27. Please, come back

Eu não conseguia parar de andar. Cada passo meu ecoava na sala de aquecimento, mas nada parecia diminuir a pressão no meu peito. Minhas mãos tremiam enquanto eu as passava pelos cabelos, tentando inutilmente me acalmar. Isso não era só preocupação, era um desespero que queimava, crescendo a cada segundo que ela não aparecia.

— Ela não está treinando, Yoon! — Esbravejei, parando de repente para encará-lo. Meus olhos deviam estar faiscando de raiva e frustração. — Já falei com Zara, até com o pirralho do Kenny... Nada. Nem sombra dela! Droga, isso não faz sentido!

Yoon tentou manter o tom calmo, mas até ele parecia um pouco abalado.

— Kwon, escuta... Calista deve ser assim. Talvez ela só queira, sei lá, passar um tempo sozinha pra pensar. Você sabe como ela pode ser.

Eu bufei, balançando a cabeça.

Não, Yoon. Isso não é sobre espaço. Você não entende. Ela nunca faria isso, não hoje. Temos uma prova decisiva. E você viu como ela estava estranha ontem. Tem algo de errado.

Meu estômago estava embrulhado. Cada possibilidade passava pela minha mente, e nenhuma delas era boa. Será que ela tinha voltado a falar com Silver? Será que ele a forçou a algo? O pensamento fazia meu sangue ferver e minhas mãos cerrarem os punhos automaticamente.

Tory estava encostada na parede, os braços cruzados, com aquele olhar que dizia que estava tão incomodada quanto eu. Quando ela finalmente falou, sua voz saiu com uma ponta de frustração.

— É, ele tem razão. Ela não voltou para o quarto ontem e nem hoje cedo. Tá vazio. Se ela tivesse ido treinar, teria deixado as coisas dela lá. E olha que eu chequei todos os lugares onde ela poderia estar.

Senti como se alguém tivesse acabado de dar um soco no meu estômago. O buraco que eu sentia no peito parecia crescer, me consumindo por dentro. Isso não era normal. Calista era obstinada, metódica. O tipo de pessoa que nunca deixaria um compromisso tão importante para trás, ainda mais algo relacionado ao torneio.

Minha mente voltou para a noite anterior. Ela tinha recebido aquela mensagem. A maneira como seu semblante mudou instantaneamente... Como ela tentou disfarçar e fingir que estava tudo bem. Por que eu não insisti mais? Por que não a pressionei para me contar o que estava acontecendo? Eu sabia que tinha algo errado. Sempre sei quando algo está errado com ela.

Calista...Murmurei baixo, quase como um pedido para que ela simplesmente aparecesse na minha frente. Mas a realidade era que ela não estava ali, e cada minuto que passava me deixava mais perto de explodir.

— Kwon, escuta. — Yoon tentou de novo, mas eu ergui a mão, pedindo para que ele parasse.

— Não, Yoon. Não me pede pra ficar calmo. Eu conheço ela muito bem, e isso não é normal. Alguma coisa aconteceu.

Minha mente disparava, tentando encontrar qualquer explicação lógica, mas tudo me levava ao mesmo lugar. Silver. O desgraçado tinha algo a ver com isso, eu podia sentir. Ele nunca superaria o fato de que ela escolheu o Cobra Kai. Talvez ele tivesse mandado aquela mensagem, talvez estivesse a manipulando de alguma forma.

— Você acha que Silver está por trás disso? — Tory perguntou, interrompendo meu turbilhão de pensamentos.

Eu levantei o olhar para ela, e pela primeira vez no dia, me senti minimamente entendido.

— Quem mais seria? — Respondi, com a voz baixa, mas carregada de raiva. — Aquele desgraçado nunca deixou de controlar as coisas do jeito dele. Ele odeia o fato de que ela tá aqui. Odeia que ela esteja ao meu lado.

Tory arqueou uma sobrancelha, talvez percebendo algo no que eu disse, mas ela não comentou. Em vez disso, suspirou.

— Então, o que você vai fazer? Ela pode correr perigo, e também precisamos dela.

Eu não sabia a resposta. Pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia o que fazer. E isso me matava por dentro. Droga, Calista. Onde você tá?

Minhas mãos tremiam enquanto eu desbloqueava o celular pela décima vez em questão de minutos. Disquei o número de Calista novamente, ouvindo os toques intermináveis antes de cair na maldita caixa postal.

"Calista, por favor, me responde. Onde você tá? Me diz que tá tudo bem... Droga, onde você se meteu garota?" Minha voz saiu quase como um sussurro desesperado antes de encerrar a ligação. Mais uma mensagem enviada, mais uma tentativa falha. A sensação de impotência era sufocante. Eu nunca me senti assim, como se fosse simplesmente parar de respirar, como se o mundo desabasse debaixo de meus pés e eu não tivesse apoio algum. Nem mesmo eu consigo acreditar no efeito que essa maldita garota tem sobre mim, minha garota.

Enquanto eu continuava a andar de um lado para o outro, meu sangue fervendo e a mente explodindo com cenários horríveis, Yoon se aproximou, segurando meu ombro com firmeza.

— Kwon, olha pra mim. Tem um lugar onde você ainda não procurou.

Eu o encarei com o cenho franzido, confuso, mas ele continuou.

— O dojô dos Iron Dragons. Silver pode estar lá. Ou, pelo menos, alguém que saiba onde ele está. Você acha que ele ia simplesmente deixar tudo isso passar?

Minha respiração ficou mais pesada, e o peso da ideia bateu forte. Claro. Claro que ele estaria envolvido. Silver era metódico, controlador e nunca deixaria alguém escapar do alcance dele sem retaliação. Só a ideia dele estar com Calista fazia meu peito arder de raiva.

— Você tem razão. — Disse, já me movendo em direção à saída.

— Kwon, espera! — Yoon segurou meu braço, me forçando a olhar para ele. — Se ele estiver lá, isso não vai acabar bem. Você precisa ter cuidado. Não faça nada que vá piorar a situação.

— Que se dane, Yoon. — Rosnei, me soltando com um movimento brusco. — Se ele encostou um dedo nela, eu juro que acabo com ele.

Não esperei mais. Meu corpo se moveu antes que minha mente pudesse realmente processar, atravessando o corredor em direção à saída do hotel. Minhas pernas não pareciam rápidas o suficiente, como se cada passo fosse lento demais para a urgência que queimava dentro de mim.

A raiva estava no comando agora, pura e crua. O som de meu coração batendo nos ouvidos abafava qualquer outra coisa ao meu redor. O trajeto para o dojô dos Iron Dragons parecia uma eternidade, mas, quando o prédio finalmente apareceu à vista, senti meu estômago se revirar. Cada passo que me aproximava da porta fazia meu peito apertar mais.

— Terry Silver... — Murmurei, cerrando os punhos com tanta força que senti as unhas pressionarem a palma da minha mão.

Mas antes que eu pudesse alcançar a porta, uma voz grave e autoritária ecoou atrás de mim.

— Kwon!

Eu parei, congelando no lugar por um segundo antes de me virar lentamente. E lá estava ele. Kreese. Com as mãos cruzadas atrás das costas e uma expressão severa no rosto, ele parecia ter surgido do nada.

— Onde você pensa que vai? — Sua voz era firme, sem deixar espaço para contestação.

Meu peito subiu e desceu, minha respiração ainda pesada da corrida.

— Eu vou encontrar Silver.

Ele arqueou uma sobrancelha, dando um passo à frente.

— Não, você não vai. Você não vai sair desse hotel, Kwon.

— Você não entende! — Exclamei, minha voz saindo quase como um grito. — Calista está desaparecida! Ela não voltou, não ligou, não respondeu. Ela pode estar com ele! Na verdade, eu tenho certeza de que está.

Kreese permaneceu calmo, o que só aumentava minha raiva.

— E você acha que correr pra lá, como um lunático descontrolado, vai resolver alguma coisa? — Ele deu uma risadinha baixa — Pense, garoto. Use a cabeça. Silver está esperando que você faça exatamente isso.

Eu tremi de frustração, mas as palavras dele atingiram um nervo. Claro que Silver estaria esperando por algo assim. Claro que ele saberia que eu iria atrás dela. Mas, ao mesmo tempo, ficar ali, parado, sem fazer nada, parecia insuportável.

— Você não entende... — Murmurei, minha voz mais baixa, mas ainda cheia de raiva.

Kreese deu outro passo, agora mais próximo.

— Eu entendo mais do que você imagina. Mas se você for agora, você não volta. E se algo acontecer com você, quem vai garantir que ela volte? Você precisa ser inteligente, Kwon. Controle sua raiva. Precisamos de você focado para a próxima etapa, e teremos que fazer isso com ou sem a garota.

Fiquei ali, parado, meus punhos ainda cerrados e o coração acelerado. Tudo dentro de mim gritava para ignorar as palavras dele, mas havia algo na forma como ele falava que fazia sentido. Ainda assim, a ideia de não fazer nada me corroía.

— Se algo acontecer com ela... — Comecei, mas Kreese me interrompeu.

— Então faça algo, mas da maneira certa. Confie em mim, garoto. A hora de agir vai chegar. Mas não assim, não tão de imediato.

Respirei fundo, tentando absorver as palavras dele. Minha raiva ainda queimava, mas, por ora, decidi ouvir. Por favor, dinamite, que você esteja bem.

A mão de Kreese pousou no meu ombro, firme, mas com um peso que parecia mais do que físico. Era como se ele quisesse me segurar no lugar, me imobilizar com palavras que vinham logo em seguida.

— Kwon, escute bem. — Sua voz era baixa, mas carregada de autoridade. — Você está se perdendo. Tudo isso, toda essa agitação, esses impulsos... São por causa dela. Essa garota está invadindo sua mente, desviando você do que realmente importa. Do Cobra Kai. E mais cedo ou mais tarde, isso vai te destruir.

Eu me virei para ele, meus punhos ainda cerrados, a raiva borbulhando como lava pronta para explodir. Mas ele não parou.

— Você é um dos melhores que temos, garoto. Mas está deixando essa... Distração tirar você do foco. Calista não é confiável, e você sabe disso. Ela nunca foi. O histórico dela está manchado por escolhas impulsivas e alianças duvidosas. Talvez seja melhor para todos se você se afastar dela. Pelo bem do Cobra Kai. E, acima de tudo, pelo seu bem.

Seus olhos estavam fixos nos meus, tentando penetrar a muralha de emoções que eu sentia. Mas a cada palavra que ele dizia, algo dentro de mim ficava mais quente, mais inflamado.

— Cale a boca. — Minha voz saiu baixa, mas carregada de veneno.

Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso com minha resposta, mas eu não parei. Afastei a mão dele do meu ombro com um movimento brusco, dando um passo para trás.

— Você não sabe de nada, Kreese. Nada.

Meus dentes estavam cerrados, e a raiva pulsava em cada sílaba.

— Acha que ela é o problema? Acha que sou eu? Não. O problema aqui é você. Você e essa rivalidade idiota com Silver que você arrasta há décadas. Você começou essa guerra, e agora somos nós, seus alunos, que temos que lidar com as consequências. Somos nós que estamos sendo arrastados para esse jogo sujo. E agora você quer que eu vire as costas para ela? Esqueça.

Kreese deu um passo para trás, seus olhos ainda analisando cada movimento meu. Ele abriu a boca para responder, mas eu levantei a mão, interrompendo-o.

— Já ouvi o suficiente. — Minha voz agora era firme, sem espaço para debate.

— Vai se arrepender disso, garoto. — Ele afirmou em um tom evidentemente irritado, mas eu sequer tinha cabeça para lhes dar ouvidos. A raiva falou mais alto, e eu sabia que estaria encrencado por isso. Mas agora, nada parecia importar, só o fato de que ela não está segura.

Sem olhar para trás, virei-me e comecei a andar em direção ao prédio que eu esperava chegar. Eu sentia os olhos dele queimando nas minhas costas, mas não me importava. Minhas mãos tremiam, não de medo, mas de pura adrenalina. Cada passo que eu dava em direção ao dojô dos Iron Dragons parecia alimentar minha raiva.

Calista. Onde você está? A pergunta ecoava na minha mente, misturada com a imagem de Silver e tudo o que ele era capaz de fazer.

Quando finalmente cheguei à rua, o ar fresco não fez nada para acalmar meu coração acelerado. Meu destino estava claro, e nada, nem Kreese, nem Silver, nem ninguém, ia me impedir de encontrar respostas.

O sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados enquanto eu me aproximava do local de treino dos Iron Dragons. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, como se o chão estivesse me puxando para baixo, tentando me deter. Mas nada iria me impedir. Nada.

Meu celular estava colado à orelha enquanto eu apertava o botão de redial pela décima vez. O tom de chamada soava insuportavelmente alto na minha cabeça, cada segundo de espera sendo um golpe direto à minha paciência já desgastada.

— Atende, Calista. Atende! — Murmurei, minha voz uma mistura de súplica e raiva contida.

Finalmente, a chamada foi atendida, e por um momento meu coração deu um salto de alívio.

— Calista? Onde você está? — Minhas palavras saíram rápidas, quase atropeladas. — Você está bem? Silver está aí? Ele te machucou? Fala comigo!

Houve um silêncio do outro lado da linha, apenas sua respiração leve e hesitante. Algo estava errado. Muito errado.

— Calista? — Minha voz agora era mais baixa, mas ainda carregada de urgência.

— Kwon... — Sua voz finalmente veio, mas soava distante, quase quebrada, como se ela estivesse lutando contra algo dentro de si mesma. — Por favor, escuta o que eu vou dizer.

Minha mente acelerou. Eu podia ouvir a tensão nas palavras dela, mas o que ela disse a seguir me atingiu como um soco no estômago.

— Pare de me procurar, agora.

O quê?

— O quê?! — Minha voz subiu, minha incredulidade transformando-se rapidamente em raiva. — Do que você está falando? Onde você está? Me diz o que está acontecendo!

— Você tem que me ouvir, Kwon.Sua voz tremia agora, uma mistura de firmeza e algo que soava como... Medo? — Eu não posso mais fazer parte disso. Não posso mais te envolver.

— Me envolver?! Calista, você está me dizendo para esquecer tudo? Depois de tudo que passamos? Mesmo depois de tudo o que você significa para mim? Isso é algum tipo de piada?!

Meu coração batia descontroladamente, e minhas mãos tremiam enquanto eu apertava o telefone contra a orelha. Havia um tom desesperado na minha voz que eu não conseguia controlar.

— Você acha que vou simplesmente virar as costas? Calista, se Silver fez alguma coisa com você...

— Não é isso! — Ela me interrompeu, sua voz subitamente alta, mas ainda fragilizada. — Eu só... Por favor, Kwon. Esquece isso. Esquece de mim.

A linha ficou em silêncio por um segundo, e eu percebi que estava prendendo a respiração.

— Esquecer de você? Calista, você tem noção do que está dizendo? Do quanto você significa para mim, droga? Não tem como... NÃO TEM...

Antes que eu pudesse terminar, ouvi um leve suspiro do outro lado. E então, a ligação foi encerrada.

— Calista? CALISTA!

A palavra ecoou no ar vazio ao meu redor, mas só recebi o silêncio como resposta. Olhei para a tela do celular, onde o número dela ainda piscava, e apertei o botão de redial mais uma vez. A mensagem automática de caixa postal foi a única coisa que recebi.

O que estava acontecendo?

Meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo reverberar em todo o meu corpo. Meu peito parecia apertado, e uma onda de emoções conflitantes se aglomerava em minha mente. Raiva. Medo. Preocupação. E, acima de tudo, uma dor aguda que não fazia sentido.

Dei um soco na parede de um prédio próximo, ignorando a dor que explodiu nos nós dos meus dedos. Minha respiração estava pesada, meus olhos fixos no chão. Algo estava errado. Muito errado. E eu precisava saber o que era.

Ela estava em perigo. Eu sabia disso. Sentia isso. E suas palavras sem sentido só comprovavam o quanto tudo parece estar fora do lugar.

Deixei o celular cair no bolso enquanto me virava, agora caminhando a passos rápidos em direção ao local de treino dos Iron Dragons. Ela estava lá. Tinha que estar.

A raiva me alimentava a cada passo, cada pensamento preenchido por imagens de Silver. Sua risada arrogante, suas manipulações, sua capacidade de destruir tudo o que tocava. Se ele tinha feito alguma coisa com ela, se ele tinha forçado Calista a dizer aquelas palavras...

Eu o destruiria.

O prédio dos Iron Dragons estava à vista agora, imponente e ameaçador como sempre. A fachada reluzia à luz do fim da tarde, mas para mim, parecia mais uma fortaleza sinistra.

Antes que eu pudesse alcançar a entrada, minhas pernas diminuíram o ritmo. O que eu diria? O que eu faria se realmente a encontrasse ali, com Silver? Será que ela tinha dito aquilo porque estava sendo manipulada? Ou... Será que ela realmente queria que eu me afastasse?

Não. Não podia ser isso. Ela não seria capaz de me afastar assim, não depois de tudo. Não quando finalmente as coisas começaram a ter seu próprio equilíbrio entre nós.

Apertei os punhos e respirei fundo, forçando-me a continuar. Mas então, um pensamento me atingiu como um raio, E se eu estiver caindo exatamente no plano dele? Silver sempre foi mestre em manipular situações, em virar aliados contra aliados.

Meus passos hesitaram de novo.

Mas então, olhei para o celular. As mensagens não lidas, as chamadas não atendidas. O som da voz dela, quebrada e insegura, ecoava na minha mente. Eu não podia deixar isso assim. Mesmo que fosse uma armadilha, mesmo que ela estivesse tentando me afastar por algum motivo, eu precisava saber a verdade.

Com o coração acelerado e a raiva ainda fervendo dentro de mim, segui em direção à entrada do dojô, cada passo trazendo uma nova onda de determinação. Ninguém ia tirar ela de mim. Ninguém.

O próximo capítulo vai ser gigante, porque vai ser no ponto de vista da Calista..... Mas comentem aqui suas teorias, o que vocês acham que aconteceu com ela? Será que foi mesmo o Silver que a manipulou? ME CONTEMMM, quero ler todas as teorias 🤭🤭.

Obra autoral ©

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