𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 4
CAPÍTULO 4
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Quando eu acordei, Luther estava fazendo ovos mexidos no fogão de Elliott. Há tanta comida que está derramando para fora da panela. Eu ainda estava sonolenta, porém a discussão dos Hargreeves logo pela manhã me despertou em um segundo.
— Eu não tô entendendo. Eles ficam me seguindo. — Diego reclama, indo de um lado para o outro na cozinha. Ele havia mencionado que o trio bizarro foi atrás dele na sua fuga do sanatório.
— Quem? — Luther vira para ele.
— Os sociopatas holandeses.
— São suecos, seu idiota. — Cinco corrige, irritado, apoiado no canto da parede. Vez ou outra ele me observa, mas todas as vezes que eu encaro ele, Cinco desvia. — Assassinos pagos pra nos erradicar, pra não piorarmos mais a situação dessa linha do tempo.
— Mas por que agora? — Diego questiona. — Cara, eu fiquei… ótimo. Durante três meses. Até você aparecer.
— É. Eu finalmente tinha colocado minha vida no eixo. — Luther concorda, mexendo a espátula dentro da panela. — Eu fiquei um ano aqui, e ninguém se meteu comigo.
— Eu também estava no meu melhor momento. — Eu falo. O que não é mentira, mas está longe de ser a mais pura verdade. Diego abre os seus braços, como se estivesse lançando todos esses argumentos como provas para cima de Cinco. O que não o agrada muito, então ele respira fundo antes de dizer:
— Mesmo se for por minha culpa, o que não é, só temos 6 dias antes do fim do mundo, e o mais perto que chegamos do papai foi na festa, na entrada do consulado.
— Olha… Não é bem assim, não. — Luther diz, reflexivo. Nós nos entreolhamos, e encaramos Luther, esperando que ele explique. — Eu fui vê-lo.
Luther passa os próximos minutos relatando como ele passou dias juntando moedas, apenas para pagar a passagem de ônibus até a casa de Reginald. Onde ele diz ser sua casa. Ele fala que no dia em que ele chegou, havia uma festa, e Reginald o humilhou na frente de todos, comentando sobre o seu mau odor e negando qualquer alegação de parentesco.
Reginald criticou a desproporção da sua massa muscular e as características de símio, o que atingiu o coração do grandão. Luther disse que foi mandando embora da sua própria casa, e que não tinha mais dinheiro para a volta de ônibus. Eu digo a ele que, se serve de consolo, Reginald nem devia saber que ele era seu filho. Ainda assim Luther ficou magoado com o destratamento.
Ele conta que passou mais alguns dias pedindo esmola, com fome, até o maior gangster do Texas encontrar uma oportunidade para ele. Se interessou pela força de Luther e o contratou como segurança particular, também oferecendo abrigo. No final da conversa, Diego e Luther compartilham do mesmo rancor contra o pai.
— Que patético.
— É. Pelo menos ele não me esfaqueou. — Luther fala, de boca cheia. Diego rebate, um pouco mais sarcástico.
— Não, cara, ele partiu o seu coração.
— Não importa o que ele feriu, ele sabe alguma coisa sobre viagem no tempo. — Cinco acaba com o momento terapêutico que estávamos tendo. Eu aproveito a oportunidade para fazer a pergunta que para mim estava bem óbvia para não ser a solução:
— Por que você não faz o seu lance e viaja no tempo de volta?
— Alguém pode explicar? — Cinco se recusa, saindo do seu lugar para encher a sua segunda xícara de café.
— A primeira vez que ele tentou, ele se perdeu no apocalipse. — Luther diz.
— E da última vez que tentei, espalhei a minha família em três anos diferentes em Dallas, Texas, o que possivelmente desencadeou o fim do mundo. Mais alguma pergunta, Lillian?
— Sim. Por acaso você va…?
— Cala a boca, foi totalmente retórico.
— Vocês não estão vendo o contexto. — Diego toma a nossa atenção, gesticulando os braços como um maluco conspirador. — O nosso pai é líder de um complô sinistro que planeja matar o presidente.
— Complô? — Luther estranha, o que vai lhe render horas mais tarde um discurso interminável de Diego.
— Esquece ele. Olha, na minha opinião, só temos uma opção. — Cinco diz, fazendo uma pausa e criando suspense. — Reunir a Umbrella Academy.
— Que ótimo… Reunião de família.
A pouca animação deles em rever seus irmãos só mostra a família disfuncional que eles são.
— Alguém pode pegar a Allison?
— Deixa que eu busco ela. Consegue pegar o Viktor sem matar ele no caminho? — Cinco diz. Disfuncional pra caramba.
— Vou tentar.
— O que eu faço? — Eu levanto os meus ombros, revezando o meu olhar entre eles.
— Se prepara para as visitas.
— Eu tenho uma tarefa melhor para ela. — Cinco fala, dando um sorriso cínico e me pegando pelo braço. Ele me leva arrastada até a sala, em direção ao corrimão, o que me faz ter certeza da sua intenção.
— Cara, são nove da manhã! — Eu digo, como se o horário cedo demais fizesse ele desconfiar menos de mim.
— Não tem problema, vamos voltar rápido. — Cinco busca uma abraçadeira, balançando-a em sua mão com diversão.
Eu não vou me submeter a isso tranquilamente. Nem mesmo Elliot está preso, por que eu deveria? Hoje seria o dia perfeito para atualizar Reginald do que eu descobri dessa equipe, os Hargreeves não estariam aqui para me vigiar. Não posso perder essa chance.
— É sério isso? Você vai me prender e me deixar sem a minha arma? E se aqueles suecos voltarem?
— Eu farei um funeral bonito para você.
— Que covarde.
— Em manter minha família segura de você? Então sou mesmo.
— Eu devo ser muito perigosa. — Eu falo, irônica. Para quem viu que ontem eu mal conseguia defender a mim mesma, ele está preocupado demais.
Apenas porque vou tentar convencer seus irmãos de me soltar mais tarde, eu me rendo. Deixo que ele prenda o meu braço no corrimão da escada. Diferente de Diego na primeira vez, Cinco deixou muito apertado, nenhum espaço livre, mínimo que seja. Nem para a circulação do meu sangue. Antes de sair, ele abre um sorrisinho debochado.
— Prometo trazer algo pra você comer.
E sem mais nenhuma palavra ele deixa o ambiente com o seu teletransporte. O que significa que eu já posso inventar minhas mentirinhas.
— Pessoal, eu não tô bem.
— O que aconteceu, Lily? — Diego se interessa, chegando mais perto. O apelido me pega de surpresa, mas finjo que não noto.
— Não sei, ficar assim é muito claustrofóbico. — Digo, respirando cada vez mais rápido. Eu acredito na minha própria mentira e realmente começo a ficar nervosa com a ideia de ter um espaço limitado.
— Meu Deus, o Cinco é muito cruel. — Luther vem até mim com uma tesoura, balançando a sua cabeça em negação, decepcionado. Ainda bem que o gigante com o coração mole não é como o Cinco.
Com dificuldade para encaixar a tesoura entre o plástico e minha mão, por falta de espaço, uma hora Luther consegue cortar. Como se eu tivesse passado anos em cárcere privado, me solto feliz com a liberdade. E fácil assim, a brincadeirinha sádica de Cinco vai por água abaixo.
— Muito obrigada. Eu tenho problemas com isso. Odeio ficar presa.
— Eu também. Sei como é. Eu já fiquei preso na Lua.
Preciso anotar isso.
— Na Lua? — Repito, incentivando-o a contar mais.
— Pois é. Por quatro anos. E adivinha só? Para nada! — Luther se revolta, jogando a tesoura em cima do sofá.
— Tá bom, tá bom, depois continuamos a terapia. Vamos buscar os outros. Ainda temos que achar o Klaus. — Diego interrompe, dizendo mais alto. — E você vai ter que voltar pra escada, mocinha. Se o Cinco chega e você tá solta…
— Diego, isso deve ser algum fetiche do seu irmão. Se ele quisesse, teria me expulsado como fez com a Lila. — Eu falo, e isso atinge Diego como um ponto fraco.
Diego não se convence de início. Leva alguns minutos e várias facas contra a parede para ele tomar uma decisão.
— Tudo bem. Mas quando ele voltar, eu te prendo de novo.
— Ótimo.
Eles nem se despedem, apenas descem as escadas e vão para dentro do carro. Quando eu escuto o barulho do motor bem longe, espero pelo momento em que Elliott se distrai e saio depressa.
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Eu pedi um táxi para voltar para casa. E depois de todos esses dias, parece que nada mudou por aqui. Todos ainda me cumprimentam como se eu fosse a celebridade do dia. Caminho direto ao escritório de Reginald, listando em minha cabeça todos os pontos que descobri sobre os Hargreeves do futuro.
Fico de frente para a porta, tomando coragem para bater, mas recuo o meu braço quando escuto mais de uma voz lá dentro. Ele está em reunião? Eu acabo escutando parte da sua conversa.
— Por favor. O mundo não vai terminar num clichê desses. Acreditem, eu entendo tudo de fim do mundo.
— Reg, com todas essas bombas e botões vermelhos, estamos bem perto do fim do mundo. Até um tolo vê isso.
— Pensem o seguinte. A teoria da física quântica, nos diz que não podemos ter certeza sobre nada, principalmente se envolve o tempo. — A voz de Reginald diz abafada do outro lado da porta. — Mesmo se você soubesse tudo o que há para saber sobre o agora, você não teria como prever o que vai acontecer. Não vivemos em um universo de regras, vivemos num universo de acasos. Alguns eventos são mais prováveis do que outros.
Do que ele está falando? É exatamente o oposto do que o seu estudo diz, e eu sou prova. Para quem ele quer vender essa teoria? Não é possível que ele acredite nessas palavras.
Eu penso em bater na porta, mas logo Grace aparece, me interrompendo enquanto chama o meu nome.
— Lillian! Como vai a sua primeira missão, querida?
Eu me afasto da porta, virando-me para ela. Ela está vestindo roupas hospitalares, e há um estetoscópio pendurado em seu ombro. Devia estar em alguma sessão com o Pogo.
— Até então estou indo bem, Grace.
— Que maravilha. Eu sabia que você ia ser ótima. É muito esperta.
— Obrigada.
— Está pensando em falar com o Reggie? Melhor esperar no seu quarto, querida, ele está em reunião.
Eu não me importaria de interromper essa reunião mentirosa.
— Vá para o seu quarto, e aproveite para levar outras peças de roupa, acho que deve estar sentindo falta. — Diz ela, com um sorriso doce. — Mais tarde podemos tomar um chá, o que você acha?
— Perfeito. — Forço um sorriso. Eu não pretendo ficar aqui por muito tempo.
Mudo meu caminho, indo de encontro às escadas que levam para o segundo andar. No meu quarto, começo a preparar uma mochila com mais roupas, e roupas íntimas. Confesso que sinto falta do conforto desse lugar, e digamos que o sofá de Elliott não chegue a esse nível.
Eu desço com a minha mochila pronta, esperando ao lado da porta a reunião de Reginald acabar. Levou cerca de meia-hora para a porta se abrir, e de lá sai os rostos que eu tanto vejo nas minhas previsões. Não todos eles, mas a maioria dos Doze Majestosos estavam nessa reunião com Reginald. Antes da porta fechar, eu a seguro, abrindo-a de volta e entrando na sala.
— Lillian? O que está fazendo aqui? — Reginald questiona, surpreso com a minha visita tão cedo.
— Trouxe atualizações. Talvez o senhor precise.
Ele me observa, pensando se vale a pena ou não. Com um gesto, ele pede para que eu me sente na poltrona à frente da sua mesa, enquanto ele volta para o seu lugar. Eu faço, adentrando mais a sala e filtrando o meu ar para que eu não respire toda a fumaça de charuto.
— Espero que relevantes, Lillian. Só temos vinte minutos.
— Bem, eu descobri que eles são irmãos. Todos eles. E dizem que foram adotados pelo senhor, em 1989…
— Eu jamais faria isso. Odeio crianças. — Ele me interrompe, mas eu continuo normalmente.
— Dizem que o senhor criou a Umbrella Academy para lutar contra o mal. Eles não se dão bem, brigam o tempo todo, e tem dificuldades em se reunir. São desorganizados, e quanto a isso, não oferecem risco algum à humanidade. Porém… Um deles, Viktor, aquele que não tínhamos informações, já acabou com o mundo uma vez, em 2019. Mas não se lembra disso.
Enquanto eu falo, Reginald escuta atentamente, anotando em seu caderno.
— Ele é o mais forte do grupo. Luther, apesar dos músculos, é sensível. E disse que morou quatro anos na Lua, a mando do senhor. Diego de fato tem um complexo de heroi. Allison, Klaus e Viktor não conheci ainda.
— E quanto ao outro rapaz? — Reginald levanta a sua cabeça para me ver.
— Bom, ele parece o mais inteligente. Conhece a viagem no tempo e é o responsável por trazer os irmãos para essa linha do tempo. Também é o que mais se esforça para resolver as coisas.
— Certo, capturamos ele então.
Eu levo um tempo para poder contestar.
— Não, o senhor não me entendeu. Essa família não quer aquela guerra, e esse homem está fazendo de tudo para que ela não aconteça. Tem que deixar ele resolver.
— Mas eu preciso de um deles de garantia. Você sabe como as coisas funcionam, Lillian.
— Se me permite dizer, essas pessoas o veem como pai. Sequestrar um deles não vai gerar uma relação boa. Sem contar que o senhor esfaqueou um deles.
— O que sugere que eu faça? — Diz ele, ranzinza, mas esperando minha opnião.
— Chame todos eles para conversar. Eles precisam disso. Talvez possam resolver o problema juntos. — Eu digo, com cautela. — Tem um motivo para essas pessoas terem superpoderes, e o senhor precisa ajudá-los. Principalmente o Viktor.
Posso perceber que Reginald considerou a minha sugestão, mas não escolhe esclarecer isso, apenas se levanta e diz:
— Continue recolhendo mais informações. Se precisar de alguma coisa, volte aqui e me fale. Leve essa carta com as suas próximas instruções.
— Sim, senhor. — Eu assinto com a cabeça, colocando a carta no meu bolso da calça e me retirando da sala.
Levo minha mochila comigo para fora da casa, e fico esperando o próximo táxi aparecer. Eu digo a parada mais próxima da casa de Elliott e faço o restante do percurso a pé. Subo depressa, antes que os Hargreeves cheguem, e guardo minha mochila no canto do quarto.
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Diego chegou primeiro, sozinho, e suponho que ele não foi atrás de nenhum dos seus irmãos, mas da namorada. Luther chegou depois, com o Viktor. Eu confesso que estava bem ansiosa para conhecê-lo pessoalmente. Ele é pequeno e gentil, eu nunca desconfiaria que ele acabou com o mundo.
— Sabiam que a gelatina já foi uma iguaria? — Diz Elliott, servindo para todos aquela mistura gosmenta em pequenos pires. — E que para fazer era preciso cozinhar um montão de cascos. De cavalo, de vaca, de porco… Não importa. Mas nem todo mundo tem um monte de cascos perdidos em casa.
— Bela observação. — Eu falo, mas ele continua.
— Foi só quando dois nova-iorquinos espertos descobriram como transformar em pó, que o resto do mundo pôde se deliciar com essa ambrosia.
— Se a gente comer, você cala a boca? — Diego diz, irritado.
— Talvez. Aqui. — Elliott começa a distribuir aquela gelatina para todos nós. Luther, em especial, faz uma cara de nojo para a iguaria colorida. Ele pergunta para o irmão baixinho sentado ao lado:
— Como é que você tá?
— Bem mal, para ser sincero.
— Onde acha que está numa escala de “zero” a “vou acabar com a vida no planeta”? — Diego provoca, desnecessariamente. Viktor bufa, dizendo:
— Sério?
— Diego, guarda essa faca, seu idiota. Ele tá bem. — Eu repreendo.
— Da última vez que eu vi esse daí, ele me levantou no ar e sugou a minha vida com tentáculos de energia. Eu tenho direito a um tempinho para entender.
— Caramba, eu adoraria ver um tentáculo de energia. — Deixo escapar.
— Eu não lembro o que eu fiz, mas me desculpa. Se é que faz diferença. — Viktor joga os braços, sem muito o que fazer. Mesmo sendo cabeça dura, Diego entende o arrependimento do irmão.
— Faz, sim. Eu tô com uns problemas agora. Tem uma… garota que eu gosto. Eu pensei que ela gostasse de mim. Mas parece que ela é… — A porta principal da loja se abre, interrompendo Diego e trazendo novas vozes
— Graças a Deus. — Luther se levanta, saindo da roda de conversa chata que estava tendo, e se apoia no parapeito para observar as pessoas no andar de baixo.
— Tem alguém aqui? Oi? — Uma voz feminina ecoa, rindo, e percebo outra voz se sobrepondo a dela. Me junto ao Luther no parapeito e encontro Allison e Klaus lá embaixo. Todos os que eu não conhecia estão presentes aqui, Cinco conseguiu trazê-los.
Viktor desce as escadas, encontrando Allison. Eles hesitam por um momento e se abraçam. Todos eles se abraçam, deve ser a primeira vez juntos depois de terem sido jogados nessa linha do tempo.
— Klaus, o Ben tá aqui? — Cinco pergunta ao irmão, que responde com pesar:
— Ah… não. Não, infelizmente fantasmas não viajam no tempo.
— Tá legal, então. Vamos começar de uma vez. — Cinco sobe a escadaria, sendo seguido por seus irmãos. Ele me encontra de pé aqui e faz uma cara confusa, mas deixa de lado para começar a reunião de família. Eles se acomodam e eu fico de pé, ao lado do abajur de chão, com uma só perna sentada no braço do sofá. — Tá legal, primeiro eu quero pedir desculpa. Eu sei que errei feio com essa história de voltar no tempo e prender todo mundo aqui. Mas a pior coisa mesmo foi a gente ter trazido o fim do mundo junto com a gente.
— Meu Deus do Céu, de novo? — Klaus exclama. Os seus irmãos concordam em silêncio. — Vocês já sabiam? Por que eu sou sempre o último a descobrir sobre o fim do mundo? Ah, meu Deus… Minha seita vai morrer de ódio. Cinco! Eu falei que tínhamos até 2019.
Morrer eles vão mesmo.
— Temos até segunda. São seis dias.
— Vai ser o Viktor?
— Klaus!
— Quê, gente? Costuma sempre ser o Viktor.
— Você tem alguma pista, Cinco? — O irmão acusado em questão pergunta.
— É, tenho uma. — Cinco fala, pegando a foto de Reginald no dia do assassinato do Kennedy. Allison se choca, pegando a foto para ver de perto.
— Puta merda, é o papai?
— É. E ele está na praça.
— Eu e o Diego… E a Lillian, temos tentado falar com o papai sobre o que isso significa. Mas até agora nada.
— Como assim, “nada”? Sabemos que ele planeja matar o Kennedy. — Diego exclama, contradizendo o irmão.
— Talvez, mas não sabemos quem ou o que desencadeia o fim do mundo. Pode ser o Kennedy, ou algo independente dele. Mas alguma coisa muda a linha do tempo e temos que acertar as coisas.
— Como acertar, se não sabemos o que tá errado? — Allison diz:
— Qual é? Faz as contas. Sabemos que o papai tá fazendo reuniões com pessoas suspeitas, e que ele vai estar na praça em três dias para matar o presidente. Então acho que sabemos o que temos que fazer. — Diego conspira outra vez, se colocando ao lado de Cinco. Eles criam suspense para dizer a mesma coisa juntos, mas não é bem isso que acontece.
— Encontrar o papai.
— Matar o papai.
— Se você mata a pessoa que te adotou, a sua vida inteira muda, imbecil. Pode até não estar mais vivo. — Eu digo, impressionada como ele nunca entende. Se sentindo ameaçado, Diego pega uma de suas facas, mas Cinco entra na frente, impedindo tal ação.
— Por mais que eu odeie dizer isso, Lillian está certa.
— Não era pra nenhum de nós estar aqui, lembram? Quer dizer, e se formos nós? Mais alguém fez alguma coisa pra estragar a linha do tempo? — Viktor traz outro ponto de vista. Eles se entreolham, em silêncio, até começarem a disparar suas acusações.
— Diego anda perseguindo Lee Harvey Oswald.
— E você trabalha pro Jack Ruby.
— A Allison é bastante envolvida na política local.
— Tá, e você criou uma seita.
— Eu sou babá numa fazenda. Não tenho absolutamente nada a ver com isso.
— Talvez tenha, só não sabemos ainda. — Eu falo. Diego assovia, trazendo a atenção de todos.
— Escutem. Tudo em nossas vidas novas está ligado ao Kennedy. Não pode ser coincidência. Luther trabalha pro Ruby, Allison protesta contra o governo, nosso pai vai até a praça, o Klaus… tá fazendo uma coisa bizarra, mas deve ter relação. Viram? É claro que fomos enviados para cá por um motivo especial: salvar John Fitzgerald Kennedy.
Eu reviro os olhos.
— Não tem propósito, Diego, o seu irmão só errou os cálculos, não foi? — Eu me sinto falando com alguém com a capacidade cognitiva de uma criança de sete anos.
— Galera, vocês todos morrem. Eu tava lá, eu vi. Eu tento esquecer, mas não dá. — Cinco fala, o olhar baixo e angustiado. — Eu vi mísseis russos desintegrarem o mundo com vocês dentro. Em uma guerra que nunca aconteceu até a gente trazer ela pra cá. E o Hazel perdeu a vida pra nos salvar. Então vocês precisam calar a boca e me ouvir agora.
Surpreendentemente, eles param de discutir.
— Eu não sei se as coisas que vivemos aqui estão conectadas. Eu não sei se existe um motivo pra tudo isso. Mas nosso pai vai saber. E temos que falar com ele antes que tudo e todos o que conhecemos morra.
O poucos segundos de reflexão terminam quando Luther se levanta, desistindo.
— Tá legal, tô fora!
— Por acaso você me ouviu, Luther?
— É, eu ouvi. Ouvi um homem de 36 anos que ainda quer que o papai dele venha resolver tudo. Então não conta comigo. Tá na hora da gente crescer, galera. — Luther vai embora, mesmo com todos os seus irmãos pedindo para ele voltar.
Diego e Cinco vão atrás dele, tentando fazê-lo mudar de ideia, e conhecendo pouco deles, isso pode levar a tarde inteira. Klaus decide chamar sua irmã para beber, que aceita no mesmo momento. Ele convida Viktor, que receoso pergunta se isso tem como acabar com o mundo. Eles tentam me juntar ao grupo e beber, mas eu tenho que estar sóbria para a minha missão, então recuso.
Fico esperando os meninos voltarem com alguma resolução, e como minha pena, tenho que escutar Elliott dizer curiosidades e contar a história da evolução dos televisores por quase quatro horas.
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No fim do dia, eles voltam, mas já é tarde demais porque metade da sua família está ficando bêbada em um salão de beleza. Eles contam entre si o quão bizarro foi receber um convite de um jantar com Reginald amanhã, à noite. Disfarço o sorriso e fico feliz por dentro, sabendo que Reginald descartou, por enquanto, a ideia de sequestrar um deles.
Cinco parece cansado, e um corte na parte superior da sua bochecha, que não estava lá no momento da reunião, mostra que ele estava ocupado com outras coisas. Agora que tudo está calmo e silencioso, ele se aproxima de mim, como se quisesse passar um tempo jogando conversa fora.
— Olha, não sei quem autorizou você a sair do seu cantinho do castigo, mas aqui está a comida que eu trouxe. — Cinco me entrega um pacote bem amassado, e a logo impressa no papel sugere que é comida mexicana.
— Estou sem fome.
— Come! Foi difícil pegar isso aí, sabia?
Eu observo o seu rosto, tentando descobrir pelas suas expressões se essa comida está envenenada. Mas ele está normal, com sua cara de mal amado de sempre.
— Valeu. — Eu pego o pacote, considerando o seu esforço, e saio dali.
Ficar na presença dele, ainda mais em particular, está cada vez mais difícil. É muito melhor quando tem outras pessoas por perto, porque assim eu não penso só sobre o que aconteceu ontem.
Foi estranho, e eu não consigo esquecer.
Peço licença para Elliott, passando pelo seu corredor para chegar ao armário da dispensa, agora reformado para um quarto escuro para revelar fotos. Eu acendo a luz, mas é uma lâmpada vermelha, então ainda assim as coisas aqui dentro não ficam muito nítidas.
Eu fecho a porta, me sentando na cadeira que há aqui e abro o pacote que Cinco trouxe. Vai ser bom ficar sozinha, nem que seja por alguns minutos, talvez assim eu coloque a minha cabeça no lugar.
Será que Reginald realmente acreditava no que estava falando? Se não, porque exibia aquele discurso? O sentido da vida, e de tudo o que eu aprendi, entrou em contradição. Começo a duvidar das minhas próprias habilidades, mesmo que a minha porcentagem de erro seja minúscula. Apesar de existente.
Pode ser disso que Reginald estava falando.
Qualquer acéfalo pode prever certos movimentos alheios. Qualquer ser humano sem poderes pode dizer que toda noite o Dr. Miller toma um chá e lê um livro na varanda, com pantufas. Isso são hábitos rotineiros, mas o Charles é uma das pessoas mais previsíveis que eu conheço, é possível saber quando ele irá se irritar ou se acalmar e dar um conselho.
Já outras não.
Reginald é uma delas. Sua grande influência na política e ciência o faz ter total livre arbítrio. Ele pode pegar um avião amanhã para Tóquio se seus cientistas avançarem nos estudos. Porque ele pode. É um tipo de poder que deixa a própria linha do tempo refém das suas mudanças, e por vezes eu posso acabar errando.
É uma boa explicação, de fato convincente.
Mas e Cinco?
Qual tipo de poder ele tem para não me deixar ver o seu futuro com facilidade?
O teletransporte e a viagem no tempo? Não. Não pode ser só isso.
Tudo bem, ele tem uma liberdade de locomoção significativamente maior que outras pessoas. E pode ser mais complicado saber onde ele vai estar, porque ele pode estar em qualquer lugar a qualquer momento. Mas e quando ele está bem na minha frente, e meu coração bate tão rápido que parece explodir, por que não consigo ver minhas próprias futuras ações?
Ele é esperto. Eu gostaria de dividir esses problemas com ele e conhecer seu ponto de vista, mas não é um assunto que eu deva compartilhar.
Os tacos até que estavam bons. Não havia veneno ou drogas para me apagar. Mesmo depois de terminar a comida, continuo parada aqui. A luz baixa parece me trazer outra perspectiva de tudo.
Principalmente do meu futuro.
Chega a ser cômico o quanto eu prevejo o futuro todos os dias, inconscientemente, e ainda assim eu dou a mínima para o meu. Não me arrisco a ver como eu vou estar daqui trinta anos, mas, antes dos Hargreeves chegarem, eu via a minha situação não mudar por anos. Sem pessoas novas. Sem hobbies. Sem um propósito a não ser trabalhar para Reginald e seus colegas empresários.
O velho deixou claro que deveria ser assim. Para eu não ter distrações. E, porra, ele estava muito certo. Não faz nem uma semana que conheci alguém novo e estou completamente distraída. Não consigo focar na minha missão, não consigo sequer focar no futuro quando preciso. Tamanha é essa desatenção que esqueço que um dia vou voltar para aquele laboratório.
Como um rato. Que fugiu da gaiola, mas será pego de volta.
E eu não sei se quero voltar.
Pode ser minha extrema falta de socialização com novas pessoas, mas os Hargreeves me entreteram muito nesses últimos dias. Disfuncional, macabra e desunida família? Sim. Mas cativante.
Interrompendo meus devaneios, a porta na minha frente se abre, bem devagar. De início, vejo apenas uma mão deslizar pela lateral da porta, com um relógio no pulso que reflete as características de seu dono. Não preciso esperar Cinco entrar para revirar os olhos.
— O que tá fazendo aqui? — Pergunta ele, ainda em dúvida se fecha ou não a porta. Por mais incrível que pareça, seu tom era baixo e amigável.
— Nada.
— Comeu?
— Sim.
Não é por mal, mas eu estava em um bom momento de reflexão até ele entrar.
— Que cara é essa? — Ele toma uma decisão, e fecha a porta, puxando a outra cadeira para sentar do meu lado. — Tava ruim?
— Não, a comida tava ótima. Eu só estou aproveitando a minha companhia.
— Tá pensando em quê? — Ele se interessa.
— Não é da sua conta.
— Olha, se tem a ver com a minha família, eu peço desculpas por eles serem assim. Você com certeza não tá acostumada com famílias desse jeito.
Eu dou de ombros, porque em partes é verdade. Cinco avista uma fileira de latinhas de cerveja na parte inferior do balcão, e pega uma delas, abrindo o lacre.
— Como é a sua?
Eu não acredito que isso está acontecendo. Cinco interessado na minha vida particular. É tão estranho que eu nem sei por onde começar.
— Pode falar. Não deve ser pior que a minha.
— Eu não tenho contato com a minha família há muito tempo. — Eu digo, olhando para a parede em minha frente e evitando os olhos de Cinco.
— Brigou com eles, foi?
— Tem uns dez anos. Eu fui embora cedo, e isso chateou eles porque os planos deles eram diferentes dos meus.
— Que coisa. Agora você mora sozinha?
— Não vou te dar essa informação, você sabe que eu não sei me defender.
— Tá, você tá certa.
Ele bebe um pouco mais, e deve achar que eu realmente moro sozinha em algum apartamento no centro da cidade, ganhando a vida vendendo minhas previsões ou algo do tipo que passe pela sua cabeça.
O nosso silêncio vai ficando mais desconfortável, já que nossa relação desde o princípio foi instável. Ele não confiava em mim, só por isso já era cansativo, e quando passou a confiar, plantou uma relação íntima que acabou no mesmo momento.
Ele sim é instável.
Imprevisível.
Desgraçado.
— Você estava certa sobre a Lila. Ela trabalha para a minha antiga empregadora, e se infiltrou no manicômio com o Diego meses antes de eu chegar. — Cinco diz, deixando a latinha vazia sobre o balcão, se espreguiçando em sua cadeira.
— Cacete… Foi ela que fez isso com você? — Eu pergunto, olhando fixamente para o seu machucado no rosto. Cinco apenas balança a cabeça. — E o que ela iria fazer?
— Me matar? Me levar de volta pra lá? Não sei. Mas a minha ex-chefe me ofereceu uma proposta.
— Qual? Cumprir o restante do seu contrato? — Eu falo. Cinco me olha estranho, se perguntando como sei disso. Ele esqueceu que tem um irmão tagarela.
— Não. Assassinar a diretoria da Comissão, em troca de uma passagem de ida para 2019. Sem nenhum dos dois apocalipses. Mas, sabe, eu não confio nela…
— Novidade.
— …sei que ela não vai jogar limpo. E não quero arriscar. Quero continuar com o meu plano inicial, juntar meus irmãos de novo, talvez.
— Bom, você ainda tem uma chance. Seus irmãos também receberam o convite para um jantar com Reginald. Tenta conversar com ele.
— Você pode me dizer o que vai acontecer nesse jantar? — Ele se vira na cadeira para ficar de frente para mim, me observando sem piscar, esperando minha resposta.
Eu fico um pouco nervosa, ele ainda não sabe que meus poderes ficam vulneráveis com ele.
— Vou tentar.
Fecho os olhos e me concentro, procurando as minhas memórias de amanhã à noite. Passo por centenas de lembranças que me trazem déjà-vu o tempo todo, mas enfim encontro. Todos os irmão dele estão presentes, sentados em seus lugares em uma mesa redonda.
Vejo Reginald entrar, se juntar a eles e fazer diversas perguntas. Em certo momento, as coisas fogem do controle, Klaus desaba da cadeira e Viktor acaba espalhando comida em todos eles. O jantar parece terminar por ali, todos vão embora, porém Cinco permanece.
Ele tem uma conversa particular com Reginald, enquanto bebem, mas eu não consigo entender o que falam. Minha visão começa a perder a cor e voltar de repente. Vez ou outra, a imagem que tenho deles se transforma numa névoa, e eu os perco de vista como se eu tivesse perdido minha concentração.
O que não faz sentido para mim.
Eu ainda estou nessa visão, não estou pensando em nada mais. Entretanto, toda vez que vejo Cinco, essa névoa volta e eu me perco naquela linha do tempo. Quando estou prestes a ir embora, voltar para o meu presente, consigo ver através da imagem embaçada Cinco mudar a sua atenção.
Ele olha para trás, exatamente para mim. Isso, no presente, me causou graves frios na barriga. Cinco olha para mim por um tempo e dá um sorriso, fechando os olhos, como se estivesse se comunicando comigo. Bizarro. Após esse evento, eu abro os olhos de uma só vez, encontrando o Cinco do presente com os olhos arregalados para mim.
— Caramba, você tá suando demais. Tá tudo bem? Quer água?
— Não, eu tô bem. — E não é mentira, só estou assustada com a sua interação do futuro. Bom saber que Cinco ainda consegue me enxergar. — Você vai conseguir falar com ele sobre o apocalipse.
Ele escuta as minhas palavras com atenção, balançando a sua cabeça. Cinco suspira, dizendo em seguida:
— Espero que dê certo. Obrigado pela… ajuda.
Eu assinto com a cabeça, me levantando. Ele não estava encerrando a conversa, mas eu estou. Se eu ficar mais um minuto na sua presença, vou ficar mais tonta do que já estou. Eu peço licença para passar, porque a dispensa não é tão grande e suas pernas estão no meu caminho.
Mas ao invés de mudar sua posição, Cinco se levanta. O espaço fica ainda menor. Suas mãos parecem hesitantes, sem ter uma ordem concreta vindo de seu cérebro para determinar sua função. Ele olha para os dois lados, e eu não consigo imaginar o que possa ter deixado Cinco receoso em me falar algo.
Suas mãos finalmente encontram um lugar. Se apoiam em meu quadril, e ele inclina um pouco sua cabeça para o lado, demonstrando menos hostilidade que o de costume. Mesmo que essa iluminação avermelhada o deixe mais assustador.
— Você pode ver mais do que isso? Pode ver se o apocalipse ainda acontece? Se estamos no caminho certo? — Ele diz. Ou eu acho que foi isso o que ele disse. Eu estava muito mais concentrada em suas mãos quentes contra o meu quadril.
— Cinco, eu…
— É só isso que eu preciso saber.
— Eu não consigo ver nada. Não com você aqui.
Principalmente agora que estamos tão próximos. Sem chance.
— Comigo?
— É, eu não me concentro. — Falo, soando o mais profissional possível, tentando mostrar que é pela sua pose intimidadora, e não porque estou morrendo de vontade de jogar meus braços sobre seus ombros.
— Você fica nervosa comigo, é? — Ele abre um sorriso divertido. Apenas para ele. Estou odiando.
— Não. É porque se eu errar, você vai me matar.
Não. Com certeza não é por isso, e eu acabei de inventar.
— Eu não vou te matar, Lily, que exagero.
Ai, meu Deus. Ele consegue sentir minhas pernas tremendo?
— Sei lá, é o que eu penso.
— Fica tranquila. — Cinco se aproxima mais. Meu coração bate mais rápido. Ele deve ter sentido isso quando juntou nossos corpos em um abraço fraco. — Eu sei como a linha do tempo é maleável.
— Sabe como é difícil prever o seu futuro? Você tá sempre se teletransportando, é complicado te achar. Eu não consigo ver o que você vai fazer.
— Não consegue?
— Nem sempre.
— Agora você consegue? — Ele me observa, seus olhos contraídos explicitamente flertando comigo. Minha barriga congela. Eu desvio o contato várias vezes, tentando enxergar os próximos segundos, mas é impossível.
— Não.
— É?
Eu fico imóvel, sentindo suas mãos subirem para a minha cintura, ao passo que ele cola nossos corpos por completo, me pressionando contra o balcão. Seu rosto chega mais perto de mim, passando pelo meu colo, se apoiando sobre o meu ombro. Cinco aproxima seu nariz do meu pescoço, e eu posso sentir o ar sair, como um leve vento frio que me arrepia, e entrar, como se puxasse para si o meu perfume.
Ele pressiona seus lábios na minha pele.
Isso me faz virar a cabeça e sentir que não tenho controle sobre meus músculos inferiores. Quero sair, mas não consigo porque tenho absoluta certeza que minhas pernas vão falhar. Se isso acontecer, Cinco fará um bom trabalho me segurando, pois a forma que aperta a minha cintura, descendo para o meu quadril, não vai me deixar ir tão longe.
— Tô te assustando?
— Não. — Eu falo, me mantendo firme. — Tá me confundindo.
— Não estou. Você é esperta, sabe o que tá acontecendo.
— Você disse que não iria acontecer de novo.
Ele solta uma risada pelo nariz, bem fraca, como se debochasse.
Sem dizer mais nada, ele agarra a minha cintura e pressiona sua boca na minha. Com a outra mão ele segura a minha cabeça, dominando todos os movimentos que fazemos. Ele me empurra cada vez mais contra o balcão, e a temperatura dessa sala esquenta drasticamente.
Suas mãos descem, apertando meu quadril, apertando um pouco mais a minha bunda e agarrando as minhas coxas. Com um impulso, ele me coloca sobre o balcão, alternando seus beijos entre minha boca e o meu pescoço. Quando sinto sua mão fria entrar na minha camiseta, me afasto para olhar os seus olhos.
— O que você quer?
Ele junta suas sobrancelhas.
— Acho que tá claro.
Mais uma vez ele enterra sua cabeça em meu pescoço, me beijando com pressa. Por mais que eu queira, não sou capaz de impedí-lo. Gostaria de dizer para ele procurar outra pessoa com quem brincar com os sentimentos, dizendo que eu não aceito isso, mas pelo fato de eu não conseguir ir contra os seus toques, acho que sou exatamente a garota burra que ele quer.
Sua mão segue o percurso que antes foi interrompido, e eu sinto seus dedos gelados arrepiarem as minhas costas. Enquanto sua boca beija a minha, com rapidez e sem fôlego, seus dedos abre o feche do meu sutiã de uma vez só. Me sinto absurdamente mais confortável assim, relaxando no balcão, mas logo lembrando que é o Cinco quem está se colocando entre as minhas pernas.
Eu realizo meu desejo de apoiar meus braços sobre seus ombros e trazê-lo para mais perto, involuntariamente prendendo sua cintura com as minhas pernas. Eu nem me lembro qual foi a última vez que eu fiz isso num homem. Aparentemente acertei no movimento, pois Cinco desce suas mãos para o meu quadril, também o puxando para si. Ele está cada segundo mais forte, apertando minha coxa e minha bunda de uma forma que certamente deixará marcas.
Enquanto morde meu lábio machucado, eu levo minhas mãos até o seu blazer, empurrando-o para sair de seus ombros, e desejando que todas as roupas dele estejam no chão. Mas ele me impediu, segurando o meu pulso direito, e finalizando um beijo tão intenso com leves selinhos.
— O que foi? — Eu pergunto, tentando decifrar suas expressões, porém me sinto zonza após seus toques.
Ele mexe no bolso de seu blazer, olhando fixamente nos meus olhos.
— Não é nada. Eu tenho que ir.
Minha indignação, de queixo caído, fica aparente para ele. Eu sabia que não passava de outra brincadeira de mal gosto. Ou bom gosto, na verdade, tinha gosto de café.
— Você é bipolar ou algo assim?
— Eu sou ocupado.
Eu solto uma risada pelo nariz, saltando do balcão para o chão. Ainda assim, observando seu rosto com a luz avermelhada tão perto de mim, me dá mais vontade de colocá-lo sentando nessa cadeira e agarrar o seu rosto. Mas suas sobrancelhas juntas, com seu olhar rude de sempre, dizendo que isso não vai acontecer.
— Tá, tá, pode pelo menos fechar o que você abriu? — Eu peço, visivelmente irritada por não atingir esse objetivo.
Me viro de costas, levantando minha camisa. Escuto Cinco estalar a língua, chegando perto para fechar. Algo que ele não faz com tanta rapidez quanto abrir. Quanto sinto firmeza no sutiã, abaixo a minha camisa. Sinto ele, e seu calor corporal, chegar perto da minha nuca, e Cinco beija novamente o meu pescoço, deixando a sala com o seu teletransporte.
Indelicada a forma como ele sempre vai embora desse jeito.
◆ 6.644 palavras
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ai gente... 💀
se eu soubesse que a gente esperar 2 anos pra receber essa temporada...
nesse perfil nao aceitamos o triângulo amoroso dessa 4° temporada 🚫 portanto, uma nova história, totalmente canônica (tirada da minha cabeça) está sendo escrita simultaneamente com essa, com um final 3920% melhor que o da Netflix.
se os capítulos atrasarem aqui, esse é o motivo
Anacronia novamente injustiçada tendo que dividir a minha escrita com outras histórias 😔
bjs curupiras calibrados 🧡
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