𓍢ִ໋ 🀦 𓈒 𝟎𝟎. 𝕻𝖗𝖎𝖘𝖔𝖓𝖊𝖗 𝖔𝖋 𝕬𝖟𝖐𝖆𝖇𝖆𝖓 / ⋆ ۪

prólogo

prisioneira de Azkaban ᝰ.ᐟ

uma pilha de mentiras não
é uma base sólida, você não pode
construir um castelo em uma
montanha feita de areia.

Ela era uma assassina. Como seu pai, como seu avô e todos aqueles de seu nome antes dele. Ela era uma assassina. E ele era o irmão de uma assassina, assim como era o filho e neto de outros assassinos.

As câmeras estavam todas voltadas para eles quando desceram do carro, Marcos mantinha a cabeça baixa, assim como Blue, mas Serpens não fazia. Ele caminhava como sempre, os olhos azuis como os da mãe, que também carregavam as famosas manchas verdes, esses deixavam os demais intrigados. O garoto mantinha-se em linha reta, mas os ombros largos empurravam aqueles em seu caminho, ele era rude e inalcançável, como os noticiários gostavam de lembrar.

Entre todos os sentimentos, toda algazarra, os acenos, a busca por respostas. Uma única pergunta pairava e era quase possível vê-la escrita sobre os rostos surpresos; Por que não o Serpens?

Por que não era o Serpens Grindelwald? O jogador de Quadribol mais jovem do século a ser expulso de um time por conta de seus comportamentos violentos. Por que não o Serpens Grindelwald, que mais lembrava seu bisavó ao discursar sobre bobagens e transformar os tolos em fiéis à ele com suas palavras lúdicas. Por que não o Serpens Grindelwald que decidiu enfrentar um lobo aos treze anos para ir em busca de vingança e acabou com uma grande cicatriz que circulava desde de sua orelha e seguia todos os pontos por seu pescoço e ombro, fazendo caminho até o abdômen. Por que não era o violento, ranzinza, e sem cérebro, Serpens Grindelwald quem seria julgado perante o tribunal naquele dia?

Porque foi Alhena Grindelwald quem matou Cedric Diggory no dia 24 de junho de 1995.

O profundo e obscuro lago negro era absurdamente mais frio naquela noite, parecia impossível que qualquer um pudesse se aproximar, mas a jovem Alhena Grindelwald surpreendeu novamente a todos ao mergulhar, tornando-se pela primeira vez uma fugitiva. Por meses não fora testemunhado nenhum indício dos olhos nebulosos ou de seus cabelos de neve. Nenhuma alma mencionou seu primeiro nome, mesmo seus amigos e irmão se mantiveram em silêncio enquanto seus inimigos se tornaram inquietos, preocupados com a escolha do próximo alvo da fugitiva Grindelwald.

Não era de grande espanto, alguns balbuciavam. Vindo da família que vinha, sendo filha de quem era. Ainda assim era surpreendente que houvesse acontecido tão cedo. Os sussurros, os boatos, o medo perdurou por exatamente sete meses. Longas horas de procura vinda dos dois lados da moeda. Os aurores procuravam por ela assim que a luz da manhã tocava sua pele e voltavam para casa ao anoitecer. Os comensais da morte e seus aliados procuravam por ela onde a luz não alcançava, onde os temíveis costumavam se esconder.

Todos falharam.

Todos exceto um.

Em 24 de outubro de 1995 o auror e responsável por Alhena Grindelwald ━, o Sr. Marcos Montgomery, a alcançou quando a bruxa tentava fugir após saquear um mercado trouxa, ele a encontrou com roupas novas em folha, com sua aparência intocável e abraçada a uma caixa de cereais, como uma criança tola.

Era óbvio para Serpens, sua irmã gêmea se deixou ser pega.

Em 30 de outubro de 1995 acontecia o tão esperado julgamento, sua fortuna trouxe a ela uma grande defesa, mas a acusação era maior, e a garota com certeza seria sentenciada a uma vida atrás dos blocos obscuros, cercada de monstros. O depoimento de Harry Potter dividiu opiniões, quando é colocado em meio a todas aquelas pessoas e nega ter visto a garota de cabelos prateados cometendo o ato do qual fora acusado, o garoto parece irritado, revirando os olhos atrás dos óculos de fundo de garrafa.

Há mais telespectadores do que o de costume, alguns bruxos realmente importantes, ministros da magia de diferentes países. Uma assassina com o sobrenome Grindelwald causa a eles um temor maior do que o comum, todos queriam ver o mal ser cortado pela raiz enquanto ainda havia tempo.

Hermione Granger, Ron Weasley, e Corvus Woodford não são bruxos importantes ou ministros da magia, na verdade são jovens que mal completaram seus dezesseis anos, e que não deveriam estar escondidos embaixo da capa da invisibilidade emprestada do garoto Potter. Mas eram, em maioria, muito próximos de Alhena Grindelwald e não conseguiram ficar parados atrás dos portões por muito tempo.

Caius Dumbledore ━, e sua anormalidade de olhos dourados, além de suas roupas escuras e de gola alta, que estava sentado ao lado do tio, cumprimentando respeitosamente os demais bruxos conhecidos ao seu redor, era o responsável por tirá-los de Hogwarts e por conseguir a capa da invisibilidade de um dos seus melhores amigos.

Durante o torneio, Serpens viu Alhena caminhar entre as árvores, observando e estudando de longe o garoto de olhos tão diferentes, parecia viciada, procurando sempre os olhos de ouro que refletiam sobre a prata dos seus. Eles nunca pareceram conversar mais do que o necessário, mas estavam sempre cercando um ao outro, eram como imãs, pairando magneticamente atraídos um para o outro ainda que soubessem a história, ainda que devessem manter distância.

Serpens não podia afirmar nada, nunca faltaram pretendentes para Alhena desde os treze anos, mas ela sempre os descreveu como tediosos, dessa vez, tratando-se de Caius, ela sequer ousou falar sobre com o irmão para quem contava tudo.

Ou quase tudo.

A jovem Grindelwald sempre foi boa em esconder seus sentimentos dos de fora, mas era incapaz de esconder de seu irmão suas expressões e pensamentos. Nunca foi uma dúvida para Serpens, o fato de que ela era uma lutadora nata, aquela defendia o que acreditava ser verdade e poderia passar horas em um conflito iniciado por discordâncias pequenas.

Por essa razão, para ele era insólito o comportamento calmo e displicente da garota em um momento de tanta pressão. Sobretudo, quando o silêncio impregnou a corte, e o juiz desaparece sob uma cortina escura, levando com ele mais de uma dúzia de bruxos e bruxas pertencentes ao júri. A qualquer momento, eles estariam de volta com a decisão que poderia condenar Alhena a seu único medo.

━ Aconteça o que acontecer, não saia daqui. ━ Marcos aconselha, tocando o ombro do afilhado sentado ao seu lado. Conhecendo a tempestade que geralmente se formava em Serpens, o mais velho decidiu acalmá-lo como podia. ━ Serpens, se você entrar lá não vai ajudá-la, pode acabar piorando a situação.

━ Ela vai ser levada. ━ Serpens afirma com a ponta dos dedos brancos pela firmeza com a qual segurava o pedaço de madeira em que deveria estar apoiando o braço. ━ Ela vai para cadeia.

━ Não podemos assumir o pior. ━ Marcos tenta mas escuta o riso cético do garoto e afasta a mão do ombro dele. ━ Não seja negativo.

━ Não me trate como um idiota. ━ Ele responde ríspido.

Marcos fica em silêncio, enquanto os dois desviam o olhar para a acusada, essa que não parece se importar. Os cabelos de neve soltos sobre os ombros, caindo sobre o conjunto de roupas claras que ela usava, sem maquiagem, sentada naquela enorme cadeira no centro da corte. Morte, o gato, estava sentado em seu colo e o único movimento feito pela garota eram os dedos finos acariciando o pelo escuro do felino calmamente.

Ela parecia avulsa de cada palavra, cada acusação, não se movia ou falava, sequer olhava em volta. Até que Amos Diggory se levantou, contra a orientação daqueles à sua volta, ele ficou em pé, caminhando até a plataforma, olhando diretamente para a garota que ainda não tinha notado o movimento.

━ Alhena. ━ A voz quebradiça, coberta de tristeza e mágoa, do Sr. Diggory calou cada bruxo e bruxa naquela sala.

Os olhos acinzentados se ergueram, pela primeira vez em horas, ela franziu a testa tentando se acostumar a enxergar mais do que a pelagem escura de seu gato. Os lábios se afastaram levemente, algo parecido com horror cruzou seu rosto por um segundo antes de desaparecer novamente, a deixando com aqueles olhos opacos mais uma vez.

━ Por que? ━ Perguntou o homem de aparência cansada. Serpens o tinha visto no último ano, no dia em que foi conversar com o Potter em Hogwarts. Naquele dia ele parecia tão triste como um pai que perdeu um filho poderia parecer, mas agora parecia ter envelhecido dez anos, os fios de seus cabelos o abandonaram lentamente, as olheiras eram avermelhadas e quase alcançaram as bochechas, suas mãos tremiam sem parar. ━ Por que você tirou meu filho de mim?!

Alhena expressou alguma reação pela primeira vez ao desviar os olhos, parecia muito para ela, com certeza era uma cena muito forte para qualquer um assistir, Serpens podia ver as bruxas ao redor com lágrimas nos olhos, enquanto os bruxos baixavam a cabeça evitando a cena, exceto por Serpens que permanecia atento a irmã.

━ Ele era um bom garoto. ━ Amos continuou, seu rosto se iluminou por um instante, parecia estar lembrando, como se estivesse vendo os cabelos de bronze, os olhos esverdeados e o sorriso gentil, parecia estar encarando o filho ao seu lado. Mas não havia nada lá, e ao perceber isso, o coração do pai é consumido pela dor novamente. ━ Por que você fez isso? Por que? Diga para mim!

Alguns aurores ali presentes se aproximaram afastando o Diggory do lugar, o levando consigo para tomar seu lugar novamente, sua bela esposa não tinha forças para mais nada se não as lágrimas. Alhena seguiu-o com seus olhos prateados, não demonstrando os sentimentos que deixou transparecer durante a pergunta, seus olhos param quando ela vê Albus Dumbledore se aproximar para conversar com Amos, o sobrinho Caius o seguindo como uma sombra, os olhos prateados se tornaram sombrios.

É tempo o suficiente para que o júri volte a corte, a angústia definhando Serpens como fazia com cada bruxo que se esforçava para manter suas esperanças em Alhena. Essas esperanças morrem quando em um movimento rápido a garota se põe de pé e caminha calmamente até estar em frente a grande plataforma, ela não espera ser convidada a falar, tão pouco se importa com os aurores tomando a dianteira parecendo preparados para segurá-la a qualquer momento.

━ O que ela está fazendo? ━ A voz baixa e abafada de Corvus é ouvida ao lado da cadeira de Serpens, ninguém nota o movimento e agora os quatro invasores estavam assistindo de perto o momento final.

Os olhos de Serpens não se desviam, nem mesmo quando Caius Dumbledore fica em pé ao lado de Harry Potter, ambos olhando para baixo à procura da bruxa que ainda não se afastou do lugar que tomou em frente ao juiz.

━ Fui eu. ━ A voz doce como o pior dos venenos, invade a sala no momento em que Alhena Grindelwald sela seu destino, assumindo seu primeiro crime. ━ Eu o matei e então cortei a carne, o rasguei como se fosse um porco.

A sala explode em berros raivosos, ameaças mortais, pedidos bárbaros de retaliação, há pessoas em pé lançando objetos, pedaços de lanches que trouxeram para o longo julgamento, nada a atinge. Nem mesmo os soluços da família daquele de quem a garota ceifou a vida, nada chega até ela. A voz da maior autoridade ali não é alta o suficiente e é preciso que Dumbledore fique em pé, com um de seus árduos brados por silêncio, só assim conseguindo calar os demais naquela sala.

Não foi preciso ouvir a voz do juiz para descobrir a sentença de Alhena Grindelwald. Quando os Aurores fizeram seu caminho até ela, Serpens usou seu físico que um dia pertenceu a um jogador de quadribol, e saltou entre as fileiras, ignorando os chamados de seu padrinho e as exclamações irritadas daqueles que eram empurrados pelo garoto, ele alcançar a vedação de madeira que o impede de saltar para junto da irmã, mas isso não importa porque ela o viu.

Alhena Grindelwald era uma bruxa de 1,65 que por pouco não chegava aos 53 quilos, era difícil de segurar quando escorregava dos braços do maior dos Aurores e corria até o irmão gêmeo jogando os braços ao redor do garoto que a segurava firmemente no lugar, embora metade de seus corpos ainda estivessem separados pela madeira escura.

━ Vai ficar tudo bem. ━ Serpens garante a segurando pelos ombros tentando olhar para os olhos cinzentos para que ela confiasse em suas palavras, embora nem mesmo ele pudesse ter certeza de suas verdades. ━ Me escutou? Vou tirar você de lá.

━ Diga ao papai... ━ Os Aurores alcançam a mais baixa, dessa vez segurando os braços finos, a tirando do chão com facilidade. ━ Diga a ele, Serpens! Não o deixe esquecer!

Serpens é puxado também, mãos agarram seu casaco o puxando para trás enquanto ele tenta empurrar o toque, não se importando com quem está segurando, sua mente está perdida em pavor, seus dedos batem contra o peito repetidamente, não há nada em seu campo de visão, são apenas aspectos corridos que ele não pode desvendar e sequer se importa em tentar. Nunca em sua vida Serpens Grindelwald passou um dia sem a irmã gêmea, não conseguia lembrar-se da última vez que se despediu dela, sequer conseguia lembrar da última vez que não a encontrou pela manhã usando pijamas de golfinhos.

━ Levaram ela. ━ Serpens murmurou enquanto era levado para fora da sala onde bruxos ainda comemoravam a queda do pequeno mal. ━ Levaram ela!

━ Serpens, Serpens pare! ━ O semblante distinto foi reconhecido, olhos exageradamente verdes e uma cicatriz que desenhava um trovão e tomava conta da testa do garoto.

Serpens Grindelwald não gostava de Harry Potter, não tinha empatia pelo garoto que apenas o lembrava de uma vida que ele podia ter tido, odiava a forma como ele o olhava com compreensão reprimida, como se soubesse o que o Grindelwald sentia.

━ Ela não vai ficar bem. ━ Serpens diz, a culpa o remoendo. ━ Eu deveria estar lá, deveria ser eu.

━ Serpens, não pode ir preso por um crime que sua irmã cometeu. ━ Hermione fala e só então o garoto nota estar cercado por aqueles que antes se escondiam embaixo da capa.

━ Ela não fez! ━ Serpens argumenta ainda olhando para o garoto de olhos verdes. ━ Você estava lá, você viu!

━ Eu não vi, Serpens. ━ Harry responde, os dedos ainda segurando firmemente o ombro dele, como se pudesse puxá-lo para perto a qualquer instante, mas não faz. ━ Esse é o problema.

A realização o atinge devagar, os olhos azuis manchados parecem enxergar fundo nas almas dos cinco amigos a sua frente, esses mesmos olhos se estreitam de maneira acusatório quando todos desviam o olhar, não querendo assumir sua descrença em Alhena depois da admissão brutal que a garota cedeu a poucos minutos. O loiro dá um passo para trás, empurrando subitamente as mãos do Potter para longe dele, o garoto parece querer dizer alguma coisa, mas não o faz.

O garoto se afasta, ninguém ousa segui-lo, não quando não tinham ideia do que dizer. Eles apenas assistem enquanto o garoto caminha para os fundos, o único lugar por qual poderia sair sem ser bombardeado por câmeras fotográficas desesperadas para conseguir uma foto sequer.

Uma imagem do último Grindelwald livre.

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