23. Still crazy for you

Eu estava andando pelo quarto como um louco, passos rápidos, indo de um lado para o outro, sem saber onde colocar as mãos. Meu corpo ainda parecia pegar fogo, como se aquele beijo não tivesse terminado de verdade. Longos minutos. Foi o que durou, mas na minha cabeça parecia uma eternidade. E, ao mesmo tempo, não parecia o suficiente.

Olhei para Calista, sentada na ponta da cama, com os ombros tensos e o rosto meio escondido pelas mãos. Ela parecia tão envergonhada quanto eu, mas não era uma vergonha pesada, era algo diferente, quase... Doce e suave. Eu sabia que deveria dizer alguma coisa, quebrar aquele silêncio que estava sufocando o quarto, mas a euforia dentro de mim me impedia de pensar com clareza. Meu coração estava disparado, batendo tão alto que tinha certeza de que ela conseguia ouvir daqui.

Ela estava ali, tão perto e tão distante ao mesmo tempo. Ela me beijou. Isso não saía da minha cabeça. Todas as palavras que ela disse antes, toda a raiva, todas as acusações... Tinham sido consumidas naquele momento. E agora, o que sobrou? Eu não sabia. Só sabia que, pela primeira vez, eu sentia algo mais do que atração. Algo mais do que obsessão. Era como se eu tivesse vencido alguma luta interna, como se, por um instante, ela tivesse me escolhido, mesmo que só naquele momento.

Parei de andar e olhei para ela de novo, o cabelo ainda um pouco bagunçado, os lábios levemente vermelhos, e senti meu peito explodir. Eu queria dizer alguma coisa, mas cada vez que abria a boca, fechava de novo. Não queria parecer um idiota, mas também não queria que ela achasse que isso não tinha significado nada pra mim. Porque, droga, significava tudo.

— Você está bem? — Foi o que consegui dizer, e minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Minha pergunta quase foi mais direcionada à mim, do que de fato para ela, porque eu sabia estar praticamente enlouquecendo internamente. Ela ergueu o olhar, os olhos meio indecifráveis, e balançou a cabeça afirmativamente, mas sem dizer nada. Era como se ela estivesse travada, lutando contra algo dentro dela, assim como eu.

Tentei me forçar a parecer tranquilo, mas sabia que não estava funcionando. Minhas mãos tremiam levemente, e eu cruzei os braços para escondê-las. E se ela se arrependesse? Esse pensamento me atingiu como um soco, e eu precisei desviar o olhar para não deixar transparecer o quanto isso me assustava. Normalmente, eu não tinha medo de perder alguma coisa, sempre confiante de que venceria qualquer obstáculo, mas isso, isso parecia muito diferente. E a ideia dela fugir de novo, me assombrava.

— Kwon... — Ela finalmente falou, a voz mais baixa do que o normal. Não olhei diretamente para ela, com medo do que poderia vir a seguir, mas ouvi seu tom hesitante. — Desculpa ter... Gritado com você antes. Eu não sabia... Não sabia de nada.

Isso me fez parar, a confusão me atingindo de novo. Ela estava se desculpando? Isso era o que menos importava agora. Eu não queria desculpas. Eu só queria saber que ela estava ali, que isso era real.

Suspirei e voltei a olhar para ela, a dor e a ternura se misturando.

— Você não precisa pedir desculpas. Eu entendo por que reagiu daquele jeito. Talvez eu teria feito o mesmo no seu lugar.

Minha voz soava mais calma do que eu esperava, mas por dentro, ainda havia uma tempestade. Então, dei um passo na direção dela, hesitando por um momento, mas acabei me sentando na beirada da cama, a poucos centímetros de distância.

— Eu só... Eu só queria que você soubesse que tudo o que eu fiz hoje foi porque eu... Não aguentava a ideia de alguém te machucando. Nem com palavras.

Ela me olhou, surpresa, como se não esperasse ouvir isso. E eu engoli em seco, sentindo o calor no meu rosto. As palavras saíram antes que eu pudesse impedi-las.

— Você significa mais pra mim do que eu consigo explicar, Calista.

Por um momento, o silêncio voltou, mas dessa vez, parecia menos sufocante. Eu não sabia o que ela ia dizer ou fazer. Só sabia que, pela primeira vez, eu tinha deixado claro o que sentia, e isso, por mais aterrorizante que fosse, também era libertador.

Ela deu uma risadinha baixa, quase inaudível, mas foi o suficiente para me fazer congelar. Aquilo me pegou de surpresa, e antes que eu pudesse processar, ela se levantou e começou a se aproximar de onde eu estava sentado, ficando em minha frente. Cada passo que ela dava parecia tirar o ar dos meus pulmões, e meu coração começou a bater ainda mais rápido. O que ela estava pensando? O que estava prestes a fazer?

— Sabe... Faz muito tempo que ninguém demonstrou se importar tanto assim comigo, Kwon. — A voz dela saiu mais suave agora, mas ainda carregava aquele tom de provocação que era tão dela. Ela inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso malicioso brincando nos lábios. — E, pra ser sincera... Acho isso bem atraente.

Eu mal consegui reagir quando senti as mãos dela no meu rosto, me puxando para um beijo. Dessa vez foi mais curto, mas igualmente arrebatador. Seus lábios tocaram os meus de forma firme, mas breve, e quando ela se afastou, eu quase soltei um gemido de frustração. Eu queria mais. Queria sentir isso de novo e de novo, mas ela recuou, me deixando perdido entre o desejo e a confusão.

Ela olhou pra mim, um brilho misto de determinação e vulnerabilidade nos olhos, e respirou fundo antes de continuar.

— Tudo o que eu fiz até agora, te afastando, gritando, foi porque... — Ela hesitou, como se as palavras fossem difíceis de sair. Mordi a parte interna da bochecha, tentando não pressioná-la, mas cada segundo parecia uma eternidade. Então ela finalmente falou — Porque eu não queria admitir o que eu sentia.

Minha mente girou. O que ela sentia? Por que ela estava dizendo isso agora?

— Mas... — Ela continuou, a voz mais firme, mesmo que seus olhos ainda carregassem uma certa insegurança. — Eu não posso mais segurar isso, Kwon. Se eu continuasse fazendo isso, acabaria explodindo.

Eu fiquei em silêncio, tentando digerir o que ela acabava de dizer. Não era algo que eu esperava ouvir, não depois de tudo o que tinha acontecido entre nós, mas ao mesmo tempo... Era algo que eu precisava desesperadamente ouvir. Ainda assim, eu não sabia como reagir. Meu corpo inteiro estava em alerta, e eu sentia como se estivesse flutuando entre a realidade e um sonho.

— Você tá falando sério? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.

Ela riu de novo, uma risada leve que parecia carregar mais alívio do que humor, e cruzou os braços, olhando para mim como se eu fosse o cara mais burro do mundo.

— Você acha que eu teria te beijado se não estivesse falando sério?

Meu rosto esquentou, e eu sabia que estava corando, mas não conseguia evitar o sorriso que se formava nos meus lábios.

— Eu só... Não sei exatamente o que dizer.

— Então não diz nada. — Ela deu de ombros, mas havia uma suavidade em seu tom. — Só... Não faça com que eu me arrependa disso, ok?

Balancei a cabeça imediatamente, sem nem pensar.

— Nunca. Nunca faria isso.

Ela deu um pequeno passo pra trás, mas ainda estava perto o suficiente para que eu sentisse sua presença. Seus olhos encontraram os meus de novo, e por um momento, parecia que o mundo inteiro tinha desaparecido. Era só eu e ela naquele quarto, e nada mais importava.

— Agora, vê se tenta não estragar tudo — Ela brincou, com um pequeno sorriso, antes de se virar e caminhar até a porta. — Eu também vou prestar mais atenção no que eu faço, e mesmo que não haja essa "rivalidade" quase mortal entre nós, você ainda é meu alvo favorito de provocação.

Eu não pude deixar de abrir um sorrisinho no canto dos lábios. Eu não tinha intenção alguma de errar com ela de novo, e também não tinha a intenção de simplesmente parar de provocá-la, já que isso tornou-se um de meus passatempos favoritos.

— Pra onde você vai? — Perguntei, a voz saindo mais desesperada do que eu pretendia enquanto a via seguir até a porta.

Ela olhou por cima do ombro, o sorriso brincando nos lábios novamente.

— Voltar pro meu quarto. Zara provavelmente já está surtando querendo saber onde eu estou. — Ela se encostou à batente, lançando um olhar direto para mim — Fique tranquilo, acho que ela vai deixar de odiar você quando descobrir que a defendeu daqueles garotos idiotas.

Eu queria protestar, queria pedir pra ela ficar, mas sabia que não deveria. Não queria pressioná-la, não agora, não depois do que ela acabou de admitir. Então apenas assenti, assistindo enquanto ela saía, e assim que a porta se fechou, desabei na cama, um sorriso idiota se espalhando pelo meu rosto. Eu ainda não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Ela sentia alguma coisa por mim. Isso era o suficiente para manter meu coração batendo como louco e minha mente girando.

Ela sentia alguma coisa por mim.

⋆౨˚ ˖

Eu me joguei na cama, deixando o corpo afundar no colchão macio, soltando uma risada longa e descompassada. Era quase como se meu corpo inteiro estivesse liberando a tensão acumulada dos últimos dias. Eu estava leve. Pela primeira vez em muito tempo, algo parecia certo, mesmo no caos. Calista... Ela sentia algo por mim. Era recíproco. E isso... Isso era bom. Muito bom.

Meu peito subia e descia rápido enquanto eu tentava acalmar a euforia. Estava sorrindo feito um idiota, incapaz de apagar a memória daquele beijo, do jeito como ela falou comigo, da forma como ela me olhou. Eu nunca tinha sentido isso antes. Nunca tinha me importado com alguém a ponto de colocar os sentimentos dela acima dos meus próprios. E agora que sabia que ela também se importava comigo...

Peguei meu celular, precisando ocupar as mãos inquietas pela euforia latente em meu peito. Comecei a rolar a tela pelas redes sociais, tentando acalmar minha mente que ainda estava em chamas. Só que, em questão de segundos, o sorriso no meu rosto desapareceu.

Ali estavam elas. As malditas fotos.

Elas tinham sido vazadas em um grupo do torneio. Calista e Zara, principalmente Calista, capturadas em momentos banais, entrando e saindo do quarto, indo para o spa, andando pelo hotel. As imagens por si só não eram comprometedoras, mas os comentários... Os comentários eram nojentos.

"Olha só essas duas..."
"Se eu tivesse uma chance com ela..."
"Essa de cabelo cacheado... tá pedindo, né?"

Minha mão apertou o celular com tanta força que achei que ia quebrar. O coração começou a bater mais rápido, mas não de felicidade dessa vez. Era raiva. Pura raiva.

Esses caras não sabiam o que estavam fazendo. Não entendiam o quanto isso poderia machucar Calista, o quanto aquilo poderia mexer com ela. A ideia de ela ver essas fotos e os comentários nojentos deles... Meu sangue ferveu. Eu já tinha lhes dado uma surra, e ainda tiveram a ousadia de permitirem que as fotos se espalhassem, agora o nome de Zara e Calista presentes na boca de quase todos os garotos do torneio.

Mas eu sabia que não podia fazer nada naquele momento. Não importava o quanto quisesse ir até o quarto de cada um deles e quebrar seus narizes, eu precisava ser inteligente. Eu precisava esperar.

Desci até os comentários, analisando os nomes. Memorizando. Cada um daqueles desgraçados que tinha curtido ou postado algo ofensivo. Eles achavam que estavam seguros atrás de uma tela, mas a hora deles ia chegar. Se algum deles pisasse no tatame comigo, não ia ser uma luta limpa. Ia ser uma lição.

Calista provavelmente veria isso em algum momento, e só a ideia de como ela reagiria apertava meu peito. Ela já tinha passado por tanta coisa, já estava lidando com tantos conflitos internos. Isso só pioraria tudo.

Soltei o celular na cama, passando a mão pelo rosto e soltando um suspiro pesado. Meu coração estava disparado, e eu sentia meus nervos à flor da pele. Não era só raiva. Era algo mais profundo. Um desejo desesperado de protegê-la. De fazer com que ela nunca precisasse ver nada daquilo.

Mas eu sabia o que tinha que fazer.

Esses idiotas iam pagar. Não agora, mas no momento certo. Cada palavra nojenta, cada risadinha, cada foto tirada sem permissão... Eu faria eles se arrependerem. Mesmo que isso me custasse o lugar na final do torneio. Eu faria eles pagarem por cada segundo de dor que tentaram causar a ela.

Deitei de costas na cama, olhando para o teto. Meu peito ainda queimava, mas desta vez não era só pela raiva. Era pela certeza de que, por Calista, eu faria qualquer coisa. E ninguém, ninguém, ia sair impune por tentar machucá-la.

⋆౨˚ ˖

A academia estava mais abafada do que o normal naquela manhã, com o som ritmado dos golpes preenchendo o espaço. Eu estava parado diante do saco de pancadas, meu punho enluvado já ardendo enquanto o golpeava novamente, e novamente. Cada soco parecia ecoar na minha cabeça como um martelar contínuo, mas eu não parava. Não podia parar. Meu peito queimava com uma raiva que eu não sabia conter, uma mistura de indignação e repulsa que fazia minha mente voltar aos comentários nojentos que eu tinha lido.

"Olha só essas duas..."
"Ela tá pedindo, né?"

Eu socava o saco com ainda mais força, vendo mentalmente o rosto de cada um daqueles desgraçados estampado ali. Não era o suficiente. O saco era pesado, mas nunca pesado o bastante para corresponder à raiva que explodia dentro de mim. O suor escorria pelas têmporas, mas não me importava. Eu tinha que descarregar tudo, ou ia explodir.

— Isso, Kwon — A voz de sensei Kim me tirou do meu transe momentâneo. Sua figura alta e imponente se aproximou de mim enquanto eu permanecia em posição, respirando rápido e suado. — Finalmente está se comportando como um lutador focado. Esse é o espírito que espero de você.

Dei um soco final no saco, que balançou violentamente antes de parar. Me virei para encará-la, ainda com a respiração pesada, mas minha mente já não estava mais naquele elogio. As palavras dela só me irritavam mais. Focado? Focado no quê?

— É, sensei — Eu comecei, a voz afiada, quase ríspida. —, talvez eu finalmente tenha percebido que fazer o contrário do que sensei Kreese queria é o que realmente me faz bem.

Ela franziu a testa, ligeiramente desconcertada, mas sua expressão permaneceu controlada. Kim Da-Eun não era do tipo que perdia a compostura facilmente.

— Kreese é um homem com uma visão muito clara. Se você se afastou disso, é um erro que deve corrigir, Kwon. Você precisa entender que o karatê é a única coisa que importa.

Dei uma risada curta, sem humor, e a encarei.

— Vale mesmo a pena? Deixar tudo o que importa de lado pelo karatê? Deixar as pessoas que você se importa para trás, destruir suas próprias chances de ser... humano, só pra ganhar uma luta?

O rosto dela se contorceu quase imperceptivelmente, como se minhas palavras tivessem atingido algum nervo, mas sensei Kim era boa em esconder suas emoções. Ela hesitou apenas por um momento antes de responder, com o tom frio e firme que sempre usava.

— O karatê é tudo. É isso que nos mantém vivos. Você não precisa de distrações, Kwon. Você precisa de foco.

Ela deu um passo para trás, parecendo pronta para encerrar a conversa. Antes de se afastar, olhou diretamente nos meus olhos, com aquela intensidade que fazia qualquer aluno recuar.

— Mantenha esse foco. Não desperdice essa energia.

E ela se foi.

Eu respirei fundo, ainda parado ali. Minhas mãos tremiam, mas não de cansaço. De raiva. Não desperdice essa energia? Era exatamente isso que eu sentia que estava fazendo. Desperdiçando energia com algo que parecia tão pequeno em comparação ao que realmente importava.

Voltei para o saco de pancadas e o encarei, os punhos cerrados. Minhas palavras ecoavam na minha cabeça. "Deixar tudo o que importa de lado pelo karatê..." Não, não dessa vez. Eu sabia o que era importante agora. E eu sabia exatamente o que precisava fazer quando chegasse a hora.

Levantei o punho novamente, voltando a treinar com golpes mais intensos, mas agora meus pensamentos estavam mais claros. Eu não estava mais lutando só por mim.

O som dos golpes no saco de pancadas ecoava pela academia quando notei Tory se aproximando de lado, os braços cruzados e um sorrisinho quase debochado no rosto. Seu olhar avaliador pousou sobre mim, claramente prestes a soltar uma de suas provocações costumeiras. Eu podia sentir o sarcasmo vindo antes mesmo dela abrir a boca.

— Então... — Ela começou, o tom casual, mas carregado de provocação. — Aposto que você já resolveu as coisas com sua... namoradinha.

Por um momento, parei de golpear o saco e me virei para encará-la. O que me surpreendeu não foi a provocação em si, mas a reação que ela me causou. Namoradinha. A palavra ecoou na minha cabeça, mas de um jeito... Bom? Isso me arrancou um sorriso genuíno, algo raro de se ver de mim nesses momentos.

— Namoradinha, é? — Provoquei de volta, a voz carregada de um sarcasmo deliberado. — Gostei do som disso.

Tory levantou uma sobrancelha, parecendo surpresa pela minha resposta. Ela estava acostumada a me tirar do sério com esse tipo de comentário, mas, dessa vez, parecia que eu estava me divertindo mais do que ela. Eu dei uma risadinha curta, quase triunfante, e continuei antes que ela pudesse retrucar.

— E você? Parece mais focada hoje, o que é estranho. Será que é porque acabou com as briguinhas de casal com o Keene?

O sorriso de Tory se desfez no mesmo instante, substituído por uma expressão de impaciência. Ela revirou os olhos dramaticamente e balançou a cabeça, como se não tivesse tempo para lidar comigo.

— Não é da sua conta. — Ela rebateu, seca, mas havia algo em sua expressão que indicava que eu tinha tocado num ponto sensível.

Eu não consegui evitar, outra risada escapou dos meus lábios. Era leve, irônica, mas genuína. Apesar de toda a raiva que ainda fervia no meu peito por causa do que havia acontecido, naquele momento específico, eu me sentia bem. Como se parte do peso que carregava tivesse sido aliviado.

— Relaxa, Tory — Eu disse, me virando de volta para o saco de pancadas, mantendo o mesmo tom de sarcasmo. — Só estou dizendo que você parece mais focada. Talvez, quase robótica em seus golpes?

Ela bufou alto, mas não se incomodou em responder. Enquanto se afastava, deu de ombros e murmurou algo que eu não consegui entender. Minha risada ainda estava ali, discreta, enquanto voltava a socar o saco.

E apesar de tudo, a raiva ainda estava lá, mas agora tinha um propósito claro, vencer. Não apenas para mim. Não apenas pelo torneio. Mas porque eu tinha algo, ou melhor, alguém, para proteger.

Enquanto treinava, senti minha determinação crescer. Cada golpe no saco era um lembrete de que eu precisava manter o foco. Não importava o que viesse pela frente, eu sabia que, dessa vez, nada me impediria.

O treino finalmente chegou ao fim, e eu enxuguei o suor do rosto com uma toalha, sentindo os músculos tensionados do esforço, mas a mente bem mais leve, ou talvez apenas mais focada. O som das vozes e movimentos na academia diminuía à medida que os outros lutadores começavam a encerrar suas sessões também.

Enquanto caminhava na direção dos armários para guardar as faixas e luvas, vi Kreese se aproximando, o semblante carregado daquele ar manipulador que sempre carregava. Já sabia o que viria, outra palestra sobre como eu devia "usar a fraqueza" de Calista para benefício próprio. Só de pensar nisso, meu estômago revirou.

— Sensei — Interrompi, antes mesmo de ele começar. Meu tom era respeitoso, mas firme. — Desculpa, mas eu tenho um compromisso agora. Podemos falar depois?

Ele me olhou por um momento, avaliando minha postura, tentando decifrar minhas intenções. Seus olhos estreitaram levemente, como se quisesse protestar, mas apenas assentiu com um movimento lento de cabeça.

— Não perca o foco, Kwon.

Foi tudo o que disse antes de se virar e sair.

Com um suspiro, segui para o armário. Abri a porta metálica e puxei a bolsa de treino. O brilho repentino da tela do celular me chamou atenção, e meus olhos foram direto para as notificações. Foi impossível conter o sorriso que se formou nos meus lábios ao ver a mensagem dela.

Dinamite: Terraço. 20 minutos. Não se atrase.

O apelido, como sempre, me arrancou uma risadinha baixa. Claro que eu iria. Nem precisava de vinte minutos, eu estaria lá em dez, se dependesse de mim.

Segurei o celular com força por um momento, tentando controlar a animação evidente que crescia no meu peito. Era ridículo o quanto ela tinha esse efeito em mim, mas eu não me importava. Fechei o armário com um movimento firme e joguei a bolsa sobre os ombros, apressando o passo para sair da academia.

E eu segui rapidamente na direção em que eu sabia que precisava ir. Enquanto cruzava os corredores em direção ao terraço, sentia uma energia inquieta me impulsionando. Era como se, por um momento, tudo ao meu redor desaparecesse. O único foco era ela. Calista.

Eu sabia que, quando a encontrasse, meu mundo se resumiria ao espaço entre nós dois. E, honestamente, eu não queria que fosse de outro jeito.

Eu subi os últimos degraus para o terraço, o coração disparado, mas não era pelo esforço. Era pela ideia de vê-la de novo. Só a mensagem dela já tinha feito meu dia mudar completamente, como se todo o peso do treino e das porcarias de antes tivessem desaparecido. Eu não sabia exatamente o que ela queria, mas isso não importava. Desde que fosse com ela, eu iria. Sempre.

Assim que empurrei a porta de acesso ao terraço, a euforia que eu sentia desabou em questão de segundos. Meu corpo travou ao ver a figura alta e imponente de Terry Silver parado no meio do espaço, o celular dela na mão, como se tivesse acabado de saquear um troféu.

Ele estava ali, de costas para mim no início, mas virou-se devagar assim que ouviu a porta ranger. O sorriso frio que ele deu quase fez meu sangue ferver instantaneamente. Ele chacoalhou o celular na minha direção, o movimento preguiçoso e provocativo, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.

— Eu avisei pra você sair do caminho — Ele disse, a voz calma, mas carregada com aquele tom ameaçador que eu já conhecia muito bem, mesmo só ouvindo poucas palavras dele antes desse momento.

Minha visão escureceu. Meu corpo inteiro ficou tenso, como se estivesse prestes a explodir. Minha cabeça gritava para me jogar nele, arrancar aquele maldito celular da mão dele e acabar com esse joguinho de poder. Mas meus pés estavam plantados no chão, como se alguma coisa invisível estivesse me segurando.

— O que você quer? — Eu cuspi as palavras, o tom mais duro do que eu esperava, enquanto tentava não perder o controle.

Silver sorriu de novo, dessa vez ainda mais devagar. Ele parecia satisfeito com minha reação, como se eu fosse exatamente onde ele queria.

— Só uma conversa amigável — Ele começou, deslizando o celular dela entre os dedos, até o colocar no bolso, juntando suas mãos e abrindo um irritante sorriso sínico. — Sobre você. E sobre o que acontece quando alguém não sabe seu lugar.


Obra autoral ©

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