43. I still love you, i promise


⋆౨˚ ˖

I miss you, i'm sorry - Gracie Abrams


A chuva escorria pelo vidro do ônibus, formando linhas tortuosas que desapareciam no canto da janela. Eu estava encostado ali, a testa apoiada no vidro frio, olhando para o nada enquanto as gotas caíam incessantemente. O som abafado da conversa de Yoon atrás de mim era apenas um ruído distante. Ele falava alguma coisa, provavelmente provocando ou tentando me distrair, mas eu simplesmente não conseguia prestar atenção.

Minha mente estava em um lugar bem distante daquele ônibus, em um turbilhão de pensamentos e cenas que se repetiam sem cessar.

A primeira delas era o momento em que caí. Aquele chute certeiro de Yuri que me derrubou no tatame, me deixando vulnerável, exposto. Não importava o quanto eu tentasse justificar, que estava desestabilizado, que a luta não era justa, a sensação de fracasso ainda me corroía. Era como se o impacto não tivesse apenas derrubado meu corpo, mas também minha confiança, minha determinação.

E, depois disso, vieram as imagens de Calista. Ela, no tatame, com aquele olhar frio e impiedoso que eu nunca tinha visto antes. Ela desferindo golpes com uma intensidade que eu reconhecia muito bem, porque já senti isso em mim. Aquela era a raiva que eu conhecia, a raiva que eu temia. Mas ver isso nela foi diferente. Foi assustador.

Lembrei-me do momento em que ela quebrou o nariz da garota, do som do impacto, do sangue escorrendo. Calista ficou ali, imóvel por um segundo, olhando para o que tinha feito, e foi como se o mundo tivesse parado. Eu queria correr até ela, puxá-la para longe, dizer que aquilo não era ela, mas meu corpo parecia congelado. Tudo que consegui fazer foi assistir enquanto ela olhava para a multidão, com um misto de confusão e arrependimento.

Mas o que realmente me atingiu foi o que aconteceu depois.

Eu a segui. Não consegui evitar. Vi quando ela saiu do tatame e, mesmo sabendo que ela provavelmente não queria me ver, não consegui ficar parado. Fui atrás dela porque precisava falar com ela, precisava dizer algo que pudesse ajudar, que pudesse fazer com que ela entendesse que eu ainda estava ali por ela, mesmo depois de tudo.

Mas ela não quis ouvir.

Lembrei-me do toque dela, das mãos quentes em meu rosto enquanto ela examinava meu olho ferido. Por um momento, pensei que havia uma chance. Que, apesar de tudo, ela pudesse abaixar a guarda e me deixar entrar. Mas então veio aquela barreira invisível, o muro que ela ergueu entre nós.

As palavras dela foram um golpe mais forte do que qualquer chute ou soco que eu tinha levado naquele dia.

"Não quero ouvir nada de você. Só... Vai embora, e vê se cuida desse olho."

A dor no meu peito foi insuportável. Ela estava tão ressentida, tão cheia de mágoa, que não conseguia me deixar chegar perto. Mesmo assim, eu vi nos olhos dela que ela ainda se importava. Vi isso quando ela colocou as mãos no meu rosto. Vi isso na maneira como ela olhou para mim, por mais breve que fosse. Ela ainda se preocupava, mas estava ferida demais para admitir, e eu não podia a culpar, porque ela estava certa em sentir raiva de mim.

E isso... Isso era o que mais doía.

Eu encarei meu reflexo fraco no vidro da janela, as luzes da estrada borradas pela chuva. Como eu deixei as coisas chegarem a esse ponto? Ela me amava. Eu sabia disso. E eu também a amava, com tudo que eu tinha. Mas, de alguma forma, tudo estava desmoronando.

A lembrança da praia veio à tona, de como ela me disse aquelas palavras que eu esperei ouvir por tanto tempo.

"Eu te amo."

E eu respondi com tanta certeza.

"Eu sempre vou voltar pra você. De joelhos, se for preciso. Sempre, Calista."

Agora, aquilo parecia uma promessa quebrada, um eco vazio do que éramos. Eu queria que ela me perdoasse. Queria mais do que tudo que ela visse que eu estava arrependido, que tudo o que eu fiz foi porque eu achava que era o certo no momento.

Mas, naquele instante, vendo meu reflexo no vidro e ouvindo o som da chuva, não tinha certeza se ela poderia perdoar.

Yoon deu uma risada atrás de mim, puxando-me de volta para a realidade.

— Ei, Kwon, você tá me ouvindo?

— Cala a boca, Yoon.

Minha voz saiu baixa, mas firme, e ele ficou em silêncio. Eu não queria a companhia dele, nem de ninguém. Tudo o que eu queria era voltar no tempo e consertar as coisas. Mas o tempo não funcionava assim, e eu sabia que precisaria lutar mais uma vez, não apenas no tatame, mas por ela.

Encostei a cabeça novamente no vidro, fechando os olhos enquanto a chuva continuava a cair, pesada e incessante, como se o universo estivesse chorando por mim.

A tela do celular brilhava na minha mão, iluminando meu rosto enquanto eu encarava as mensagens antigas. Lá estava o nome dela, Minha Dinamite. Ver isso só fazia meu peito apertar ainda mais. A dor era sufocante. Eu já tinha mandado tantas mensagens, cada uma mais desesperada do que a outra. Perguntas sem resposta. Palavras que nunca chegaram a lugar algum.

E agora, aqui estou eu, olhando para o vazio digital, tentando encontrar as palavras certas para dizer o que está entalado na minha garganta.

Mas como eu poderia colocar isso em palavras? Como eu poderia fazer ela entender o que eu sentia, o que estava me matando por dentro?

Meus dedos pairaram sobre a tela, hesitantes, até que comecei a digitar.

"Calista,

Eu não sei nem por onde começar. Todas as vezes que tentei falar com você, só consegui bagunçar ainda mais as coisas. E talvez eu esteja fazendo isso de novo agora, mas eu preciso dizer o que está preso dentro de mim antes que eu enlouqueça.

Eu estava perdido antes de você. Perdido de um jeito que ninguém conseguia ver. Tudo ao meu redor era escuridão, Calista. Eu não enxergava nada além do vazio, e o pior é que eu tinha me conformado com isso. Eu achava que era assim que as coisas seriam pra sempre.

Mas então você apareceu.

Você trouxe luz pra minha vida de um jeito que eu nunca achei que fosse possível. Mesmo sem perceber, você iluminou o caminho que eu não sabia que precisava seguir. Você me fez ver as coisas que realmente importavam.

A verdade é que eu nunca tive alguém que me amasse de verdade, que cuidasse de mim como você cuidou. E, quando você fez isso, mesmo sem precisar, mesmo com tudo o que você já carregava... eu não soube lidar. Você foi tudo o que eu nunca tive, Calista. E eu tentei ser isso pra você também.

Eu queria ser o cara que você podia contar. O cara que te protegeria, que te amaria do jeito que você merece ser amada. Mas eu falhei. Mais de uma vez.

Eu sei que a sua vida é um inferno por causa dele. Por causa do Silver. E eu sei que eu não tenho desculpas. Nada que eu diga vai justificar o que eu fiz. Eu me arrependo, com cada fibra do meu ser, de ter agido como agi.

Eu estava com raiva. Eu estava com ciúmes. E, no fundo, eu estava com medo. Medo de ter te perdido, mesmo quando não tinha. Eu interpretei as coisas errado. Eu fui um babaca. E você não merece isso. Você nunca mereceu.

Mas a verdade é que eu não consigo imaginar minha vida sem você.

Eu perdi aquela luta hoje porque sabia que, ao final dela, você não estaria lá. Você não estaria me esperando com aquele sorriso que sempre me dava forças. Aquele sorriso que iluminava tudo ao meu redor.

Eu só queria que as coisas dessem certo. Eu só queria que nós déssemos certo.

Eu não quero mais me esconder. Não quero mais esconder o que sinto por você. Mas eu sei que isso tem um custo. Eu sei que você estava tentando me proteger. De Silver, de Kreese, de tudo isso. E, mesmo assim, eu te machuquei.

Desculpa, Calista. Por ter sido egoísta. Por ter sido precipitado. Por ter sido idiota. Por ter te machucado quando você já carregava tanto.

Eu sempre me senti forte quando me sobressaía, quando fazia os outros se curvarem ou sofrerem. Mas agora... Agora eu só me sinto um lixo. Um monstro.

Você disse que sempre me perdoaria. Que eu podia voltar pra você, de joelhos, se fosse preciso. Eu sei que isso aqui é extremo. Eu sei que talvez você não queira me perdoar agora.

Mas, Calista... Eu vou continuar voltando pra você. De joelhos, implorando, se for o que for preciso. Porque eu não sei viver sem você."

Olhei para a mensagem por um longo tempo antes de apertar "enviar". Minha mão tremia, e meu coração batia como se estivesse prestes a sair do peito. Quando finalmente pressionei o botão, senti um peso saindo de mim, mas ele foi substituído por outro, a incerteza.

Eu não sabia se ela ia responder. Não sabia se ela ia sequer ler. Mas eu precisava tentar.

A chuva ainda caía, batendo na janela do ônibus, criando trilhas rápidas que desapareciam no vidro. Eu encostei a testa contra ela, tentando encontrar alguma calma no ritmo monótono das gotas, mas era impossível. Minha mente estava em um turbilhão, sempre voltando para o mesmo ponto, Calista.

Tudo nela consumia meus pensamentos. O jeito como me olhava, mesmo quando estava irritada, sempre com aquele fogo nos olhos. A forma como a voz dela soava, uma mistura de doçura e sarcasmo que sempre me desarmava. Eu queria que ela me xingasse. Queria ouvir aquele tom sarcástico me chamando de "gênio", só para me provocar. Pelo menos isso seria um sinal de que ainda havia algo de nós dois, algo que não estava perdido.

Mas o silêncio dela estava me destruindo.

Eu puxei o celular do colo e olhei novamente para a tela, como se pudesse forçar uma resposta. O nome "Minha Dinamite" ainda estava lá, brilhando de um jeito que parecia zombar de mim. Suspirei fundo, irritado comigo mesmo, com ela, com a situação.

Foi quando a notificação apareceu. O som quebrou o silêncio, e eu peguei o celular na mesma hora, meu coração disparado.

— Por favor, que seja ela... — Murmurei, quase em uma prece silenciosa.

Mas minha esperança virou frustração ao ver que era apenas uma mensagem de voz de um número desconhecido. Provavelmente alguma cobrança idiota, ou spam. Suspirei, jogando o celular de lado, mas minha mente começou a criar uma ideia que, no fundo, sabia que era ridícula.

E se fosse ela?

E se ela tivesse encontrado alguma maneira de me mandar uma mensagem sem ser vista? Talvez Silver tivesse tomado o celular dela, e ela precisasse usar outro número. Talvez...

Sem pensar muito, peguei o telefone de novo e coloquei a mensagem para tocar.

Foi quando ouvi a voz dela.

Aquele som, mesmo carregado de cansaço e medo, fez meu peito se apertar de alívio. Ela estava ali, falando comigo.

— Oi... — Ela começou, com uma timidez que me fez sorrir de lado. — Eu não posso falar muito... Tenho vigias no meu cangote o tempo todo, sabe como é. Mas... Não dá pra resolver as coisas com um textinho ou uma mensagem de voz.

Eu ri, nervoso, sentindo meu coração se acelerar.

—  Se você realmente quer resolver isso, Kwon... —  A voz dela hesitou por um momento, antes de continuar —  Então a gente vai resolver cara a cara. E, já que você disse que ficaria de joelhos, bom... Eu adoraria assistir.

A risada escapou de mim, como se fosse a primeira vez em dias que eu respirava de verdade. Só ela conseguia fazer isso.

— Eu realmente quero encontrar forças para te perdoar — Ela disse, e meu sorriso se desfez, o peso voltando ao meu peito. —, mas está dilacerando o meu peito. Então você vai ter que ser muito convincente, entendeu? Me encontre no elevador do hotel depois das 22h. Eu dei um jeito de enganar o Silver, mas ele não vai demorar a perceber. Seja rápido.

A mensagem terminou. Eu olhei o horário na tela, 21h30.

Eu me levantei de imediato, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias. Tudo o que eu precisava fazer era vê-la. Falar com ela. Consertar isso, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

Yoon olhou para mim, confuso, enquanto eu passava correndo por ele.

— Ei, o que foi? — Ele perguntou, mas eu nem me dei ao trabalho de responder.

Fui direto até o motorista do ônibus, gritando.

— Para! Para esse ônibus agora!

O homem olhou para mim pelo retrovisor, surpreso, mas não desacelerou. O veículo ainda seguia devagar, a caminho de uma parada no restaurante, mas eu não podia esperar.

Quando percebi que não ia conseguir convencê-lo, me movi até a porta traseira. Nem esperei. Pulei do ônibus em movimento, sentindo o impacto no chão molhado, mas não parei.

Ouvi Kim gritar atrás de mim, a voz dela cortando a chuva.

—  Onde você pensa que vai, Kwon?

Eu ignorei. Não importava. Nada importava além de chegar até o hotel.

Comecei a correr, meus tênis batendo contra o asfalto encharcado, minha respiração acelerada. O ar frio da noite queimava meus pulmões, mas eu não parei. Cada gota de chuva que caía no meu rosto parecia me empurrar mais para frente, me lembrando do que estava em jogo.

Calista.

O único nome que martelava na minha mente, como um mantra.

Eu sabia que isso provavelmente era loucura. Que me rebelar assim contra Kim e contra todo o time podia custar caro. Mas, pela primeira vez, eu não me importava com as consequências.

Cheguei ao hotel quase sem fôlego, meu corpo doendo, mas minha determinação intacta. Olhei para a entrada e, pela primeira vez, senti um lampejo de esperança.

Eu precisava fazer isso. Por ela. Por nós dois.

O ar frio do saguão do hotel me envolveu assim que passei pelas portas, ainda ofegante da corrida. Cada músculo do meu corpo protestava, mas minha mente estava clara, eu precisava encontrá-la. A chuva ainda escorria pelas minhas roupas e cabelo, mas nada disso importava. Tudo o que eu podia pensar era no elevador e no que me aguardava lá dentro.

A ironia da situação não me passou despercebida enquanto corria na direção do painel. O elevador. Sempre ele. Como se fosse o único lugar no mundo onde a gente podia ser sincero, onde o mundo ficava suspenso por alguns segundos e tudo o que importava era ela e eu.

Por um momento, minha mão hesitou sobre o botão. E se isso fosse um plano de Silver? E se ele estivesse esperando do outro lado, pronto para me fazer pagar por desafiar suas regras? O pensamento passou como um raio pela minha cabeça, mas eu o expulsei, respirando fundo. Não importava. Mesmo que fosse uma armadilha, eu tinha que correr o risco.

Apertei o botão.

Os números começaram a diminuir lentamente. Cada andar que o elevador descia fazia meu coração bater mais forte. Quando o painel finalmente marcou o térreo e as portas começaram a abrir, senti meu peito afundar.

Calista.

Ela estava ali.

O cabelo preso de forma desleixada, algumas mechas caindo no rosto. Olheiras profundas. O semblante dela estava desgastado, como se cada segundo da última semana tivesse sido um campo de batalha. Mas ela ainda era ela. A garota que me deixava sem chão, a garota que ainda fazia o mundo parecer menos sombrio, mesmo quando ela própria estava carregando tanto peso.

Quis correr até ela, abraçá-la, dizer tudo o que eu sentia. Mas hesitei.

Ela apenas inclinou a cabeça, um gesto que dizia mais do que palavras, e deu espaço para eu entrar.

Caminhei até ela, começando a falar, mas antes que pudesse formar uma frase, ela ergueu a mão, me interrompendo. Sem dizer nada, apontou para a câmera do elevador e ergueu o polegar, um sinal para alguém que eu não conseguia ver.

Franzi o cenho, mas antes que pudesse perguntar, o elevador parou de repente, as luzes internas piscando por um segundo antes de se estabilizarem.

Ela se sentou no chão metálico, encostando as costas na parede e apoiando os braços sobre os joelhos. Eu ri, sem acreditar no que estava vendo.

— Você fez isso mesmo?

Ela me lançou um olhar sério, sem responder.

— Claro que fez... — Murmurei, soltando uma risada sem graça enquanto me sentava ao lado dela. O silêncio caiu por um momento, pesado e cheio de coisas não ditas, até que resolvi quebrá-lo.

— Calista, eu... — Comecei, mas ela me cortou novamente, virando o rosto para mim.

— Eu já disse não quero ouvir suas desculpas, Kwon. — Disse ela, a voz baixa, mas firme. — Você disse que imploraria de joelhos, certo? Então faça isso.

A coragem na voz dela me desarmou. Respirei fundo, deixando o peso da situação me inundar. Inclinei a cabeça, ciente de que eu merecia essa humilhação, me levantando lentamente, e me ajoelhei diante dela, juntando as mãos.

—- Por favor, Calista... — Comecei, a voz rouca e baixa. — Eu sei que sou um idiota. Sei que não mereço seu perdão, mas o custo de você não me perdoar... Seria a minha morte.

Ela riu, um som breve e quase sem humor.

— Exagerado como sempre.

Levantei os olhos para ela, meu rosto sério.

— Eu não estou exagerando. Estou falando sério.

Os olhos dela se suavizaram por um momento, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

— Talvez eu pense no seu caso. — Disse ela, com um tom que misturava sarcasmo e algo mais profundo.

Respirei fundo, voltando a me sentar ao lado dela, tentando encontrar as palavras certas. Virei o rosto para encará-la, e, para minha surpresa, ela também virou para mim.

Aquele olhar... Era como uma fagulha de esperança que reacendia algo em mim.

— Eu ainda estou irritada, sabia? — Ela disse, finalmente quebrando o silêncio. — Não totalmente, mas uma parte de mim quer continuar brava. Porque, caramba, Kwon, não é nada legal ver a pessoa que você ama beijando outra qualquer.

As palavras dela me atingiram como um golpe direto no peito. Fiquei em silêncio, sentindo o peso delas.

— Mas — Ela continuou —, outra parte de mim quer te perdoar. Já perdoou, na verdade. Só que ainda dói. Então... Talvez seja melhor continuar fingindo que as coisas estão mal resolvidas por mais alguns dias.

Franzi o cenho, a irritação crescendo dentro de mim.

— Você está "terminando" comigo de novo?

Ela riu, suave e sem pressa.

— Não dá pra terminar algo que nunca teve um rótulo, Kwon. Vamos fingir que somos rivais até o campeonato acabar, certo?

As palavras dela eram como uma faca.

— Depois disso — Ela continuou —, eu vou me livrar do Silver, me focar em uma faculdade bem longe desse maníaco... E as coisas talvez fiquem mais fáceis. Mas agora não dá. A gente não pode ficar junto. E você sabe disso.

Eu queria gritar. Queria protestar, mas segurei tudo, apertando os punhos.

— E mesmo quando estivermos a sós, você vai continuar me ignorando?

Ela assentiu, séria.

— Só por alguns dias. Palavras não são suficientes, Kwon. Perdão não é algo que acontece da noite para o dia.

Olhei para ela, desesperado.

— Eu corri quilômetros na chuva pra vir te ver. O que mais eu preciso fazer, Calista? Me diz o que eu tenho que fazer pra, pelo menos, ver você sorrir pra mim de vez em quando.

Ela segurou minha mão com firmeza, seu toque quente e decidido.

— Você reviveu memórias minhas antes, para me fazer lembrar de você. Agora não vai ser diferente. Só... Volte a ser o Kwon daqueles dias. Leve, carinhoso, mas focado. Porque, se você gastar toda sua energia comigo e tomar uma surra do Yuri de novo, eu mesma vou te dar um pé na bunda, definitivo, agora.

Ela passou a mão pelo meu rosto, o toque suave, mas cheio de significado.

— E pelo amor de Deus, cuide desse olho, por favor.

— Você ainda se preocupa comigo? — Perguntei, a voz mais baixa.

— Claro que sim. — Ela murmurou, quase como um segredo. — Esses dias longe... Eles vão ser suficientes. Pra afastar Silver, Kreese... E minha raiva.

Eu assenti, mesmo com o peito apertado.

— Tudo bem. Mas eu vou te reconquistar. Mil vezes, se for preciso. Então se prepare.

Ela abriu um sorriso breve, cheio de algo que me deu forças.

Levantou-se, fez outro sinal para a câmera, e o elevador voltou a funcionar. Quando as portas se abriram no térreo, ela olhou por cima do ombro para mim.

— Se você perder pro Yuri de novo, Kwon... Vai ser pé na bunda oficialmente, entendeu? — Disse ela, sorrindo.

Eu ri, finalmente, sentindo o peso aliviar um pouco. E ela saiu, enquanto eu fiquei ali, sentado no chão do elevador, processando cada palavra.

Minha dinamite. Ela ainda era minha dinamite. E agora eu tinha o combustível que precisava para acabar com o Yuri.

As portas do elevador se fecharam lentamente, e eu fiquei ali, encarando o reflexo opaco nas paredes metálicas. Pressionei o botão do andar do meu quarto, soltei um longo suspiro e encostei a cabeça contra a parede. O silêncio do elevador era quase ensurdecedor, como se todas as vozes e pensamentos na minha cabeça tivessem ficado ainda mais altas.

— Um tempo. — Sussurrei, deixando as palavras dela ecoarem na minha mente.

Um tempo para ela processar. Um tempo para eu provar que podia ser melhor, que podia ser o Kwon que ela precisava. Que podia ser o Kwon que ela queria.

O tempo parecia lento enquanto o elevador subia. Meus olhos fecharam por um momento, mas minha mente não parava. Tudo o que eu conseguia pensar era nela. Calista. Seu sorriso breve antes de sair do elevador, seu toque no meu rosto, a firmeza nas palavras que ela usou para me fazer entender que, mesmo irritada, ela ainda se importava.

— Eu vou te reconquistar de novo — Murmurei para mim mesmo, minha voz um sussurro.

Não importava quantas vezes fosse preciso. Uma das melhores coisas que eu fiz na vida foi conquistá-la. Primeiro, quando ela me odiava e achava que eu era só um idiota qualquer. Depois, quando ela perdeu as memórias e eu tive que mostrar pra ela quem éramos juntos. Agora, era a terceira vez, e, de alguma forma, parecia ainda mais importante.

Quando o elevador finalmente parou no meu andar, eu saí e caminhei pelo corredor, cada passo pesado e cansado, mas minha determinação me empurrava para frente. Assim que cheguei no quarto, abri a porta e deixei minhas coisas caírem no chão.

Estava encharcado. Cada pedaço de roupa colado ao meu corpo, a água escorrendo pelo carpete, mas eu não me importei. Fui direto ao banheiro, acendi a luz e encarei meu reflexo no espelho.

Meu cabelo estava desgrenhado, as olheiras começavam a aparecer, e meus olhos estavam vermelhos, talvez pelo cansaço, talvez pela chuva. Suspirei e me afastei do espelho, começando a tirar as roupas molhadas enquanto minha mente ainda girava.

Antes de entrar no banho, peguei o celular e sentei na beira da cama. Minhas mãos hesitaram por um momento, mas então comecei a digitar.

"Ei, as equipes estão combinando de ir ao parque aquático amanhã. É sábado, e a competição só volta na segunda... Então talvez a gente possa se encontrar. Vai ser divertido. Com sorte, você começa a sentir menos raiva de mim com o dia que eu preparei."

Li a mensagem duas vezes antes de enviá-la.

Assim que apertei o botão de enviar, senti um nervosismo familiar. Minha mente começou a criar cenários. E se ela não responder? E se ela nem aparecer? Mas mesmo com essas dúvidas me rondando, eu sabia que precisava tentar.

Deixei o celular na cama e voltei ao banheiro. A água quente começou a correr pelo chuveiro, o vapor subindo e preenchendo o espaço apertado. Entrei, sentindo o calor bater na minha pele e afastar o frio que ainda parecia preso em mim.

Suspirei profundamente, deixando a água escorrer pelo meu rosto e ombros. Meu corpo estava cansado, como se toda a corrida, a ansiedade, e o peso das últimas horas tivessem me drenado completamente.

Mas, ao mesmo tempo, algo em mim estava em paz. Eu tinha visto Calista. Eu tinha falado com ela. Mesmo com toda a dor e a distância, havia algo ali, uma chama pequena, mas suficiente para reacender minha esperança.

Enquanto esfregava o shampoo no cabelo, minha mente começou a planejar. Ela vai aparecer, pensei, tentando me convencer. Se ela realmente fosse, eu precisava fazer daquele dia algo especial. Algo que nos lembrasse de quem éramos antes de tudo desandar.

O vapor tomou conta do banheiro, e eu respirei fundo, sentindo o aroma fresco do sabonete. Enquanto lavava o rosto, sorri brevemente, lembrando do sorriso dela no elevador. Mesmo curto, mesmo com a tensão entre nós, ainda era o sorriso dela.

Quando finalmente desliguei o chuveiro, me senti um pouco mais leve, como se a água tivesse levado embora parte do peso que eu estava carregando. Peguei uma toalha e a enrolei em volta da cintura, caminhando de volta para o quarto.

O celular ainda estava na cama, a tela apagada.

— Talvez ela não responda hoje — Murmurei encarando a tela, tentando não deixar a ansiedade tomar conta. — Mas ela vai aparecer amanhã. Eu sei que vai.

Com essa ideia na cabeça, me deitei na cama, deixando o cansaço me puxar para um sono leve e agitado. Amanhã seria um novo dia. Um dia para tentar de novo, para fazer as coisas darem certo. Para trazer Calista de volta para mim.

Obra autoral ©

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top