Meus passos pelo corredor do hotel eram leves, mas minha mente estava um caos completo. Era impossível não repassar cada segundo da noite passada. As palavras de Kwon ainda ecoavam na minha cabeça, aquele momento em que ele baixou completamente a guarda. O medo dele do escuro, as cicatrizes nas costas, os olhares intensos e aquele abraço... Surpreendentemente, ele sabia como me fazer sentir segura, algo que eu nunca esperei dele.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Quando ele estava tão perto, a forma como o espaço entre nós parecia carregar uma eletricidade palpável, meu estômago dava voltas. Era desconcertante. Eu deveria odiá-lo, ou ao menos me manter distante. Mas, por algum motivo, toda vez que eu tentava construir muros entre nós, ele vinha e derrubava todos, de uma maneira que nem ele parecia perceber.
Era insano, mas eu comecei a acreditar que, talvez, de alguma forma, eu pudesse ajudá-lo a se consertar. Ele já estava mudando, isso era evidente. A maneira como ele falava comigo agora, como ele respeitou o meu espaço e até se preocupou com o ferimento na minha mão... Era diferente do Kwon que eu conheci semanas atrás. E, por mais que fosse estranho admitir, eu sabia que uma parte disso era por minha causa. Não era orgulho ou vaidade, mas algo no fundo de mim sabia que eu tinha provocado essa transformação nele.
Mas e eu? O que estava acontecendo comigo? Essa pergunta permanecia sem resposta enquanto eu finalmente chegava ao meu quarto. Já na porta, percebi que Zara estava lá, com os braços cruzados e uma expressão ressabiada que denunciava imediatamente que ela tinha algo a dizer. Ótimo. Respirei fundo antes de encará-la.
— Até que enfim — Ela disse, arqueando uma sobrancelha enquanto me seguia para dentro do quarto. — Onde você estava, Calista?
Fechei a porta atrás de mim e tentei não demonstrar a avalanche de emoções que ainda se debatia dentro de mim. Comecei a arrumar meu cabelo, numa tentativa de parecer indiferente, mas o tom inquisidor dela me deixou tensa.
— Eu precisava de um tempo... Longe.
Ela franziu o cenho, claramente não satisfeita com a minha resposta, que foi a melhor que consegui dar no momento.
— Longe? Você passou a noite fora, Calista. Não me diga que estava com um garoto.
As palavras dela me atingiram como um tapa, e eu quase engasguei com o ar. Senti meu rosto esquentar enquanto tentava manter a calma. Zara era insistente e sabia como me pressionar.
— E daí se estivesse? Não foi nada do que você está pensando.
— Espera. Você estava com um garoto? — Zara se aproximou, estreitando os olhos. — Com quem?
Suspirei, percebendo que seria impossível escapar dessa conversa.
— Eu estava com Kwon. — soltei finalmente, tentando soar casual.
O que se seguiu foi uma mistura de choque e indignação. Zara praticamente saltou de onde estava, os olhos arregalados.
— Você estava com aquele idiota? — Ela quase gritou, a voz carregada de descrença e raiva. — Por favor, me diga que você não dormiu com ele. Você adora desafios, eu sei, mas acho que isso é insanidade demais, até para você.
— Que? Não! Claro que não, Zara. — Levantei as mãos, como se quisesse afastar a ideia. — Eu juro por tudo, não foi nada disso.
— Então o que foi? — Ela colocou as mãos na cintura, impaciente.
— Nós... — respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Só passamos a noite conversando. Ele dormiu no chão, eu dormi na cama. Foi só isso.
Zara estreitou os olhos, claramente duvidando de mim.
— Conversando? Com o Kwon? Você tem noção de como isso soa absurdo, certo? — Ela deu uma risada sarcástica, entrecortada por sua expressão séria. — Ele não é exatamente conhecido por ser alguém que conversa.
— Eu sei como soa, mas é verdade. — Sentei na beirada da cama, sentindo o peso do cansaço se acumulando. — Ele foi... Diferente. Compreensivo, cuidadoso. Para ser honesta, até eu estou surpresa.
— Compreensivo? — Zara bufou, como se a ideia fosse uma piada. — Estamos falando do mesmo Kwon? Porque o Kwon que eu conheço é um babaca impulsivo que acha que o mundo gira ao redor dele.
Dei um sorriso leve, mas cansado.
— Ele não é mais assim. Ou, pelo menos, não comigo.
— E por quê? — Ela se aproximou, cruzando os braços. — O que mudou?
Demorei um momento para responder.
— Eu não sei. Talvez... Ele esteja mudando, só isso. É difícil explicar.
Zara revirou os olhos, mas parecia menos irritada.
— Bom, só espero que você saiba o que está fazendo, Calista. Porque, honestamente, ele não é o tipo de cara com quem você deveria estar.
Eu sabia que ela estava tentando me proteger, mas havia algo em suas palavras que me incomodava. Mesmo assim, não discuti. Apenas me levantei e comecei a organizar minhas coisas. Zara suspirou e se sentou na cama, finalmente desistindo de me pressionar.
— Só toma cuidado, ok? Não é a primeira vez que ele tenta se aproximar, você permite e ele vai lá, destruir tudo de novo e de novo. Você não merece que isso aconteça com você tantas vezes.
Eu assenti, mas, enquanto dobrava uma roupa, não pude deixar de pensar em como era impossível manter as coisas simples quando se tratava de Kwon. Zara estava certa, ele sempre parecia vir consertar as coisas, e logo depois, as quebrava ainda mais. No entanto, eu sentia que dessa vez, realmente algo havia mudado, ou então seria doloroso demais que não passava de um teatro.
⋆౨ৎ˚ ⟡˖ ࣪
A água quente escorria sobre mim, trazendo um breve alívio para os músculos tensos, mas minha mente continuava presa em um redemoinho de pensamentos. Com cuidado, comecei a desenrolar a bandagem da minha mão, sentindo a pele sensível pulsar em resposta. Assim que o último pedaço de gaze caiu no chão do boxe, a dor latejante irrompeu como se tivesse esperado pacientemente por aquele momento.
Fechei os olhos, inspirando profundamente para conter o desconforto. O ferimento não era apenas físico. A dor parecia ter se enraizado no meu peito, crescendo com cada palavra de Silver que ecoava na minha mente.
"De que lado você está, Calista?"
A voz dele soava como uma ameaça velada, uma faca afiada pressionada contra a minha consciência. De que lado eu estava? Era uma pergunta que eu tinha me feito tantas vezes que já perdi a conta. E, mesmo assim, ainda não tinha uma resposta clara.
Eu inclinei a cabeça contra o azulejo frio do boxe, sentindo a água quente escorrer pela minha nuca e costas. O medo me envolveu como uma sombra, aquele mesmo medo que Silver cultivava como uma arma. Ele era um homem que sabia como cortar mais fundo do que qualquer golpe. E, por algum motivo, eu tinha permitido que ele assumisse tanto controle sobre mim.
"Eu preciso continuar aqui?"
A pergunta se repetia como um eco em minha mente. Eu estava começando a acreditar que, ao lado dele, tudo o que eu faria seria me afogar. Ele só extraía de mim a dor, a raiva... O pior de mim. O lado que eu evitava reconhecer.
Mas, ao mesmo tempo, eu tinha lutado tanto para estar aqui. Eu não podia simplesmente jogar tudo fora. Cada gota de suor, cada lágrima derramada para alcançar este momento... Desistir parecia uma fraqueza que eu não podia permitir. Eu sabia que mudar de equipe estava fora de questão. Isso significava que minha única escolha era desistir completamente, abandonar o torneio, abandonar a mim mesma. Mas desistir não era uma opção que eu estava disposta a aceitar. Não agora.
Minha mão doía mais quando abri os olhos e olhei para a ferida. O corte era feio, uma marca física do quanto eu estava perdendo partes de mim mesma nesse processo. Mas, de alguma forma, ela também parecia uma lembrança de que eu ainda estava aqui. Ferida, sim. Mas de pé.
A água começou a esfriar, me tirando de meus devaneios. Desliguei o chuveiro e envolvi o corpo em uma toalha, tentando reunir forças para enfrentar o resto do dia. Não havia resposta para o que eu sentia naquele momento. Só dúvidas, arrependimento e aquela dor persistente.
Me olhei no espelho do banheiro, gotas escorrendo pelo rosto e cabelos molhados. Quem eu estava me tornando? O que eu estava sacrificando para estar aqui?
Eu realmente não sabia, mas o medo no meu peito me dizia que, se continuasse no caminho de Silver, eu descobriria da pior maneira. E, mesmo assim, o peso da desistência era ainda maior. Por ora, só restava continuar. Mesmo que cada passo parecesse me levar mais fundo na escuridão.
E assim que saí do banho, me vesti com uma roupa leve, simples, o mais confortável que consegui encontrar na bagunça da mala. O tecido macio contra a pele era um pequeno alívio, mas a sensação de sufocamento ainda apertava meu peito. O quarto parecia menor, como se o ar tivesse sido drenado completamente. Eu precisava sair dali, respirar um pouco, antes que meus pensamentos me afogassem de vez.
Zara, que estava deitada na cama mexendo no celular, ergueu os olhos quando me viu pegar o par de tênis.
— Vai dar uma volta? Quer companhia? — Ela perguntou, casual, mas havia um tom de preocupação na voz dela.
Eu hesitei por um segundo, quase recusando, mas a verdade era que a companhia dela seria bem-vinda.
— Seria ótimo, na verdade. — Respondi, tentando soar tranquila.
Ela sorriu, levantando-se rapidamente e calçando os chinelos. Não demorou muito para que estivéssemos fora do hotel, caminhando pela calçada que margeava a praia. O vento carregava o cheiro de sal, um aroma que parecia limpar um pouco os pensamentos pesados que me seguiam desde o banho.
Zara foi quem começou a puxar conversa.
— Então... Você realmente passou a noite no quarto do Kwon? Não precisa fingir que foi só conversa, Calista. — Ela arqueou as sobrancelhas, um sorriso travesso no rosto.
Eu revirei os olhos, soltando um riso abafado.
— Já disse que não aconteceu nada. Ele dormiu no chão, Zara. No chão. — Insisti, exagerando o tom para enfatizar. — A gente só... Conversou, simples.
Ela parecia surpresa, mas não desistiu.
— Conversar com ele já é um avanço. Achei que vocês só se alfinetavam e tentavam se destruir a cada oportunidade.
— Não deixa de ser verdade. — Admiti, chutando uma pedrinha na calçada. — Mas... Sei lá. Ele estava diferente. Parecia... Humano, sabe?
Zara gargalhou, tão alto que alguns passantes na orla olharam para ela.
— "Humano"? Essa é nova. Mas vou fingir que entendi.
O assunto fluiu naturalmente depois disso. Falamos sobre coisas triviais, as competições, as pessoas do torneio, os treinos puxados, e como Zara ainda não sabia como lidaria com Silver se ele exigisse demais de nós na próxima semana.
— Eu estou falando sério. Se ele gritar comigo de novo, vou fingir um desmaio. — Ela brincou, colocando a mão na testa de forma dramática, arrancando uma risada sincera de mim.
O calor do final da manhã já começava a se fazer presente, então decidimos que um sorvete seria a solução perfeita. Zara parou subitamente, olhando ao redor como se estivesse procurando algo.
— Tem que ter uma sorveteria decente por aqui. Não pode ser só hotel e areia.
Eu ri, apontando para uma placa mais adiante.
— Ali, Sherlock. Vamos ver se é boa.
Quando nos aproximamos do local, meu olhar se fixou imediatamente na entrada. Não porque estivesse cheia de gente ou por alguma placa chamativa, mas por quem estava ali. Robby Keene. Ele estava encostado de maneira casual em um dos pilares, e ao lado dele, Tory.
Meu estômago revirou de imediato, e não por mim. Zara não havia visto ainda, mas eu sabia que, se visse, seria um problema. Zara era boa em disfarçar seus sentimentos na maioria das vezes, mas quando se tratava de Robby, sua fachada desmoronava. Eu sabia o que significava para ela vê-lo ali, tão perto, ainda mais com Tory.
Não podia deixar isso acontecer.
Antes que Zara pudesse perceber, virei para ela, fingindo entusiasmo repentino.
— Na verdade, acho que acabei de lembrar de um lugar muito melhor. Fica um pouco mais pra frente. Sorvete mais barato, e dizem que as porções são gigantescas.
Ela me olhou confusa, a testa franzida.
— Mais pra frente? Mas não vi nada no caminho...
Eu a puxei pelo braço, tentando soar casual.
— Confia em mim, sério. Esse aqui parece bom, mas o outro é bem mais legal. E, além disso, vamos evitar a fila, né?
Zara hesitou, olhando para a entrada da sorveteria por um segundo, mas acabou dando de ombros.
— Tá, se você tá dizendo... — Ela me acompanhou enquanto eu discretamente acelerava o passo, afastando-nos do local.
Eu senti o alívio quase imediato quando nos distanciamos. Não sei se era pelo fato de que Zara não teria que enfrentar a visão de Robby com Tory, ou se era porque eu também não queria lidar com isso agora. As emoções estavam muito intensas ultimamente, e a última coisa que qualquer uma de nós precisava era de mais confusão.
— Esse "lugar melhor" fica muito longe? — Zara perguntou, com um tom brincalhão.
Sorri de lado, tentando manter o disfarce.
— Não, só mais uns dois quarteirões. Prometo que vai valer a pena.
Ela pareceu relaxar novamente, voltando a falar sobre coisas triviais, e o alívio no meu peito cresceu. Eu sabia que Zara era forte, mas o peso da pressão que já enfrentávamos era suficiente. Silver, Wolf, as competições... Tudo isso já estava nos levando ao limite. A última coisa que ela precisava era lidar com sentimentos complicados relacionados a Robby.
Enquanto continuávamos andando, senti o vento do mar soprar contra meu rosto, quase como um lembrete de que, por um momento, estávamos longe de toda a loucura. Eu não sabia por quanto tempo isso duraria, mas faria o que estivesse ao meu alcance para proteger minha amiga de mais sofrimento, mesmo que isso significasse distrair, improvisar ou inventar lugares que talvez nem existissem. Ela esteve ali sempre que precisei, e eu estaria ali também sempre que ela precisasse.
⋆౨ৎ˚ ⟡˖ ࣪
O sol já estava mais baixo no céu quando Zara e eu terminamos nossos sorvetes, rindo de alguma piada boba que ela tinha feito sobre os sabores que escolhi. Eu me sentia estranhamente leve, como se por algumas horas tivesse deixado de lado todo o peso que carregava. Zara tinha esse efeito em mim, sua energia era contagiante.
Decidimos voltar pelo caminho mais longo. Ela sugeriu, dizendo que precisávamos aproveitar o ar fresco enquanto podíamos, e eu concordei de imediato. Qualquer coisa que nos mantivesse fora daquele hotel por mais tempo era bem-vinda.
Enquanto conversávamos sobre tudo e nada, tomamos um atalho por uma viela estreita. Não era escura nem particularmente assustadora, mas terminava em um beco sem saída. Quando estávamos quase no meio dela, ouvi um som abafado. Passos pesados, grunhidos e, logo depois, um barulho inconfundível, o som de um soco sendo desferido.
— O que foi isso? — Zara perguntou, franzindo a testa.
Antes que pudesse responder, ouvi uma voz conhecida.
— Fala de novo, seu idiota! — Era Kwon.
Meu coração apertou, e troquei um olhar rápido com Zara. Ela parecia irritada, e quando demos mais alguns passos, a cena à nossa frente fez meu estômago revirar. Kwon estava sobre outro garoto, que não reconheci de imediato. Ele segurava o colarinho do rapaz com uma mão enquanto a outra descia em socos rápidos e implacáveis. O rosto do garoto já estava machucado, sangue escorrendo do canto da boca. Ele tentava inutilmente proteger-se, mas Kwon parecia completamente tomado por uma raiva cega.
Zara murmurou ao meu lado, com a voz carregada de desdém.
— Esse é o cara que "mudou"? Porque não parece.
Ouvir isso diante de uma cena como aquela parecia quase torturante.Eu hesitei por um segundo, mas algo dentro de mim explodiu. Dei um passo à frente, a indignação borbulhando na minha voz.
— Que merda é essa, Kwon?!
Ele parou imediatamente, como se minha voz tivesse cortado o ar como uma lâmina. Sua respiração estava pesada, e ele ainda segurava o garoto pelo colarinho, mas agora olhava para mim. Seus olhos estavam diferentes, um misto de surpresa, culpa e... Algo mais que não consegui decifrar.
— Calista... — Ele começou, mas a voz falhou, rouca de esforço e talvez, quem sabe, arrependimento.
Eu não deixei que continuasse. Cruzei os braços, a raiva fervendo no meu peito.
— O que você acha que está fazendo? Batendo em alguém assim, no meio da rua? Eu pensei que não fizesse mais isso, mas aparentemente, você é um ótimo mentiroso.
Ele finalmente largou o garoto, que caiu no chão com um gemido. Kwon passou a mão pelos cabelos, os ombros subindo e descendo com a respiração pesada, mas não respondeu.
— Você está completamente fora de si — Continue, a voz agora mais baixa, mas ainda cortante. Eu não queria lhe dar espaço para falar até que eu dissesse tudo o que queria. — É isso que você chama de "maturidade"? Porque pra mim, parece exatamente o oposto.
Zara, ao meu lado, balançava a cabeça, claramente frustrada.
— Eu sabia que ele não tinha mudado em nada. Eu disse, disse várias vezes que ele não era confiável, Calo.
Kwon finalmente levantou a cabeça para olhar para mim, os olhos ardendo de algo entre raiva e arrependimento.
— Você não sabe o que ele fez — Disse ele, a voz baixa, mas carregada de tensão.
Eu dei um passo mais perto, apontando para o garoto no chão, que agora se esforçava para se levantar.
— E você acha que isso justifica? Resolver as coisas com os punhos é tudo o que você sabe fazer, Kwon?
Houve um momento de silêncio, pesado, quase sufocante. Zara puxou meu braço de leve, indicando que deveríamos ir embora, mas eu não conseguia me mexer. Estava paralisada pela confusão e pela raiva que se misturavam no ar entre nós três. Talvez ela já pressentisse que outra briga seria cravada, então tentava puxar-me à realidade outra vez.
Kwon permaneceu imóvel, os punhos cerrados ao lado do corpo, mas não disse nada. Seus olhos, que há minutos atrás estavam cheios de uma fúria quase incontrolável, agora carregavam um peso diferente, algo como vergonha misturada com teimosia. Ele não queria dar explicações. Talvez não soubesse como.
Eu o encarei, esperando por algo, qualquer coisa. Uma justificativa, uma palavra. Nada veio. Aquele silêncio quebrava algo dentro de mim, como uma parede desmoronando tijolo por tijolo. Minhas mãos tremiam, e a sensação de desamparo me golpeava com força. Ele manteve sua postura firme, quase beirando à arrogância, e não justificou nada, apenas ficando em um completo silêncio.
— Quer saber? Estou cansada. — Minha voz saiu firme, mas carregada de exaustão. Não era um grito, nem um desabafo dramático. Era só a verdade crua, nua. — Cansada de toda essa merda.
Kwon deu um pequeno passo na minha direção, como se quisesse dizer algo, mas eu já tinha me virado, passando por Zara, que parecia tão furiosa quanto eu.
— Vamos embora — Murmurei para ela.
Zara não hesitou. Ela lançou um olhar fulminante para Kwon, um misto de desprezo e frustração evidente, antes de me seguir pela viela.
— Ele é um idiota completo, Calista. — Sua voz estava cheia de raiva enquanto andávamos. — Como você pode sequer considerar que ele está mudando? Olha pra ele! Ele continua sendo um idiota agressivo, e não duvido que ele agiria assim com você, caso resolvesse dar uma chance para tentar algo juntos. Isso é locurq.
Eu não respondi. As palavras de Zara ecoavam o que eu sentia, mas ouvir aquilo em voz alta doía ainda mais. Cada passo parecia pesado, como se uma corda invisível ainda me puxasse de volta para a cena que acabáramos de deixar.
Quando dobramos a esquina e saímos da viela, o som do mar voltou a preencher o ambiente. O contraste era quase absurdo, como se nada tivesse acontecido. Mas dentro de mim, a tempestade continuava.
— Você não merece isso, Calista — Zara continuou, a voz mais baixa agora. — Não merece se envolver com alguém assim. Ele só vai te puxar para baixo.
Respirei fundo, mas as palavras pareciam não vir. Só queria apagar aquele momento da minha mente, mas ele já estava cravado ali, como uma cicatriz que se recusa a desaparecer. Enquanto caminhávamos de volta para o hotel, eu sentia o peso de cada passo, de cada palavra não dita, e a sensação sufocante de que talvez Zara estivesse certa. E isso doía mais do que qualquer soco ou golpe que eu já tivesse recebido.
Eu queria acreditar que havia uma boa explicação para tudo aquilo, mas o rosto do garoto estava quase desfigurado, e eu não acho que alguém tão descontrolado como Kwon, possa realmente lidar com qualquer um que se aproxime. Ele já me socou antes, já me forçou um beijo, já me machucou de muitas formas, e eu acreditei que tudo poderia ser diferente, passando a admitir para mim mesma que estava de fato, sentindo algo a mais por ele. Mas minha confiança foi quebrada, e eu não sei se quero voltar atrás.
Manip das melhores friends que temos aqui.
Obra autoral ©
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top