𝗖𝗮𝗿𝗲𝗹𝗲𝘀𝘀 𝗪𝗵𝗶𝘀𝗽𝗲𝗿, ⭑

A música baixa ecoava através das paredes do cômodo, uma melodia suave invadia seus ouvidos. Ali, sentada no banco, com as mãos apoiadas no balcão enquanto bebia uma taça de vinho, Helaena mantinha um rosto apático, afogando-se internamente em suas lamúrias. O mundo era cruel, mas não pior que o ser humano. Um único erro fora capaz de destruir toda a sua felicidade; amar alguém tão profundamente e magoá-la fora a dor mais insuportável que poderia sentir.

Sempre se culparia por seus atos imaturos que causaram estragos na vida de sua parceira. Uma vez ouvira falar que erros nos tornam mais humanos do que qualquer outra coisa, mas o que seria dela se seus erros a levaram até esse labirinto de solidão e amargura?

Não é como se pudesse recuperar o amor perdido que tanto machucou. Isso já não estava mais ao seu alcance, tudo que lhe restou foram lembranças, tanto boas quanto ruins. E agora, ela as repassava frequentemente em sua consciência como um filme. Bebericando um pouco mais do vinho, a melodia da música havia sido trocada e algumas pessoas que permaneciam sentadas no bar se dispuseram a dançar a tão doce melodia.

  Careless Whisper

A música favorita dela... Parecia que o destino havia decidido castigar Helaena. A jovem de cabelos loiros sentia-se tão insegura, as memórias doces de sua amada invadiram sua mente. Suas mãos se chocando, enquanto a morena lhe conduzia para a pista de dança com o sorriso mais belo que havia visto em toda a sua vida. Os olhos cor âmbar vidrados em si, enquanto as mãos deslizavam por sua cintura, mantendo-a perto o suficiente para suas respirações se encontrarem.

Eram memórias tão vívidas que Helaena ainda podia sentir o aroma perfumado dela. Um cheiro fresco de flores, um aroma leve e marcante. As noites ao lado dela sempre eram tão agradáveis, suas risadas e brincadeiras bobas, era tudo tão perfeito. Ela sentia-se em um eterno sonho de verão, onde todos os seus pedidos haviam virado realidade. Mas agora, ela não sonhava mais, o mundo parecia ter perdido as cores vibrantes de antes.

— Enquanto a música acaba, alguma coisa em seus olhos traz a lembrança de uma tela prateada, e tudo são despedidas tristes. — Helaena desperta de seu sonho acordado, cantarolando uma parte da música que sua querida tanto amava.

A loira termina sua taça de vinho, e faz a pior coisa que poderia fazer: abrir a galeria do seu telefone. Fotos, vídeos e gifs. Em sua grande maioria, delas juntas, abraçadas. O corpo de Helaena gelou com a última foto que haviam tirado juntas. Ambas abraçadas enquanto Helaena era carregada nos braços pela ex-namorada. É perceptível o sorriso que a loira esbanjava enquanto estava nos braços de sua amada.

Talvez fosse o álcool, ou simplesmente Helaena cansou de reprimir suas dores. Os olhos azuis brilhavam com as lágrimas que agora caíam sobre a tela do celular, molhando a película do telemóvel. Careless Whisper continuava a tocar, o que foi um incentivo ainda maior para a loira continuar a derramar suas lágrimas.

Era inevitável não lembrar de sua doce garota.

O barman tentou se aproximar para saber se a jovem passava bem, mas Helaena recuou e alegou estar bem, apenas estava emocionada com a música, o que não fora totalmente mentira. A música mexia consigo fortemente. Limpando a tela do celular, Helaena o guardou em sua bolsa e encerrou a conta de seus drinks da noite.

— Posso saber por que uma mulher tão bonita está desacompanhada em uma noite como essa? — Um homem de aproximadamente um metro e oitenta de altura, com cabelos castanhos, se aproximou de Helaena, sentando-se ao lado dela no balcão.

Helaena nada respondeu, apenas lhe ofereceu um simples olhar em cumprimento. O barman voltou à bancada e o homem sentiu-se no direito de lhe oferecer uma bebida.

— Um martíni para essa bela jovem, por minha conta.

— Agradeço a gentileza, mas não aceitarei, já bebi o que tinha de beber essa noite. Se me der licença, eu preciso ir. — E, sem esperar uma resposta, a loira partiu. A música já havia acabado, mas seus sentidos ainda estavam frágeis, o que significava que ela precisava voltar para casa o quanto antes.

Helaena pegou um táxi em frente ao bar e não demorou muito para chegar a sua casa. Ela morava no condomínio Boa Rainha, centralizado na zona sul da cidade.

Retirando suas chaves do bolso, ela abriu a porta do apartamento, largou seus sapatos na entrada enquanto trancava novamente a porta. Caminhou até o quarto e se jogou na cama, abraçando o colchão, sentindo seus olhos novamente molharem. Não importa quanto tempo se passasse, ela nunca esqueceria sua garota. Sua amada e adorada garota.

Ela havia cometido erros, terríveis erros que as separaram. Seguiram caminhos diferentes, até o destino resolver que já estava na hora de uma delas partir. Helaena se culpava todos os dias de sua vida por não tê-la feito sua esposa, por não ter tido a coragem de assumi-la e ficar ao lado dela quando mais precisou.

Agora, depois de onze anos, ela havia entendido. Nunca a esqueceria, mesmo que tentasse, mesmo que quisesse. A memória dela era vívida. Hoje, seis de agosto de dois mil e noventa e cinco, fazia onze anos que sua doce garota havia ido embora. Ela estava em um plano diferente do seu, mas suas almas continuavam em união. Seu coração ainda batia fortemente por ela, toda vez que abria aquelas fotos.

Só onze anos depois Helaena entendeu que nunca poderia dançar com outro alguém novamente, nunca poderia dançar com outra pessoa que não fosse sua alma gêmea. Seu primeiro e único amor.

— Eu nunca mais dançarei de novo do jeito que dancei com você, meu amor. — Helaena murmurou, antes de cair no sono.

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