20. You look lonely

Eu estava lá, parado no meio do quarto, olhando para o espaço que acabara de preparar no chão. Não fazia ideia de como tinha chegado a esse ponto. Não sabia se era a coisa certa, ou se estava apenas agindo por impulso, mas o que eu sabia era que eu precisava dela por perto, por alguma razão que nem eu entendia direito.

Por mais que eu tentasse lutar contra, a verdade era que eu queria estar perto dela. Ela não tinha me dado uma resposta definitiva, mas me deixava ficar ali, no seu espaço, e isso já era um avanço, certo? Eu me forcei a sentar no chão, tentando afastar qualquer pensamento que fosse além disso. Eu não queria ultrapassar os limites que já havia quebrado antes. Não queria que ela fosse mais uma vítima dos meus erros, das minhas confusões. Eu precisava que ela confiasse em mim, e a única forma de fazer isso era respeitando o espaço dela, deixando que as coisas acontecessem no tempo dela.

Por um momento, fiquei parado, olhando para o espaço onde ela deitou. Ela se mexia na cama, claramente desconfortável, o que fazia sentido. Não devia ser fácil para ela, estar aqui, com tudo o que aconteceu, em um quarto que não era o dela, com alguém que, de certa forma, ainda causava um turbilhão dentro de si.

Eu soltei um suspiro, me sentindo desconfortável também, mas de uma maneira diferente. Era estranho estar assim, dividido entre respeitar o espaço dela e, ao mesmo tempo, querer aliviar a tensão que pairava no ar. No entanto, decidi quebrar o silêncio quase insuportável.

— Você está se mexendo muito... Os lençóis estão te incomodando?

Ela não respondeu imediatamente, mas eu sabia que tinha acertado, mesmo sem que ela precisasse confirmar. Depois de alguns segundos, veio a resposta, vinda em forma de uma provocação.

— Quem sabe? Talvez seja só sua presença me incomodando, já pensou nisso?

Eu ri baixinho, sem querer, um som abafado que eu não esperava, mas que escapou de mim. Ela tinha um jeito único de me desafiar, de provocar, e eu não sabia se isso era bom ou ruim. Eu não queria forçar nada, mas me peguei querendo entender um pouco mais sobre ela.

O silêncio voltou por um instante, mas não era desconfortável. Na verdade, estava quase tranquilo. Eu estava começando a me acostumar com a ideia de estar ali, perto dela, sem fazer nada demais, só... Compartilhando o mesmo espaço. E então, para minha surpresa, Calista quebrou o silêncio dessa vez.

— Eu gosto de ouvir trilhas sonoras de filmes musicais da Disney.

A declaração foi tão inesperada que fiquei sem palavras por um segundo, tentando processar a informação. Eu me virei para ela, confuso, tentando entender a relevância daquilo. Ela estava deitada de costas, e eu podia ver sua silhueta de leve sob as cobertas. Ela estava com a cara encolhida, como se tivesse acabado de soltar algo totalmente sem sentido para mim.

— O quê? — Eu quase soltei uma risada, mas me segurei, não querendo parecer ridículo.

Ela se virou na cama, olhando para o teto, quase sem me encarar.

— Só uma curiosidade, sabe? Algo positivo para saber sobre mim. — Ela disse com uma leveza na voz, como se tentasse transformar aquela informação em algo mais simples e corriqueiro.

Eu não pude evitar a sensação de que, pela primeira vez em muito tempo, a conversa estava fluindo de maneira natural. Sem pressões. Sem malícia. Só... Uma troca de palavras. Algo trivial, mas que, de algum jeito, me fazia me sentir mais leve.

— Isso é... inesperado. — Eu disse, sorrindo para mim mesmo. Sabia que ela não podia ver, mas o sorriso estava lá. — Eu pensei que você fosse mais do tipo que preferia algo mais intenso... Talvez um rock, ou algo assim.

Ela soltou uma risada baixa, quase imperceptível.

— Isso seria muito clichê, não acha? Eu gosto de ser imprevisível.

Eu me recostei na parede, sentindo uma leve sensação de paz que não estava acostumado a ter. O ambiente parecia mais tranquilo agora, sem os fantasmas das batalhas anteriores, das discussões e tensões. Só nós dois, ali, falando sobre... Música.

— Eu não diria que você é imprevisível. — Eu brinquei. — Só... Um pouco excêntrica.

— Excêntrica? — Ela riu de novo, mais alto dessa vez. — Eu?

— Sim. — Eu não conseguia mais segurar o sorriso. — Eu apostaria que você tem uma playlist só de músicas de filmes, não é?

Ela bufou, se mexendo na cama como se tentasse se enrolar nas cobertas, mas o som de sua risada ainda estava lá, quebrando a tensão do momento.

— Não seja ridículo. Não sou tão previsível assim.

Eu não sabia como responder, mas algo naquele momento me fez pensar que, talvez, a vida não fosse só sobre acertos e erros, sobre vitórias e derrotas. Às vezes, era só sobre estar ali, compartilhando o silêncio, as palavras e as risadas que surgem do nada, como se tudo fosse... Simples. Como se os problemas e o mundo lá fora pudessem esperar um pouco.

O silêncio se estendeu novamente, mas não era mais pesado. Eu estava confortável, de certa forma, em sua presença. Era como se, mesmo com todas as complicações entre nós, ainda houvesse algo genuíno a se aprender. Eu não estava mais preocupado em tentar impressioná-la ou fazer com que ela visse algo em mim. Eu só queria... Que ela estivesse bem.

Eu sabia que ainda havia muito para lidar entre nós, mas naquele momento, com o som das palavras simples preenchendo o ar, algo dentro de mim se acalmava.

O ambiente estava, de repente, mais calmo. Eu percebi a diferença na voz dela, mais suave, mais tranquila, como se as palavras agora viessem sem tanto peso. Havia algo no tom dela que, mesmo sem que ela precisasse dizer, me dava a impressão de que ela estava começando a relaxar. Talvez fosse a maneira como ela falava, a leveza nas palavras, ou apenas a simples troca de pequenas conversas que, até então, pareciam tão distantes. De qualquer forma, isso fez o meu peito se apertar um pouco, e ao mesmo tempo, me fez sentir uma paz que eu não sabia que precisava até aquele momento.

Ela quebrou o silêncio, quase de maneira brincalhona, como se tivesse se esquecido das tensões de antes.

— Me diz uma coisa... Você tem medo de algo idiota? Tipo... Algum inseto, talvez? Ou... Altura?

Eu fiquei em silêncio por um segundo, tentando entender o que ela queria dizer. Era engraçado, mas ao mesmo tempo, eu senti uma pequena curva de desconforto por dentro. Algo em mim queria ser honesto, queria dizer a verdade, mas não sabia se estava pronto para revelar o que realmente me aterrorizava. Talvez fosse besteira, um medo que eu mesmo não sabia explicar direito, mas eu sabia que tinha que dizer. Então, com um suspiro, eu resolvi falar.

— Eu... Eu tenho medo do escuro. — A frase saiu mais baixo do que eu esperava, e a maneira como eu disse soou mais profunda, como se eu tivesse me aberto mais do que planejei. Eu tentei rir, mas não consegui. — É como... Como se fosse ficar cego, e nesse momento, eu sei que perdi o controle de tudo.

Era um medo simples, um medo tão básico que eu deveria ter superado há anos. Mas, não sei, ainda assim, ele estava ali, sempre presente, nas sombras, nas noites solitárias quando tudo parecia ficar distante demais. Quando a luz se apagava e eu me via perdido, e é assim que me sinto, quando acabo deixando a raiva me guiar.

Havia algo naqueles momentos que mexia comigo. Não era só o medo, era também a sensação de impotência. O medo de não saber o que fazer quando tudo ao meu redor se desvanecesse.

Eu esperei que ela falasse algo, talvez risse de mim, ou até me zombasse por ser fraco o suficiente para ter medo de algo tão simples. Mas, surpreendentemente, sua voz voltou, baixinha, quase inaudível, quase como se ela estivesse falando mais para si mesma do que para mim.

— Eu poderia iluminar o caminho para você.

Foi como um choque. Algo dentro de mim se descontrolou. Meu peito deu um pulo, como se todas as minhas emoções tivessem se aglomerado de uma só vez. Eu não consegui processar aquilo de imediato. Me sentei rapidamente na cama improvisada no chão, sem pensar muito, olhando para ela, como se estivesse esperando que ela dissesse algo mais, algo que me fizesse entender o que tinha acabado de ouvir.

Eu a encarei, e a única coisa que consegui fazer foi perguntar, em voz baixa, para me assegurar de que não estava sonhando.

— O quê? — Minha voz estava cheia de incerteza, mas eu não me importava. Eu precisava de uma confirmação. — Você... Você disse que iluminaria meu caminho?

Ela não respondeu, e então eu perguntei de novo, com mais urgência, a minha voz agora um pouco mais alta, cheia de uma emoção que eu não sabia que podia sentir.

— Calista... Você disse mesmo isso?

Mas, antes que eu pudesse ouvir qualquer outra coisa, percebi que ela não estava mais me respondendo. Seus olhos estavam fechados, seu rosto tranquilo e suavizado pelo sono. Ela havia caído no sono, quase sem perceber. Eu fiquei ali, parado, olhando para ela, por um momento, como se tudo ao meu redor tivesse ficado em pausa.

Aquela cena, com ela tão calma, tão vulnerável, me fez perder a noção do tempo. Eu me deitei novamente na cama, mas algo estava diferente dentro de mim. Algo que até então eu não havia percebido. Não era apenas uma obsessão, não era só uma atração. Eu sabia o que estava acontecendo, e isso me pegou de surpresa.

Com um sorriso quase imperceptível, eu encarei o teto, sentindo meu coração bater um pouco mais rápido. Não era só uma ideia passageira. Eu estava completamente apaixonado por ela. O que começou como uma simples curiosidade, uma provocação, uma troca de palavras, agora era algo mais profundo, mais intenso do que eu poderia ter imaginado. Eu sentia a sua ausência em mim quando ela não estava por perto, e a ideia de que ela poderia estar ao meu lado, sem medos, sem máscaras, sem defesas, me fazia querer lutar contra qualquer coisa que pudesse desfazer isso.

Ela não estava acordada para ver o sorriso que eu tentei esconder, mas, de algum modo, sabia que ela já começava a iluminar o meu caminho. Eu não sabia como nem por que, mas isso era real. Acontecia de verdade. E, por mais que eu estivesse tentado entender o que isso significava, uma coisa eu sabia com certeza, agora, eu não queria mais ir embora.

⋆౨˚ ˖

O sol já começava a iluminar o quarto com seus primeiros raios, criando um ambiente suave e morno. O som do colchão se movendo me fez abrir os olhos devagar, ainda com a mente um pouco emaranhada entre o sono e a realidade. Eu estava, de alguma forma, calmo, mais tranquilo do que o normal, talvez porque a noite passada tivesse me dado uma sensação estranha de alívio. O que quer que estivesse acontecendo dentro de mim, parecia estar se ajustando de uma forma que eu não entendia, mas que eu não queria questionar ainda. Então, olhei para o lado e vi Calista já de pé, arrumando a cama com uma destreza que, mesmo em algo tão simples, me parecia impressionante. Ela estava concentrada, como sempre, com o cabelo bagunçado da noite de sono, mas ainda assim, algo nela fazia com que o momento parecesse algo único. A maneira como ela se movia, o modo como ela esticava os braços para ajeitar as cobertas... Tudo nela, até os gestos mais simples, parecia atrativo para mim. Eu estava hipnotizado, e por mais que quisesse evitar esse olhar, era difícil.

Eu sabia que deveria dizer algo, então, com um sorriso ligeiramente desafiador, perguntei.

— Acordando cedo, hein? Não sabia que você era do tipo "fazer as coisas antes de todo mundo".

Ela virou para mim com os olhos estreitos, já sabendo exatamente o que eu queria. Não houve hesitação. O tom dela foi direto, provocante, quase como se não houvesse mais espaço para segundas intenções.

— Só estou me certificando de que você não vai me culpar pela bagunça que fez na cama. Sei que você deve ser do tipo que dorme feito uma pedra e nem percebe o que acontece ao redor.

Nosso "bate-papo", como sempre, estava repleto de provocações. As palavras entre nós se tornaram quase naturais, como uma dança bem ensaiada, e eu não podia negar que me divertia com isso. A tensão entre nós tinha uma estranha energia que, ao mesmo tempo, me deixava ansioso e empolgado. Mas, naquele momento, nossos olhares foram interrompidos por uma batida forte na porta.

Calista parecia tencionar o corpo de uma forma que eu não conseguia entender de imediato, como se fosse se esconder, ou como se algo a tivesse incomodado. Ela se virou rapidamente para mim, e, sem dizer uma palavra, apontou para o banheiro. Eu entendi o recado imediatamente, não queria que a situação se tornasse desconfortável, e eu respeitei isso. Não podia negar que estava sentindo o mesmo, uma necessidade urgente de não criar mais complicações entre nós, especialmente agora.

— Quem é? — Perguntei, tentando soar descontraído, embora meu corpo estivesse mais alerta.

— Sou eu, Yoon. — A resposta veio do outro lado da porta, e eu me senti um pouco aliviado por não ser alguém mais. Mas, ao mesmo tempo, Yoon não era exatamente o que eu queria naquele momento.

Eu olhei para Calista rapidamente, que parecia ainda mais incomodada com a situação do que eu. Ela deu um passo em direção ao banheiro, como se estivesse tentando sair sem fazer muito barulho. Nenhum de nós queria que a situação ficasse ainda mais estranha, especialmente agora. Eu respirei fundo e falei.

— Entra, Yoon.

Ele entrou no quarto, e foi inevitável que ele reparasse em tudo. Ele olhou ao redor, visivelmente confuso com o que estava vendo. Eu estava tentando esconder o que eu podia, mas a situação era um pouco embaraçosa demais para enganar. O fato de que as cobertas e almofadas estavam espalhadas no chão não ajudava, claro.

— O que aconteceu aqui? — Yoon perguntou, arqueando a sobrancelha, claramente desconcertado. Ele provavelmente esperava uma explicação, e, pela primeira vez, eu não sabia o que dizer.

Eu ri, forçando a voz a parecer casual, enquanto tentava inventar alguma desculpa que fosse minimamente convincente.

— Ah, nada demais. A cama estava... Desconfortável, sabe? Eu estava tentando... Ajeitar as coisas. Não é nada demais.

Yoon parecia cético, mas ao menos não insistiu. Ele ainda estava meio desconfortável, mas disse, com um sorriso meio forçado.

— Tá... Se você diz. — Ele deu de ombros, ainda que me encarasse com curiosidade e desconfiança — Bom, o que eu queria mesmo era te chamar para um treino na praia. Preciso de um tempo para relaxar, e parece que você também precisa. Eu sei que você tem ficado meio... Focado em Calista, e isso deve estar te deixando maluco.

Eu senti uma leve irritação surgir, misturada com vergonha. Era óbvio que Yoon estava se referindo ao que todos já aparentemente sabiam, o que estava acontecendo, mesmo que em silêncio, entre mim e Calista. Ele estava apenas tentando aliviar o clima, mas suas palavras eram como um golpe direto naquilo que eu tentava esconder. Eu não queria pensar sobre isso, especialmente na frente de Yoon, mas sabia que ele tinha razão, e isso me fez ainda mais desconfortável.

Calista, ainda no banheiro, provavelmente estava ouvindo, e eu não sabia se ela estava reagindo ou se estava simplesmente ignorando a conversa. De qualquer forma, não podia protestar muito. A situação era desconfortável demais.

— Ah, Yoon, eu já te disse. Preciso me arrumar primeiro. — Falei com firmeza, tentando dar o ponto final à conversa. — Eu te encontro em vinte minutos, tá?

Ele olhou para mim, ainda com uma expressão meio desconfiada, mas sem insistir mais. Eu o vi se virar e, sem mais delongas, sair do quarto. Eu respirei fundo, tentando recuperar o controle da situação. Isso, sem dúvida, tinha sido mais difícil do que eu imaginava.

Agora, tudo o que eu queria era que o silêncio tomasse conta do quarto, para que eu pudesse refletir sobre tudo que estava acontecendo com Calista e comigo. Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas aquele momento de tensão, essa mistura de sentimentos complicados, era algo que eu não conseguiria ignorar por muito mais tempo.

Quando Yoon finalmente saiu do quarto, a tensão no ar parecia se intensificar ainda mais. O som da porta se fechando ecoou pelo espaço, deixando-nos sozinhos novamente. Eu fiquei ali, parado por um momento, tentando processar tudo o que tinha acabado de acontecer. Mas, antes que eu pudesse me perder nos meus pensamentos, Calista saiu do banheiro. Ela estava mais tranquila agora, mas não demorou para que o tom provocador voltasse a tomar conta da conversa.

Ela me olhou com um sorriso leve, quase malicioso, e disse com um ar desafiador.

— Então, parece que você está completamente pirando por causa de mim, Kwon. Eu achava que você nunca baixaria a guarda, mas agora... Você não consegue nem manter a compostura. Acho que as coisas não são tão fáceis, né?

O tom dela, como sempre, estava afiado, e, de certa forma, eu me sentia irritado, mas também... Aliviado. Eu nunca soubera o que esperar de Calista, mas aquele jogo de alfinetadas estava se tornando uma espécie de rotina entre nós, algo que eu meio que esperava, e, até de algum modo, gostava. Ela tinha uma forma de me provocar que me desestabilizava, mas também me fazia sentir uma excitação estranha, como se tudo aquilo fosse, de certa forma, necessário.

Eu me virei para ela, tentando responder com a mesma intensidade.

— Você ainda acha que estou "pirando"? — Dei uma risada baixa, tentando esconder a leve tensão que subia pelas minhas veias. — Não é você que está me deixando assim, não. Mas se você acha isso, então me diz... O que me fez sair de controle?

Nosso olhar se encontrou, e, por um momento, tudo parecia diminuir. A brincadeira, os desafios, tudo. Só estávamos ali, um encarando o outro, quase em silêncio, e, por alguma razão, o espaço entre nós parecia cada vez menor. As palavras se tornaram desnecessárias, os olhares mais profundos e intensos. Fiquei consciente da proximidade dela, do calor do seu corpo, e de como a tensão no ar parecia palpável. Tudo em mim estava em chamas, e eu mal podia processar o quanto aquela situação me desestabilizava. Como tudo se intensificava com ela perto, como se a simples presença dela já tivesse o poder de fazer tudo parecer mais urgente e complexo.

Ela deu um passo à frente, inconsciente de como isso me afetava. Eu me vi dando um passo também, quase sem pensar, como se a gravidade entre nós fosse irresistível, até que nossos corpos estavam quase colados. Ela ainda não havia recuado, e a sensação de calor em meu peito disparou, meu coração batendo mais rápido. Os nossos olhares, agora mais profundos e intensos, falavam mais do que qualquer palavra poderia dizer.

Eu podia sentir o ar entre nós ficando denso, mais pesado, como se a atmosfera estivesse prestes a se romper. Mas então, de repente, Calista, como se acordasse de um transe, deu um passo atrás, interrompendo o momento. Ela estava respirando mais rápido, e seus olhos estavam fixos em mim de uma forma que, de certa forma, me fez perceber que eu não era o único afetado pela proximidade.

— Eu... Preciso voltar para o meu quarto — Disse ela, tentando disfarçar a tensão que estava evidente em sua voz. Ela não queria admitir, mas eu sabia que estava tão desconfortável quanto eu, mesmo que de uma maneira diferente, e isso quase me tirou um sorriso. — Zara vai me fazer muitas perguntas e, sinceramente, eu não sei o que dizer. Preciso de tempo para bolar boas desculpas para ela.

Ela falou isso rapidamente, como se fosse a desculpa perfeita para se afastar, mas eu sabia que havia algo mais ali. Algo que ela estava tentando esconder de si mesma, mas não era difícil ver. Eu estava começando a compreender melhor os sinais entre nós, e era quase como se tudo estivesse prestes a explodir a qualquer momento.

Eu respirei fundo, tentando manter a compostura, e então fiz algo que não esperava, provavelmente, deixei ela ir. Sem contestar, sem tentar segurá-la. Eu queria, com todas as minhas forças, mantê-la ali, mas sabia que essa aproximação não poderia ser forçada. Ela precisava de tempo, e eu também. E acho que a noite passada foi o suficiente para que pudéssemos pensar por conta própria como seria a seguir.

Ela se virou rapidamente, e a porta se fechou atrás dela com um leve estalo. Eu fiquei ali, parado no meio do quarto, sentindo uma energia pulsando em meu corpo. Algo estava errado. Algo estava se transformando dentro de mim, e eu sabia que não seria fácil lidar com isso. A presença dela me afetava de uma maneira que eu não sabia como controlar, e a ideia de que ela estivesse tão perto, mas ainda assim distante, mexia com a minha cabeça de uma maneira que eu não conseguia entender.

Eu me sentei na cama, passando as mãos pelos meus cabelos. Meu corpo ainda estava quente com a tensão do momento, e as palavras de Calista, a forma como ela me olhava, não saíam da minha mente. O que aconteceu ali? O que nós estávamos realmente criando entre nós? Uma parte de mim queria gritar, outra queria apenas fechar os olhos e esquecer o mundo por um momento. Eu realmente não sabia mais o que pensar, mas uma coisa era clara, qualquer aproximação entre nós, qualquer gesto, qualquer palavra, parecia ter o poder de incendiar tudo. E, no fundo, eu sabia que isso não tinha mais volta. Por mais que ela me deixe confuso, às vezes dando-me nítidos sinais, e às vezes agindo como se eu fosse apenas alguém com quem ela gosta de discutir, eu sei que existe algo ali, algo palpável que ainda não tenho como nomear.

Obra autoral ©

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