𝟎𝟎𝟏
𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐎𝐍𝐄:
As escolhas que o mundo me deu
❝𝕺𝖍, 𝖆𝖑𝖑 𝖙𝖍𝖆𝖙 𝕴 𝖉𝖎𝖉 𝖙𝖔 𝖙𝖗𝖞 𝖙𝖔 𝖚𝖓𝖉𝖔 𝖎𝖙
𝕬𝖑𝖑 𝖔𝖋 𝖒𝖞 𝖕𝖆𝖎𝖓 𝖆𝖓𝖉 𝖆𝖑𝖑 𝖞𝖔𝖚𝖗 𝖊𝖝𝖈𝖚𝖘𝖊𝖘❞
*Gatilhos no final do capítulo*
UM JOVEM INGÊNUO, era dessa forma que Drystan Heisenburg se denominava ao decidir fugir do Pequeno Palácio com um garoto que amava na época. Cometendo o maior erro da sua vida naquele momento, quando chegou ao outro lado da Dobra, seu parceiro, aquele homem ao qual confiava cegamente, o abandonou sem nada, a mercê da tristeza e solidão.
Ele foi e sempre será um dos melhores Sangradores que toda Ravka já tinha visto, porém ninguém conhecia verdadeiramente sua face, nem sabia seu nome verdadeiro mas o chamavam de John Doe, o homem sem identidade e a cada missão mandada pelo Rei e pelo General, se vestia com seu Kefta vermelho bordado por linha preta e sua máscara dourada. Isso foi uma vantagem para ele e não tinha chance de ser caçado por outras pessoas do outro lado da Dobra.
Drystan teve que aprender a viver da sua forma, havia diversas delas, especialmente em Katterdam, mas o modo mais fácil e rápido para sua necessidade foi em um bordel no Barrel, o Menagerie, comandado por Tante Heleen. Em um lugar desconhecido como aquele, arrumar um lugar que pudesse dormir era o essencial. Porém não durou tanto quanto imaginava que aquele inferno duraria, Kaz Brekker ouviu os boatos sobre o Sangrador extremamente forte e assim que conseguiu, tomou posse do mesmo e pagou em dinheiro vivo aquilo que Drystan valia.
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O loiro foi chamado por um homem velho e barbudo à mesa de apostas, onde Jesper estava sentado do lado oposto, ele lhe pediu outra bebida e para ser mais preciso, pedindo bebida para todos os integrantes na mesa. Drystan olhou para o atirador e o mesmo sorriu pegando as moedas do velho, que foram usadas para pagar naquele momento:
─O Casino Lucky Nine aqui perto teve...um problema com moedas falsas! Pesadas porém frágeis!─Jesper disse enquanto girava uma das moedas entre seus dedos, logo depois jogando a para Heinsenburg
─Muito fáceis de serem confundidas!─acrescentou Drystan e o atirador sorriu minimamente, mas depois voltou seu olhar ao velho
─Deixe disso. Estou aqui a horas!─o homem pançudo respondeu─Minha moeda não vale aqui?
Como Sangrandor, conseguia ouvir o coração acelerado do homem à distância, ele estava com medo e irritado. Apenas conseguiu segurar a risada, vendo que Jesper estava sério demais:
─A moeda zemini aguenta um tiro mas a falsa...─Jesper então jogou outra moeda para os ares e retirou sua arma do bolso, atirando precisamente contra a moeda que então caiu sobre a mesa furada─Te peguei!
─Acho que o senhor irá se retirar rapidamente, creio eu!─Drystan então sorriu falsamente ao homem depois de debochar da sua cara
Drystan sorriu para Fahey, que se levantou da cadeira e se esticou para pegar as cédulas e moedas sobre a mesa, porém Kaz o interrompeu colocando sua bengala por cima das notas e tossindo levemente:
─Sem alvoroço da mesa Jesper...vai espantar os pombos!─Kaz sussurou e Drystan soltou uma risada involuntária─Não devia estar na porta?
─Sim, claro chefe!─o atirador então saiu correndo
Desde que Drystan chegou ao Clube, ele sabia muito bem o quão rígido o líder era, o quão frio sua feição poderia ser, nunca viu um sorriso completamente animado sair dos lábios do homem, não sabia o por quê exatamente, ninguém era triste o tempo todo, não é? Provavelmente aquilo era uma máscara, ele sabia pois também havia criado uma para si, com Jesper ele a retirava porém ao lado do Brekker...era diferente. Ele então olhou para Drystan e sem dizer nada, virou para sair sendo acompanhado por outro homem que falava rapidamente sobre um quadro desaparecido.
Heinsenburg olhou para Kaz, enquanto o mesmo se retirava, ele sempre notou os lindos olhos azuis dele, seu cabelo penteado para trás, seu maxilar definido, suas luvas pretas, do qual realmente não sabia o motivo. Ele era um homem bonito. Sua voz era rouca e áspera, soando como pedra sobre pedra. Ele usava a bengala com um corvo no topo por um problema em sua perna, que Drystan também sempre quis saber o porquê, mas sabia que seria invasivo demais perguntar. Kaz não fazia perguntas para ele e ele não fazia perguntas para Kaz, este foi o trato.
Drystan então suspirou e se virou para voltar ao seu trabalho.
Kaz ouvia atentamente o que o homem ao seu lado falava, sobre o desaparecimento do quadro DeKappel mas em um certo momento se virou para a direção de Drystan, que no momento entregava canecas de cerveja a um casal e por míseros segundos, a lembrança de quando o viu pela primeira vez voltaram a tona e em como sua aparência havia mudado desde quando saiu do Menagerie:
─Brekker?─o homem chamou e acenou na frente do rosto de Kaz, que piscou algumas vezes voltando a realidade─Ouviu o que eu disse?
─É claro que ouvi...10 mil kruges para quem achar o quadro! Continue!─Kaz respondeu olhando para o homem
─Eu já tenho um comprador. Dinheiro legítimo!─ele falou segurando o pequeno desenho do quadro e mostrando ao Brekker─Então...se ouvir algo...
─Dá para ouvir algo aqui?─Kaz respondeu ao homem e se virou para sair, porém bateu a bengala sobre o chão três vezes
Ao fazer isso, Drystan sabia que deveria seguir Kaz. Entregou a bandeja para outra pessoa e saiu. Entrando na sala, fechou a porta e se virou para Kaz, então olhando para o enorme quadro DeKappel atrás do homem. A verdade era que Brekker não tinha um motivo exato para chamá-lo ali, sozinho, porém o queria por perto:
─Ele sabe?─Kaz perguntou de costas para o Sangrador, tentando achar um motivo para fazê-lo ficar
─Não...coração só estava acelerado pela sua presença─Drystan ergueu uma de suas sombrancelhas─Não sabe nada
Kaz olhou na direção da janela,vendo a aberta com a chuva caindo. Ele sabia quem era, então se virou para a vasilha de água novamente, enquanto retirava suas luvas de couro.
Drystan então olhou para Inej, que simplesmente apareceu atrás da cortina, dando um leve sorriso a melhor amiga:
─Inej. O que tem pra mim hoje?─ele perguntou sem sequer olhar para trás, o que fez o Grisha ficar realmente espantado
─Informações sobre um trabalho, com dinheiro suficiente para mudar vidas!─ela respondeu confiante
─Não precisa de muito para mudar a vida aqui no Barril─Kaz respondeu ainda sem se virar para seus companheiros
O Sangrador então ouviu o coração de Kaz, ele já havia tentado diversas vezes saber se os batimentos do homem eram os mesmos que seu rosto demonstrava e por incrível que pareça, era sempre isso, literalmente conseguia burlar os seus poderes:
─Talvez um milhão de Krugers?─Inej falou e então Drystan se engasgou com a própria saliva
─Qual é o nome?
─Dreesen. Um comerciante rico
─Dreesen...já ouvi falar e ele tem como pagar!─respondeu secando suas mãos, com uma toalha
Drystan então olhou para Kaz, ainda não dando para ver suas mãos, seu corpo tampava completamente visão. Talvez aquilo não fosse confortável o suficiente para ser contado para ninguém e ele entendia isso, bem mais do que queria:
─A pegunta é...o que vale um milhão de Krugers para ele?─Heinsenburg então perguntou, colocando as mãos para trás
─Ele quer uma tripulação para atravessar a Dobra até Ravka Lest e trazer algo de volta!─Inej respondeu olhando para o Grisha ao seu lado
─A...Dobra?
─Realmente...certas mortes valem um milhão de Krugers!─Drystan respondeu quase dando risada da audácia de Dreesen em querer atravessar aquele inferno
─Ele não disse o que quer roubar?─Brekker perguntou
─Não. Mas fará uma reunião a meia-noite
─Me diga que os seguiu!─Kaz quase implorou a Inej
─Ele trouxe uma pessoa de um navio! Ele o levou até sua casa no distrito de Garden para não chamar a atenção! Eu teria entrado mas Dreesen contratou muitos guardas!─Inej falou e Kaz suspirou baixo
─Como uma Base...um tesouro dentro e diversos piratas em volta prontos para atacar...─Drystan sussurou para si mesmo se lembrando do exemplo que foi ouvido a anos por seu irmão, Kaz conseguiu ouvir e ficou confuso com tal frase mas preferiu ignorar. Caminhou até a sua mesa e foi seguido por Inej e o loiro
─Consegui essas informações com uma garota do Menageri. Elas respondem coisas caso comprem-nas igual fez comigo!
─Eu não comprei você...estou pagando seu contrato!─Kaz respondeu arrumando alguns papéis de sua mesa
─Você entendeu! Aquela garota, Kesh, ela é habilidosa. Como eu...
─Kesh...─Drystan sussurou magoado, se lembrando que a garota era apenas uma criança quando começou a trabalhar no Menagerie, então Kaz olhou para os dois ali
─Eu só invisto em pessoas únicas. Ela não é como você...ninguém é...não existe ninguém como vocês dois e é por isso que estão aqui!─ele respondeu fazendo o coração de Drystan acelerar involuntariamente, graças a Sanktos que não tinha mais nenhum outro Sangrador alí.
─Então...o que faremos agora?─perguntou ao líder dos corvos
─Vocês acreditam em um poder maior e para atravessar a Dobra talvez precisaremos de um milagre ou dois
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Drystan retirou o casaco preto de seu corpo e o jogou em um dos cantos do quarto, ficando apenas com sua calça. Tirou também suas botas desconfortáveis, com seus pés pedindo socorro. Segurou seus cabelos loiros levemente compridos e os prendeu em com uma fita branca. Ele então se virou para a porta e quando ouvindo alguém bater nela, se apressou em ir até ela e a abriu, vendo que era apenas Kaz.
Brekker vacilou seu olhar ao corpo do garoto com cicatrizes espalhadas por todo o seu peitoral, braços e pernas, feitas no antigo lugar em que morava, voltou rapidamente a focar seus olhos nos de Drystan, Kaz apenas começou o que deveria ter perguntado a segundos atrás:
─Você veio do outro lado da Dobra, não é?─Kaz perguntou entrando no quarto após Drystan dar espaço
─Sim
─Como?─Kaz perguntou e então Drystan respirou fundo
─Bem...talvez esteja na hora de saber mais sobre mim Brekker
Drystan caiu ajoelhado no chão, o corte em seu peito feito pelos Volkras era profundo e se continuasse sangrando daquela forma, não iria sobreviver por muito tempo. Aparentemente seu companheiro e parceiro havia corrido para longe e continuava desaparecido, por dias ele tentou achá-lo pelas bandas que foram atacados mas nunca achou pista alguma.
Sem perceber, alguém se aproximou tocando seus ombros. Era uma mulher de cabelos extremamente compridos usando um vestido típico de mulheres da noite:
─O senhor precisa de ajuda, venha...
Inej.
Depois daquele dia, Drystan assinou o contrato com Heleen tendo moradia e alimento por um longo tempo, porém isso lhe custaria uma coisa. Sua dignidade. Não sabia se aquele lugar poderia ser chamado de prostíbulo, estava mais para uma prisão, onde os prisioneiros cometiam crimes assustadores e traumatizantes. Heinsenburg era um dos favoritos dos homens de família que não podiam assumir do que realmente gostavam e eles pagavam e poderiam fazer o que bem queriam com seu corpo, ainda se lembrava dos cortes que faziam, do sangue escorrendo dos cortes feitos por facas afiadas, todos os toques e beijos agoniantes que cobriam sua pele.
Drystan passava a maior parte destas noites drogado ou bêbado, na esperança de não sentir nada. Porém nunca funcionou de verdade, ele apenas preferia acreditar que aquilo não o machucava tanto assim.
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