𝟬𝟬.𝗣𝗥𝗢́𝗟𝗢𝗚𝗢; 𝗢 𝗽𝗮𝘀𝘀𝗮𝗱𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗻𝗼𝘀 𝘂𝗻𝗲...
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P.N — (Ponto de vista pela narradora)
────── North Blue; lembranças.
Anos atrás.
As mãos rechonchudas subiram para sua franja, cobrindo a parte direita do seu rosto, arrastando-a devagar para trás das orelhas, enquanto sentia seus olhos marejados. Com calma, sentou-se na cadeira de almofadas em frente à sua penteadeira, enquanto fitava seu próprio reflexo, questionando-se se realmente era aquele o seu semblante. Devido ao fato de que seus irmãos possuíam sobrancelhas diferentes da sua, apesar de também serem em redemoinhos, essa disparidade a incomodava. Ela havia escondido essa particularidade até minutos atrás, após acidentalmente permitir que seu irmão mais velho a visse.
As sobrancelhas de seus irmãos, de fato, apresentavam um redemoinho, mas ambos se direcionavam para o mesmo lado, enquanto as dela se inclinavam para o lado oposto. Quando seu irmão avistou essa particularidade, permaneceu em silêncio e dirigiu-se ao pai, relatando o que havia observado. Seu pai nada comentou, mas a partir daquele momento, ela começou a ser alvo de chacotas por parte deles, assim como seu irmão Sanji, que também era alvo de zombarias — por outros motivos —, e continuaria sendo, se não tivesse falecido.
Reize, assim como os três primeiros filhos, era uma excelente soldada dos Germa, uma notável Vinsmoke com um grande potencial. Contudo, parecia que isso agora não tinha mais valor algum, simplesmente por ser diferente.
Ela baixou os braços lentamente sobre a mesa, apoiando a cabeça sobre eles e desabando em lágrimas. Não desejava mais permanecer ali, rodeada por aqueles que a desprezavam; não queria estar naquele lugar sem Sanji e sua querida mãe, que a amavam apesar desse pequeno defeito. A dor da solidão e da rejeição a atingia profundamente, como uma tempestade em seu coração.
Enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, as lembranças de sua mãe inundaram sua mente. Recordou-se da doçura, da gentileza, da brincadeira leve e da atenção que sua mãe sempre lhe dedicava; ela era, sem dúvida, a mãe perfeita aos seus olhos. As noites em que a matriarca entoava canções suaves ecoavam em sua memória, embora se tornassem cada vez mais distantes, como folhas levadas pelo vento. A imagem da mulher que um dia ela foi começava a se dissipar, como uma névoa ao amanhecer.
Reize fechou os olhos, permitindo que a saudade a envolvesse. Recordou os abraços calorosos que a faziam sentir-se segura e amada, e as risadas compartilhadas durante os momentos simples da vida cotidiana. Sua mãe sempre tinha o dom de transformar até os dias mais comuns em memórias inesquecíveis. Cada sorriso e cada gesto carinhoso eram fragmentos de um amor que parecia inabalável.
De repente, ela se viu forçada a limpar as lágrimas e levantar a cabeça ao ouvir batidas na porta de seu quarto. Sem aviso prévio, a porta foi aberta, revelando um soldado do reino que, sem mais delongas, aproximou-se e a agarrou pelos braços, arrastando-a para fora do cômodo. Seus olhos marejados se fixaram, com desespero crescente, na imagem do quadro de sua mãe que adornava a penteadeira.
Reize sentia seu corpo sendo puxado pelos corredores do castelo, a pele arranhando-se contra as paredes frias e ásperas. A angustiante sensação de impotência a envolvia, pois não havia ninguém a quem gritar ou pedir socorro. Quando finalmente foi lançada ao chão, apoiou-se na parede, sentindo o coração acelerar ao avistar o olhar daquele soldado. Seus olhos se arregalaram ao perceber o sorriso perturbador que ele exibia, em meio à aura ameaçadora que emanava dele.
─── Foi o papai que mandou você fazer isso? — questionou ela, enquanto lágrimas quentes escorriam por seu rosto e seus olhos começavam a ficar vermelhos como o sangue que escorria de seu joelho ferido.
─── Não, não foi… Seu pai saiu há alguns minutos com seus irmãos para guerrear contra um reino rival. Agora somos apenas eu e você — respondeu ele, enquanto se aproximava lentamente da garota encostada à parede.
Reize se questionava sobre o que estava prestes a acontecer. O motivo pelo qual seu pai havia partido para a guerra sem levá-la consigo e por que aquele homem estava agindo de forma tão monstruosa com ela. A incerteza e o medo se entrelaçam em sua mente, enquanto tentava encontrar uma forma de escapar daquela situação aterradora. A cada passo que o soldado dava em sua direção, um novo pavor se instalava em seu peito, e o desespero a atingiu em cheio quando a mão masculina cravou em seu pescoço.
────── East Blue;
Dias atrás.
Seus olhos se abriram rapidamente, e seu peito subia e descia lentamente, enquanto sentia uma falta de ar angustiante. Seus braços, que até segundos antes eram utilizados como travesseiros, agora se encontravam úmidos de suor, resultado do quarto completamente fechado e abafado, onde o calor intenso do exterior penetrava sem pena. Ela suspirou profundamente, arrastando as mãos sobre o rosto pálido, enquanto tentava recompor-se e se perguntava que horas eram.
Ela se levantou da cadeira em que estava sentada, diante de uma mesa de madeira redonda, e caminhou até a janela. Com um movimento ágil, abriu rapidamente as cortinas e o vidro. Seus olhos percorreram o vasto mar ao redor do baratiê, enquanto se perguntava quanto tempo havia dormido; afinal, quando se deitou, era madrugada e o sol apenas começava a surgir no horizonte. Agora, ele brilhava intensamente, irradiando um calor semelhante às chamas do forno na cozinha.
Sua mente foi inundada pelas lembranças do sonho que tivera há pouco, ou melhor, lembranças que ela desejava que fossem apenas um pesadelo. Seu punho se fechou com força, tentando afastar aquelas imagens, mas era quase impossível. Todos os dias, sem exceção, ela tentava esquecer, mas quanto mais o tempo passava, mais vívidas se tornavam as lembranças do dia em que perdeu sua inocência.
O peso da memória era insuportável, uma presença constante que ela não conseguia dissipar, não importa o quanto tentasse. Cada detalhe daquela noite se repetia em sua mente, cada som, cada sensação. A angústia a consumia, e, por mais que tentasse afogar esses pensamentos na rotina diária, a dor nunca deixava de aparecer, sempre silenciosa, mas implacável. Ela sabia que, ao olhar para o passado, jamais poderia voltar à mesma pessoa que fora antes de tudo acontecer.
Vazio. Era o que ela sentia.
Seus olhos fixaram-se em um canto do restaurante, onde avistou um imponente navio da marinha ancorado. Mais à frente, destacava-se um audacioso navio pirata, a proa apresentando uma cabeça de carneiro, com suas velas escuras e desgastadas. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto ao perceber a ironia daquela cena.
Ela apoiou os braços no batente da janela e permaneceu ali por um tempo, observando os clientes entrando e saindo. De repente, um barulho ensurdecedor de algo se quebrando irrompeu, como se fosse resultado de uma briga no restaurante do andar de baixo. Ela fechou os olhos e suspirou profundamente, quando ouviu uma correria no corredor e vozes distintas murmurando o nome "Sanji".
─── Caramba, Sanji. Quem será que te irritou dessa vez… ── Murmurou ela, afastando-se da janela e dirigindo-se ao banheiro daquele quarto.
Rapidamente, Reize tomou um banho e realizou suas higienes matinais. Em seguida, vestiu uma roupa confortável e apropriada para comparecer ao restaurante. E, algo que não podia faltar, colocou minúsculos tampões de ouvido. Assim que saiu do quarto, dirigiu-se à cozinha, onde reinava um silêncio absoluto; aparentemente, não havia ninguém por ali. Todos estavam no andar de baixo, participando da confusão.
Ao entrar no ambiente, ela percebeu a verdadeira zona em que se encontrava: vários pratos e algumas panelas sujas espalhadas por toda parte. Aproximou-se xingando mentalmente os cozinheiros por serem tão fofoqueiros a ponto de abandonarem seus afazeres para irem xeretar na confusão abaixo. O caos na cozinha era um reflexo do tumulto que se desenrolava no restaurante.
Após lavar a louça, a segunda tarefa que Reize realizou foi varrer o ambiente. Ela já estava acostumada com tais atividades; era o que fazia no dia a dia, além de trabalhar como garçonete. Embora soubesse o básico da culinária, não se considerava apta a desempenhar o papel de cozinheira. Na verdade, ela era uma péssima cozinheira.
Ao passar a costa da mão direita sobre a testa, limpando o pequeno suor causado pelo abafamento da cozinha e pelos fogões quentes, ouviu a porta sendo aberta. Ao se virar, deparou-se com seu irmão, silencioso e aparentemente pensativo.
─── Ah, Reize. Finalmente acordou. Como se sente? ── Sanji perguntou, passando por ela.
─── Com sono. Ainda. Mas aqueles fofoqueiros deixaram uma bela bagunça para trás. ── Respondeu ela, sentando-se em uma banqueta e bocejando. ── O que está acontecendo lá embaixo?
─── Um marinheiro irritante causou um alvoroço, simplesmente porque seu ego é maior do que sua fome, e acabou ferido. ── Explicou ele enquanto cortava legumes sobre a tábua. ── E agora chegou um pirata que era prisioneiro desse marinheiro; está com fome e, obviamente, sem dinheiro.
─── Deixa eu adivinhar: "Quem não paga em dinheiro não é cliente do restaurante"? ── Reize perguntou, com um sorriso irônico.
─── O Patty é um bom cozinheiro, mas talvez ele não saiba o que significa sentir fome.
Reize permaneceu em silêncio, observando Sanji preparar a refeição, enquanto processava as palavras do irmão. Ela entendia perfeitamente o que ele queria dizer, algo que ressoava profundamente em seu coração. Logo, sua mente foi tomada por lembranças do passado, aquelas que ela tanto tentava esquecer. Quando Sanji terminou de preparar o prato, e sem nada mais a fazer, ela seguiu o irmão até a parte externa do navio, onde avistou o pirata, visivelmente exausto, com a barriga roncando de fome. A cena fez seu peito apertar, uma dor lenta.
─── Reizeeeee!
"Não tenho paz”, murmurou para si mesma ao ouvir Patty gritar seu nome no salão. Sem demora, dirigiu-se à cozinha do Baratie, já antecipando o caos que enfrentaria. Com todos os garçons tendo pedido demissão na noite anterior, por medo de algum incidente que ela não se preocupou em lembrar, era evidente que teria de assumir o trabalho de atender uma infinidade de mesas.
Enquanto caminhava apressada, uma pergunta irônica atravessou sua mente: o que aconteceria se simplesmente abandonasse tudo ali mesmo e voltasse para sua cama? O pensamento era tentador, especialmente considerando que ainda faltava um bom tempo para chegar às suas merecidas cinco da tarde ── o horário sagrado em que sempre encerrava seu turno da tarde e cedia ao descanso.
Com um suspiro resignado, ela afastou o devaneio. Mesmo cansada e irritada, sabia que o Baratie não funcionaria sem ela. Afinal, alguém tinha que lidar com a enxurrada de clientes famintos que não paravam de chegar.
─── Que bom que você chegou! Leve esses pratos para as mesas 5, 6 e 7! ── Patty exclamou assim que a garota entrou na cozinha, entregando rapidamente uma bandeja grande repleta de diversos pratos. ── Ah, e não se esqueça desses também; eles são para as mesas 10, 11, 12 e 13.
─── Me dá logo uma chicotada.
─── Para de graça e vai trabalhar!
Reize saiu da cozinha xingando mentalmente Patty e todas as gerações que vieram antes dele, e talvez até as futuras. Embora a considerasse um bom homem, como seu irmão dizia, muitas vezes ela tinha a impressão de que ele a odiava. Isso não se devia apenas à carga excessiva de trabalho que lhe impunha ── como fazer com que limpasse o salão do restaurante sozinha, lavasse banheiros ou organizasse a cozinha à noite. Afinal, era assim que ela poderia contribuir ali, já que não era uma boa cozinheira, nem de longe. Seu conhecimento culinário limitava-se a fritar ovos e colocá-los dentro de um pão. Além disso, Reize costumava trocar o dia pela noite.
Ela soltou uma risada. Ele claramente a odiava.
Reize desceu o lance de escadas e, ao chegar no salão principal, deslizou levemente a mão sobre os ouvidos, certificando-se de que os tampões ainda estavam colocados corretamente. Em passos rápidos, ela se moveu pelo salão, entregando os pratos aos respectivos consumidores. Quando restaram apenas quatro pratos, todos pertencentes a uma única mesa, ela começou a procurar com os olhos. Logo avistou uma mesa em um canto afastado, ocupada por dois homens e uma mulher ── a mesa mais barulhenta de todo o ambiente. Mentalmente, ela considerou que aquilo era um verdadeiro castigo.
Ela se aproximou da mesa, servindo os clientes e permitindo que seus olhos percorressem rapidamente todos eles, antes de ignorá-los novamente. De repente, ouviu um grito de indignação vindo da escada espiral. Virou-se e se deparou com um garoto usando um chapéu de palha. Ele gritava, visivelmente indignado pelo fato de seus amigos estarem reunidos, desfrutando do bom e do melhor, enquanto ele era forçado a trabalhar.
Reize o observou se aproximar, sem saber como reagir àquela situação inesperada. Nem mesmo tinha certeza de quem era aquele garoto ou como ele havia chegado ali. A expressão dele misturava frustração e descontentamento, e ela se sentiu um tanto constrangida por estar no meio daquela cena. O ambiente ao redor parecia ter congelado por um instante, enquanto a atenção de todos se voltava para o garoto e sua explosão de emoções.
─── Pare de reclamar, são apenas uns belisquinhos para matar a fome, não é, Usopp?
Os olhos de Reize deslizaram em direção ao dono da voz, que aparentava estar bastante descontraído, a ponto de nem notar que o garoto de chapéu de palha estava colocando os dedos sujos de nariz na bebida dele. Em um impulso, ela usou a bandeja para cobrir boa parte de seu rosto, enquanto tentava conter uma risada que ameaçava escapar. Contudo, a diversão não durou muito tempo. Logo, o rapaz de cabelos verdes ── Zoro, como soube após ouvir Usopp murmurar seu nome ── agarrou o chapéu de palha pelo pescoço e o forçou a beber um copo d'água.
O caos que o garoto provocava ao se debater chamou a atenção dos clientes ao redor, gerando até mesmo alguns cochichos de desagrado que fizeram o sangue de Reize ferver. Não apenas pela cena absurda diante dela, mas também pelo fato de que suas vozes eram tão altas que atravessavam os tampões em seus ouvidos, causando uma sensação aguda e dolorosa que parecia fazer seu cérebro pulsar como se estivesse sangrando por dentro.
Reize respirou fundo, tentando manter a compostura em meio àquele tumulto. Mas foi impossível.
─── Rapazes, por favor, vocês poderiam fazer o favor de calar a boca?
Os quatro jovens pararam abruptamente, voltando sua atenção para a garota que parecia à beira de um surto.
─── E você vai fazer o que se eu não me calar? ── Questionou Zoro, com um sorriso desafiador nos lábios.
─── Vou chutar sua bunda seca para fora deste restaurante. ── Retorquiu Reize, com firmeza na voz.
A tensão entre os dois aumentou rapidamente, e logo estavam trocando provocações de forma tão acalorada que parecia que poderiam partir para a agressão a qualquer momento. As expressões em seus rostos eram intensas, e os olhares se cruzavam como se chamas invisíveis estivessem prestes a surgir. Sanji, que estava servindo uma mesa próxima, percebeu a situação antes que ela se agravasse e interveio rapidamente.
No entanto, mesmo após a intervenção de Sanji, Zoro e Reize continuaram se alfinetando verbalmente. Cada troca de palavras era carregada de ironia e sarcasmo, como se estivessem competindo para ver quem conseguia ser mais cortante. A atmosfera estava carregada de tensão e humor ao mesmo tempo, enquanto os outros clientes observavam a cena com expressões que variavam entre divertidas e preocupadas.
─── Puta que pariu, que ódio. “O cliente sempre tem razão”, mas não no meu turno… definitivamente não no meu turno.
Reize lavou as mãos e saiu de seu quarto, sentando-se na borda da parte superior do navio, que ficava em frente a uma janela de seu quarto. Já era noite, e não havia mais nenhum cliente por ali; evidentemente, todos já estavam dormindo, dado que era madrugada. Mesmo assim, Reize continuava a rememorar o tumultuado acontecimento da tarde, que se estendeu por longas horas. Quando o relógio marcou cinco horas, ela decidiu se recolher para o quarto e descansar, acordando apenas alguns minutos atrás.
Ali sentada, observava a lua cheia cercada por estrelas cintilantes e majestosas que adornavam o céu noturno. A brisa fresca acariciava seu rosto e seus braços descobertos, agora gelados pela temperatura amena da noite. O silêncio ao redor era reconfortante, contrastando com a agitação do dia anterior.
Enquanto contemplava o espetáculo celestial acima dela, Reize respirou fundo, permitindo-se relaxar um pouco. Era um momento raro de tranquilidade em meio ao caos da rotina diária.
─── O que você está fazendo sozinha aqui, moça?
O chapéu de palha surgiu de repente à sua frente, ao ser lançado para cima com um gesto entusiasmado. Reize, assustada, imediatamente juntou as mãos e lançou uma quantidade considerável de ar, fazendo o pobre garoto tombar de volta para o chão, com um impacto que reverberou pelo convés. Ela rapidamente reconheceu quem era pelo chapéu e saltou para baixo, ajudando o jovem a se levantar.
─── ‘Ô minha filha, você é bem forte, não é? ── Ele se sentou, ajustando o chapéu sobre a cabeça e encarando a mulher que estava agachada à sua frente. ── Achei que você fosse uma garçom comum. Quer entrar para o meu bando?
─── O quê?
─── Ué, seu irmão é o novo cozinheiro do meu bando, sabia não?
─── Ele aceitou?
─── Sim, mas ainda não disse o "sim".
Reize soltou uma gargalhada, sentando-se no chão ao sentir suas pernas dormentes. Recordou-se de algumas horas atrás, quando Sanji comentou sobre como o chapéu de palha queria ele a qualquer custo em sua tripulação como cozinheiro e companheiro, buscando mil soluções para os mil motivos que o impediam de aceitar essa proposta.
─── O Sanji me contou que 'cê tem problemas com barulhos muito altos. 'Desculpa por gritar mais cedo. Quer um pedaço de carne? ── Ele sentou-se em sua frente.
─── Onde você vai encontrar um pedaço de carne? ── Ela perguntou com curiosidade. O jovem que sorria confiante teve seu sorriso arrancado.
─── Ih, rapaz, é mesmo, né? Você não é filha do dono deste restaurante? Pode pegar para nós. ── O garoto começou a bater palmas com os pés, algo que ela achou adorável, embora ao mesmo tempo peculiar, enquanto se balançava de um lado para o outro.
─── Você está com fome?
─── Não, mas se você trouxer, eu como.
Reize sorriu ao se levantar e pediu para que ele a aguardasse ali. Novamente, ela subiu para o andar superior, entrando pela janela de seu quarto e chegando ao corredor escuro que levava à cozinha.
Enquanto se aproximava, aquela simples pergunta “quer entrar para o meu bando” ecoava em sua mente, fazendo-a refletir profundamente. Ele realmente a achou forte? Queria ela no seu bando? Ela? Ou ele simplesmente desejava levá-la porque Sanji estaria lá e não queria separar os irmãos? Mas isso significaria que ela seria um fardo. E teria que deixar seu pai. O homem que lhe salvou e cuidou dela a vida inteira. Por um momento, passou pela sua cabeça que ao fazer isso ela seria ingrata.
Mas a ideia de sair do baratiê era uma oferta tentadora. Navegar, lutar, saquear, viver aventuras. Parecia uma realidade completamente diferente de tudo o que já havia experimentado.
Ao chegar na cozinha, procurou pela comida que Sanji havia preparado para ela comer quando acordasse. Ficou feliz ao perceber que conseguiria dividir duas porções generosas para ambos. Ao achar que estava demorando demais, fez as duas marmitas rapidamente, organizando tudo em seu devido lugar e apagando as luzes antes de voltar para o convés.
Lá encontrou o rapaz no mesmo lugar; foi então que percebeu que até aquele momento não sabia o nome dele.
─── Ah, muito obrigada!
Luffy pegou a marmita estendida pela garota e começou a comer animadamente. Reize poderia jurar que estava vendo brilhos em seus olhos, especialmente quando ele mordia um pedaço suculento de carne. Diferente dela, que ingeriu alguns pedaços antes de se sentir satisfeita, Luffy devorou a comida com tanto entusiasmo que deixou sua marmita ao lado, recusando-se a jogá-la fora.
─── Se você não quer desperdiçar, pode me dar; está uma delícia. ── Reize olhou para a marmita do rapaz, agora completamente vazia, e sentiu-se aliviada por não ter que desperdiçar. Com um sorriso, entregou-lhe o recipiente. ── A propósito, meu nome é Monkey D. Luffy. Eu vou ser o Rei dos Piratas. E qual o seu nome?
─── Pode me chamar de Reize. ── Ela apoiou a mão na bochecha, observando-o comer com prazer. E o fato de ele ter mencionado que queria ser o Rei dos piratas, fez ela sorrir, de alguma forma, tão sincera quanto o rapaz à sua frente.
Enquanto ele se deliciava com a comida, Reize não pôde deixar de notar a alegria estampada no rosto dele. O jeito como ele apreciava cada garfada parecia contagiante, e ela se perguntou como seria fazer parte de um bando que o capitão é tão vibrante e cheio de vida.
Apesar de toda a confusão de mais cedo, ele parecia um bom rapaz.
Recordava-se brevemente de suas experiências navegando pelos mares, embora não fosse exatamente como uma pirata. Ela realmente gostava dessas memórias, exceto pela parte desagradável de ter que matar e assassinar brutalmente seus inimigos.
No baratiê, um restaurante marítimo que funcionava como um navio, ela não experimentava as mesmas aventuras e emoções. O navio estava sempre ancorado, movendo-se apenas com a chegada e partida de clientes. Raramente fazia viagens a ilhas vizinhas para adquirir os suprimentos necessários; quando o fazia, comprava o suficiente para dar, doar e vender.
A vida no baratiê parecia monótona em comparação com as aventuras que ela havia vivido. A ideia de estar presa em um lugar sem a liberdade de explorar novos horizontes a deixava inquieta. Reize sonhava em retomar a sensação de liberdade que sentia ao navegar pelos mares abertos, onde cada dia era uma nova oportunidade para desafios e descobertas.
─── Ei, chapéu de palha, você me quer em seu bando? ── Ela murmurou, com um sorriso maroto nos lábios, capturando a atenção do rapaz, que estava totalmente voltado para ela.
─── Quero sim! Seria muito dahora ter alguém forte como você em meu bando! ── Ele exclamou animado, os olhos brilhando com a possibilidade de uma nova amizade. ── E como você parece ser bem resistente ao sono à noite, poderia ser a "franela" do bando!
─── "Franela"? Não seria "sentinela"?
─── É, isso mesmo! O que me diz?
Ele aproximou o rosto do dela, sem segundas intenções, apenas cheio de entusiasmo e ansioso pela resposta dela. Reize sentia que, se fosse em outro momento ou com outra pessoa, já teria reduzido aquele indivíduo a pedaços. Mas ele parecia diferente. Era diferente. Ele a cativou de uma maneira incrível; encantou-a desde o primeiro instante em que a viu, embora ela não tivesse percebido isso imediatamente.
Luffy era alegre, bagunceiro, ingênuo e intenso, insistente quanto ao que desejava. Quando ele falou sobre se tornar o Rei dos Piratas, uma centelha de curiosidade acendeu dentro dela. A ideia de embarcar em uma jornada tão grandiosa e cheia de aventuras a intrigava. A presença de Luffy trazia um ar de aventura e liberdade que despertava um desejo adormecido dentro dela; algo que há muito tempo estava escondido sob camadas de cautela e desconfiança. Essa mistura de características despertava algo nela que ela não conseguia identificar exatamente. Ao olhar nos olhos dele, Reize percebeu que havia algo especial naquela conexão inesperada. O rapaz emanava uma energia contagiante que a fazia questionar suas próprias defesas emocionais.
Era como se cada palavra trocada entre eles criasse uma ponte invisível, ligando suas almas de forma inexplicável. E enquanto as risadas ecoavam ao redor deles, Reize sentiu um impulso incontrolável de se abrir para aquela nova possibilidade. Navegar ao lado de um jovem peculiar e com grandes sonhos à frente.
─── Luffy… Eu quero ser sua companheira. Ser a sua sentinela.
─── Ah, que maravilha! Agora tenho dois companheiros fortíssimos no meu bando. Shishishi!
─── Mas o Sanji ainda não disse sim. Nyahaha! Mas não se preocupe, vou te ajudar com isso!
No fundo, ela ainda se encontrava receosa quanto à aceitação de Sanji. Ele nunca sequer tocou no assunto de sair, de deixar o Baratie. Contudo, estava disposta a fazer tudo o que fosse necessário para convencê-lo a partir com eles e a persuadir Zeff a deixá-la seguir viagem com o chapéu de palha. Pois, em seu íntimo, ela sabia que se não fosse com Luffy que partiria para o mar, não seria com mais ninguém.
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