cap. sete

•••••
••••
•••
••

Deitado no gramado macio, Vell sentia o calor do sol de verão aquecer sua pele. O suor escorria lentamente por seu corpo, misturando-se com a grama e fazendo com que a camiseta branca grudasse em sua pele, como se fosse uma segunda pele. A brisa suave acariciava seu rosto, oferecendo um alívio momentâneo do calor abrasador.

Ele podia sentir cada batida do coração, cada respiração profunda, enquanto observava as nuvens brancas flutuarem preguiçosamente pelo céu azul. O som distante das cigarras e o murmúrio das folhas ao vento criavam uma sinfonia natural que parecia embalar seus pensamentos.

Vell fechou os olhos por um instante, permitindo-se mergulhar na tranquilidade do momento, sentindo-se completamente em harmonia com a natureza ao seu redor.

Sua mão agarrou firmemente o cabo de sua espada, que descansava ao seu lado na grama. O peso familiar da arma dava-lhe uma sensação de segurança, mesmo após o exaustivo treinamento com os centauros. Ele nunca imaginara que os exercícios fossem tão intensos, cada sessão testando os limites de sua força e resistência.

Os músculos de seu corpo estavam tensos e doloridos, lembranças de cada golpe desferido e recebido, cada corrida incansável pelo campo de treinamento. Ele podia sentir o suor frio escorrendo por sua testa, misturando-se com a poeira e o sangue seco dos pequenos cortes que adornavam seus braços e pernas.

Apesar do cansaço, havia algo de gratificante naquele esforço, uma sensação de crescimento e aperfeiçoamento que ele nunca havia experimentado antes. Vell olhou para o horizonte, onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e púrpura. Em meio à exaustão, ele sentiu uma onda de determinação e propósito, sabendo que cada gota de suor e cada dor seriam recompensados no futuro.

-- Já cansou, garoto? - perguntou Oreius com um sorriso divertido, enquanto se aproximava de Vell. O centauro movia-se com a graça de uma criatura que conhecia profundamente sua força e destreza.

Vell se sentou no gramado, ofegante, e encarou o centauro, tentando recuperar o fôlego.

-- Seus amigos são osso duro - arfou, o suor escorrendo por sua testa. Oreius soltou uma gargalhada robusta.

-- É ser um centauro, garoto - respondeu Oreius, parando ao lado de Vell e lançando um olhar significativo para o horizonte. - As coisas estão complicadas... a guerra logo se aproximará.

A expressão de Oreius se tornou séria, refletindo a gravidade da situação. Vell sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir aquelas palavras, um presságio do que estava por vir. O centauro olhou para o céu, onde as estrelas começavam a aparecer, como se buscasse respostas ou forças nas constelações.

-- Precisamos estar preparados, Vell. Não será fácil, mas você tem um papel importante a desempenhar - continuou Oreius, seu tom agora carregado de uma sabedoria e responsabilidade antigas.

Vell assentiu, sentindo o peso da responsabilidade se abater sobre seus ombros. Ele sabia que o caminho à frente seria árduo, mas também sabia que não estava sozinho. Com Oreius e os outros narnianos ao seu lado, ele enfrentaria qualquer desafio que viesse.

[...]

O som da trombeta ecoou por todo o acampamento, reverberando como um chamado ancestral que despertava os espíritos adormecidos. Vell, que descansava em sua tenda, sentiu seu coração acelerar. Ele se levantou, esticando os músculos antes de sair, e logo se viu caminhando em direção aos narnianos que se reuniam do lado de fora. Não muito distantes, em passos firmes e resolutos, estavam os Reis e Rainhas de Nárnia, uma presença majestosa que iluminava o ambiente, embora a ausência de um deles pesasse no ar.

-- São eles, não são? - Vell perguntou, sua voz carregada de expectativa enquanto encarava Oreius, o centauro que estava ao seu lado.

-- São sim, garoto - respondeu Oreius, assentindo com a cabeça, seus olhos refletindo a sabedoria de mil batalhas.

Os jovens que se aproximavam eram realmente impressionantes. Vell, observando-os de perto, percebeu que o mais velho parecia ter cerca de quinze anos. Ao seu lado, um pequeno casal de castores narnianos se movia com uma determinação silenciosa, suas pelagens brilhando sob a luz suave da manhã.

Assim que se aproximaram, o mais velho entre eles, com a postura digna de um verdadeiro líder, estendeu a espada em um gesto de honra.

-- Viemos ver Aslan - declarou, sua voz ecoando com a gravidade da missão que carregavam.

Vell e Oreius se afastaram da entrada da tenda do grande leão, que, com um movimento imponente, emergiu da sombra com sua magnificência quase palpável. O aroma da terra e da liberdade parecia envolvê-lo, e Vell se viu ajoelhando-se em sinal de respeito diante da criatura que era tanto um símbolo de poder quanto de sabedoria.

-- Levantem-se, filhos de Adão e filhas de Eva - decretou Aslan, sua voz ressoando como um trovão suave. Eles obedeceram, levantando-se com reverência, mas ainda com os corações pulsando de nervosismo. - Você também, filho de Aslan - disse, encarando Vell, que se ergueu, sentindo como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

-- Obrigado, senhor e senhora Castor, por trazerem os reis e rainhas até mim. Mas vejo que falta um - Aslan observou, seu olhar penetrante.

-- É sobre isso que queremos falar, senhor - começou o mais velho, sua voz tremendo levemente enquanto guardava a espada em seu coldre. - Nosso irmão foi levado pela Feiticeira Branca.

Vell sentiu um frio na espinha ao ouvir aquelas palavras. O nome da Feiticeira Branca era suficiente para evocar memórias de medo e desespero em Nárnia.

-- Levado? - Aslan repetiu, sua expressão se tornando mais sombria.

-- Ele nos traiu, senhor - murmurou a senhora Castor, seus olhos brilhando com tristeza e preocupação.

-- E isso torna tudo muito pior. - Aslan murmurou, sua voz ressoando como um eco profundo nas sombras que os cercavam.

-- Por favor, nos ajude, senhor! - implorou a menor, a fragilidade em sua voz contrastando com a determinação que iluminava seus olhos.

Vell a encarou, sentindo seu coração apertar ao reconhecer a garotinha diante dele. Ela devia ter em torno de oito anos, com cabelos dourados que dançavam suavemente ao vento e um olhar que transbordava inocência e esperança. Era a mesma criança que povoava seus sonhos, a figura que o acompanhava nas noites mais sombrias, trazendo luz e coragem.

-- É ela... - Vell sussurrou para Oreius, que estava ao seu lado, os olhos fixos na pequena. - A garota dos meus sonhos.

A revelação fez o tempo parecer suspenso. Vell sentiu uma onda de emoções, uma mistura de alívio e preocupação. Como poderia uma criança tão jovem carregar um fardo tão grande? Ele se lembrou das visões que o atormentavam, das advertências sussurradas nas trevas. Agora, a realidade se tornava mais intensa e urgente.

Vell observou a garotinha, seu coração pulsando com determinação renovada. Ele sabia que, além de proteger a criança, ele tinha uma missão maior: restaurar a luz em um mundo que parecia mergulhado em trevas.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top