assim e ele sempre precisa ficar no bar por horas ou dormindo no próprio carro enquanto ficava esperando para levá-las ao próximo destino depois. O valor costuma ser bom, dessa vez não era diferente, então ele aceitou. Na verdade o valor era bem mais alto do que ele estava acostumado e ele percebeu que era pela taxa de reserva.
O contratante enviou o local e o horário que Logan deveria buscá-lo na manhã seguinte, informando que seria sua filha e algumas amigas que ele estava indo buscar. Logan respondeu com um simples "ok", afinal, ele não da a mínima.
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