07. Weird feeling
Eu havia perdido a completa noção do que estava fazendo, sequer me dei conta de que já estávamos na provável quinta rodada de cerveja. Só de fato, fui perceber quando tudo parecera mais colorido, e foi mais notório em Axel, que sempre que bebe, sua pele branquela fica vermelha feito um pimentão. Eu e Zara costumamos chamá-lo de Rena, porque seu nariz fica extremamente vermelho, e o apelido só o deixa enrubescer ainda mais de raiva.
— É melhor voltarmos para o hotel — Afirmei seriamente, não estava completamente embriagada, mas o suficiente para causar problemas, então apoiei as mãos no balcão, afastando a garrafa que estava próxima de nós —, vou avisar Zara, não quero arrumar briga antes da próxima rodada, isso só aumentará nossos problemas.
— Tudo bem... — Ele afirmou baixo e grave, a voz embargada pelo álcool.
— Não saia daqui — Disse em um tom imperativo, apontando para ele enquanto me levantava —, vou socar sua cara se voltar e estiver arrumando problemas para nós, entendeu?
Ele balançou a cabeça, com um bico formado nos lábios, feito uma verdadeira criança, e eu apenas revirei os olhos. Como poderia um homem desse tamanho ser mais fraco para bebidas? Só espero que Zara também não esteja por aí enchendo a cara. Já será um problema acompanhar o gigante de aço todo molenga, e preciso da ajuda dela, não mais uma embriagada para a conta.
Atravessar o bar foi como mergulhar em uma atmosfera de confusão e calor. A música pulsava, grave, quase como se quisesse roubar meu equilíbrio. As luzes vermelhas e azuis dançavam pela pista, refletindo nas paredes espelhadas e no suor das pessoas que se apertavam por ali, transformando o ambiente em uma pintura viva, caótica e vibrante. Eu me movia com dificuldade, desviando de cotovelos, copos levantados e risadas altas.
Foi então que a vi. Zara.
Ela estava saindo pela porta dos fundos, quase escondida pela multidão. E, como eu temia, não estava sozinha. Robby Keene segurava a mão dela , a carregando para fora e inclinando-se para falar algo em seu ouvido, o que a fez rir. Meu estômago revirou. Ela realmente estava disposta a causar um pouco mais de discórdia, afinal, a ex namorada do garoto estava a poucos metros de nós, obviamente ressentida, e eu já sabia que tipo de problemas Zara teria no tatame. Nichols é implacável e tem muita força, assim como todos os lutadores do Cobra Kai, então só espero que Zara saiba exatamente onde está se metendo.
Minha mente gritava para intervir, mas minhas pernas ficaram imóveis. O que eu faria, afinal? Puxar ela de volta? Fazer uma cena? Não, isso só complicaria tudo. Respirei fundo, apenas decidida a evitar me envolver em um drama que claramente não é problema meu, e me virei para voltar até Axel.
Foi nesse momento que esbarrei em algo sólido. Não algo, alguém.
— Ei, olha por onde anda, dinamite — Disse uma voz carregada de sarcasmo e álcool.
Levantei os olhos e dei de cara com Kwon, só pelo apelido, não precisava me esforçar muito para reconhecer seu tom irritante. Ele tinha aquele sorriso torto de quem sabe que é irritante e gosta disso. O cheiro de bebida era forte nele, e seus olhos brilhavam, meio turvos, mas atentos. Ele sabia o que estava fazendo, sabia que eu também estava mais alta do que de costume, e queria provocar uma briga, mas não posso dar o braço a torcer, afinal, é isso o que ele quer.
— Sai da frente, Kwon — Resmunguei, tentando me desviar, mas ele deu um passo para o lado, bloqueando meu caminho.
— Nossa, mas que pressa é essa? Já está fugindo? — Ele riu, o som arrastado e provocativo. — Ou será que viu algo que não gostou?
Eu o encarei com um pouco mais de confiança, mas ainda indisposta para participar de seus joguinhos. Ele já sabia de toda essa palhaçada com Keene, Nichols e Zara, ele também teve seu próprio papel ao provocar uma chama quando tentou abraçar Tory, mas quando a vi empurrando-o, fora como um gostinho o qual eu precisava sentir, ele sendo derrotado, mais uma vez.
— Não é da sua conta — Respondi, cruzando os braços, tentando parecer firme, mesmo que minha voz saísse carregada de irritação.
— Ah, relaxa. — Ele inclinou a cabeça, observando-me com aquele olhar que parecia enxergar além. — Você está sempre tensa. Talvez seja por isso que as coisas... escapam do seu controle.
— Você está bêbado. — Dei um passo para trás, tentando me afastar. — E eu não estou no clima para lidar com você.
Ele riu de novo, mais alto, e deu um passo na minha direção, diminuindo a distância entre nós.
— Ah, vem cá, vai. Não precisa ser tão amarga. — Ele estendeu a mão, como se fosse tocar meu ombro, mas parei sua mão no ar com um tapa, firme.
— Chega, Kwon. Não testa minha paciência. — Minha voz saiu baixa, quase um rosnado, mas meus dedos tremiam. Ele era alto e forte, e naquele estado, era impossível prever o que faria.
Ele levantou as mãos, como se estivesse se rendendo, mas o sorriso continuava lá, desafiador.
— Calma, calma. Só estou brincando. — Ele deu um passo para trás, mas seus olhos ainda me encaravam como se estivessem desafiando a minha autoridade. — Mas sabe... — Ele se inclinou ligeiramente, a voz mais baixa, mas não menos provocativa. — Às vezes, você precisa admitir que não pode controlar tudo. Especialmente seu Sensei.
Meu coração deu um salto, mas me obriguei a não reagir. Sem dar a ele o gosto de uma resposta, virei-me de costas e segui em direção ao bar, tentando ignorar o riso de Kwon que me acompanhava, como uma sombra indesejada. De quem ele estava falando afinal? Sensei Wolf? Ou Kwon sabe mais do que deveria a meu respeito? Definitivamente, não preciso me aproximar de novo e descobrir, se possível, só o verei de novo quando tiver de esfolar sua cara no tatame.
Axel ainda estava no mesmo lugar, apoiado no balcão, o rosto vermelho e os olhos semiabertos. Ao me ver, ergueu a cabeça com dificuldade, acho que nem mesmo estava em condições de entrar numa briga, o que me deixa sinceramente, aliviada. Zara me pagaria por ter me deixado com nosso querido Capitão América sozinha, acho que nenhum treino teria uma dimensão tão intensa quanto ajudá-lo a chegar até o hotel. Ele é uma muralha, e definitivamente não ajuda fazendo corpo mole.
— E então? — Perguntou ele, com a voz pesada e lenta.
— Vamos embora — Respondi, seca. — Agora.
Axel se levantou com dificuldade, os joelhos cambaleando sob o peso do próprio corpo. Passei um braço ao redor da cintura dele, mais para garantir que não fosse desabar ali mesmo do que para oferecer algum tipo de conforto. Ele murmurou algo incompreensível, mas o puxei para fora antes que pudesse começar uma discussão consigo mesmo. O bar parecia ainda mais sufocante enquanto tentávamos atravessá-lo de volta. Cada passo era um desafio, desviando de gente dançando, tropeçando em garrafas esquecidas pelo caminho. As luzes continuavam a piscar, vermelhas e azuis, misturando-se com o cheiro forte de álcool e suor.
Estávamos quase na porta quando o vi novamente.
Kwon. Encostado no batente como se nos aguardasse, os braços cruzados e aquele mesmo sorriso provocador. Mas havia algo diferente agora. Um brilho estranho em seus olhos, algo mais sombrio, mais carregado. Ele descruzou os braços devagar, os olhos pousando em Axel por um momento antes de voltarem para mim. Por que ele estava insistindo tanto nisso? Pelos céus, não sei por quanto tempo mais poderia suportar sem tirar esse sorriso provocativo de seu rosto com um belo soco na boca.
— Levando o grandão pra cama já? — Zombou, inclinando a cabeça para o lado. — Não sabia que era babá de bêbados.
Axel parou, tensionando o corpo ao meu lado. Percebi seus punhos cerrarem, a respiração pesada denunciando sua irritação. Antes que ele pudesse abrir a boca, apertei seu braço.
— Ignora ele — Sussurrei, tentando manter a calma.
Mas Kwon não estava disposto a nos deixar ir, e apesar de Axel não estar em condição alguma para reagir, podia sentir que sua raiva não dissiparia tão facilmente, ela só aumentou dez vezes mais com o álcool, deixando claro seu rancor pelo coreano descabelado.
— Sabe... — Começou ele, caminhando lentamente em nossa direção, cerrei o punho, procurando respirar fundo. — Sempre me pergunto por que você se cerca de gente assim. — Ele apontou para Axel com o queixo, sem tirar os olhos de mim. — Fracos.
— Chega, Kwon. — Minha voz saiu baixa, mas firme. — Não estou no clima. Sai da nossa frente.
Ele inclinou a cabeça, fingindo confusão, mas deu mais um passo. Axel tentou avançar, mas eu o segurei, usando meu corpo para bloquear qualquer tentativa dele de partir para cima.
— Olha só, o branquelo vai me bater? — Kwon riu, alto demais, atraindo olhares curiosos de quem estava por perto. — Duvido que ele consiga dar um soco sem cair em cima de si mesmo.
Eu me movi rápido, empurrando Kwon com força suficiente para fazê-lo dar um passo atrás.
— Acabou. Sai do caminho. — Puxei Axel pela mão, quase arrastando-o em direção à saída. Meu coração estava acelerado, e tudo que eu queria era sair daquele inferno de música e provocações.
Mas Kwon não desistiu, na verdade, isso só o deixou mais irritado. Quase pude ver fumaça saindo de suas narinas no instante em que o empurrei, não mensurado a força que usei na ação. Ele nos seguiu, e, para meu desespero, Yoon apareceu ao lado dele, parecendo igualmente disposto a causar problemas. Eles riam, mas havia algo sério por trás da provocação, algo que eu ainda não conseguia decifrar.
Quando pisamos na areia da praia, o som do mar finalmente abafou a música. Por um breve momento, pensei que estaríamos livres, mas ouvi os passos deles correndo atrás de nós.
— Vai fugir? — Kwon gritou. — Não acredito que vai me deixar aqui sem responder!
Parei de andar, o sangue fervendo. Soltei Axel, que já começava a se virar, mas o empurrei de volta, firme.
— Fica fora disso, Axel. — Minha voz saiu mais dura do que pretendia, mas ele me obedeceu, recuando com relutância, e se sentando no chão, sem conseguir abrir com muita clareza os olhos. Ele realmente estava mal.
Me virei para encarar Kwon e Yoon, ambos agora parados a poucos metros de nós, os pés afundando levemente na areia. Kwon tinha aquele sorriso presunçoso, mas seus olhos não riam. Havia algo dentro de mim que gritava para entender suas verdadeiras emoções. Ele realmente só se incomodava por termos o derrotado? Ou então... Por sermos equipes rivais? Porque sua petulância essencialmente ligada à mim, parece mais pessoal do que realmente deveria ser.
— O que você quer? — Perguntei, após um longo suspiro cansado. Não tinha clima ou força o suficiente para entrar em uma briga agora, sinceramente.
— Quero saber por que você sempre foge — Respondeu ele, o sorriso desaparecendo. — Não acha que uma hora vai ter que encarar as coisas de frente?
Seus olhos fixaram-se nos meus, e por um instante, o mundo pareceu parar. Eu não sabia exatamente do que ele estava falando, mas havia algo ali, algo que eu definitivamente sabia ser pessoal demais.
— Isso não é sobre mim, é? — Usei de um tom irônico e uma risada ressoou de meus lábios.
Kwon não respondeu. Apenas deu um passo à frente, enquanto Yoon permanecia atrás, como se aguardasse instruções. A tensão era palpável, e eu sabia que, se não agisse rápido, as coisas poderiam sair do controle, mas seu olhar presunçoso que fazia meu sangue ferver, fez com que meu resquício de sanidade esvaísse por completo.
— É nítido o seu incômodo comigo, gênio — Provoquei, uma risada agora mais alta escapara, e ele trincou os dentes, avançando mais um passo, porém eu não recuei, e só me mantive mais firme. Se ele queria mesmo isso, era bom que estivesse pronto para que eu revidasse. — Só não entendo o que exatamente motiva sua raiva tão possessiva com relação à mim... Será que te incomoda tanto o fato de ter levado uma surra de uma garota no tatame?
Foi minha fez de avançar um passo em sua direção, e senti o ar ficar mais denso. Os olhos dele pareciam encarar os meus com uma chama quase indecifrável, mas nitidamente, motivada pela raiva. Ele cerrou os punhos, fazendo um sinal para seu amiguinho, como se pedisse para que recuasse, e então, Kwon quebrou a maior distância, deixando apenas um fio entre nós. Eu podia sentir sua respiração acelerada, e era como se ele estivesse contendo algo dentro de si, parecia realmente disposto a socar minha cara, mas ele conseguiria fazer isso? Posso pagar para ver isso.
Kwon ficou ali, imóvel por alguns segundos, mas os músculos de seus braços estavam tensos como cordas prestes a arrebentar. Sua expressão oscilava entre raiva e algo mais, algo que ele parecia lutar para esconder. Eu o observei, sentindo minha própria respiração acelerar, mas me recusei a recuar. Ele não merecia isso de mim.
— É isso mesmo, Kwon? — Continuei, minha voz um pouco mais baixa, mas carregada de desafio. — Você só consegue gritar e ameaçar porque não tem uma resposta, não é? Você não sabe nem por que está tão incomodado.
Ele trincou os dentes, o olhar vacilando por um breve segundo, como se minhas palavras tivessem atingido algo mais profundo. Mas então, a raiva voltou, queimando mais forte. Ele levantou um dos punhos, avançando com a intenção clara de me acertar. Meu corpo enrijeceu, me preparando para desviar ou bloquear, mas antes que ele pudesse chegar perto, Axel surgiu como uma muralha entre nós.
Mesmo bêbado e visivelmente tonto, Axel agarrou o punho de Kwon no ar com força impressionante. O impacto fez Kwon hesitar, seus olhos arregalados de surpresa por um breve instante.
— Já chega! — Axel rosnou, empurrando Kwon com tanta força que ele caiu de bunda na areia, solavancado e claramente humilhado.
— Seu idiota! — Gritou Kwon, a voz carregada de fúria, enquanto Yoon, alarmado, correu para cima de Axel.
Eu não hesitei. Quando Yoon partiu para atacar Axel, instintivamente corri para ajudá-lo. Minhas mãos já estavam prontas para um golpe, mas antes que pudesse alcançá-los, senti uma força brusca me empurrar para o lado.
— Não se meta! — Kwon gritou, agora de pé e me encarando com puro fogo nos olhos.
Tropecei com o empurrão, mas rapidamente recuperei o equilíbrio. A adrenalina pulsava em minhas veias, e minha paciência, já esgotada, simplesmente desapareceu. Avancei para cima dele, empurrando-o de volta com toda a força que tinha.
— Vai me impedir, é? — Gritei, meu tom carregado de desprezo. — O que foi, Kwon? Não consegue lidar com o fato de que eu sou melhor que você?
Ele não respondeu. Apenas veio para cima, e nosso confronto começou. Ele tentou me agarrar, mas me desviei com rapidez, girando meu corpo para acertar um chute em sua lateral. Ele bloqueou, mas o impacto o fez cambalear.
— Você é tão patético! — Cuspi as palavras, minha respiração pesada enquanto circulávamos um ao outro. — É só isso que você sabe fazer? Berrar e tentar intimidar?
— Cala a boca! — Ele avançou com um soco, que consegui bloquear com meu antebraço antes de girar e acertar um chute direto em sua coxa.
Ele recuou, ofegante, mas seus olhos estavam tomados por algo mais do que raiva agora. Era frustração. Confusão. Ele estava claramente abalado, mas se recusava a parar. Tentou outro golpe, e dessa vez, me pegou de raspão no ombro, me fazendo dar um passo atrás. Eu sabia que ele estava tentando ao máximo não me atingir com força, ao menos no fundo, porque já o vi lutar e já estivemos sobre o tatame. Não parece a mesma coisa agora.
— Sabe o que é patético? — Ele disse entre os dentes, sua voz carregada de algo que parecia quase... dor? — Você achando que sempre tem controle de tudo! Que é melhor que todo mundo!
Suas palavras me atingiram como um soco invisível. Mas não deixei transparecer. Avancei novamente, dessa vez mirando um golpe em seu estômago, que o fez dobrar levemente.
— E talvez eu seja! — Respondi, minha voz cortante como uma lâmina. — Porque, diferentemente de você, eu não fico presa ao meu próprio ego ferido!
A discussão se misturava aos golpes, cada palavra carregada de raiva e algo mais profundo. Cada movimento parecia uma luta para afirmar quem éramos, não só para o outro, mas para nós mesmos. A areia sob nossos pés dificultava os passos, mas eu não recuaria, não agora. Não para ele. A luta continuava, enquanto, ao fundo, ouvia os sons abafados de Axel e Yoon se enfrentando. A praia parecia um cenário de caos, e eu sabia que, se não acabássemos com aquilo logo, poderíamos acabar verdadeiramente feridos.
O calor do confronto fazia meu coração martelar no peito como um tambor. Cada golpe, cada provocação trocada entre nós parecia arrancar algo mais profundo do que simplesmente uma vitória ou derrota. Era como se tudo o que não era dito estivesse sendo derramado ali, na areia úmida e sob o céu estrelado que parecia indiferente ao caos.
Kwon estava ofegante, os punhos ainda erguidos, os olhos faiscando de uma mistura de emoções. Raiva, frustração, orgulho ferido... Mas havia algo mais, algo que eu não conseguia decifrar e que só alimentava minha própria raiva. Eu estava cansada, mas a adrenalina era maior que qualquer cansaço. Ele queria me dobrar, me reduzir ao que ele achava que eu era. E eu jamais permitiria isso.
— É isso que você é, Kwon — Eu ri, quase melancolicamente, a voz carregada de desprezo. — Uma sobra. Só um reflexo malfeito do seu dojô, alimentado por um ego que você nem sabe como sustentar, acha que descontando sua raiva nos seus oponentes pode preencher o vazio que sente por ser um grande fracasso.
A expressão dele mudou no mesmo instante. O que antes era raiva virou algo quase primitivo. Seus olhos se estreitaram, os ombros tensionaram como os de um animal encurralado. Eu sabia que tinha tocado em algo sensível, e eu não medi as palavras na hora da raiva, mas antes que pudesse me preparar para o impacto, ele avançou. O golpe veio rápido e certeiro. Não consegui desviar a tempo. Seu punho encontrou o lado esquerdo do meu rosto com uma força que parecia carregar toda a sua frustração acumulada. A dor explodiu como um clarão, fazendo minha cabeça virar e meus pés perderem o equilíbrio. Cai na areia com um baque, a respiração presa no peito enquanto o choque me consumia.
Por um segundo, o mundo pareceu ficar mudo. Tudo o que ouvi foi o zumbido na minha cabeça e o som abafado das ondas ao longe. Minha mão foi instintivamente ao meu rosto, onde uma dor quente e latejante começava a pulsar. Quando olhei para os dedos, eles estavam manchados de vermelho. Meu lábio estava cortado, o sangue escorrendo devagar pelo queixo, pingando na areia. Levantei os olhos para Kwon, ainda atordoada. Ele parecia tão surpreso quanto eu. Seu peito subia e descia em um ritmo frenético, os olhos arregalados, as mãos ainda erguidas, como se não acreditasse no que tinha acabado de fazer. Ele deu um passo na minha direção, hesitante, como se quisesse se explicar ou... Sei lá, se redimir, maldito idiota.
— Calista... — Murmurou ele, mas sua voz parecia distante, abafada pela minha própria confusão.
— Não encosta em mim! — Gritei, a voz trêmula, enquanto me arrastava para trás, afastando-me dele com urgência. Meu corpo inteiro tremia, e meu coração parecia prestes a explodir.
Levantei-me rapidamente, o gosto metálico do sangue agora evidente na minha boca. A dor física era intensa, mas o que doía mais era outra coisa, algo mais profundo. Meu ego, minha confiança, minha fé de que ele, por mais irritante que fosse, jamais cruzaria aquela linha.
— Axel! — Gritei, sem nem olhar para ele. Minha voz saiu embargada, quase falhando. — Vamos embora, agora!
Axel pareceu hesitar, mas logo se desvencilhou de Yoon e veio na minha direção. Eu não olhei para trás, não dei a Kwon o privilégio de me ver em lágrimas. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo enquanto caminhava pela areia, mas me obriguei a continuar. O ar frio da noite queimava meu rosto, misturando-se ao calor da dor que latejava em cada fibra do meu ser. As lágrimas começaram a escorrer antes que eu pudesse contê-las, misturando-se ao sangue no meu rosto. Não era apenas a dor física. Era o fato de que, por um momento, eu acreditei que ele fosse diferente do que sua ideologia parecia demonstrar. Que, apesar de toda a arrogância e provocações, ele não seria capaz de me ferir dessa maneira. Mas eu estava errada. Tão errada que o peso disso esmagava meu peito.
Cada passo que eu dava parecia um esforço imensurável. A areia parecia querer me engolir, e meu corpo lutava para não desabar. Axel andava ao meu lado, mas eu mal percebia sua presença, ele, estava aéreo demais para se dar conta de tudo. Tudo o que sentia era aquele nó na garganta, aquela dor lancinante no rosto e profundamente em meu peito.
Quando finalmente chegamos à calçada, longe o suficiente da praia, minha respiração ainda estava entrecortada. O silêncio entre mim e Axel era sufocante, mas eu não conseguia dizer nada. Apenas continuei andando, tentando engolir o choro e convencer a mim mesma de que isso não era o fim do mundo. Mas, naquele momento, realmente parecia ser, e de alguma maneira, isso não parecia uma motivação para derrotá-lo no tatame, e sim, um bom motivo para manter o máximo de distância impossível, e quando o choque passasse, só então, eu poderia revidar, mas não seria tão suja à sua altura. Não faz parte do meu jogo.
Obra autoral ©
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