cap. dezesseis
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O vento frio soprava pelo vale, fazendo os mantos de Vell e do Grande Rei Pedro tremularem como bandeiras ao vento. A paisagem diante deles era ao mesmo tempo desoladora e majestosa: montanhas cinzentas se erguiam contra o horizonte, suas bases cobertas por florestas densas e misteriosas. Entre as árvores, um antigo caminho de pedras conduzia ao seu destino, um lugar que poucos ousavam visitar.
— Não sei se é sabedoria ou loucura o que nos traz aqui — comentou Pedro, ajustando a espada na cintura enquanto olhava para o caminho sinuoso à sua frente.
— Talvez um pouco dos dois — respondeu Vell, com um sorriso leve. Seus olhos brilhavam com uma determinação feroz. — Mas se há mesmo uma espada capaz de enfrentar o mal que se aproxima, nós a encontraremos.
A lenda da Espada de Ébano os havia levado até ali. Diziam que a arma havia sido forjada pelas mãos de Aslan, destinada a reis dignos em tempos de grande necessidade. Contudo, sua localização permanecera um mistério por gerações, protegida por provas de coragem e sabedoria que apenas os mais nobres poderiam superar.
Eles caminhavam em silêncio, o som das botas contra as pedras ecoando suavemente entre as árvores. Não demorou para que a vegetação se tornasse mais densa, e a trilha se estreitasse, forçando-os a caminhar lado a lado. Pedro carregava sua espada com confiança, enquanto Vell levava apenas uma adaga e sua mente afiada.
— Você acredita que Aslan nos guia até aqui? — perguntou Pedro, quebrando o silêncio.
— Sempre — respondeu Vell sem hesitar. — Mas acredito também que Ele espera que nós tomemos nossas próprias decisões e enfrentemos nossos desafios com coragem.
Pedro assentiu, pensativo. As palavras de Vell ressoavam com a própria filosofia do Grande Rei: liderar com o coração, mas nunca deixar de usar a cabeça.
O primeiro desafio surgiu ao alcançarem uma ponte de cordas que atravessava um profundo abismo. O vento fazia a estrutura balançar perigosamente, e as tábuas de madeira pareciam prontas para ceder sob qualquer peso excessivo.
— Parece que somos esperados — comentou Vell, apontando para uma placa cravada no chão ao lado da ponte. Nela, estava escrito: "Atravessar com fé, ou cair no esquecimento".
Pedro respirou fundo, examinando a ponte.
— Parece que a fé aqui inclui uma boa dose de equilíbrio. Eu vou primeiro.
Com passos firmes, mas cuidadosos, Pedro iniciou a travessia. A cada tábua que pisava, testava seu peso antes de seguir adiante. O vento parecia aumentar de intensidade, como se tentasse desafiá-lo ainda mais. Vell observava com atenção, pronto para agir caso algo desse errado. Quando Pedro finalmente alcançou o outro lado, ele ergueu a mão em um gesto de encorajamento.
— Sua vez, Vell!
O jovem rei respirou fundo e seguiu. Seus passos eram mais rápidos, mas não menos calculados. Ele confiava em seu equilíbrio, mas também sabia que um erro poderia ser fatal. Quando chegou ao final da ponte, Pedro bateu em seu ombro com um sorriso.
— Bem feito. Agora vamos.
O caminho continuou a subir, tornando-se mais íngreme a cada passo. Logo, eles chegaram a uma clareira onde um imenso portão de pedra bloqueava a passagem. Gravados nele, havia enigmas em língua antiga.
— "Somente aqueles que compreendem o coração da justiça podem abrir este portão" — leu Vell em voz alta.
Pedro inclinou-se para analisar os caracteres, enquanto Vell observava os arredores, procurando pistas. Ao lado do portão, havia um pedestal com três objetos: uma balança, uma espada e um pergaminho.
— Uma escolha simbólica — disse Pedro. — Justiça, força ou sabedoria?
Vell franziu a testa, pensativo.
— A justiça verdadeira não se baseia apenas na força ou na sabedoria, mas no equilíbrio entre elas. Talvez...
Ele pegou a balança e a colocou no centro do pedestal. O portão tremeu, e lentamente começou a se abrir, revelando um corredor iluminado por uma luz suave e dourada.
— Muito bem — disse Pedro, impressionado. — Vamos ver o que nos espera.
O corredor os levou a uma grande sala circular, onde uma espada descansava sobre um altar de pedra no centro. A arma era diferente de qualquer outra que eles haviam visto. Sua lâmina negra parecia absorver a luz ao redor, enquanto o cabo era adornado com detalhes em ouro e rubis.
— A Espada de Ébano — sussurrou Pedro, aproximando-se cautelosamente.
— Espere — disse Vell, segurando o braço de Pedro. — Algo está errado.
Antes que pudessem reagir, a sala começou a tremer. Do teto, desceu uma criatura gigantesca, uma mistura de leão e dragão, com olhos que brilhavam como brasas.
— Aqueles que buscam a espada devem provar seu valor — rugiu a criatura, sua voz ecoando pela sala.
Pedro e Vell sacaram suas armas imediatamente. A batalha que se seguiu foi feroz. Pedro enfrentava a criatura de frente, desferindo golpes precisos com sua espada, enquanto Vell se movia pelas laterais, buscando pontos vulneráveis. A criatura era incrivelmente rápida, mas os dois reis trabalhavam em perfeita sincronia, cada movimento complementando o outro.
Em um momento de distração da criatura, Vell conseguiu ferir sua pata traseira, fazendo-a rugir de dor. Pedro aproveitou a abertura para desferir um golpe poderoso em seu flanco. A criatura recuou, respirando pesadamente.
— Chega! — rugiu ela, sua voz agora menos ameaçadora. — Vocês provaram seu valor e sua união.
Com essas palavras, a criatura desapareceu, deixando apenas um rastro de fumaça. A sala ficou em silêncio mais uma vez, exceto pelo som das respirações dos dois reis.
Pedro aproximou-se do altar e ergueu a espada, sentindo seu peso e poder.
— Esta é uma arma digna de Nárnia — disse ele, entregando-a a Vell.
— Nós a encontramos juntos, Pedro. E juntos a usaremos para proteger nosso reino.
Os dois reis deixaram a sala com a Espada de Ébano em mãos, prontos para enfrentar os desafios que estavam por vir. A jornada havia sido perigosa, mas também havia fortalecido os laços entre eles, mostrando que a verdadeira força de Nárnia residia na coragem, na amizade e na fé.
[...]
De volta ao castelo de Cair Paravel, Pedro e Vell entraram no grande salão onde as tapeçarias contavam histórias de antigas batalhas. A Espada de Ébano repousava sobre a mesa central, sua presença imponente iluminada pelas velas.
— Nunca vi uma lâmina como esta — comentou Pedro, inclinando-se para examiná-la. — Parece quase viva. Sinto algo... pulsar nela.
— Talvez seja o poder de Aslan — disse Vell, passando os dedos levemente pelo cabo ornamentado. — Mas temos que ter cuidado. Armas assim podem ser tanto uma benção quanto uma maldição.
Pedro assentiu, pensativo. Ele retirou sua própria espada e a comparou com a de Ébano. Embora sua lâmina fosse confiável e forte, parecia quase pálida diante do brilho escuro e misterioso da nova arma.
— Precisamos testar seu poder — sugeriu Pedro. — Mas não contra nossos inimigos. Pelo menos não ainda. Devemos entender o que estamos segurando antes de usá-la.
— Concordo — respondeu Vell. — Amanhã ao amanhecer, podemos ir aos campos de treinamento. Mas até lá, sugiro que ela permaneça aqui, sob vigia.
Eles chamaram os guardas de confiança, instruindo-os a proteger a sala até que pudessem retornar. Mas mesmo com a espada longe de suas mãos, ambos sentiam que algo havia mudado. Uma sensação de expectativa pairava no ar, como se a própria Nárnia aguardasse o momento em que a Espada de Ébano seria empunhada em batalha.
Naquela noite, enquanto os dois reis se reuniam em seus aposentos, discutindo os próximos passos, uma leve brisa atravessou as janelas abertas, trazendo consigo o sussurro distante de Aslan. Eles não podiam compreender as palavras, mas o significado era claro: a jornada deles estava apenas começando.
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