𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 2

CAPÍTULO 2

Missão 1: Trazer o grupo desconhecido para a base.
Dallas, Texas - 15/11/1963

Siga os passos:

Aproximar-se deles;
Conquistar a suas confianças;
Descobrir o que querem;
Atraí-los para a base, dizendo que tem a solução para o que procuram.

Não seja descoberta.
Não revele sua missão.
Não crie vínculos.

São instruções vergonhosamente básicas. Talvez por ser a minha primeira missão, Reginald pensa que vou me sair mal. Bem, não posso garantir que serei como os agentes do FBI, mas é claro que não vou revelar minha missão. Eu também não confio nessas pessoas.

Para me preparar para a minha primeira missão, o chefe de segurança de Reginald me treinou desde o dia que assistimos as fitas. Agora, se alguém quiser me golpear, eu sei pelo menos desviar.

— Já esperamos tempo demais. A sua visão vai acontecer daqui dez dias. É o tempo que você tem para cumprir os passos que eu determinei. Você terá quinhentos dólares e uma arma carregada, use-os com sabedoria. Minha equipe ficará a uma distância de cem metros de você. Só desista da missão em último caso. O plano B é trazê-los à força e isso não vai dar uma boa impressão, não é mesmo?

Passamos os últimos onze dias arquitetando maneiras convincentes de me aproximar deste grupo, e eu fiquei noite e dia analisando seus comportamentos. Com exceção do primeiro homem. Por algum motivo, não encontraram ele em lugar nenhum.

— Recapitulando. São seis pessoas, até agora cinco localizadas, que estão espalhadas por Dallas. Allison é cabeleireira e há dados de sua primeira aparição em 1961, constantemente faz protestos em cafeterias locais. Klaus, ou também conhecido como O Profeta, tem registro da sua primeira aparição em 1960, e atualmente lidera uma seita, onde diz saber acontecimentos futuros e… — Dr. Miller explica, mas logo é interrompido pelo comentário de Reginald.

— Está começando a alienar as pessoas há um tempo. Somente Lillian tem capacidade de ver o futuro.

— Luther, o cara fortão, é segurança pessoal do gangster Jack Ruby, também lhe rendendo dinheiro com lutas clandestinas. O outro cara chegou recentemente, e foi enviado para um hospital psiquiátrico com alegações de insanidade. Segundo os enfermeiros do local, Diego sofre do complexo do heroi, e em seus delírios ele pretende salvar o presidente J. F. Kennedy de um assassinato em plena luz do dia. — Miller ri, sarcástico, não acreditando no nível de seriedade desse grupo. — Quanto ao último, não há registros de seu paradeiro. O outro homem, de terno e gravata, também não foi visto. Todos os identificados alegam que seus sobrenomes são… Hargreeves.

Bom, então eles sabem com quem estão mexendo.

— Tome cuidado com esses dois, Lillian. Não sabemos nada sobre eles, e isso nos põe em desvantagens. — Reginald aconselha, voltando a sentar em sua poltrona.

— Sim, senhor.

— Agora vá. E só volte com um deles amarrado em você. — Reginald diz, me olhando por um segundo, e continua escrevendo em seu papel.

A sensação de ter sido jogada à própria sorte nessa enorme missão não é boa. Terei reforço dos seguranças de Reginald caso necessário, mas todo o resto é por minha conta. Ao longo dos anos, vi agentes dele não voltarem. Ou voltarem abalados física e psicologicamente. Eu sou a parte do projeto que fica dentro dessa fortaleza escondida e seguindo ordens, vez ou outra sendo servida.

Agora sou eu quem vai ao combate e, sinceramente, onze dias de treinamento não são nada.

Eu assinto com a cabeça, pegando a bolsa com o dinheiro e a arma dentro. Aceno em despedida para Reginald, mas ele não vê. Dr. Miller, pelo contrário, acena de volta para mim dizendo:

— Boa sorte, Lily.

— Obrigada, doutor.

Respiro fundo e saio da sala, caminhando numa linha reta para sair desse corredor. Eu vou rápido, porque se eu pensar demais, posso acabar desistindo.

Aqui do lado de fora, ao entardecer, tudo parece muito tranquilo. Se há seis pessoas com superpoderes em Dallas que vão acabar com o mundo, estão sendo bem discretas. Reginald e Miller traçaram alguns planos no qual eu poderia seguir, mas quero fazer do meu jeito. Se vai dar certo ou não, minhas visões vão me alertar.

Eu pego um táxi para a boate que Jack Ruby costuma frequentar às sextas, provavelmente Luther também estará lá fazendo sua segurança. Tratei de me vestir a caráter. Não quero que me confundam com as strippers de lá, mas eu preciso chamar um pouco de atenção. Enquanto o carro se aproxima do local, eu abaixo a barra do vestido para mais perto do joelho, me sentindo incomodada com tanta exposição.

Eu desço do carro, deixando gorjeta ao motorista. Observo as luzes vermelhas do letreiro da boate, tomando coragem para entrar lá. Não estive em muitas dessas na minha vida. Caminho devagar entre homens bêbados e mulheres com pouca roupa servindo-os. Procuro disfarçadamente o cara alto e musculoso. Deve ser fácil achá-lo nesse mar de pessoas.

Apoio minhas costas no balcão e examino com os olhos. Alvo identificado. Luther está de pé do lado direito do salão, sendo guarda-costas de Jack Ruby. Uma das dançarinas chega perto de Jack, que interessado, dispensa Luther com um aceno desdenhoso. O grandão começa a caminhar entre a mesa e as pessoas, e minha concentração em seus passos é tão grande que posso ouvir o toque de suas solas no chão em meio ao jazz.

Entretanto, a concentração vira pânico quando vejo que ele está vindo em minha direção. Eu disfarço, olhando ao redor, virando de costas e fingindo escolher uma bebida, mas em todo momento escutando os seus passos pesados e característicos se aproximarem.

Ficam mais alto, mais perto, até que o balcão estremece e afunda no lado que o homem se apoia. Está bem do meu lado. Luther pede uma dose ao barman, e eu continuo fingindo que não notei sua presença. Uma mulher, com um sorriso simpático e copos vazios de bebida na bandeja, se aproxima de Luther. Se cumprimentam como amigos. Eu finjo estar interessada no outro lado do salão apenas para ouvir melhor a conversa deles.

— Vendendo muito, Autumn?

— Estou esperando os clientes ricos chegarem.

— Quem é o pateta incomodando o Sr. Ruby?

— Eu não sei, mas ele tá virando um drinque atrás do outro. Como se o limão do mundo fosse acabar. — A mulher ri, mirando na direção do gângster. Eu peço uma dose, só para ter um motivo para continuar aqui e ver onde isso vai dar.

— Ah, é? Ele incomodou você? — Pergunta Luther para a mulher.

— Ainda não. Estou mais preocupada com aquele cara na frente do palco. Parece nervoso demais, vai arrumar uma confusão.

Luther parece reconhecer o cara em questão, inclinando seu queixo. Ele avisa a mulher que irá trocar uma palavra com esse homem, logo deixando o balcão. Eu abaixo a cabeça para não esbarrar o meu olhar com o de Luther. Ele saber que eu estive seguindo-o pode não ser vantajoso para mim no futuro.

Após alguns minutos, que passei consumindo vodca por vontade própria, tentando me manter focada, Luther retorna ao balcão. Dessa vez, ele discute com aquele homem, e fica cada vez mais claro que se conhecem. À medida que eles chegam perto e eu disfarço meus olhares, consigo ter certeza que esse homem é aquele no qual ainda não identificamos. Aquele que saltou de uma anomalia temporal e encontrou o mundo em guerra. Aquele que me perturbou com o seu olhar aflito, que parecia me enxergar e pedir ajuda.

Ele está bem aqui. À cores e mais real que nas televisões travadas do laboratório.

— Qual é o seu problema, Luther? — Ele diz entre os dentes para o grandão. — Eu acabei de dizer que o mundo acaba em dez dias.

— É, mas você sempre diz isso.

— E, até agora, eu não errei.

— Olha, você quer salvar o mundo? Manda ver, tá legal. Porque eu já tenho um emprego.

— Espera aí, você trabalha nessa espelunca? — O homem pergunta, com desprezo.

— É, o meu chefe é o dono daqui. Sou o segurança dele.

— Você faz o quê? Fica segurando as coisas dele?

— Pode me zoar como quiser, mas eu estou cuidando bem do Sr. Ruby.

— Ruby? Jack Ruby, o gangster que matou Oswald?

Isso tá ficando interessante. O homem ri pelo nariz, dizendo em seguida:

— É, finalmente aconteceu. O DNA de gorila tomou conta do seu cérebro.

— Olha como fala. O Jack é meu amigo.

— E você é o Número Um. Numero Uno, lembra?

— Não existe mais Número Um. Não aqui em 1963. Olha, eu tô preso sozinho aqui há um ano. O que você esperava?

— Eu entendo, tá bem? Você viu o Pogo morrer, o mundo explodir e eu isolei a sua bundona de macaco no tempo. Me desculpa, tá bom? — O rapaz diz, se alterando. Não posso deixar de notar a menção que ele fez ao Pogo. Será que é o mesmo Pogo, o chimpanzé filhote, que divide aulas no laboratório comigo? E porquê esse cara faz tantas referências aos símios? Será só pela semelhança de Luther a eles ou existe algo a mais? — Mas eu tô aqui pedindo a sua ajuda, Luther. A Umbrella Academy precisa de você.

Umbrella Academy? Por que raios existe uma academia com o nome da empresa de Reginald?

— Não precisa. Nunca precisou.

— Luther, querido, o Jack vai perder a paciência com aquele pateta, pode ajudar? — A mulher que antes conversava com grandão aparece, interrompendo a conversa deles.

Luther resmunga um palavrão, se preparando. O homem ao seu lado não se contenta com o encerramento e vai atrás, pedindo que o espere.

— Escuta! Você é o gênio que disse pra gente voltar no tempo, né? Você jogou a gente aqui. E você também salvou o Viktor. Então, se o fim do mundo está chegando, ele deve ser a causa. E, se eu fosse fazer alguma coisa a respeito, com certeza não seria com você.

Eu assoviaria pelo desabafo de Luther, mas eles não podem saber que eu escutei.

Luther vai embora, intimidando aquele que tira a paz do seu chefe, deixando o outro rapaz à deriva. Seu rosto transparece o quanto se sente desamparado, mas pela forma como balança a cabeça em negação, não é isso que ele quer que predomine. Ainda posso escutá-lo resmungar para si:

— O papai devia ter deixado ele na Lua.

O homem passa mais alguns minutos sozinho, terminando sua bebida. Não percebe a minha presença. Por algum motivo, ele parece o mais provável líder desse grupo, se eu tenho que obter informações, será com ele. Só preciso achar uma forma de fazer isso. Se contar que em trinta minutos eu tenho o nome de Pogo vindo deles, uma suposta Umbrella Academy e uma suposta vinda do futuro, então estou me saindo bem nessa missão.

Eu tenho pouco tempo para achar uma maneira de conquistar a confiança desse homem. O que, honestamente, julgando pela forma que ele observa as pessoas, não é uma tarefa fácil. Enquanto eu pensava em planos mirabolantes, o homem terminava a sua bebida, e ao descer da banqueta, ele deixa algo cair no chão. É a deixa perfeita que eu esperava.

O homem segue em direção à porta de saída e eu me apresso para pegar o objeto do chão. Pensei ser sua carteira, mas é uma fita de vídeo com nome de “vídeo dos Frankel”. A data é uma parte curiosa, pois se trata de uma gravação feita em 22 de novembro, daqui a sete dias. Morro de curiosidade em levar essa fita para revelar e descobrir porque esse homem levava isso no bolso. Mas se eu não sair agora, vou perdê-lo de vista.

Já posso assumir que pelo menos parte desse grupo veio do futuro.

Eu deixo meu copo pela metade no balcão e ando calmamente atrás desse homem. Consigo vê-lo deixar o bar e virar à direita, então faço o mesmo trajeto. Passo em meio às pessoas bêbadas, mantendo meu olhar fixo nele. Não é tão difícil, meu olhar naturalmente se prende a ele como se fosse o maior campo eletromagnético.

Agora na rua, confiro os dois lados, por precaução, e encontro esse homem seguir caminho, atravessando a rua na calçada à minha direita. Me apresso como quem quer devolver rápido o seu pertence, e em meio disso preciso abaixar o meu vestido. Talvez pelo barulho dos meus saltos baixos, ele tenha olhado para trás, mas não achou que era em sua direção que eu estava correndo feito idiota, então ignorou.

— EI! — Me dou o trabalho de chamar a sua atenção.

Ele se vira para trás outra vez, e agora para no meio da calçada para me escutar. Recupero o fôlego, que facilmente se esvai quando seus olhos observam diretamente os meus pela primeira vez. Ele me olha com desconfiança, apenas fazendo um gesto para que eu diga porquê o fiz parar no meio da noite.

— Acho que isso é seu. — Eu mostro a fita, mas não entrego. O homem confere seus bolsos, e seu rosto se torna pensativo por uns segundos.

— Obrigado. — Ele estende sua mão para pegar, mas ainda assim não entrego. Deve ter um certo valor para ele.

— Acabei vendo que tem uma data diferente, está como daqui sete dias. Curioso, né? — Comento, casualmente.

— É, eu escrevi errado. — Ele diz, como se tivesse acabado de inventar isso.

— Aquele cara lá dentro é seu amigo? Irmão?

— Não é da sua conta. Pode me devolver a fita?

Eu brinco com ela em minhas mãos, virando-a de um lado para o outro. Deixo a fita em sua mão, mas digo séria, como um aviso:

— Boa sorte tentando salvar o mundo. Vocês não vão conseguir sozinhos.

Me viro de costas e sigo o lado oposto. Reginald certamente odiaria o meu plano, mas se não der certo, ainda tenho outras cinco pessoas de quem conquistar a confiança.

— Do que você está falando? — O homem diz mais alto, agora um pouco distante de mim. — Como sabe disso?

— Eu sei de muita coisa.

Se ele se sente desamparado como eu imagino, após a recusa de Luther a participar de sua equipe, então deve estar aceitando ajuda de todas as direções. Tenho a confirmação disso quando escuto passos, pois agora é ele quem está correndo atrás de mim para ter a minha atenção. Ele segura meu antebraço, mas num reflexo medroso, eu me solto dele.

— Quem você é?

— Lillian, prazer. E quem é você?

Ele olha para os dois lados da rua e toma uma postura mais acessível, simpática, eu diria. Mas completamente falsa.

— Como sabe sobre o fim do mundo?

— Olha, eu não saio dando informações desse tipo para estranhos, tá bom? Nem sei quem você é.

Continuo andando no caminho sem destino que eu estava, e sem surpresa, ele me segue.

— Beleza, por que não bebemos um pouco, deixamos de ser estranhos e conversamos sobre isso?

Seus gestos e ações estão transparecendo o desespero que ele não quer assumir. Entretanto, finjo pensar sobre sua proposta. Eu nunca, em outras circunstâncias, aceitaria o pedido desse estranho, mas sei que agora tem seguranças de Reginald disfarçados e prontos para agirem se eu gritar.

— Tudo bem.

Ele força um sorriso, andando na frente e esperando que eu o siga. Assim eu faço. Mesmo conseguindo sentir o perigo com antecedência, estar na presença dele me faz sentir como se eu perdesse essa habilidade.

O homem nos guia pelas avenidas e ruas de comércio, me deixando curiosa sobre por que estamos indo tão longe para beber. Até que em uma dessas ruas, ele entra num beco. Paro onde estou e não me mexo, esperando para ver se não é uma espécie de armadilha.

— Pode vir, garota.

— Onde exatamente estamos indo?

Ele volta para dizer, me encarando:

— Não vou fazer mal a você, preciso das suas informações.

Ah, tudo bem. Enquanto eu for útil, tenho garantia de vida.

Eu olho para trás um momento, desejando que algum segurança tenha me visto entrar nesse beco. Se eu nunca mais sair, sabem de quem ir atrás. Eu faço um gesto indiferente, aceitando em segui-lo. No escuro, e só pisando nos mesmos lugares que esse homem pisou, encontramos uma porta.

Ele a abre, deixando que eu entre primeiro, e depois subimos dois lances de escadas. A porta que atravessamos em seguida dá para uma casa simples, que está no andar de cima de uma loja de televisores.

Exploro o lugar, encontrando fotos e recortes de matéria sobre esse grupo em quase todas as paredes. Frases de conspiração e datas aleatórias.

— Q-quem é a moça? — Um homem surge, espantado e admirado ao mesmo tempo.

— Acabei de conhecer. Elliott, foi você quem revelou essas fotos?

— É claro, não dá para deixar essas coisas na lojinha de revelação. O governo tem espiões por aí. — Por essa simples frase, posso presumir que Elliot é o responsável pelas fotografias e recortes.

— Não vi um quarto escuro aqui.

— Eu adaptei o armário do corredor.

— Consegue revelar esse filme para mim? — Pergunta ele, entregando a fita após rabiscar o data no verso.

— “Vídeo dos Frankel”. Amigos seus?

— Primos pelo lado da mamãe-robô. Dá pra revelar ou não? — Ele responde, sarcástico e irritado.

— Claro que dá.

— Quanto tempo?

— Olha, tem pouco ácido acético. A Beeker's Cameras tá aberta agora, mas fica a 3km. Eu teria que ir de ônibus. Também tem a outra, a Gibson's, a dez quadras. Mas teria que atravessar o parque e ele anda infestado de pomb…

— Elliott?

— Umas cinco ou talvez seis horas.

— Faça o mais rápido possível.

Elliot assente, seguindo para outro cômodo. O cara respira fundo, servindo duas xícaras de café. Ele me entrega uma e incentiva que eu me sente no sofá, enquanto ele fica no outro na minha frente.

— Bom, como você sabe sobre o fim do mundo, Lillian? — Ele se acomoda.

— Eu vejo o futuro.

— Você é médium? Desculpa, não é isso que estou procurand…

— Eu vejo o futuro assim como Luther é extremamente forte e resistente. — Eu o interrompo, um pouco rude em meu tom. — Ou como Allison tem tudo o que quer.

— Você tem poderes?

Eu confirmo, balançando a cabeça.

— Conhece meus irmãos? — Ele pergunta, meio aflito.

Irmãos. Então é isso o que todos eles são?

— Não. Mas eu vi eles lutando naquela guerra. Os soldados soviéticos atacaram, não é? 25 de novembro? — Eu falo, retoricamente. Até então, ele achava que só ele sabia dessas informações, talvez agora eu ganhe pontos. Ele só me encara, sem ter o que dizer. Como demonstração, para ele ter ainda mais certeza, eu encosto minhas costas na almofada do sofá, confiante, e digo: — Aquele cara, Elliott, vai voltar dizendo que esqueceu as chaves.

As sobrancelhas dele se juntam, duvidando. Eu também não sei explicar como isso acontece. É como memórias, mas do futuro. Sinto que já aconteceu algo que ainda vai acontecer. Constantemente eu confundo com déjà-vus.

— Esqueci as chaves. — Elliott aparece, buscando o objeto em cima da mesinha de centro. — Podem ficar à vontade, viu?

E então ele sai.

— Tá, já entendi. Por quê você quer me ajudar?

— Não é óbvio? Também vivo neste mundo, não quero morrer tão cedo.

Ele fica em silêncio, me analisando, provavelmente se dando conta que é mais vantajoso me ter em sua equipe, prevendo os próximos passos, do que sozinho e cego do futuro.

— Certo. Temos dez dias. — Ele se levanta do sofá, levando sua xícara junto.

— Não vai me dizer o seu nome? — Me interesso, agora que estou dentro, preciso saber como chamá-lo.

Cinco.

An?

— Cinco o quê? Eu perguntei o seu nome.

Ele dá meia volta, chegando tão perto de mim que precisa se abaixar na altura do sofá, deixando nossos rostos próximos.

— Esse é o meu nome. E a partir de agora você vai seguir o que eu disser.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

Cinco achou um cobertor extra, onde parecia o quarto de Elliott, e me entregou para que eu pudesse dormir no sofá da sala. Ainda estou me acostumando com o nome dele, e uma parte de mim acha que é só um pseudônimo. Como eu imaginava, ele está aceitando ajuda de todos que podem contribuir, mesmo que pouco, para salvar o mundo. E pelo visto, Elliott não era um membro oficial desse grupo. Assim como eu, Elliott é dessa linha do tempo e tem informações que ajudam Cinco a encontrar sua família, e pistas sobre a causa do fim do mundo.

— Quem é Viktor? — Eu pergunto, tomando o café que Elliott preparou. Cinco começou o dia analisando os recortes de jornais na parede, e já deve estar na sua terceira xícara. — Ouvi Luther dizer que ele já causou o fim do mundo uma vez.

— Também é meu irmão.

— Sabe onde ele está? — Falo, dando mais um gole no café. Cinco se vira de costas para me encarar.

— Não. E se eu soubesse, não te diria.

É, eu estou exagerando nas perguntas para alguém especialmente desconfiado. Dou de ombros e também confiro as páginas de jornais que dizem sobre seus irmãos. Elliott começou a juntar essas evidências quando o primeiro deles chegou nessa linha do tempo.

Klaus, ou O Profeta, apareceu misteriosamente naquele beco em 1960. Allison chegou no ano seguinte. Luther em 1962. Diego neste ano, em setembro. O último, Viktor, que até então não tínhamos registro de seu paradeiro no laboratório, também chegou este ano, no dia doze de outubro. Todos eles com a mesma particularidade: foram jogados para fora de uma anomalia no beco atrás dessa casa.

Cinco deixou claro em alguns comentários que chegou ontem pela manhã. Agora ele está na busca de encontrar seus irmãos para recrutá-los.

Atenção, código 3-15 no Sanatório Holbrook. — O rádio sobre a mesa emite essas palavras com um tanto de interferência.

— O que é um código 3-15? — Pergunta Cinco para Elliott.

— Fuga de malucos. — Responde ele, indiferente.

Vinte e cinco pacientes ainda à solta. Muitos são considerados…

— Ah, Diego.

— Quem é Diego? — Pergunta Elliott, agora mais interessado.

— Pensa no Batman, só que muito pior. — Cinco responde, estressado. — Tá, termina de revelar o filme para mim. Eu volto assim que puder.

Ele se apressa, buscando uma chave no balcão. Pensei em artifícios para usar e convencê-lo de que eu tenho que ir junto, mas não foi preciso.

— Você, esquisita, vem comigo.

Eu dou um sorriso forçado, internamente feliz por não ter que segui-lo escondido. Deixo a xícara na mesa e busco minha bolsa. Não sei quando vou precisar usar a arma que está dentro dela.

— É só porque não confio em você que está indo comigo, entendido? — Diz ele, incomodado ao ver meu sorriso.

— É porque precisa de mim.

Ele revira os olhos, se apressando para descer as escadas na qual viemos ontem à noite. Sem me esperar, como se minha presença não fizesse falta, Cinco caminha até o carro da empresa de Elliot e se senta no banco do motorista. Ele liga o carro quando eu estou abrindo a porta do passageiro, e por pouco meu pé não fica para trás quando ele dá partida no carro.

— O que vamos fazer?

— O que eu vou fazer, é convencer meu irmão idiota que acabou de fugir do sanatório a me ajudar. Você só está junto para eu manter meus olhos em você.

Eu levanto minhas sobrancelhas, virando o rosto para a janela. Esse cara tem sérios problemas de confiança. Ele dirige pelas avenidas até encontrar um homem cabeludo à espreita no muro com uma mulher de cabelos curtos. Cinco desliga o carro, respirando fundo antes de descer. Por curiosidade, além da minha missão, vou atrás para presenciar o primeiro contato deles.

Enquanto chegamos perto, ouvimos a mulher perguntar porquê Diego está fazendo isso, e sem saber o contexto, Cinco os aborda respondendo:

— Porque ele é um idiota.

— Quem é você? — A mulher se vira de costas rapidamente, assustada com a nossa presença. Se ela também fugiu do sanatório, o susto é compreensivo.

— Oi, sou o irmão querido dele. — Cinco se apresenta com a mesma falsa simpatia que usou comigo.

— Que me deixou apodrecendo com os doidos. — O homem, Diego, completa com rancor.

— Para te proteger de si mesmo.

— Ah, isso é fofo. — Comento.

— E quem é essa? — Diego me olha da cabeça aos pés.

— Uma estranha médium. — Cinco responde, me dando um olhar que faz eu me sentir suja.

— Prazer. — Eu estendo a mão, mas Diego nem cogita em apertar. — Você também é do futuro?

— Sou.

— E lá não tem tesoura, não?

— Tá legal. Quero vocês três fora! — Diego dispensa.

— Esquece a maluquete e vem comigo. Nós temos um problemão.

— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Responde o irmão. Assim como Luther, Diego não parece querer contato com Cinco tão cedo.

Cinco murmura como se aceitasse essa decisão, mas logo se inclina para chamar a atenção do policial que caminha do outro lado da rua. Ele realmente grita, mas seu irmão logo o puxa de volta para se esconder no muro, revogando sua decisão.

— Que merda é essa?

— Fiquei sabendo que tem uma recompensa para quem pegar vocês. — Cinco diz, abrindo um sorriso de diversão enquanto o seu irmão encara aflito.

— Ele tá blefando. — A moça assume, sem acreditar. Então, eu dou um passo à frente, trazendo mais credibilidade, dizendo:

— Duzentos dólares cada um.

Diego espera por uma micro expressão que irá nos delatar, mas isso não acontece.

— Beleza. Eu vou com você.

Cinco relaxa, satisfeito, e acena com a cabeça para mim em agradecimento.

— Mas e eu? — A moça pergunta, persuadindo com os olhos para ser aceita.

— E eu também vou levar a maluquete.

O quê?!

— Se tem espaço para a sua garota estranha, tem espaço para a minha também.

A mulher sorri por participar do grupo, e eu só pensava em contestar que sou garota de ninguém. Muito menos do homem que conheci ontem.

Nós levamos aquela dupla fugitiva para o carro e Cinco dirigiu de volta até a casa de Elliott. Até o caminho da escada, conversei com a moça, Lila, e pude ter certeza que ela tem alguns parafusos soltos.

Seguimos as escadas dianteiras da loja, até estar no andar de cima, a sala de estar de Elliott, mas assim que chegamos no piso, somos surpreendidos pelo homem segurando um rifle, apontando-o em nossa direção.

— Onde conseguiu esse filme?! O vídeo dos Frankel? A verdade, dessa vez!

— Conhece esse maluco? — Pergunta o fugitivo do sanatório para o seu irmão.

— Acabei de conhecer, é inofensivo.

— Tem certeza disso? — Questiono, pensando se devo fazer uso da minha pistola na bolsa, em troca da minha vida, e dever satisfações de porquê tenho uma.

— Você é ou não é um inimigo do povo? — Elliott grita, aproximando seu dedo do gatilho. A tensão e o silêncio que se forma é tão grande que tenho medo do próximo barulho ser de um tiro.

— Essa pergunta é um tanto vaga… — diz Diego.

— É, depende de que povo. — Cinco completa.

— Se mexer um músculo, eu estouro os seus miolos.

— Olha, eu não sou boa nesse jogo. — Reclamo, me apoiando na outra perna.

— Você resolve ou eu? — Os irmãos debatem.

— Deixa comigo.

Diego chama a atenção de Lila, enquanto eu vejo com os meus próprios olhos Cinco desaparecer do nosso lado e reaparecer na frente de Elliott, movendo o cano da espingarda para cima, onde o tiro atinge o teto. Enquanto pedaços de vidro e madeira caem por cima deles, Diego puxa a arma das mãos de Elliott sem esforço algum, também esvaziando o cartucho.

— O que foi isso? — Eu pergunto, paralisada. — Como fez isso? — Aponto para os dois lugares de onde ele estava.

— Ah, não contou pra ela, Cinco? — Diego zomba, me explicando brevemente o superpoder de Cinco, que também é a causa de eles terem viajado no tempo, perdidos em diferentes épocas. Não sei porquê presumi que ele não tinha superpoderes, já que todos os seus irmãos têm.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

Cinco posiconou o projetor em frente à parede branca no corredor, onde nos reunimos para assistir a este vídeo misterioso. Apenas eu e Cinco sabemos da verdadeira data do vídeo e possivelmente foi isso que deixou Elliott tão apavorado. E então, chegou a hora de saber se o vídeo é útil ou não, se eu ter entregado o vídeo para Cinco no bar ontem à noite foi uma boa escolha.

O filme do futuro começa com um casal de idosos discutindo sobre como utilizar a câmera, a senhora se altera enquanto a filmagem feita por seu marido está fora de quadro e trêmula.

Parece só um vídeo normal, e continua assim por longos minutos. Elliott, que agora está amarrado com lenços nos tornozelo, pulsos, e um em sua boca, recebe um pedicure de Lila, que está alheia à situação.

— São tão fofos, adoro casais de velhos. Não sei como ainda não se mataram. — Comenta ela.

— Por que a gente ainda tá vendo isso? — Eu pergunto, entediada, assistindo ao vídeo sentada no balcão. Deve ter passado trinta minutos de uma senhora ensinando a usar uma câmera.

— Quieta! — Cinco exclama, concentradíssimo em cada quadro de imagem.

Os velhinhos se apresentam como Dan Frankel e Edna Frenkel, nomes que não me despertam nenhuma familiaridade. Eles documentam, dizendo que estão em Dallas, para ver o presidente. Dan diz a data, 22 de novembro 1963, a mesma que foi escrita no verso da fita.

— Isso é daqui seis dias. — Lila estranha o vídeo.

— Puta merda! É isso. O monteiro gramado. O Kennedy vai morrer. Como conseguiu isso? — Diego se impressiona, se aproximando da projeção.

— O Hazel morreu para me dar o negativo. Deve ser a chave para impedir o fim do mundo. — Cinco explica, os olhos fixos na gravação.

— Hazel? — Eu pergunto, virando-me para ele.

— Longa história.

— O fim do mundo? — Lila questiona.

— Mais longa ainda.

— O que ele te disse exatamente?

— Foi morto antes de poder me explicar, mas o que ele queria me mostrar está nesse filme. — Diz Cinco.

De repente, o vídeo emite sons de tiros, e o casal de velhinhos se abaixam, limitando a visão que temos da câmera. Eles gritam, enquanto pessoas ao fundo dizem que o presidente foi assassinado. Interessado, Cinco volta a fita, e move o carrinho do projetor um pouco para trás, ampliando a imagem gerada na parede.

Acho que em meio às imagens borradas, eu vi uma silhueta um tanto familiar, mas não achei que os outros também tivessem visto. Cinco pausa o vídeo naquele exato quadro

— É impossível. — Diego desacredita.

— É óbvio que não. — Cinco contraria.

Eu trato de ficar bem quieta no meu canto, pois eu sei que aquele homem de monóculo e guarda-chuva em plena luz do dia, é Reginald, e eu tive essa visão há meses atrás. Elliott diz, com dificuldade de um pano na boca, perguntando quem é o homem que todos nós estamos encarando, e os meninos respondem em sincronia.

Papai.

°•°•°•°•°•°• ◆ •°•°•°•°•°•°

Tenho que confessar que me surpreendi quando aqueles dois marmanjos chamaram Reginald de papai. Ainda mais porque sei que Reginald odeia crianças e não faria isso consigo mesmo. Mas admito que muitas coisas está além da minha compreensão, e uma coisa que aprendi com as minhas visões, é que quanto maior o poder aquisitivo, mais instável e imprevisto é o futuro dessa pessoa. Sr. Hargreeves é um ótimo exemplo disso, há pouco tempo ele quis se mudar para Dallas e isso não estava nas minhas previsões.

— É claro que o nosso pai tá envolvido no assassinato. Eu deveria saber. — Diego murmura, enquanto o seu irmão anda de um lado para o outro, coçando a nuca.

— Não, você tá se precipitando.

— Então por que mais ele estaria naquele lugar? Com um guarda-chuva preto aberto em um dia de sol em Dallas, no exato momento em que o presidente leva um tiro! — Diego grita.

— Não é um bom sinal, eu admito.

— Não. É ele que dá sinal pra essa merda toda.

— Olha, pelo o que eu vi, ele não mexeu um dedo. — Eu digo, se for para tranquilizar a mente maluca e obsessiva desse homem. Cinco tenta fazer o mesmo, mas sem sucesso.

— É o que o Hazel tava tentando te contar. Temos que impedir que o papai mate o presidente.

A não ser que J. F. Kennedy esteja envolvido diretamente com o fim do mundo, o que não é o caso, segundo a minha visão, Diego é só um cara que tenta se provar um heroi porque em boa parte da sua vida ele não teve tal validação. Os enfermeiros do sanatório estavam certos, isso é apenas um complexo de heroi.

— Diego, vai com calma, tá? O papai não era nenhum escoteiro. Mas assassinar um presidente? Não parece o perfil dele.

— Como você saberia? Se livrou dos melhores anos dele.

— Me livrei? — Cinco levanta as suas sobrancelhas, com indignação, decepcionado com o que acabou de ouvir. — Acha que foi moleza, Diego? Eu fiquei sozinho por 23 anos. Quer saber? Não temos tempo para isso agora. O nosso pai tá em Dallas, né? Vamos falar com ele. Talvez ele nos ajude a consertar a linha do tempo.

— Dallas é muito grande.

— Nossa, imagina só se existisse um jeitinho mágico nessa época para encontrar as pessoas e endereços.

Os dois buscam o livro com os endereços de cada pessoa e empresa, buscando pelo nome Hargreeves. Encontram D. S. Umbrella Manufacturer, que fica na rua Olive, 82. Sei exatamente que lugar é esse, e para garantir que estarei junto, revelo esse conhecimento.

— Sei onde fica. Posso levar vocês até lá. — Falo, tranquilamente, apoiando meu ombro na parede enquanto eles discutiam que lugar era aquele.

— Como sabe?

— É ponto de referência, tem grande movimentação naquela rua.

Quanto mais eu falo, mais Cinco franze suas sobrancelhas, em desconfiança. Ainda assim, ele disse que eu iria junto. Ele passa boa parte do tempo analisando eu e Lila, como se esperasse um movimento incerto para provar a si mesmo que somos uma ameaça. Acho que nisso Lila sai ganhando.

— Você, Lauren… — Cinco chama a minha atenção.

Lillian.

— Que seja. Vamos sair em trinta minutos. Mas enquanto isso, temos tempo para você me explicar como ganhou os seus poderes.

É, essa me pegou de surpresa. Sua pergunta, num tom de acusação, faz eu me sentir contra a parede, e aí sim qualquer movimento é incerto. Sem ter como fugir, vou pelo básico que me veio à mente, e que não me trará explicações.

— Nasci assim.

— Você é Lillian o quê mesmo?

Minha língua trava, quase dizendo o seu mesmo sobrenome.

— Miller. — É o primeiro que penso e digo.

Lillian Miller… — Ele repete para si. — E você mora por aqui mesmo?

— Há muito tempo.

— Não tem sotaque.

— Não, não tenho. Não nasci no Texas.

— Nasceu onde?

— Isso é necessário mesmo?

— Contanto a empresa que trabalhei, Lillian? Sim, é necessário. Qualquer um pode me dizer que sabe o futuro. Você anda muito quieta.

— Onde você trabalhou?

— Sou quem faz as perguntas aqui.

— Não só você — Eu desço do balcão, encarando-o de frente. Não é uma boa escolha porque agora é ele quem me vê de cima. — Como ganhou os seus poderes?

— Da mesma forma que você, querida. Por acaso você nasceu em 1989? — Cinco pergunta, de verdade, e eu acabo soltando uma risada sarcástica que não lhe agrada.

— O quê? Daqui 26 anos? Não.

Ele me encara por alguns segundos, e estar o tempo inteiro sob esse olhar de julgamento e desconfiança é cansativo. Eu encaro de volta, e como se tivesse algum poder de autoridade sobre mim, ele chega perto e acena com a cabeça, mandando eu sair pela porta e ir para o carro. Eu bem que podia chutar as suas pernas antes de ir, ele não é o único que não está confortável com essa equipe.

Diego chegou primeiro e tomou o lugar do motorista, enquanto o babaca do seu irmão me expulsou do banco da frente para poder tomar o lugar. Eles seguiram o caminho inteiro falando sobre suas vidas, esquecendo que eu estava atrás, e pelo pouco que entendi, os últimos dias deles foram uma loucura. A única vez que abro a minha boca, é quando estamos perto da empresa e eu coloco minha mão sobre o ombro de Diego, dizendo:

— D. S. Umbrella. É aqui.

Nós saímos do carro, caminhando até a porta e conferindo o número do local. Não resta dúvidas quando vemos o desenho de um guarda-chuva nele. Eu me lembro bem desse lugar. Foi para cá que eu vim quando eu já não tinha mais nenhuma opção.

Eu iria morrer de fome se não arrumasse um lugar para ficar nas próximas semanas, então ouvi falar que esse bilionário estava fazendo experimentos em prol da ciência. Estava difícil achar voluntários que fossem leais aos contratos e que tivessem bom condicionamento físico e mental, e eu me voluntariei. Não era qualquer um que podia se inscrever, Reginald fez esse experimento ser extremamente restrito. E nos primeiros dias, ele induzia eletrochoques em seus voluntários para saber se aguentariam. E eu precisava de uma cama e comida. Fiz valer a pena.

E foi bem aqui, seis anos atrás, que eu estava passando por esses testes. Vai ser nostálgico relembrar um momento tão fora da minha atual realidade.

— Há quanto tempo você não vê o coroa? — Diego pergunta ao seu irmão, ao notar sua inquietação. Com a ponta de sua faca, Diego tenta abrir a fechadura da porta em sua frente.

— 23 anos.

— Que loucura…

Eles lamentam a situação, e eu tento pegar o contexto sem fazer perguntas.

— Olha, quando eu tava preso lá no apocalipse, não passava um dia que eu não ouvisse a voz dele na minha cabeça.

Apocalipse? Estamos falando do mesmo apocalipse?

— E o que a voz dizia?

Eu te avisei.

— É, mas, se o papai tá aqui, ele nunca te viu na vida. Aí não dá pra dizer “eu te avisei”. — Diego tenta melhorar a situação.

— Eu sei que ele vai dar um jeito.

Após esses segundos dos dois irmãos se lamentando, Cinco faz aquela coisa de se teletransportar para abrir a porta por dentro. Isso é muito interessante, e se ele fosse menos rude, eu adoraria saber como esse poder funciona.

Nós passamos pela recepção do local, completamente escura e com cheiro estranho, como se o ar não circulasse aqui há bastante tempo. Cinco acendeu um abajur para enxergarmos melhor, porém a corrente elétrica é fraca demais e ele logo se apaga. O homem desconfiado se inclina perto do sofá e dá um toque na almofada, fazendo uma nuvem de poeira se desprender do estofado.

Bom sinal não é. Esse lugar não era assim.

— Parece uma empresa de fachada. — Cinco diz, e honestamente curiosa sobre o que esse lugar virou, pergunto:

— Fachada pra quê?

— Eu não sei.

— Eu vou pela esquerda. Grita, se precisarem de alguma coisa. — Diego fala, abrindo a porta de seu lado e seguindo o corredor. Eu sei que para lá são só salas de treinamento, ou de checagem dos voluntários.

Penso em ir atrás dele, e dou passos em sua direção, mas sinto logo atrás de mim dedos fortes segurarem o meu braço. Cinco desaprova a minha escolha.

— Por aqui, moça. — Diz ele, sarcástico, e falsamente educado pedindo para que eu vá na frente. O jeito como respira perto de mim me faz precisar de mais doses de controle, não está sendo fácil conviver 24 horas com ele.

— Me solta. — Eu falo, movendo o meu braço e expressando no olhar o quanto ele me irrita. Já não faço mais questão de esconder.


◆ 6.561 palavras

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e vai se criando um clima incrível

gostam de capitulo grande assim? vão ter que gostar porque o próximo é maior 😛

bjs curupiras luminosos 🧡

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