𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 6

CAPÍTULO 6


Nenhum de nós está sob controle.

A mão trêmula de Cinco agarra minha garganta, a força que me espanta e me faz querer gritar pela minha vida logo tem justificativa: sua boca na minha. Com a outra mão apoiada em meu quadril, buscando controle em meu corpo, Cinco nos leva para a parede mais próxima.

Assim, com sustentação, ele pode aplicar em mim toda a força que pretende sem que me derrube no chão. Sua língua explora minha boca sem pressa, enquanto minhas mãos buscam sua pele por debaixo da camisa. Ordens não tomadas pela minha razão.

Eu só sinto que se não tiver minha pele colada com a dele da mesma forma que nossas bocas, vou perder minha capacidade de respirar.

Percebendo que os limites estão sendo renovados a cada segundo, Cinco faz o mesmo comigo. Ele escolhe descer sua mão pelas minhas costas, entrando em minha calça de moletom e me apertando sem se importar se está doendo.

Um estalo em seguida.

Algo nessa força toda me faz querer tirar todos os obstáculos da frente dele, deixando-o fazer o que quer.

Enquanto minha bunda arde e eu perco o fôlego, a cabeça dele se move rapidamente para o meu pescoço, onde libera espaço tirando sua mão da minha garganta e então tendo livre acesso para me beijar. Eu adentro meus dedos em seus cabelos, apertando e puxando todas as vezes que sinto uma pontada de prazer. Todas.

Nas pequenas brechas que temos sem contato físico, ele consegue tirar sua camisa, jogando-a para cima da cama. Eu deslizo minha mão em seu peitoral, sem poder aproveitar e olhar o quanto desejo porque de repente estou sentindo seus lábios de novo.

Minhas mãos descem arranhando suas costas na mesma velocidade que ele abaixa minha calça. Espero que assim eu tenha demonstrado o quão intenso foi sentir suas mãos em meu quadril, e então descendo pela minha coxa enquanto puxava a calça. Em como eu tive que acompanhar sua boca e descer minha cabeça junto.

Usando os pés, eu chuto a peça para longe. Sentindo uma brisa fria arrepiar minhas pernas, eu colo meu corpo ainda mais perto do dele, entrelaçando nossas pernas e sentindo como ele está.

A situação da cintura para cima é diferente. Eu me apresso para me livrar da camisa o quanto antes. Sinto tanto calor que a pele do meu colo gruda em suor e a saliva de Cinco. Seu nariz passeia em meu pescoço, subindo até meu ouvido, os lábios encostados em minha orelha para sussurrar:

— Deita lá.

Incontrolavelmente, meus olhos reviram apenas por ouvir sua voz. Cinco aperta minha cintura uma última vez antes de me liberar espaço contra a parede, me deixando caminhar até a cama.

Eu me sento no colchão, olhando para ele. Esperando por ele. Cinco vem devagar e sorrindo para mim. Não como seus sorrisos sedutores, mas um sorriso com humor. Eu procuro a mira de seus olhos e abaixo minha cabeça, encontrando minha calcinha.

É um azul claro com pequenos laços e margaridas estampadas. Nada parecido com o que está acontecendo aqui. Enquanto ele sobe na cama com os joelhos, me encurralando outra vez, eu decido levar na brincadeira.

— Na próxima vez eu uso algo mais sedutor — Digo, rindo da minha situação e acreditando que terá uma próxima vez.

— Mais sedutor que isso? — Ele diz sarcástico, também rindo ao beijar meu pescoço. — Usa preto, eu gosto.

Ah, ok, ele também acredita que terá uma segunda vez.

Cinco usa a pressão de seu beijo para me fazer deitar. E quando isso acontece, ele não perde tempo em me virar de costas, com o meu rosto virado para o colchão.

Ele se aproxima devagar, arrumando meu cabelo para um lado só, e então beijando o meu ombro. Eu sinto seu peitoral em minhas costas e também sinto seu quadril se juntar ao meu.

O braço dele puxa meu quadril para cima, apenas para apoiar o travesseiro embaixo de mim, e quando me solta, tenho certeza que é a posição mais confortável que já fiquei em toda minha vida. Não preciso lutar com a vontade de me manter para cima o tempo todo, me manter inclinada para ele. Estou perfeita assim.

Estou perfeita para ele.

Eu sinto suas mãos me massagearem antes de arrancar o tecido azul claro de mim. Minha respiração se torna desregulada a cada segundo de desejo. Do frio na barriga de estar nas mãos dele. E mesmo se eu conseguisse prever os próximos minutos — o que, sem chance, eu consigo — sei que é uma boa decisão, e que não vou me arrepender tão cedo.

O calor dele volta a se chocar com as minhas costas. Ele está me apertando, me provocando, quando usa sua voz rouca e sem ar para me perguntar:

— Você toma pílula?

Fico prestes a perguntar que tipo de pílula ele está falando. Me lembro então das pílulas anticoncepcionais recentemente criadas, das quais não faço uso porque eu não poderia ter uma intervenção hormonal, segundos os estudos do laboratório.

— Não.

— Porra, Lillian… — Ele geme em frustração. — Ainda não inventaram?

— Eu só não uso.

— Eu vou dar um jeito.

Ele beija meu ombro outra vez. Quero dizer que já inventaram os preservativos e que nosso único problema seria encontrar um em tempo recorde, mas ele já está dentro de mim antes que eu possa lhe dar a sugestão.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

A primeira vez foi excelente.

Mas não suficiente.

Nós terminamos e conversamos sobre o motivo de não existir mini computadores. Não faço ideia de como chegamos naquele assunto, mas sei que enquanto ele mostrava seu ponto de vista, eu não parava de olhar para a sua boca. Sentia aquela vontade dentro de mim como se a mesma não tivesse sido saciada há minutos antes.

Cinco percebeu e perguntou se ele não tinha matado toda a minha vontade. Eu subi em seu colo e respondi que não, atingido seu ego, mas não o bastante para ele se importar.

Agora sim, a segunda vez foi extraordinária.

Haveria espaço para uma terceira, mas nenhum de nós tínhamos energia. Eu me lembro de deitar e sentir Cinco me abraçar por trás, beijando minha cabeça. Apaguei completamente e tive o sono mais pesado da minha existência.

Quando acordo no dia seguinte pela manhã, me obrigo a fazer nenhum movimento. Qualquer pequena ação me causa dores em lugares que eu nem sabia que foram utilizados. Eu olho para o lado e Cinco não está aqui.

A casa está estranhamente silenciosa.

Entretanto, sua sombra se revela passando de um lado para o outro na casa de Elliott, pelo vidro embaçado aqui do quarto. Eu me sento na cama, pegando qualquer camiseta que vejo, e depois me levanto para ir até a minha calça do outro lado do quarto.

— Vamos, acorda, não temos tempo! — Cinco invade o quarto com uma xícara de café e… um talco de bebê nas mãos. Eu faço uma careta e desisto de pegar minha calça.

— Para de gritar!

— Eu não tô gritando! — Diz ele, no volume de um grito. Cinco deixa o café sobre uma cômoda e pega a calça no chão por mim, um olhar curioso procura o meu. — Que foi? Não consegue abaixar?

— Eu correria uma maratona, se eu quisesse.

Talvez não com tanto êxito.

Eu pego a peça de suas mãos e a visto, subindo e apertando os laços fraquinho. Cinco sorri para mim, por nenhum motivo, e então usa sua mão livre para segurar minha cintura. Ele me puxa para si, me dando um beijo calmo e longo. Sinto seu gosto se misturar com o café que tomou, e reviro meus olhos mesmo fechados.

— Bom dia, querida — Cinco beija a minha testa. Ele diz que vai tentar pedir direitinho, então abaixa o tom de voz e segura minha bochecha. — Você pode me ajudar com as suas habilidades para a minha última alternativa de salvar o mundo?

— O quê? Tem outra alternativa?

— Tem — outro beijo na testa — Mas é o impensável. É arriscado. Luther vai me vigiar, mas eu preciso que você esteja lá e diga os riscos que vê no futuro.

— Ah.

— Pode ser?

— Aham. Eu vou.

— Perfeito — a mão dele encontra minha nuca, e seu beijo é capaz de me convencer de qualquer coisa.

Eu seguro o seu rosto, puxando-o para mim e buscando a intensidade que tínhamos na noite anterior. Porém Cinco se afasta, me dizendo que podemos fazer isso quando voltarmos. E que estamos sem tempo.

Vejo ele beber metade de uma garrafa d'água de uma vez, e espalhar talco de bebê nas axilas e dentro da cueca. Ele disse que era para ajudar com a coceira, seja lá o que isso signifique.

Cinco explica para mim e para o seu irmão que ele está em Dallas nesse momento. Eu olho para Luther, dizendo com os olhos que o irmão dele ficou maluco. Cinco explica com detalhes, dizendo que o seu eu, sete dias mais jovem, está presente em Dallas para cumprir sua última missão na Comissão: garantir que J. F. Kennedy seja morto.

Claro que o Cinco cuidadoso e apaixonante que eu tive por algumas horas já foi embora, e deu lugar ao maluco desconfiado que ele naturalmente é.

Ele nos alertou que isso poderia causar um paradoxo, dizendo que ninguém deveria estar em proximidade consigo numa mesma linha do tempo, gerando então sete estágios de uma psicose.

Repeti a sequência dos sintomas até me esquecer no número quatro, e deixei essa tarefa para Luther. Meu papel agora é ficar atenta em todas as minhas visões, atualizando os irmãos Hargreeves.

Pegamos o carro e fomos até o centro de Dallas, adentrando um bar com alta movimentação de clientes. Sentado de frente ao balcão, com duas maletas próximas aos pés, há um homem idêntico ao Cinco. É Cinco. Isso é loucura.

— Ei, Lily, não vai me confundir, hein — o Cinco ao meu lado diz, coçando a nuca, encarando a si próprio depois de perceber que eu estou abismada.

— Vocês são a mesma pessoa, então…

— Toma — diz ele, rapidamente afrouxando a gravata de seu pescoço e tirando-a pela cabeça. Cinco me entrega sua gravata e involuntariamente tenho uma pontada no pé da barriga.

Agora é mais fácil diferenciar os Cincos.

Luther, cauteloso, se aproxima do outro Cinco, iniciando uma conversa e tentando dizer que precisamos da ajuda dele. O homem, me provando que os problemas de confiança de Cinco vieram muito antes de chegar em Dallas, toma sua maleta preta nas mãos, não deixando seu irmão gigante chegar perto.

Eu vigio o Cinco ao meu lado, que está suando como um porco e mantendo seus olhos fixos no homem idêntico a ele, enquanto Luther o convence a nos seguir para o lado de fora do bar. Com muita insistência ele vai. Suas reações físicas não são tão diferentes das de Cinco. Está coçando o pescoço como um louco.

Cinco explica para a sua versão quatorze dias mais jovem o que precisam. Diz que a única forma de salvar o mundo é entregando a maleta da Comissão, a qual se tornará inútil uma vez que Cinco saltar para o futuro.

O homem não aceita.

Eles entram em combate aqui na praça, perto da avenida principal, dois Cincos idênticos se teletransportando para atingir um ao outro. É tão rápido que eu e Luther ficamos perdidos, sem ter para onde olhar. Quando o grandão pede por um acordo mais civilizado, os dois homens lhe atingem com um chute no saco.

Eu fico na torcida para que Luther revide, mas isso não acontece.

Um ricochete dos poderes dos Cincos o repelem um do outro, ao tentarem se teletransportar para o mesmo lugar. Caídos e cansados, dão brecha para que Luther pegue a arma do chão e aponte para eles, pedindo para pararem.

Um Cinco aponta para o outro, dizendo que aquele é quem deveria morrer. Estamos com um Cinco a mais aqui, mas não me parece certo nos livrar dele usando a morte. O plano do Cinco quatorze dias mais jovem é revelado por ele mesmo, ao dizer que deveriam seguir um caminho diferente. Que juntos eles poderiam salvar o apocalipse de 2019.

— Luther, não foi isso que combinamos — Eu o alerto para tomar a decisão certa. Apesar de lógica, essa não foi a decisão de Cinco quando estava sóbrio de sua psicose.

O homem ainda se vê indeciso sobre em quem atirar.

E, após encará-los, Luther bate o cano da arma na cabeça de Cinco. O outro Cinco.

Eu suspiro de alívio, correndo para pegar a maleta que já está fora do alcance do homem caído no chão. Cinco começa a abrir uma espécie de vórtex, de onde é possível ver sua família do outro lado, confusos olhando para nós. O homem desperta aos poucos, sendo orientado por Cinco e seus irmãos para que entre naquele portal.

Ele faz.

Não antes de me apagar com um soco.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

Quando eu acordo, a primeira coisa que percebo é o ambiente calmo. Há um silêncio aconchegante sendo unicamente preenchido pelo som de uma televisão. Ainda estou desnorteada para entender o que diz, mas a entonação é de noticiário.

Em seguida, eu sinto a dor em minha cabeça latejar como se eu recebesse essa pancada a todo instante. Minha visão se torna mais nítida, e vejo Diego passar por mim, ao lado do sofá. Me endireito, sentada, e pergunto a ele:

— Onde você estava?

Não sei se é pelo efeito do golpe, mas não me lembro de ter visto Diego. Desde ontem. Quando precisamos que ele estivesse no beco e não apareceu.

— Eu fui sequestrado — responde ele, curto.

— Caramba, que chato… — eu tento parecer comovida, mas estou sonolenta demais para isso.

Na minha frente, sentado no outro sofá, olhando fixamente para mim, está Cinco. Seu humor não parece dos melhores, e posso imaginar como seu plano terminou.

— E a maleta? — Pergunto a ele. Eu sei que fiz o que pude para proteger aquele objeto.

— Perdemos ela.

Eu suspiro.

Me levanto para ir ao banheiro, checar meu estado e jogar água no rosto, mas não fui muito longe. Cinco se teletransporta para minha frente e não me deixa passar. Estou me acostumando com esse jeito obsessor, porém algo aqui está diferente. Ele está com raiva.

Todos aqui estão.

Todos os irmãos de Cinco estão aqui, na casa de Elliott, e todos eles me olham estranho. Me olham como se eu fosse culpada de tudo isso. Me olham até com um tipo de julgamento do qual ainda desconheço.

— Tá tudo bem?

— Não tá, Lillian.

Eu concordo com a cabeça, tentando me manter calma.

— O quê aconteceu?

— Você não quer me explicar? — Cinco enterra suas mãos no bolso, cerrando os olhos.

— Olha, eu tentei segurar a maleta. Me desculpa. Mas depois ficou tudo preto e eu…

— Quer me explicar de onde você realmente ganhou seus poderes?

Ao meu redor, o mesmo olhar de revolta nos olhos de cada irmão Hargreeves. Estão decepcionados o bastante para não se darem o trabalho de me ter em suas mentes, então saem de perto. Allison revira os olhos e desce as escadas. Klaus balança a cabeça, em decepção. Luther parece até com pena de mim.

— Cinco…

— Quer me explicar porquê a porra deste bilhete estava dentro da sua calça?! — Ele avança, apertando um papel com tanta força que seus dedos tremem, amassando a folha.

Não consigo ver direito o que há escrito, e por isso, Cinco joga o papel na minha cara. Calada, sem querer me condenar, eu abaixo e pego o papel, vendo que as informações contidas ali dentro era do meu primeiro dia na missão. As instruções do que eu realmente devia fazer.

Eu sinto meu estômago congelar. Pior, sinto que vou vomitar. Eu não consigo acreditar que isso é real e não uma alucinação.

— Na minha calça? — É o que eu digo. Não sei como isso foi parar nas mãos de Cinco, quando eu tenho a certeza de ter jogado o papel fora. Nesse momento, não confio nem nas minhas memórias.

— Na minha que não foi — Ele ri, sarcástico, mas então seu nariz franze em raiva e nojo. — Me fala, imbecil, o quê você estava fazendo entrando na porra do meu caminho?!

Eu não preciso participar disso. Me humilhar dessa forma. Eu tenho seguranças lá fora. Eu posso dar as costas e seguir para a porta, só preciso…

— Eu estou falando com você! — Cinco grita. Sinto outra pancada na cabeça, mas agora é pela mão de Cinco que se agarrou em minha nuca, empurrando-me com força para a parede.

— Pega leva com ela, Cinco — orienta Luther, que é ignorado pelo irmão.

— Eu não quis te atrapalhar, tá bom? Minha missão não era essa.

— Me parece que “atraí-los para a base” atrapalharia pra caralho!

— Reginald não sabia o que vocês queriam. Pensava que eram inimigos!

— Reginald… — Cinco balança a cabeça, ainda abismado com a descoberta. — Foi com ele que ganhou os poderes, não é?

— É, eu sou o experimento deles!

Cinco me encara, mas não parece estar no presente, está distante em seus pensamentos que provavelmente são listando diversas formas que deve me matar. Com isso, eu passo por ele e vou para o quarto. Aqui eu pego tudo o que me pertence, sentindo lágrimas se acumularem em meus olhos.

Coloco minhas roupas dentro da mochila e, discretamente, a gravata dele que estava em meu bolso. Eu ouço passos adentrarem o quarto. Com medo, me preparo para qualquer movimento que irá me custar sangue.

Tomo coragem para me virar de costas e encontro Cinco parado a alguns passos de mim. Não parece cego de raiva, só quer entender. Quer a verdade. E aqui dentro, sozinhos, ele quer a verdade também sobre nós dois.

— Eles te mandam falar tudo isso? — Pergunta ele, com receio de que há algum dispositivo tecnológico em mim.

— O que mandaram, está no bilhete.

— Você vê mesmo o futuro ou isso é só mais um truque de Reginald?

— Alguma vez eu errei?

Ele suspira alto.

— O que fizemos ontem também estava na sua missão? Precisava me ter daquele jeito?

— Transar com um de vocês era o que Reginald menos queria! — Eu fecho o zíper da minha mochila. Tenho vontade de segurar o rosto dele, para fazê-lo olhar em meus olhos e entender, mas ele não permitiria esse contato. — Me desculpa, tá bom? Eu não queria ter mentido para vocês. Eu não queria nem ter me aproximado tanto…

— Vai se foder.

— …eu não estou acostumada com missões.

— Vai se foder, Lillian.

— Quando eu cheguei aqui nem sabia que vocês eram filhos de Hargreeves! Não leve pro pessoal, Cinco, porque se quiser mesmo saber a verdade, eu manipulei todos os relatórios para que Reginald não mandasse matar vocês!

— Eu deveria te agradecer?

— Acho que sim. Você está vivo.

— Com certeza não é mérito seu. — Ele apoia as mãos no quadril e dá uma volta lenta.

— Me desculpa — Eu passo a alça da mochila pelo meu braço. — Eu estou indo.

— Você não vai a lugar algum.

Ele coloca sua mão na minha frente, outra vez me impedindo de passar. Confuso e irritante demais a forma como ele brinca com meu livre arbítrio.

— Achei que não iria me querer aqui.

— Eu não quero nem olhar na sua cara. Mas meus irmãos estão sendo perseguidos e você vai ajudar eles com o seu poder.

— Por quanto tempo?

— Quanto eu achar necessário.

— Eu teria que avisar Reginald que não consegui cumprir a mis…

— Pra você nunca mais voltar? — Pergunta ele, irônico. — Eu fui claro.

Cinco então deixa o quarto depressa. Algo como quem realmente não suporta estar nesse ambiente. Eu jogo minha mochila de volta na cama, e meu estado de humor pode facilmente me impulsionar a pular desta janela. Ou gritar em um travesseiro por três horas seguidas.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

Eu trai a confiança dos irmãos Hargreeves.

Crianças que já tinham problemas com confiança antes, o que agrava o meu ato em escalas desproporcionais. Sejamos sinceros, eu não fui uma grande babaca. Não fiz nada que os atrapalhasse em suas jornadas. Mas a única coisa que eles conseguem enxergar é que eu trabalho para o pai deles, o que automaticamente me faz deles uma traidora.

Como eu disse: crianças com problemas.

Eu passei o restante da tarde escutando os burburinhos na sala ao lado, enquanto sozinha no quarto eu imaginava que não seria bem-vinda se entrasse lá. Diego veio aqui há algumas horas para me trazer comida, usar as abraçadeiras na janela para trancá-la e me explicar o que houve essa manhã.

Ele disse que Viktor foi capturado pela CIA, que desconfia que ele seja uma arma humana soviética que foi enviada para acabar com o país. Viktor se livrou dos interrogadores e teve um acesso às suas memórias antigas, por pouco não acabando com o prédio pelos seus poderes.

Diego disse que enquanto foi sequestrado por Lila, enviado para a Comissão, descobriu que Viktor seria a causa para o fim do mundo. Outra vez. E que a sua aparição destruidora fez as forças militares acharem que era um ataque inimigo.

O que possivelmente desencadeou o fim do mundo que prevejo há um mês.

Entretanto, isso não aconteceu. O mundo foi salvo. Se todos nós estamos vivos agora, é graças a Viktor e a história estranha sobre o seu falecido irmão ter se sacrificado por ele.

O fim do mundo foi impedido, mas os Hargreeves continuam presos fora de suas linhas do tempo.

Isso é um problema. Efeitos Borboleta podem acontecer todos os dias com eles aqui.

Diego volta agora de noite para me consultar. Disse que a Comissão está atrás deles por estarem fora de sua época, por outro lado, o governo também os procuram pelos diversos conflitos que geraram nessas últimas semanas.

Todos os olhos estão voltados para os Hargreeves.

— Me fala de amanhã. Como é que vai estar amanhã? — Pergunta ele, sentado ao meu lado na cama.

— Tudo bem.

Eu suspiro de cansaço. Tenho muita coisa em mente agora para me obstruir, toda essa discussão hoje à tarde, porém agora preciso fazer um esforço.

De olhos fechados, enxergo os Hargreeves correrem pelas ruas de Dallas, alguns com armas e outros usando seus poderes. Estão lutando contra homens vestidos com ternos cinzas, todos iguais, nada parecidos com os oficiais federais. Vejo Allison sangrando em um canto no chão.

Prevejo horas à frente e metade dos irmãos estão vivos. Sentados em um lugar escuro com vegetação, em um silêncio indecifrável. Não gosto que notícias assim venham de mim.

— Vocês… vão lutar contra a Comissão, eu acho. Não são militares. E nem todos de vocês vão sobreviver.

— O quê? Tem certeza disso?

— Eu vejo o futuro, Diego. Eu não adivinho. É exatamente isso que vai acontecer. — Falo, arrogante, mas entendendo que sua dúvida não era da minha capacidade, e sim o receio em perder sua família. — Mas vocês podem mudar o curso das coisas. Cada segundo é importante.

Ele assente com a cabeça, se levantando e indo em direção à porta. Quando está aberta, eu vejo por uma fresta que Cinco está apoiado na parede escutando tudo, e cumprimenta com um aceno quando seu irmão sai. Com isso, eu deduzo que Cinco mandou o irmão para falar comigo, porque ele mesmo é incapaz de respirar o mesmo ar que eu nesse momento.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

O café da manhã foi o mais silencioso da minha vida.

Ninguém falou comigo, a não ser Klaus, me pedindo o pote de geleia. Nós assistimos a televisão, que entre as notícias urgentes está os irmãos Hargreeves, identificados como um grupo terrorista. Oferecem até mesmo recompensa para quem encontrá-los.

Não há dúvidas que esse lugar não é mais seguro para eles.

Por isso, eles se sentam ao redor de mim e fazem perguntas sobre o futuro. Seja ele poucas horas ou daqui dias.

— Eu já disse. Não são militares — Eu repito, quando Luther faz a mesma pergunta que os outros quatro irmãos fizeram.

— É a Comissão. Estão vindo atrás de nós — Cinco conclui, baixo.

— Então é isso? Vamos morrer? — Allison questiona, sugerindo que alguém dê uma ideia para mudar o destino.

— Olha, eu não me importo muito, não — Klaus dá de ombros, tropeçando em seus pés mesmo razoavelmente sóbrio. — Estou pronto para partir.

— Tá, seu merdinha, mas o resto de nós não! — Diego debate.

— Vocês podem ir embora daqui. Se conseguirem sair da cidade sem serem vistos, vocês mudam esse destino. — Eu falo, olhando para todos eles.

— Não sei vocês, mas eu vou voltar para a fazenda. Tem alguma coisa estranha com o Harlan.

Nós olhamos para Viktor, confusos se ele vai mesmo deixar a família e sair sozinho. Quanta coragem.

— Ele… se afogou, há alguns dias. E quando salvei ele… eu não sei, mas de alguma forma ficamos conectados. — Explica Vitkor — Vocês querem vir junto?

— Não, vou ficar aqui e procurar uma saída — seus irmãos rejeitam o convite.

Viktor assente, se despedindo e saindo pela porta dos fundos. Algo em sua deixa me chama a atenção, algo como uma mensagem do futuro, enviada por mim mesma. Eu vasculho minhas memória e vejo os irmãos Hargreeves nessa fazenda. Uma imagem muito fraca, como se uma neblina de decisões não me fizesse ver o futuro definitivo.

Então preciso testar.

— Vão com ele.

— O quê?! A gente tem que ficar aqui e pensar como vamos sair dessa!

— Vocês vão ganhar umas horas a mais se seguirem Viktor — Eu digo.

Eles se entreolham, entendendo o que quero passar, e então se levantam de onde estão para irem ao carro. O último é Cinco, que caminha devagar, me encarando.

— É bom que você esteja certa.

— Não estou dizendo que estão livres da Comissão, também vejo eles lá agora. Só que dessa vez vocês todos estão vivos.

Ele aponta com a cabeça para que eu vá junto, então passo na frente dele.

No caminho, enquanto estou prensada entre Diego e Allison, eu pergunto a eles se conheciam Lila antes. Se era uma dos irmãos perdidos deles. Todos respondem com um sincero não. O que me faz revelar que Lila é muito mais do que pensam.

Não só a filha da chefe de Cinco. Ou a namorada de Diego. Ou a maluca do sanatório. Ela tem poderes, como todos eles. Isso também me pegou de surpresa. Já Cinco, no banco da frente, parece não aguentar mais nenhuma descoberta pelos próximos três dias.

Quando chegamos na fazenda, a mulher, que suponho ser Sissi, aponta seu rifle na nossa direção.

Os meninos tentam acalmá-la e mostrar que viemos para ajudar. Nesse momento, sou invadida com memórias das quais não procurei sobre. São apenas imagens e mais cenas de algo que ainda não aconteceu.

As cenas me fazem tremer de pavor.

O sentimento do futuro vem acompanhado com as memórias, e me sinto perdida. Derrotada. Sem mais nada para o que lutar. E sentindo que falhei em todos os aspectos dessa missão.

Eu agarro o braço de Cinco, minhas mãos tremendo, e puxo ele para trás do carro. Essa informação, seja o que for, Cinco precisa lidar com ela. Dizer aos seus irmãos só vai piorar.

— O que foi?

— Eu vi uma coisa — falo, buscando o seu contato visual. — Lila tem muita raiva de você.

— Era isso? — Ele debocha e então eu afirmo:

— Você matou os pais dela.

Cinco paralisa. Ele pensa em argumentar, se defender, mas encaixa as peças e sabe muito bem do que estou falando.

— Puta merda…

— Ela descobriu, e quer matar você. Mas ela não vai. Gestora é quem vai.

— Caralho, ela queria a criança… — Ele diz algo que não faz parte das minhas visões, mas que faz sentido para ele.

Eu olho ao redor, notando a presença das duas mulheres há muitos metros de distância de nós. Elas chegaram. Os outros estão dentro do celeiro, ajudando Harlan com o que quer que ele precise.

Eu seguro os ombros de Cinco, puxando os ombros dele para tirar a sua atenção delas e colocá-la em mim.

— Presta atenção. Ela vai chamar um exército de atiradores. Precisa matar ela antes que isso aconteça.

— Tem certeza?

— Poupe esforços e mate ela antes. Está vendo? Ela tem uma maleta. — Falo, fazendo-o olhar para o objeto ao lado da mulher. — Tá na sua mão, Cinco.

Ele fica tentado a largar tudo e fazer isso agora mesmo. Antes, Cinco segura a minha mão e olha em meus olhos, sem verbalizar, mas agradecendo pelos pontos de vantagem que meus poderes trazem.

Ele dá um minúsculo sorriso e segue numa linha reta de encontro àquelas mulheres. Consciente de pode haver um tiroteio em breve, e que minhas habilidades não são tão úteis em campo, escolho me esconder atrás do carro, observando tudo de longe.





◆ 4.770 palavras

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nem adianta

ai gente, 1 capítulo por mês, tá boa a frequência? 💀

não será mais um problema, pois o próximo capítulo é o último 😻

bjs curupiras pacientes 🧡

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