26. How do you say?

Quando as portas se abriram e caminhamos juntos para o tablado, senti algo que nunca havia sentido antes. Não era só a adrenalina de estar ali, de representar o Cobra Kai em mais uma competição. Era a presença dela ao meu lado, Calista, tão determinada quanto relutante. Ela nem fazia ideia do impacto que causava.

Meu coração batia forte, mas não por nervosismo com o torneio. Era por ela. Ela estava aqui agora, comigo, no Cobra Kai. Algo que parecia impossível há algumas semanas. Nossa rivalidade acirrada tinha dado lugar a algo completamente diferente, algo que me fazia querer protegê-la tanto quanto queria vê-la vencer.

Mas, ao mesmo tempo, uma sombra pairava sobre esse momento. Eu sabia o que o Cobra Kai podia fazer. Sabia como Kreese funcionava, como ele era capaz de transformar o karatê, algo que deveria nos fortalecer, em uma arma para manipular, quebrar e reconstruir as pessoas à sua imagem. E isso me assustava, porque foi isso que eu me tornei.

Calista não sabia o quão boa ela realmente era. Ela achava que precisava provar algo, que precisava ser tão implacável quanto qualquer outro aluno do Cobra Kai para merecer estar aqui. Mas o que me deixava inquieto era o que ela poderia se tornar se deixasse Kreese moldá-la. Vi isso acontecer com Tory, comigo mesmo... E não queria que acontecesse com ela.

Quando o anunciador gritou o nome dela, e vi todos aqueles olhares se voltarem para nós, foi impossível não sentir um orgulho absurdo. Ela estava de pé, tão firme, tão destemida, mesmo sabendo que metade das pessoas ali estavam torcendo para que ela falhasse. Mas, ao mesmo tempo, me pegava pensando, até onde ela iria? Até onde Kreese a empurraria?

Olhei para o rosto dela enquanto atravessávamos o tablado. Ela parecia confiante, mas eu sabia que, por dentro, talvez estivesse tão ansiosa quanto eu.

— Respira fundo, dinamite. Eles não sabem o que está por vir.

Foi automático. A provocação, o apelido, tudo para tentar aliviar a tensão que via em seus ombros. E quando ela sorriu, mesmo que fosse um sorriso pequeno, senti uma onda de alívio. Por um momento, ela era a Calista que eu conhecia, teimosa, destemida, mas ainda vulnerável de um jeito que ela nunca admitiria.

Mas o peso voltou quando nossos olhos cruzaram com os de Silver. O olhar dele era frio, cortante. E, por um instante, eu quis atravessar o tablado e confrontá-lo ali mesmo. Parte de mim queria gritar para ele que ela estava comigo agora, que ele não tinha mais nenhum poder sobre ela. Mas a outra parte sabia que não era tão simples assim. Ele era como uma sombra constante, sempre à espreita, esperando pelo momento certo para atacar.

E então havia Kreese. Ele estava parado na lateral, observando tudo com aquela expressão indecifrável. Eu sabia o que ele estava pensando. Ele achava que ter Calista no Cobra Kai era uma vantagem, mais um soldado para manipular em sua guerra particular. E isso me deixava nervoso. Eu não queria que ela fosse como eu. Eu tinha aceitado o que precisava ser para sobreviver aqui, mas ela não. Ela ainda tinha algo puro, algo que eu temia que fosse destruído.

Quando paramos na frente do tablado e o anunciador terminou de apresentar o Cobra Kai, olhei para ela mais uma vez. Seus olhos estavam fixos na multidão, no objetivo à frente. Ela parecia pronta para enfrentar qualquer coisa. E, por mais que isso me enchesse de orgulho, não pude evitar a pontada de preocupação que crescia no meu peito.

Calista era capaz de muito mais do que imaginava. Mas o que ela faria com essa capacidade? E quem ela se tornaria no processo? Essas perguntas ficaram comigo enquanto a multidão aplaudia, e eu só esperava que, de alguma forma, pudesse protegê-la, até mesmo de si mesma.

Quando anunciaram a luta contra a equipe da Espanha, eu já estava fervendo por dentro, mas nada me preparou para o que aconteceu a seguir. O burburinho começou assim que entramos no tablado, e logo os sorrisos maldosos se espalharam pelos rostos dos garotos do outro time. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo até Tory, com o cenho franzido, perguntou em voz baixa.

— Que droga tá rolando?

Foi quando Calista soltou uma risada amarga, daquelas que só antecedem uma explosão. Ela puxou o celular do bolso da calça do uniforme e mostrou a tela para nós. Lá estavam as malditas fotos dela e de Zara, as mesmas que tinham vazado semanas atrás. Os idiotas tinham trazido o assunto de volta, agora em mensagens e comentários que provavelmente estavam rodando pelos grupos do torneio.

— Eles acham que podem brincar com a minha cara? — Calista disse, com o tom baixo, quase sussurrando, mas carregado de fúria. — Vou quebrar os dentes deles e esfregar essas risadinhas na cara deles no tatame.

Eu mal conseguia ouvir o que ela dizia. Tudo ao meu redor parecia ficar embaçado. Minha visão se focou naqueles idiotas, rindo e cochichando, como se a coisa toda fosse uma piada. Meu sangue estava fervendo de um jeito que eu não conseguia controlar. Eles não estavam só rindo dela, estavam rindo da minha garota.

E quando o juiz chamou o início da luta, eu já sabia que não havia espaço para debate.

— Primeira luta, Kwon contra Diego.

Nem esperei pela formalidade do início. Assim que ouvi o comando, avancei como um animal liberado de sua jaula. Meu primeiro chute atingiu Diego direto no estômago, fazendo o garoto tropeçar para trás com uma expressão de pura surpresa.

Ele tentou se recompor e lançou um golpe em minha direção, mas eu o bloqueei com facilidade. Meu próximo movimento foi um soco direto no rosto dele, tão forte que ele cambaleou para o lado. O som abafado do impacto ecoou pelo tablado.

— Vamos, levanta! — Eu gritei, cheio de raiva.

Diego se levantou, mas ele já estava claramente abalado. Isso não me importava. Minha intenção era clara, não era só vencer, era destruí-lo. Ele lançou um chute em minha direção, mas eu agarrei sua perna e o joguei no chão com força.

Quando ele caiu, não perdi tempo. Me posicionei e dei uma sequência de golpes rápidos e precisos, um chute lateral nas costelas, seguido de um soco direto que acertou seu maxilar.

O juiz começou a contar, mas eu sequer ouvia. A plateia estava em choque, mas para mim, tudo estava em silêncio. Só havia uma coisa na minha mente, aqueles desgraçados tinham que pagar.

Diego estava praticamente fora de combate, mas quando o juiz tentou me parar, olhei para ele com uma expressão que o fez hesitar.

— Próximo! — Gritei.

O próximo adversário, Javier, subiu no tablado com um sorriso de escárnio, como se achasse que poderia fazer melhor. Ele tentou vir com uma estratégia diferente, mais defensiva, mas isso só me irritou mais.

Avancei com tudo, usando golpes rápidos e brutais. Um chute em sua perna o fez perder o equilíbrio, e quando ele tentou se levantar, acertei um soco direto em seu rosto, seguido de outro chute em suas costelas.

— Isso é tudo o que tem? — Gritei para ele, enquanto ele caía novamente.

Eu podia ouvir Tory e Calista discutindo com o juiz, pedindo para que a luta fosse interrompida, mas eu não podia parar. Não enquanto aqueles idiotas ainda estavam respirando e rindo.

Javier conseguiu acertar um golpe em meu ombro, mas isso só alimentou minha fúria. Peguei impulso e dei um chute giratório que o jogou para fora do tablado, fazendo-o cair no chão com um baque. Os gritos da plateia agora eram audíveis. Alguns estavam em choque, outros, torcendo. Mas tudo isso era um borrão.

Quando o terceiro adversário subiu, ele parecia hesitante, mas eu já estava decidido. Ele tentou me atacar de forma desesperada, mas eu estava em um estado que nem ele nem ninguém poderia parar.

A sequência final foi brutal. Um chute alto direto em seu peito o fez cair de joelhos, e eu terminei com um soco tão forte em sua face que ele caiu para trás, inconsciente.

E então, o juiz finalmente interrompeu, levantando minha mão.

Eu mal ouvia o anúncio de que o Cobra Kai tinha vencido. Meu olhar foi direto para onde aqueles idiotas estavam sentados, agora calados e pálidos. Meus olhos encontraram os de Calista, que olhava para mim com uma mistura de incredulidade e algo mais, talvez gratidão, ou talvez preocupação.

No fundo, eu sabia que aquilo não era só sobre ela, era sobre nós. Eu não deixaria ninguém desrespeitá-la, muito menos diante dos meus olhos. Se alguém achava que podia brincar com Calista e sair ileso, eu estava ali para provar o contrário.

Depois do caos que eu causei no tatame, voltei para onde minha equipe estava reunida. O clima era pesado, mas não tanto quanto a intensidade do meu coração batendo. Eu ainda estava cheio de adrenalina, os punhos cerrados, como se estivesse pronto para outra rodada se fosse preciso.

Sensei Kim foi a primeira a falar, o tom dela carregado de autoridade.

— Kwon, controle. Essa palavra significa algo para você? — Ela perguntou, com o olhar fixo no meu.

Eu apenas abaixei a cabeça levemente, tentando parecer arrependido, mesmo que uma parte de mim não sentisse nenhum remorso pelo que tinha acabado de fazer.

— Eles mereceram. — Respondi, minha voz ainda cheia de determinação.

— Talvez. Mas não é você quem decide quem merece o quê. Se quiser permanecer nesta equipe, siga as regras e deixe os juízes fazerem o trabalho deles. Entendido?

Assenti, mas antes que ela pudesse continuar, Kreese, que estava observando tudo de braços cruzados, deu um leve sorriso.

— Ele fez o que precisava ser feito. — Disse ele, quase em um tom de aprovação. — Kwon é exatamente o tipo de lutador que queremos aqui. Sem medo. Sem hesitação.

Sensei Kim olhou para ele com uma mistura de frustração e desprezo, mas não disse nada. Era óbvio que Kreese adorava o espetáculo de violência, e eu sabia que, de certa forma, tinha ganhado pontos com ele.

Eu me virei para Calista, que estava encostada em um canto, os braços cruzados e os olhos fixos em mim. Ela parecia... Irritada? Eu não tinha certeza. Meu coração deu um salto.

— Eu sei, eu sei — Comecei a me explicar antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. — Eu extrapolei, mas aqueles idiotas mereciam. Você viu o que eles estavam dizendo...

Antes que eu pudesse continuar, ela fez algo completamente inesperado. Em vez de me dar um sermão ou me chamar de idiota, Calista deu uma risada baixa, cheia de malícia, e em um movimento rápido, agarrou a gola do meu uniforme e me puxou para perto. Antes que eu pudesse processar, seus lábios estavam nos meus, e tudo ao meu redor pareceu parar.

O beijo era intenso, firme, como se ela quisesse transmitir algo mais do que palavras poderiam. Eu fiquei completamente imóvel por um segundo, surpreso, mas logo me entreguei, correspondendo com a mesma intensidade.

Quando ela se afastou, eu ainda estava processando o que tinha acabado de acontecer.

— Isso foi... — Comecei a falar, mas fui interrompido pela voz do anunciador ecoando pelo ginásio.

— Próxima luta, Calista contra Devon Lee!

Calista soltou um suspiro e se afastou, ajustando o uniforme como se nada tivesse acontecido.

— Vai lá e quebra tudo, ou então, os dentes dela. — Eu disse, tentando soar casual, mas o sorriso em meu rosto me entregava.

Ela revirou os olhos, mas antes de sair, lançou um beijo para mim no ar, carregado de ironia e, talvez, um pouco de diversão.

— É claro que vou quebrar tudo. — Disse ela, com um tom desafiador, enquanto caminhava em direção ao tatame.

Eu me encostei na parede, observando-a subir no tablado. Meu peito ainda estava cheio de orgulho e, confesso, um pouco de algo mais que eu não conseguia nomear. Calista era uma força da natureza, e vê-la enfrentar Devon Lee com aquela determinação no olhar era algo que me deixava ao mesmo tempo ansioso e confiante.

Essa luta seria dela. Eu tinha certeza disso.

Eu me posicionei ao lado do tatame, os braços cruzados, observando cada movimento de Calista enquanto ela caminhava em direção ao centro. Ela tinha aquela confiança tranquila que era ao mesmo tempo impressionante e intimidadora. Seus olhos estavam fixos em Devon Lee, avaliando cada detalhe da postura da adversária. Eu sabia exatamente o que estava passando por sua cabeça, estratégia. Cada movimento dela era calculado, e isso era o que a tornava tão perigosa.

Devon, por outro lado, parecia um pouco mais tensa do que o habitual. Talvez fosse a pressão de lutar contra alguém que havia acabado de entrar no Cobra Kai, ou talvez fosse o olhar mortal de Calista, que não dava espaço para dúvidas.

O árbitro chamou as duas para o centro. Elas fizeram uma reverência breve e rígida, e quando o sinal foi dado, a luta começou.

Calista foi a primeira a agir. Ela avançou com uma velocidade impressionante, lançando um chute frontal direto no centro do abdômen de Devon. O impacto foi claro pelo som seco do golpe, e Devon deu dois passos para trás, tentando recuperar o equilíbrio.

Antes que ela pudesse reagir, Calista já estava em cima novamente. Ela lançou uma combinação rápida de socos, um direto de direita que forçou Devon a erguer a guarda, seguido por um cruzado de esquerda que encontrou o lado do rosto da adversária com precisão. O impacto fez Devon cambalear para o lado, e eu percebi que Calista estava apenas começando.

Devon tentou contra-atacar com um chute circular, mas Calista leu o movimento como se já soubesse o que viria. Ela girou o corpo, desviando com elegância, e aproveitou a abertura para acertar um chute baixo na perna de apoio de Devon. O golpe foi devastador, e Devon caiu de joelhos no tatame, ofegante.

Eu assistia à cena completamente fascinado. Cada golpe dela era executado com perfeição, uma mistura de força, técnica e inteligência. Era como assistir a uma obra de arte em movimento.

Devon se levantou com dificuldade, claramente abalada, mas tentou não demonstrar fraqueza. Ela lançou uma sequência desesperada de socos, mas Calista bloqueou todos com facilidade, quase sem esforço. Era como se ela estivesse brincando, mas eu sabia que ela estava completamente focada.

Então veio o golpe final. Calista avançou novamente, desta vez com uma finta que confundiu completamente Devon. A adversária tentou se defender de um chute alto, mas Calista mudou de direção no último segundo, aplicando um chute giratório que atingiu o lado da cabeça de Devon com precisão. O impacto foi suficiente para derrubar Devon no tatame, onde ela ficou imóvel por alguns segundos, respirando pesadamente.

O árbitro deu o sinal, declarando Calista vencedora.

Eu não consegui conter um sorriso de satisfação enquanto ela se virava para nós, sua expressão serena, mas os olhos brilhando com determinação. Ela caminhou de volta para o nosso lado do tatame, ignorando os olhares surpresos e, em alguns casos, apavorados da plateia.

Quando ela chegou perto de mim, eu apenas balancei a cabeça, impressionado.

— Isso foi um massacre. — Comentei, tentando esconder o quanto estava impressionado, mas falhando miseravelmente.

Ela deu de ombros, ajustando a faixa no uniforme.

— Só fiz o que precisava ser feito. — Disse ela, o tom casual, mas eu podia ver o orgulho em seus olhos. — Assim como você.

Eu ri baixo, cruzando os braços novamente.

— Você sabe que acabou de se tornar uma das pessoas mais temida nesse torneio, certo? Depois de mim, é claro.

Ela sorriu, um sorriso pequeno e confiante, antes de olhar de volta para o tatame.

— Bom, alguém tinha que mostrar que o Cobra Kai não está aqui para brincadeira.

Eu não poderia concordar mais. E, naquele momento, percebi que qualquer dúvida que eu tinha sobre ela ser capaz de se adaptar à nossa equipe tinha desaparecido completamente. Calista não era apenas boa. Ela era incrível.

⋆౨˚ ˖

Estávamos finalmente fora do ginásio e indo em direção à lanchonete, uma chance rara de relaxar depois de um dia tão intenso. Mesmo com a tensão no ar, o Cobra Kai estava praticamente com um pé na semifinal, o que nos dava algum motivo para comemorar. Eu andava ao lado de Calista, que mantinha aquele ar confiante e despreocupado, mas eu sabia que, por dentro, ela estava tão focada quanto eu no que viria a seguir.

Quando entramos na lanchonete, o lugar estava cheio. O cheiro de batatas fritas e hambúrgueres tomava conta do ambiente, misturado ao barulho de conversas e risadas. Meu olhar rapidamente captou um grupo de rostos familiares, a equipe do Myiagi-Do estava lá, ocupando uma mesa no canto. Claro, eles tinham que estar aqui. Eu suspirei, já sentindo a irritação subir.

Antes que pudesse comentar algo, Kenny, do Myiagi-Do, veio na direção de Calista, acenando de forma animada. Eu senti uma pontada incômoda de ciúmes antes de lembrar que ele era, o quê, uns três anos mais novo que ela? O garoto tinha coragem, eu admito. Mas não o suficiente para me preocupar.

— Calista! — Kenny sorriu para ela, parecendo genuinamente feliz em vê-la. — Mandou bem hoje.

Ela retribuiu o sorriso, agradecendo educadamente, mas eu já estava me afastando, ignorando o resto da conversa. Fui até o balcão, onde meus olhos rapidamente encontraram Robby, sentado ali com um milk-shake pela metade e um olho roxo recém-formado. Um toque de orgulho percorreu meu peito ao lembrar que eu era o responsável por isso. Ele notou minha presença antes que eu dissesse algo, e seu olhar endureceu.

Eu me aproximei, cruzando os braços, a provocação já escapando antes que pudesse conter.

— Como é que se diz "Perder de lavada"? — Perguntei, minha voz carregada de falsa inocência. — Ah, me desculpe, acho que só você sabe bem disso.

Robby se levantou imediatamente, sua expressão azeda.

— Pelo menos eu não preciso quebrar as regras para ganhar. — Retrucou ele, a voz controlada, mas com um tom de desdém que não me escapou.

Eu ri, deixando minha altura um pouco mais evidente ao inclinar levemente para frente.

— É mesmo? Porque, pelo que me lembro, você não conseguiu nem quebrar minha defesa. Mas, ei, bom esforço. — Provoquei novamente, observando a mandíbula dele se contrair.

Estávamos a um fio de começar algo ali mesmo. Robby era mais baixo, o que só tornava minha vantagem mais óbvia, mas eu sabia que ele tinha habilidade. Ainda assim, eu estava mais do que preparado para qualquer coisa que ele tentasse.

— Vai me encarar de novo, Keene? — Soltei, o sorriso provocador crescendo.

— Você vai se arrepender de ter dito isso. — Respondeu ele, a voz mais baixa agora, como se calculasse o momento certo para agir.

Antes que a situação pudesse explodir, Calista apareceu. Ela deslizou para o meio de nós dois com uma naturalidade quase irritante, encostando-se no balcão e pedindo uma bebida.

— Vocês dois têm que dar um tempo. — Disse ela com um tom sarcástico, virando o rosto para mim e depois para Robby. Seus olhos estreitaram levemente enquanto um sorriso cansado surgia em seus lábios.

Ela então olhou diretamente para mim, zombando de forma descarada.

— Como é que se diz "Briguinha de criança"? — Perguntou, imitando meu tom de antes.

Eu bufei, sem conseguir evitar uma risada curta.

— Muito engraçado. — Murmurei, tentando não sorrir, mas claramente falhando.

— Ah, dá um tempo, vocês dois. — Continuou ela, revirando os olhos enquanto pegava o copo que o atendente havia deixado no balcão. — Se matem amanhã no tatame. Agora... — Ele se virou completamente para mim, os olhos brilhando com uma mistura de ironia e algo mais que eu não consegui decifrar. — Você é meu.

Antes que pudesse responder, ela me puxou pela gola do uniforme, me arrastando para longe de Robby. Eu fiquei completamente desconcertado, mas também aproveitei o momento para me inclinar um pouco mais perto.

— Isso foi inesperado. — Murmurei, com um sorriso divertido. — Você sabe que está se tornando uma especialista em me desarmar, né?

— Cala essa boca, gênio. — respondeu ela, jogando um olhar irônico por cima do ombro enquanto me guiava para uma mesa vazia no canto.

Quando nos sentamos, ela deu uma última olhada na direção de Robby, que ainda estava no balcão, claramente irritado. Então meus olhos passearam até Axel, que estava em um outro canto do local. Eu não perdi a oportunidade de provocá-la.

— Você sabe que ele está morrendo de ciúmes agora, né? — Perguntei, inclinando-me na cadeira com um sorriso satisfeito.

Ela riu, mas seu olhar permanecia ligeiramente desafiador.

— Não tanto quanto você estava quando Kenny veio falar comigo. — Rebateu ela, um sorriso presunçoso surgindo.

— Isso é diferente. — Respondi, fingindo indignação. — Kenny é... Bem, é o Kenny.

— Claro. — Disse ela, cruzando os braços enquanto esperávamos as bebidas chegarem. — Continue dizendo isso para si mesmo.

Eu apenas ri, balançando a cabeça. Ela era impossível, e eu adorava cada segundo disso.

Estávamos quase nos acostumando ao clima descontraído, algo raro nos últimos dias. Calista estava sentada à minha frente, tomando um milk-shake e jogando provocações leves que eu rebatia com um sorriso de canto. Até Tory parecia relaxada, comendo batatas fritas e rindo das nossas trocas de farpas. Yoon que chegou pouco depois, contava sobre nossos treinos na Coréia para Calista, que parecia impressionada e encontrando brechas para zombar de mim sempre que tinha a oportunidade. Era um momento de calmaria, um que parecia quase estranho depois de tantas semanas de tensão.

A porta da lanchonete abriu, deixando entrar uma rajada de ar frio da noite. Kenny entrou correndo, o rosto pálido e os olhos arregalados. Ele atravessou o salão, desviando das mesas e das cadeiras, até parar ofegante ao nosso lado. Todos pararam o que estavam fazendo e olharam para ele.

— Calista! — Ele arfou, apontando para fora da lanchonete. — É o Silver! Ele está aqui! Ele veio te buscar!

O silêncio que se seguiu parecia cortar o ar. Meu coração começou a bater mais rápido, e eu olhei imediatamente para Calista. Seu rosto, que estava relaxado há poucos segundos, agora era uma mistura de surpresa e irritação. Ela largou o copo com força sobre a mesa, fazendo o líquido balançar, mas sem derramar.

— Ele o quê? — Perguntou ela, com a voz baixa, mas cheia de incredulidade.

Eu segui o olhar de Kenny pela janela. Lá fora, um carro preto brilhante estava estacionado na calçada. Mesmo sem conseguir ver o rosto de Silver através do vidro escuro, eu sabia que ele estava lá. Aquele homem tinha uma presença que era impossível de ignorar, mesmo à distância.

— Eu não acredito nisso. — Murmurou Calista, levantando-se da cadeira. Seus olhos estavam fixos no carro, e havia algo em sua expressão que eu não conseguia decifrar.

Tory largou suas batatas fritas, inclinando-se para frente.

— Ele acha que pode simplesmente aparecer aqui e te levar de volta? — Perguntou ela, com a voz carregada de desprezo. — Esse cara é mesmo um lunático.

Eu me levantei também, instintivamente me posicionando ao lado de Calista. Não era como se ela precisasse de proteção, mas o pensamento de Silver tentando arrastá-la de volta para aquela equipe tóxica fazia meu sangue ferver.

— O que ele pensa que vai conseguir com isso? — Perguntei, minha mandíbula apertada. — Como se você fosse simplesmente obedecer.

Calista soltou uma risada seca, mas sem humor.

— Ele não desiste fácil. — Disse ela, seus olhos ainda fixos no carro. — E isso... Isso não é sobre me convencer. É sobre mostrar poder. Ele quer que todos saibam que ele ainda tem controle.

A porta da lanchonete abriu novamente, e dessa vez o próprio Silver entrou. Ele estava impecável como sempre, usando um terno escuro que parecia ainda mais intimidador sob a iluminação fluorescente do lugar. Seus passos eram lentos e deliberados, e cada movimento parecia calculado para atrair atenção. As conversas ao redor diminuíram, e todos os olhares se voltaram para ele.

Silver parou no meio da lanchonete, deixando seus olhos percorrerem o ambiente até pousarem em Calista. Ele sorriu, mas era o tipo de sorriso que não tinha nada de caloroso.

— Calista. — Ele chamou, sua voz tão suave quanto ameaçadora. — Que surpresa te encontrar aqui.

Ela cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça para o lado.

— Surpresa? Duvido. — Respondeu ela, sua voz firme. — Você não faz nada sem planejar antes, Silver.

Ele riu baixo, um som que fez minha pele se arrepiar.

— Esperta, como sempre. — Disse ele, ignorando completamente minha presença e a de Tory. — Mas eu não vim aqui para brigar. Vim te buscar. Você sabe que o lugar certo para você é no Iron Dragons.

— Eu discordo. — Disse Calista, sua voz cortante.

Silver inclinou a cabeça, como se estivesse analisando-a.

— Você está cometendo um erro. — Disse ele, dando um passo à frente. — Esses seus... Novos amigos, não vão te levar a lugar nenhum. No Iron Dragons, você vai ser uma campeã. Vai alcançar tudo o que sempre quis.

Eu não aguentei mais ficar quieto.

— Ela já é uma campeã, e não precisa de você para isso. — Retruquei, dando um passo à frente e colocando-me ao lado de Calista.

Os olhos de Silver finalmente se voltaram para mim, e o sorriso dele se alargou, mas não havia nada de amigável nele.

— Ah, Kwon. Sempre tão... Protetor. — Disse ele, com um tom quase zombeteiro. — Mas você deveria aprender a não se meter em assuntos que não são seus.

— Ela não é um "assunto". — Rebati, o calor da raiva subindo pelo meu corpo.

Calista colocou uma mão no meu braço, me impedindo de ir mais longe.

— Kwon, deixa comigo. — Disse ela, com uma firmeza que não deixava espaço para discussão. — O velho é problema meu, e acho que ele não vai me machucar de novo, quando claramente está desesperado por me ter de volta.

Eu a olhei por um momento, relutante, mas acenei com a cabeça e dei um passo para trás.

— Silver. — Continuou Calista, voltando sua atenção para ele. — Eu já disse que não volto. Você pode aparecer em todas as lanchonetes da cidade, gritar para o mundo inteiro, mas nada disso vai mudar o que eu decidi.

Silver estreitou os olhos, seu sorriso desaparecendo.

— Você acha que sabe o que está fazendo, mas está apenas sendo usada. — Disse ele, sua voz mais fria agora. — Kreese não é melhor do que eu. Ele só quer te moldar para os próprios interesses dele.

— Talvez. — disse ela, erguendo o queixo. — Mas, ao contrário de você, ele me dá escolha. Ou melhor dizendo, o Cobra Kai me dá escolha.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Silver parecia prestes a dizer algo, mas parou, apertando os lábios. Ele deu um último olhar para Calista, depois para mim, antes de dar meia-volta e sair da lanchonete.

Assim que a porta se fechou atrás dele, o ar pareceu voltar ao ambiente. Calista soltou um suspiro pesado e se virou para mim, um sorriso pequeno e cansado surgindo em seus lábios.

— Isso foi... Intenso. — Admitiu ela.

— Você lidou bem, sem violência. — Disse, oferecendo um sorriso de apoio. — Melhor do que eu teria feito, isso eu garanto.

— É. — Disse Tory, pegando outra batata frita. — Mas ele não vai desistir.

Calista assentiu, seu olhar ficando sério novamente.

— Eu sei. Mas ele também sabe que eu não vou ceder.

Eu a admirei naquele momento, a determinação brilhando nos olhos dela. Se Silver achava que poderia intimidá-la, ele estava completamente errado. E eu estava pronto para garantir que ele soubesse disso.

Assim que a porta da lanchonete se fechou atrás de Silver, o ambiente começou a voltar ao normal, ainda que lentamente. As conversas aos poucos retomaram, mas a tensão pairava como uma sombra, especialmente em nossa mesa. Calista tentou aliviar o clima, jogando-se de volta no assento e soltando um suspiro exagerado.

— Bom, isso até que foi... Divertido. — Disse ela, com um sorriso cansado, mas que não chegava aos olhos.

Tory bufou.

— Esse cara tem um ego maior que o planeta. Aposto que vai aparecer de novo quando menos esperarmos.

Eu me sentei ao lado de Calista, ainda tentando processar tudo. Parte de mim queria correr atrás daquele carro, confrontar Silver de uma vez por todas, mas sabia que isso seria inútil. Além disso, ela precisava de apoio agora, não de mais confusão.

Enquanto Tory continuava reclamando, Calista pegou o celular, provavelmente para responder alguma mensagem trivial. Mas assim que a tela acendeu, notei a mudança em sua expressão. Seu semblante relaxado desapareceu, substituído por algo que eu não conseguia identificar de imediato. Era como se toda a energia tivesse sido drenada dela em um segundo.

— Tudo bem? — Perguntei, inclinando-me um pouco para ela.

Ela piscou rapidamente, como se estivesse se forçando a sair de um transe. Colocou o celular de volta na mesa com um movimento casual, mas calculado demais.

— Não é nada. — Respondeu, com um sorriso pequeno e forçado. — Só... Uma mensagem boba.

Eu a observei por um momento, tentando decifrá-la. Calista não era de esconder coisas, pelo menos não de mim. Mas agora, parecia estar erguendo uma barreira tão óbvia quanto desconcertante.

— Tem certeza? — Insisti, estreitando os olhos.

— Tenho. Relaxa, gênio. — Disse ela, dando um tapinha no meu ombro e se levantando. — Vamos terminar isso aqui antes que Silver volte com um megafone.

Eu queria acreditar nela, queria aceitar aquela resposta e seguir em frente. Mas algo estava errado. Aquela mudança repentina, aquela maneira cuidadosa de esconder o telefone... Não era o tipo de comportamento que eu esperava de Calista.

Ela caminhou até o balcão para pegar as bebidas que havíamos pedido, enquanto Yoon se inclinava na minha direção, com uma sobrancelha arqueada.

— E aí, o que foi isso? — Perguntou ele, gesticulando discretamente na direção de Calista.

— Não sei. — Admiti, sem tirar os olhos dela.

Calista estava rindo de algo que a atendente disse, mas mesmo de longe, pude notar que o sorriso não chegava aos olhos. Era superficial, uma fachada.

— Talvez ela só esteja cansada. — Sugeriu Tory, mas seu tom não era convincente.

— Talvez. — Murmurei, embora soubesse que não era verdade.

Quando ela voltou à mesa com as bebidas, parecia mais calma, ou pelo menos fingia estar. Tentou retomar as provocações de antes, cutucando Tory por alguma piada que ela tinha feito, mas minha mente estava presa naquilo.

O que estava naquela mensagem?

A dúvida me corroía por dentro. Eu sabia que ela não queria falar sobre isso, e forçar a barra só a faria se fechar ainda mais. Mas a ideia de algo incomodando-a, algo que ela não queria compartilhar, me deixava inquieto.

O resto da noite passou em um borrão. Calista parecia fazer um esforço ativo para manter o clima leve, mas eu via pelos pequenos gestos, o modo como ela mexia no cabelo mais do que o normal, ou como seu olhar vagava pelo celular de tempos em tempos, que algo ainda estava na cabeça dela.

Quando finalmente saímos da lanchonete, o ar da noite estava pesado. Eu caminhava ao lado dela, tentando encontrar uma maneira de trazer o assunto à tona sem parecer invasivo.

— Você está quieta. — Comentei, finalmente quebrando o silêncio.

— Só estou cansada. — Respondeu ela, sem olhar para mim.

— Se fosse só isso, você não estaria olhando para o celular a cada cinco minutos.

Ela parou de andar, virando-se para me encarar. Seus olhos estavam firmes, mas não havia raiva neles. Era como se ela estivesse lutando internamente para decidir se confiava em mim ou não com o que quer que estivesse acontecendo.

— Kwon... — Começou ela, mas parou, balançando a cabeça. — Não é nada que você precise se preocupar.

— Eu me preocupo porque é você. — Retruquei, minha voz saindo mais intensa do que eu pretendia. Isso estava começando a me tirar do sério.

Ela suspirou, passando uma mão pelo rosto.

— E eu aprecio isso, de verdade. Mas... Não posso falar sobre isso agora, e nem quero. Talvez em outro momento.

Eu queria insistir, queria exigir respostas, mas algo no tom dela me fez parar. Era sério, mas não era sobre falta de confiança em mim. Ela estava lidando com algo, algo grande o suficiente para querer proteger as pessoas ao seu redor disso.

— Tudo bem. — Disse finalmente, embora o peso da incerteza ainda me incomodasse.

Ela me deu um sorriso pequeno, um que parecia mais sincero dessa vez, e continuamos andando em silêncio. Mas aquela dúvida continuaria me assombrando pelo resto da noite, e eu sabia que não descansaria até descobrir o que estava realmente acontecendo.

Na minha cabeça, eles seriam a dupla tico e teco por trás das câmeras, achei essa foto muito Caliwon, tive que colocar aqui 😞☝🏻.

Obra autoral ©

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