09. I crossed the line

Evitá-la no hotel foi uma tarefa fácil, mas sabia que em algumas horas a enfrentaria junto de sua equipe no tatame, e então seria o momento decisivo para que me deixasse guiar pelas emoções, seja ouvindo atentamente aos conselhos de Kreese, o imponente discurso de Kim, ou seguindo meus próprios instintos. Qualquer decisão que minha mente for capaz de tomar, será decisiva para nossa continuação no torneio, contando agora com sequências de pequenas provas, testando nosso equilíbrio entre o físico e emocional. Posso garantir que no físico não haverão muitos à altura, mas o emocional... Tem andando uma grande porcaria, e tudo isso por que? Por causa de uma maldita garota que de repente decidiu bagunçar minha chance de vitória. Eu queria voltar no tempo e apagar aquele maldito acontecimento.

Se não fosse pela luta na praia, eu não lutaria com tanto peso hoje. Sabia que teria de encará-la diretamente, e corria o risco de ver aquele mesmo olhar de antes, assustada, perplexa, e com muito medo, o que poderia acabar trazendo a memória como um fantasma para me assombrar, mas eu sequer descansei, mantendo os olhos pregados na última noite, treinando sem cessar. Eu poderia lidar com dores de cabeça facilmente, mas não poderia lidar com o fato de perder por um mero pensamento intrusivo. Em algum momento, irei simplesmente esquecer.

Eu caminhei em direção ao elevador, os passos ecoando no corredor quase vazio do hotel. A cada passo, parecia que o chão se tornava mais instável, como se minhas próprias memórias fossem um mar revolto de emoções. Apertei o botão para chamar o elevador, e o som familiar do ding reverberou pelo ambiente. Quando a porta se abriu, hesitei. Aquela caixa de metal estreita e claustrofóbica não era só um meio de transporte. Era também o palco de uma das memórias mais confusas e perturbadoras que eu já tivera, definitivamente, pertubadoras.

Assim que adentrei o pequeno espaço, senti o cheiro característico de metal frio e desinfetante. O ar parecia mais denso ali dentro, como se a própria atmosfera carregasse os resquícios daquela noite. A noite em que eu e Calista ficamos presos aqui. Balancei a cabeça, tentando apagar as imagens que se formavam sem minha permissão. Isso é passado. Não significa nada. Esqueça.

Enquanto o elevador descia, cruzei os braços, fixando o olhar no número digital que mudava lentamente no painel. Meu peito parecia uma fornalha, e cada tentativa de ignorar o que sentia era como jogar mais combustível na chama. Lembranças de Calista, de seus olhos assustados, e do silêncio incômodo que nos envolveu naquele confinamento vieram à tona como se quisessem me engolir. Meu maxilar travou. Não hoje, Kwon. Não agora. Por que isso está me assombrando como um fantasma? Foi só mais uma briga.

Quando a porta se abriu no térreo, Yoon estava lá, com aquele olhar atento e preocupante que eu já conhecia bem. Ele me avaliou como se estivesse tentando decifrar cada linha da minha expressão.

— Você está bem? — Ele perguntou, o tom carregado de preocupação. — Desde o último treino, você parece... Estranho.

Eu soltei um suspiro curto, cruzando os braços em uma tentativa de me proteger daquela análise incisiva, eu não lhe devia satisfações. Yoon não precisava conhecer minhas fraquezas, por mais que já estivesse nítido que ele sabia de algo.

— Não é nada — Respondi com firmeza, tentando soar convincente. Mas Yoon conhecia minhas falhas melhor do que ninguém, aparentemente, já que nos enfrentamos tantas vezes antes de estarmos aqui.

— Kwon... — Ele começou, mas ergui a mão, cortando sua próxima frase.

— Eu disse que não é nada. — Meu tom era mais áspero do que pretendia, mas não havia espaço para explicações ou confissões agora.

Por dentro, no entanto, o peso me esmagava. A ideia de enfrentar Calista de novo no tatame era uma sombra constante. A memória do nosso último confronto era como um fantasma , um assombro, um constante pesadelo. Eu verdadeiramente temia machucá-la de novo, temia perder o controle, temia... Ver aquele olhar de medo nos olhos dela, mas por que?

Evitá-la no hotel até agora tinha sido simples. Eu conhecia os horários de treino dela, sabia os lugares onde costumava estar e mantinha uma distância segura. Mas esse conforto temporário estava prestes a acabar. Em poucas horas, não haveria para onde correr. Eu teria que encará-la, de frente, no tatame, com todos os olhos voltados para nós. Seria o momento decisivo. Enquanto isso, em minha mente, o caos reinava. Seguir os conselhos de Kreese, sempre tão rígido e impassível? Ou me agarrar às palavras de Kim, que exaltava a força interna e a honra como armas principais? Talvez apenas confiar nos meus instintos, mas, honestamente, esses instintos estavam mais confusos do que nunca.

O torneio exigiria mais do que força física. Seriam provas que testariam nosso equilíbrio, não só do corpo, mas também da mente. Como eu disse, no físico, eu sabia que não haveria muitos que poderiam me superar. Mas emocionalmente? Isso era outra história. Eu estava despedaçado por dentro. E tudo isso... Por causa de uma maldita garota. Calista havia bagunçado minha cabeça de uma maneira que eu nunca imaginaria ser possível. Se eu pudesse apenas apagar aquela noite no elevador, ou a luta na praia, eu faria sem hesitar. Mas não podia.

Yoon me chamou novamente, me tirando do transe.

— Só... cuida da sua cabeça, tá legal? Você está se cobrando demais. Isso nunca dá certo.

Eu apenas assenti, sem responder. Ele não precisava saber o que se passava dentro de mim. Nem ele, nem ninguém. Eu lidaria com isso sozinho, da mesma forma que sempre fiz.

Eu tinha uma missão a cumprir. E por mais que o medo me consumisse, por mais que Calista fosse um peso esmagador na minha mente, uma coisa era certa, no tatame, eu precisaria decidir quem eu realmente era. Se Kwon, o lutador imbatível, ou Kwon, o garoto assombrado por suas próprias emoções, e garanto que a segunda opção não me trará nada além da derrota.

Os passos me guiavam pelo saguão enquanto o ambiente começava a ganhar vida com os competidores e equipes se preparando para a próxima prova que estava por vir. Então, lá estavam eles, o grupo dos Iron Dragons, sempre juntos como uma fortaleza, com suas presenças quase sufocantes de tão imponentes. Meu olhar imediatamente encontrou o dela. Ela estava parada ao lado de Axel, os braços cruzados e o semblante focado, entretanto, por um breve momento, nossos olhares se cruzaram. Não foi intencional, pelo menos para mim, mas, assim que aconteceu, ela desviou. Rápido demais. Quase como se o simples ato de me olhar fosse insuportável para ela. Aquilo acendeu algo dentro de mim, algo confusamente irritante. O que era aquilo? Medo? Desprezo? Ou algo que eu não conseguia entender?

Minha mandíbula travou enquanto continuava andando, mas não perdi a confiança que pairava no ar. Axel estava logo ao lado dela, os olhos fixos em mim como lâminas prontas para atacar. Ele não escondia o desgosto, na verdade, parecia deliberado, quase como um aviso. Eu sabia o motivo. Ele estava na praia naquela noite, viu tudo, e sabia o que aconteceu entre mim e Calista, fora o fato de que seu incômodo por eu ser um oponente à altura tenha o incomodado desde o início desse torneio. Ele era próximo dela, e o ódio que queimava em seu olhar dizia tudo o que ele queria fazer comigo, e eu não teria medo de enfrentá-lo, ciente de que poderia parti-lo se me testasse.

Mas ele não se moveu. Respirou fundo, desviando o olhar para o chão, embora suas mãos estivessem fechadas em punhos, deixando seus dedos brancos pela força do aperto. Por um segundo, achei que ele fosse partir para cima de mim ali mesmo. Eu não teria me importado. Talvez uma briga fosse mais fácil do que encarar tudo isso no tatame. Mas ele se controlou, e eu fiz o mesmo. Sem palavras, sem gestos, apenas o silêncio cortante. Continuei andando, os músculos tensionados, cada passo carregado de uma irritação que eu não sabia explicar.

Meus senseis, Kreese e Kim, estavam esperando perto da saída do hotel. Ambos pareciam alheios ao caos interno que eu enfrentava. Kreese, sempre imponente, com sua postura autoritária, não disse nada, apenas um breve aceno de cabeça, indicando que era hora de irmos. Kim, por outro lado, lançou um olhar breve e avaliativo, mas também não fez perguntas. Eles sabiam que eu estava no limite, mas não iriam me aliviar disso.

Entramos no ônibus que nos levaria novamente ao local do torneio. O veículo estava em um silêncio absoluto, interrompido apenas pelo zumbido do motor. Os outros competidores estavam imersos em seus próprios pensamentos ou fingindo estar relaxados. Enquanto a mim... Eu estava à beira do colapso. As lembranças continuavam a me assombrar, mas desta vez, tentei agarrá-las, transformá-las em combustível. Se é isso que quer me destruir, então vou usar isso para destruir meus oponentes primeiro. A ideia de colapsar, de quebrar, não parecia mais tão assustadora. Na verdade, comecei a enxergá-la como uma oportunidade.

Fechei os olhos, apoiando a cabeça contra a janela fria. A raiva de Axel, o olhar desviado de Calista, as palavras de Yoon mais cedo, tudo isso pulsava dentro de mim como um tambor rítmico, alimentando uma força que eu nem sabia que possuía. Se eles querem ver o que acontece quando me pressionam até o limite, vão descobrir no tatame. E eu vou fazer isso parecer fácil.

Quando o ônibus finalmente parou e descemos, o local do torneio parecia mais intimidador do que nunca. A arena era um redemoinho de energia e expectativa. Respirei fundo, sentindo o cheiro do tatame, do suor e da adrenalina que parecia vibrar no ar. Nós caminhamos em silêncio para o vestiário, meus senseis na frente, e cada passo ecoava quase ritmicamente em minha mente. Era hora de lutar, não apenas contra os outros, mas contra mim mesmo.

⋆౨˚ ˖

O ambiente do tatame era eletrizante. Os gritos da torcida, os aplausos e o som abafado dos movimentos ecoavam pelo espaço, mas para mim tudo parecia distante, como se eu estivesse em um túnel, só com o barulho dos meus próprios pensamentos. Já havíamos passado pelas primeiras provas, lutando individualmente em tablados estreitos, onde o equilíbrio era testado tanto quanto a força. A tensão de cada luta ainda pulsava em minhas veias, mas eu sabia que isso era apenas o começo, e não deixei-me abalar com qualquer emoção, provei a todos que não estava ali meramente na esportiva, afinal, derrotei todos que enfrentei, sem muitos problemas.

Agora, o próximo nível estava diante de nós, lutas em equipe. Duplas ou trios, e no máximo cinco membros da equipe, estrategicamente montados, subindo em um tablado elevado que parecia mais uma plataforma de combate do que qualquer coisa próxima a um tatame tradicional. A altura era intimidadora, como se o simples ato de subir ali fosse um desafio psicológico. Uma queda ali não significaria apenas um erro, mas a humilhação de expor fraquezas na frente de todos.

Eu mantive a postura rígida, meu rosto inexpressivo, mas por dentro, a ansiedade queimava como fogo. Estávamos prestes a nos organizar quando Kreese se aproximou, sua presença esmagadora ofuscando qualquer outro som ou visão ao redor.

— Kwon. — Ele me chamou, seu tom firme e autoritário. Meus olhos o encontraram instantaneamente, como se minha mente já estivesse condicionada a obedecer. Ele se inclinou levemente, o suficiente para que sua voz fosse um sussurro só para mim. — Lembre-se, não há espaço para empatia ou sentimentalismo aqui. Isso é um torneio, não um playground. Vencer é o único objetivo. Não importa quem esteja na sua frente.

Seus olhos, frios como gelo, se voltaram para o outro lado do tatame. Não precisei seguir seu olhar para saber a quem ele se referia, mas fiz mesmo assim. Lá estava Calista, conversando com Axel e outra integrante dos Iron Dragons. O contraste era claro. Ela parecia calma, quase serena, enquanto eu sentia o peso do mundo nas costas. Kreese continuou, a voz como um golpe certeiro.

— Ela é só mais uma peça no tabuleiro. Um obstáculo. Nada mais. Se você não consegue superar isso, não merece estar aqui.

Assenti silenciosamente, sem encontrar palavras para responder. Como responder? Eu sabia que ele tinha razão. Eu estava aqui para vencer, para provar a mim mesmo que eu era capaz. Provar para Kreese, para Kim, e para todos que duvidaram de mim que eu podia chegar ao topo. Mas a ideia de enfrentá-la novamente... Era como um nó que se apertava a cada segundo. Não queria lutar contra ela. Não queria ser responsável por machucá-la de novo, por trazer de volta aquele olhar de medo que me assombrava desde a praia. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de aceitar a derrota era intolerável. Esse título era minha única chance de redenção, a única forma de calar todas as vozes que duvidaram de mim, incluindo a minha própria.

Eu respirei fundo, o ar entrando como fogo em meus pulmões. Kreese saiu sem mais palavras, como se sua missão tivesse sido cumprida. Ele sabia que havia plantado a semente da dúvida e do desafio dentro de mim, e agora cabia a mim decidir como lidar com isso.

E enquanto nos organizávamos, ouvi a confirmação dos árbitros, seria uma luta de trios, e meu time já estava definido. Eu, Yoon, e outro companheiro que não era tão forte, mas tinha habilidades rápidas e precisas. O tablado elevado parecia maior de perto, e subir nele era como entrar em outro mundo, um onde força, estratégia e autocontrole eram tudo o que importava.

Do outro lado, os Iron Dragons subiram, com Axel, Calista e uma lutadora musculosa que eu sabia ser implacável. Era isso. Não havia como fugir.

Eu precisava decidir, seguir o que Kreese me ensinou e deixar todos esses sentimentos de lado, ou encontrar uma maneira de equilibrar o caos dentro de mim sem perder de vista meu objetivo. A luta sequer tinha dado início, mas, no meu interior, eu já estava travando uma guerra que parecia impossível de vencer.

O tempo parecia se arrastar enquanto esperávamos nossa vez para subir na estrutura pendida no ar. Era uma plataforma suspensa por cabos, oscilando levemente com o vento e a tensão do ambiente. Minha respiração estava controlada, mas cada batida do coração soava como um tambor na minha cabeça. Por sorte, a próxima batalha não seria nossa, e o Cobra Kai poderia observar os adversários sem entrar em campo ainda.

Os Iron Dragons foram anunciados, e a arena se encheu de murmúrios ansiosos. Axel e Calista subiram primeiro, seguidos pela terceira integrante da equipe, uma lutadora robusta com uma expressão séria e movimentos calculados. Mas o que chamou a atenção de todos foi a composição numérica da equipe adversária, cinco lutadores japoneses. Era uma desigualdade absurda, mas, ao mesmo tempo, ninguém duvidava que os Dragons poderiam surpreender, afinal, eles sequer pediram para que subissem mais membros de sua equipe.

E foi exatamente o que fizeram.

A luta começou com uma explosão de velocidade e precisão. Axel, com sua força crua e sua técnica quase selvagem, avançou diretamente para dois adversários ao mesmo tempo. Seus movimentos eram rápidos, mas brutais, como um predador que domina o campo de batalha. Ele atacava com combinações que eu não havia visto antes, seus golpes sendo uma mistura de estilos que beiravam o improviso, mas com uma eficácia quase teatral.

Enquanto isso, Calista parecia dançar pelo tatame elevado. Sua agilidade era hipnotizante, cada movimento fluindo como água. Ela desviava com facilidade, usando os erros dos adversários contra eles. Quando um dos lutadores japoneses tentou acertá-la com um chute lateral, ela girou o corpo de maneira quase impossível, agarrando o tornozelo dele e usando o impulso para jogá-lo para fora da plataforma. O público prendeu a respiração enquanto ele caía no colchão de segurança abaixo, derrotado.

O golpe seguinte veio tão rápido que mal consegui processar. Calista deslizou por baixo do ataque de outro lutador, aplicando um chute giratório que acertou diretamente o lado do joelho do adversário, desestabilizando-o. Antes que ele pudesse reagir, ela o empurrou com um golpe certeiro no peito, forçando-o a recuar até o limite da plataforma. E então, com um impulso rápido, Axel terminou o serviço, derrubando o lutador com um soco que ecoou pela arena.

Eles não precisaram nem mesmo da terceira integrante para equilibrar a luta. Calista e Axel, juntos, eram uma força da natureza. Axel era a tempestade, feroz e implacável, enquanto Calista era o rio, adaptável e fluida. Eles se moviam com uma sincronia que parecia impossível, quase como se lessem a mente um do outro.

Enquanto observava, não pude evitar o vislumbre de admiração que crescia dentro de mim. Eu sabia que Calista era boa — eu já havia sentido isso na praia — mas vê-la agora, no auge de sua habilidade, era algo completamente diferente. Cada movimento dela parecia ensaiado, mas ao mesmo tempo espontâneo, como se ela tivesse nascido para isso. Era impossível desviar os olhos, mesmo enquanto minha mente lutava contra os sentimentos conflitantes que aquilo provocava.

Dentro de minutos, a luta terminou. Axel e Calista, sozinhos, haviam derrotado os cinco lutadores japoneses. O público explodiu em aplausos, e eu me forcei a desviar o olhar, reprimindo o turbilhão de emoções que ameaçava tomar conta de mim. Eu devia estar focado em nossa própria batalha, mas a imagem dela no tatame, ágil, precisa e implacável, não saía da minha cabeça. Ela era mais do que uma adversária. Ela era um lembrete constante de que, por mais que eu me esforçasse, o meu maior desafio poderia não ser derrotá-la, mas aceitar o que ela fazia comigo.

Respirei fundo, tentando afastar o nó que se formava em minha garganta. Kreese estava certo, sentimentalismo não tinha lugar aqui. Eu precisava me concentrar no que estava por vir. Não havia espaço para distrações. Mas, no fundo, eu sabia, quando chegasse minha vez de lutar, a sombra do que eu acabara de ver ainda estaria lá, me desafiando de uma forma que nenhum golpe físico jamais poderia fazer.

Assim que seguimos dispostos ao tatame, enquanto os Dragons desciam da plataforma, seguindo em nossa direção, senti um impacto em meu ombro. Os olhos de Calista finalmente encararam os meus, eu trinquei o maxilar, não por raiva, mas por uma hesitação que eu estava tentando mascarar. Ela havia feito de propósito, porque fora notório no sorriso em seu rosto, que agora exibia um riscado vermelho com um pequeno hematoma em seu lábio inferior. Acho que pela primeira vez, ela estava no direito de provocar, mas algo dentro de mim não parecia querer deixar isso como estava.

— Por que não vai lá e arranca um pouco de sangue de seus oponentes? — Seu tom era frio, com um profundo rancor, o que fora quase dilacerante — É o que faz de melhor.

Ela revirou os olhos, afastando e levando consigo o resto do foco que eu precisava. Ela acha mesmo que pode invadir minha mente como quer e me prejudicar com isso? Aposto todas as minhas moedas que não passa de um jogo psicológico, armado diretamente para me derrubar, já que ela sabe que sou um dos pilares de minha equipe, e comigo fora de ordem, eles teriam um dojô a menos para enfrentar, mas eu não permitiria cair em seus joguinhos idiotas, e provaria que não estava mais hesitante em causar dor. Sem compaixão.

A plataforma oscilava sob os nossos pés, o trio do Cobra Kai, enquanto subíamos, o peso das expectativas nos pressionando tanto quanto a altura ameaçadora do tablado. Meus músculos estavam tensos, mas meu foco era absoluto. Yoon estava à minha direita, e Kang, nosso terceiro membro, mantinha uma postura defensiva. Os três adversários do outro lado pareciam prontos para tudo, mas estávamos determinados a provar nossa superioridade.

A luta começou com um impacto que parecia ressoar no próprio ar. Eu fui o primeiro a avançar, disparando um chute lateral que acertou o adversário no torso. Ele cambaleou, mas se recuperou rápido, tentando contra-atacar com um soco direto. Eu bloqueei com o antebraço, girando o corpo para desferir um gancho no queixo dele. O golpe foi suficiente para desequilibrá-lo, e, com um empurrão firme no peito, ele caiu da plataforma, aterrissando com um estrondo no colchão de segurança.

Um a menos.

Yoon tomou a dianteira em seguida, enfrentando outro oponente com golpes precisos e rápidos. Ele se movimentava como um estrategista, analisando cada abertura antes de atacar. Com uma combinação de socos e um chute giratório, Yoon derrubou o segundo adversário, que voou para fora da plataforma. A multidão vibrou, e por um momento, senti o peso da vitória iminente.

Agora, restava apenas um.

A tensão aumentou. O último adversário era mais ágil e parecia estudar cada movimento nosso, esperando o momento certo para atacar. Enquanto isso, algo dentro de mim começou a vacilar. Não era o medo do próximo golpe ou da altura do tablado, era o eco de uma voz. A voz dela.

"É o que faz de melhor."
Meu corpo enrijeceu.

"Você é só uma sobra."
Minha respiração ficou pesada.

E então, como um golpe final, ouvi cada palavra ser proferida de maneira cristalina...

"Não encosta em mim!"

As palavras de Calista invadiram minha mente como um veneno. Eu a vi de relance, fora da plataforma, olhando para mim. Era como se ela estivesse lá, dentro da minha cabeça, me desafiando sem dizer uma única palavra. Eu a encarei, tentando afastar o peso daquela lembrança, mas parecia impossível.

Foi nesse instante que tudo deu errado.

Antes que eu pudesse reagir, o adversário aproveitou minha distração e avançou com um chute poderoso. O impacto me acertou no estômago com força suficiente para me lançar para trás. Perdi o equilíbrio, e, antes que pudesse me agarrar a qualquer coisa, senti o vazio. A plataforma desapareceu sob meus pés, e caí.

O colchão de segurança amorteceu o impacto, mas não o golpe no meu orgulho. Eu estava no chão, derrotado, enquanto Yoon e Kang continuavam na plataforma. Em questão de segundos, eles derrubaram o último adversário com uma combinação implacável, garantindo a vitória do Cobra Kai naquela rodada. Mas eu não estava lá para comemorar.

Levantei-me devagar, passando a mão no rosto enquanto o gosto amargo da humilhação se espalhava em meu peito. Eu havia caído no jogo dela. As palavras de Calista, a memória daquela noite, tudo aquilo havia me distraído no momento mais crucial.

Quando saí da área de combate, Kreese já estava me esperando. Seu olhar era um misto de fúria e desapontamento. Ele me puxou para um canto, sem cerimônias, e sua voz cortou como uma lâmina.

— Você está brincando comigo, Kwon? — Seu tom era baixo, mas carregado de autoridade. — Uma distração. Um deslize. E você quase colocou nossa equipe em risco. Isso é inaceitável.

Eu não respondi, apenas mantive o olhar fixo no chão, sabia que cair nessa jogada poderia ser fatal. E outra vez, eu cometi um erro.

— Ou você resolve isso agora, ou eu mesmo vou fazer o trabalho sujo. E isso inclui derrubar ela, se for necessário. Se você hesitar, está fora.

A menção dela foi como um choque. Respirei fundo, forçando-me a erguer o olhar para ele.

— Não. — Minha voz saiu firme, mais do que eu esperava. — Não vou hesitar. Não vou perder de novo. Eu vou derrubá-la, a qualquer custo.

Kreese me observou por um momento, avaliando se minhas palavras eram verdadeiras. Finalmente, ele assentiu com um breve movimento de cabeça.

E quanto ele se afastou, seguimos todos ao palco onde as equipes que avançaram para a próxima fase seriam anunciadas. Meus sentidos estavam em alerta, minha mente repetindo como um mantra, sem compaixão. Sem distrações. Mas então a vi, de novo e de novo e de novo. Como um grito no vácuo, inútil e penetrante.

Calista.

Ela estava próxima, conversando com Axel, mas parecia sentir minha presença. Por um instante, olhou na minha direção. Eu quase prendi a respiração, tentando desviar o olhar, mas era impossível. Algo nela me mantinha preso, como uma corrente que eu não conseguia quebrar, e isso estava cada vez mais alimentando minha raiva, de uma maneira quase implacável.

Minhas próprias palavras ecoavam na minha mente. "Sem compaixão."

Mas eu não conseguia ter a certeza de que conseguiria cumprir essa promessa. Não com ela, não depois do que eu já lhe havia causado.

O som abafado das vozes ao meu redor mal fazia diferença. O anúncio das equipes que passaram para a próxima fase soava distante, como se estivesse em outro mundo. Minha atenção estava presa em algo completamente diferente. Neles.

Axel e Calista.

Eles estavam conversando, os dois com uma postura descontraída que parecia não combinar com a intensidade do torneio. Axel tinha aquela expressão de confiança irritante, o tipo que só piorava minha raiva. Ele ria de algo que Calista disse, um riso curto e rouco, como se estivessem em uma bolha própria, completamente alheios a tudo ao redor.

E ela...

Ela parecia imperturbável, mesmo depois de toda a tensão do combate. Seu cabelo ainda preso em um coque solto, algumas mechas caindo pelo rosto de maneira que pareciam quase deliberadas. Calista não olhou para mim de novo, mas a simples ideia de que ela podia me ignorar com tanta facilidade fazia algo dentro de mim ferver.

Eu estava irritado. Não, irritado era pouco.

Era uma sensação que ia além de raiva, era algo profundo, desconfortável, como uma faca que girava lentamente. Não sabia exatamente o porquê, mas era como se Axel e Calista representassem tudo o que eu queria evitar. Ela, com sua habilidade quase impecável, sua calma irritante, e aquelas palavras que ainda ecoavam na minha mente. E ele, com sua postura protetora, como se fosse um guardião dela, como se estivesse sempre a postos para me desafiar.

Por que eles me tirariam tanto do sério? Não deveria sequer fazer sentido.

A pergunta ficou na minha cabeça como um zumbido incômodo. Eu não tinha resposta, mas o desconforto era real. Era como se, juntos, eles fossem um lembrete constante daquilo que eu não podia controlar, não só no tatame, mas dentro de mim. E como se não bastasse o meu evidente desgosto, Axel olhou na minha direção, como se tivesse sentido meu olhar pesado. Ele parou de rir e franziu o cenho, o maxilar tenso. Havia uma hostilidade óbvia em seus olhos, e por um momento pensei que ele fosse atravessar o palco até mim, que era a mesma decisão que eu estava prestes a tomar. Mas ele ficou no lugar, apenas me encarando, o suficiente para que meus punhos se fechassem automaticamente, eu apenas revirei os olhos quase impulsivamente, mantendo as mãos cerradas para baixo, sem perder a compostura diante de todos.

E ela? Ela simplesmente desviou o olhar, como se eu fosse um detalhe irrelevante.

Isso foi pior.

Eu queria avançar, dizer algo, fazer qualquer coisa para quebrar essa sensação de impotência. Mas estava preso ali, meus pés enraizados no chão, meus pensamentos uma bagunça. Ela realmente não vai procurar combater-me depois do ocorrido? Vai apenas ignorar tudo com meras palavras? Ela não pode, não pode simplesmente ignorar isso tudo. Por que essa maldita simplesmente não me socou de volta quando teve a oportunidade? Por que Calista simplesmente não provocou uma vigança? Por que?

— Kwon. — A voz de Yoon ao meu lado me trouxe de volta. Ele estava sério, como sempre, mas havia uma ponta de preocupação em seu tom. — Você está bem?

— Estou. — Minha resposta saiu mais áspera do que eu pretendia.

Yoon não pareceu convencido, mas não insistiu. Ele sabia quando era melhor me deixar sozinho com meus pensamentos. E Axel finalmente desviou o olhar, voltando a conversar com Calista, mas o dano já estava feito. Eu estava irritado, frustrado, e não sabia como lidar com isso. "Sem compaixão." As palavras ecoavam de novo, mas agora pareciam ainda mais difíceis de acreditar.

Afinal, como vencer alguém que tem tanto poder sobre você sem nem mesmo tentar?

Obs: Essa foi a manip vencedora na enquete do insta, ela representa exatamente como ele olhou pra ela, e como ela simplesmente fingiu indiferença. (Amores, por favor, comentem bastante ao decorrer dos capítulos, amo ver suas reações, e também servem como grande apoio para continuar escrevendo. Um abraço 🫶🏻).

Obra autoral ©

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