𝘽𝘼𝙄𝙇𝙀 𝘿𝙀 𝙇𝘼𝘿𝙔 𝘿𝘼𝙉𝘽𝙐𝙍𝙔 𝙋𝘼𝙍𝙏 𝙄

Crônicas da Sociedade por Lady Whistledown
Londres, 13 de maio de 1816

Ah, meus queridos leitores, falemos de segundas chances e perdão. Que delícia é ver corações partidos se remendando com a mesma habilidade de um alfaiate bêbado! Afinal, nada diz "eu te perdoo" como um sorriso forçado e um olhar desconfiado, não é mesmo?

Mas quem somos nós para negar uma segunda chance? Afinal, errar é humano, perdoar é... uma comédia deliciosa de assistir. Observem como nossos nobres cidadãos tentam desesperadamente recosturar os fios de suas relações despedaçadas, enquanto tropeçam nos próprios passos.

E quem pode esquecer os promissores discursos de arrependimento? Ah, as promessas de mudança! Tão doces quanto vazias, tão sinceras quanto uma moeda de três lados. Mas que se faça justiça: todos merecem uma segunda oportunidade... principalmente quando nos proporcionam tanto entretenimento.

Então, que venham mais reconciliações e novos começos, pois cada ato de perdão é apenas o prelúdio de um novo e delicioso desastre.

Com ironia e um sorriso,
Lady Whistledown.

𝗖𝗔𝗣𝗜́𝗧𝗨𝗟𝗢 𝗧𝗥𝗘̂𝗦
𝘽𝘼𝙄𝙇𝙀 𝘿𝙀 𝙇𝘼𝘿𝙔 𝘿𝘼𝙉𝘽𝙐𝙍𝙔 𝙋𝘼𝙍𝙏 𝙄

O sol começava a se pôr sobre os jardins, outrora bem cuidados da mansão dos Featherington, lançando uma luz dourada através das janelas ornamentadas. Dentro da casa, uma agitação frenética preenchia cada canto. Era o dia do aguardado baile oferecido por ninguém menos que Lady Danbury, uma das poucas figuras na alta sociedade londrina que ainda mantinha algum vínculo com os Featherington, não que outro membro além de Penélope, a terceira filha Featherington tivesse percebido este detalhe tão importante.

No centro de toda aquela agitação, estava Portia Featherington, com um vestido verde esmeralda que tentava disfarçar os sinais de idade, percorria o salão da família com um misto de excitação e apreensão. Esse baile era mais do que uma simples oportunidade social; era a última esperança de garantir casamentos decentes para suas filhas Prudence e Phillipa, que com suas elegantes vestimenta — que Portia conseguiu comprar graças a uma reserva secreta. — ensaiavam seus sorrisos e modos, representa suas maiores esperanças naquela noite.

Enquanto Portia orientava suas filhas mais velhas sobre a etiqueta adequada e as expectativas da noite, Penélope permanecia à margem da sala, observando com uma mistura de fascínio e desconforto à maneira com sua mãe e irmãs mais velhas conseguem agir como se tudo estivesse bem, para Penélope era o verdadeiro mistério esse dom. Ela então voltou sua atenção para seu vestido amarelo cítrico, com babados que pareciam deslocados em meio à pompa dos salões de bailes, não fazia justiça à sua beleza singular, destacando-a quase sempre de maneira inconveniente.

— Ah, Prudence, minha querida, não esqueça de sorrir com doçura quando um cavalheiro se aproximar. — Portia instruiu, ajustando o broche no peito da filha.

Prudence assentiu, um leve traço de resignação em seu olhar. — Sim, mamãe. Vou lembrar.

Phillipa, ao lado dela, acrescentou com uma confiança estudada: — Estamos prontas, mamãe. Este baile será o nosso triunfo.

Portia sorriu, embora o sorriso não alcançasse seus olhos. — Vocês são minhas garotas fortes. Estou confiante de que esta noite será um sucesso.

— Mãe, o que devo fazer? — perguntou Felicity, a mais jovem, enquanto se aproximava timidamente.

Ela ainda não estava na idade de ser apresentada à sociedade, mas Portia tinha grandes esperanças para ela.

— Apenas observe e aprenda, minha querida. Seu tempo chegará, e você será a nossa joia mais brilhante, tenho certeza.

Portia voltou sua atenção para Penélope, que estava continuava em um canto, com um olhar distante e aparentemente alheia à agitação ao seu redor. Essa mesmo Penélope, com seus cabelos ruivos e olhos azuis, a herança óbvia das mulheres Featherington, parecia estar em um mundo à parte. Mas, ao contrário de suas irmãs, ela não possuía a graça ou a altura que poderia atrair a atenção dos cavalheiros, pensará sua mãe com desânimo.

— Penélope, por que não está se preparando? — Portia perguntou, tentando manter a paciência. — Temos muito a fazer antes do baile desta noite.

Penélope levantou piscou os olhos, como se voltasse de seus pensamentos , parecendo ligeiramente confusa. Ela fechou os olhos azuis por um segundo e com um suspiro resignado, se dirigiu à mãe.

— Sim, mãe. Desculpe, mãe.

Portia observou sua filha mais nova por um momento, um misto de amor e frustração preenchendo seu coração. Penélope sempre fora uma menina estranha, com a mente nos livros e em coisas que Portia considerava sem importância. No entanto, ela sabia que sua filha não era totalmente sem graça. Havia algo nela, um brilho nos olhos, uma inteligência que talvez pudesse ser canalizada de maneira útil, de preferência algo que não levasse a livros.

Mas agora, havia assuntos mais urgentes a tratar. A temporada estava começando, e com ela, as esperanças de encontrar bons partidos para Prudence e Phillipa. Elas ainda tinham alguma chance, especialmente se fossem guiadas corretamente. Penélope, no entanto, parecia ser um caso perdido. Pensar na falta de perspectivas para Penélope causava em Portia uma inquietação crescente.

— Ah, como gostaria que você se empenhasse mais, Penélope — murmurou Portia para si mesma, enquanto observava sua filha desaparecer pelas escadas.

Penélope perdida outra vez em seus pensamentos, abafou as vozes da mãe e irmãs no salão,  se perguntava no conforto de seu íntimo se algum cavalheiro sequer notaria sua presença. Ela sabia muito bem que sua família era vista como uma piada pela alta sociedade. Os cochichos e olhares mordazes eram uma realidade constante, uma verdade dolorosa que ela preferia não enfrentar.

O baile de Lady Danbury era a exceção, um refúgio temporário onde os Featheringtons ainda eram recebidos com um mínimo de cortesia. Enquanto outras portas se fechavam ao seu redor, a generosidade de Lady Danbury permitia-lhes manter um fio de esperança.

Mais tarde, Portia apareceu no quarto da filha, um olhar levemente aborrecido, não condizia com a voz suave.

— Penélope, minha querida, por que não se junta a nós? — Portia chamou, interrompendo os pensamentos sombrios da filha. — O baile está prestes a começar. Devemos nos apresentar da melhor maneira possível.

Penélope ergueu os olhos para encontrar os da mãe, uma mistura de resignação e teimosia em seu olhar azul. — Estou bem aqui, mamãe. Não quero atrapalhar Prudence e Phillipa.

Portia suspirou suavemente, lutando para manter a compostura diante da falta de cooperação de Penélope. — Por favor, minha querida. Esta noite é importante para todas nós.

A movimentação na casa continuava frenética. Os poucos criados que restavam corriam de um lado para o outro, preparando tudo para a noite que se aproximava, para que suas senhoras tivessem alguma chance.

Era a esperança de todos.

Com um suspiro resignado, Penélope assentiu, seguindo para seu guarda-roupa, ouviu a voz de sua mãe.

— Aquele seu vestido amarelo de cetim ficará primoroso em você, querida.

Penélope sabia que era mentira. Mas não queria machucar mais ainda sua mãe.

Será uma longa e pavorosa noite, pensou Penélope.

{...}

As horas passaram em um borrão de preparativos. Prudence e Phillipaforam enfeitadas com os melhores vestidos e com as poucas joias que a família ainda podia proporcionar, enquanto Penélope, embora relutante, foi arrastada para os preparativos, com bem menos pompa que as irmãs mais velhas.

— Pelo menos tente parecer interessada, Penélope. — sussurrou Phillipa, enquanto ajustava o laço em seu vestido. — Esta é a nossa chance de brilhar.

Como está enganada irmã, mas mesmo assim Penélope forçou um sorriso, mas seu coração não estava naquilo. As palavras de Colin ainda ecoavam em sua mente, e a dor de sua amizade perdida era um fardo constante. No entanto, ela sabia que precisava fazer um esforço, se não por si mesma, pelo menos para sua mãe e irmãs.

Quando a noite finalmente chegou, a casa Featherington estava em alvoroço. As carruagens foram preparadas, e as filhas foram cuidadosamente escoltadas para dentro. Portia, radiante em um de seus poucos vestidos de galã que não estavam com remendos.

— Lembrem-se, mantenham a postura e sorriam. Esta noite pode mudar nossas vidas.

Penélope seguiu em silêncio, tentando acalmar a tempestade em seu coração. Ela sabia que aquela noite seria difícil, mas também sabia que precisava enfrentar seus medos e inseguranças. Enquanto a carruagem avançava pelas ruas de Londres, Penélope olhou pela janela, observando as luzes brilhantes da cidade e tentando encontrar um pouco de coragem dentro de si.

Enquanto o som da música começava a flutuar pelos salões, os convidados começaram a chegar, cada um mais impecável que o outro. Portia se voltou para cada um deles com sorrisos polidos e conversas ensaiadas, apresentando Prudence e Phillipa a cada cavalheiro adequado que cruzava seu caminho, ignorando discretamente a presença de Penélope, apesar de que daquela vez fosse de forma inconsciente.

Aquela noite era para as duas. Elas eram que deveriam está no centro, sendo as últimas esperanças de Portia.

Penélope, por sua vez, se retirou para um canto do salão, tentando desesperadamente evitar os olhares curiosos e os sussurros maldosos que sabia estarem direcionados a sua família. Ela permanecia ali, observando silenciosamente o jogo de máscaras e intrigas que definia a alta sociedade. A cada gesto, a cada olhar de desdém, ela sentia o desconforto se intensificar em seu peito.

Enquanto a noite avançava, Portia tentava manter a fachada de dignidade e otimismo, embora por dentro estivesse lutando contra o medo crescente de um futuro incerto para suas filhas. Ela sabia que este baile poderia ser sua última chance de restaurar pelo menos parte do prestígio perdido da família Featherington.

E mãe e filha sem perceberem, se encontravam no mesmo misto de sentimento.

{...}

Enquanto as notas de um minueto preenchiam o ar, Penélope permanecia à margem do salão de festas, observando com um misto de saudade e resignação os casais rodopiando graciosamente pela pista de dança. Ela amava dançar, mesmo que tivesse tido poucas oportunidades em sua vida para mostrar isso. A maioria dos convites que recebia para dançar vinha carregada de piedade, mais uma demonstração de pena do que um verdadeiro interesse nos seus méritos como dama.

Desde muito jovem, Penélope havia sido relegada ao papel de figurante nos eventos sociais, sempre à sombra de suas irmãs mais vistosas e, de certa forma, mais aceitas pela sociedade do que algum dia seria. Suas tentativas de se destacar eram constantemente sufocadas pela etiqueta implacável e pelos olhares condescendentes que ela conhecia tão bem.

Os Bridgertons eram uma exceção em sua vida de rejeições. Penélope lembrava-se com uma mistura de gratidão e desconforto das  ocasiões em que os irmãos Bridgerton a haviam convidado para dançar. Naqueles momentos fugazes, ela sentia um vislumbre de aceitação e pertencimento que normalmente lhe eram negados. E era nos braços fortes de Colin Bridgerton que Penélope se sentia bonita e desejável por alguns minutos ou enquanto durasse à música.

— Parece que a Senhorita Featherington está se mantendo afastada dos holofotes esta noite. — uma voz idosa e incisiva soou ao seu lado, interrompendo seus pensamentos.

Penélope ergueu os olhos com surpresa para encontrar Lady Danbury, envolta em seu manto escuro e apoiada em sua famosa bengala de ébano. O sorriso da mulher era tão afiado quanto sua língua, capaz de intimidar até o cavalheiro mais destemido da alta sociedade. Com um gesto trêmulo, Penélope fez uma mesura, mantendo os olhos fixos nos pés de Lady Danbury.

— Lady Danbury. — murmurou Penélope, sua voz um sussurro quase inaudível.

Lady Danbury estudou-a por um momento, o olhar penetrante avaliando a jovem com uma mistura de curiosidade e compreensão

— Você parece distante esta noite, minha jovem. Há algo incomodando você?

Penélope hesitou por um instante, lutando contra a urgência de confiar em alguém com suas preocupações. Mas logo a voz se sua mãe lhe veio à mente, dizendo-lhe que não deveria chatear os outros com suas bobagens.

— É apenas... os bailes e sua natureza às vezes cruel. — admitiu com relutância. — Nunca me senti à vontade neles.

Lady Danbury assentiu lentamente, um brilho de simpatia em seus olhos escuros.

— Os bailes podem ser campos de batalha, minha querida. Mas lembre-se, a verdadeira batalha é a que travamos conosco mesmos.

As palavras de Lady Danbury ecoaram na mente de Penélope. Ela sempre admirara a franqueza e a sabedoria crua da anciã, tão diferentes das sutilezas e falsidades que dominavam a sociedade.

— Sim, milady. — murmurou ela, um sorriso tímido tocando seus lábios.

— Você é mais forte do que imagina, Penélope Featherington. —  continuou Lady Danbury, com um tom de voz que não admitia contestação. — Não permita que os outros definam seu valor.

Penélope olhou para ela, surpresa pela compreensão franca e pela súbita onda de calor que sentiu em seu coração. Em Lady Danbury, encontrava não apenas uma figura imponente da sociedade, mas também uma aliada improvável, alguém que poderia vê-la além das aparências superficiais. Enquanto elas conversavam, Penélope sentiu uma pontada de apreensão. Os Bridgertons eram mencionados com frequência suficiente na conversa para lhe trazer desconforto. Ela estava grata por não tê-los visto ainda, mas sabia que era apenas questão de tempo antes que isso acontecesse. E quando acontecesse, não tinha ideia de como reagiria.

Lady Danbury estudou-a por um momento mais antes de assentir, como se tivesse chegado a uma decisão silenciosa.

Venha, minha querida. Permita-me apresentá-la a alguns amigos meus. Talvez esta noite não seja tão cruel quanto você imagina.

Com um gesto gracioso, Lady Danbury conduziu Penélope pelo salão, afastando-a das sombras onde ela se escondera dos olhares cruéis, mas principalmente de si mesma, fugirá de seus próprios medos e dúvidas. Enquanto se aproximavam de um grupo de convidados, Penélope sentiu uma mistura de gratidão e ansiedade. Talvez, com a orientação de Lady Danbury, a noite não fosse dolorosa, foi o que ela pensou antes de seus olhos encontrarem os verdes acolhedores de Colin Bridgerton.

{...}

Colin Bridgerton estava novamente perdido em seus pensamentos, o barulho e a agitação do salão de Lady Danbury eram apenas um fundo indistinto para sua mente inquieta. A culpa pelas palavras que proferiu sobre Penélope pesava em sua consciência como uma âncora, cada lembrança traz uma nova onda de arrependimento. A conversa com Anthony ecoava repetidamente em seus ouvidos, uma constante lembrança de sua insensibilidade.

Você precisa consertar isso, Colin. — Anthony havia dito, sua voz carregada de seriedade. — Sua insensibilidade colocou Penélope e sua família em uma posição delicada na sociedade. Você tem que fazer algo.

Colin nunca quisera ofender ou menosprezar Penélope. Na verdade, a ideia de alguém dizer algo cruel a sua amada amiga era insuportável para ele. Mas fora ele quem proferira as palavras que agora causavam tanto sofrimento. As ausências de resposta às suas cartas finalmente faziam sentido. Ele a magoara profundamente, e mais do que isso, a envergonhara publicamente.

A dor de saber que ferira Penélope era quase física. Ele se ajoelharia se necessário para conseguir seu perdão, e era com esse propósito em mente que ele havia decidido enfrentar o baile de Lady Danbury. Ele sabia que Penélope estaria lá, e estava determinado a falar com ela, mesmo que isso significasse atravessar um mar de mães ambiciosas e suas filhas ávidas por casamento.

Percorrendo o salão, seus olhos procuravam desesperadamente pelos belos e flamejantes cabelos ruivos de Penélope. Ele ansiava por um simples vislumbre dela com tanto fervor que ignorava todos que tentavam chamar sua atenção, inclusive sua própria família.

— Colin, você está completamente ausente esta noite. — observou Benedict, com uma sobrancelha arqueada.

— Procurando por alguém em particular. — Anthony acrescentou, com um sorriso de canto.

Colin sentiu suas bochechas corarem ligeiramente, mas não desviou o olhar. — Deixem-me em paz, ambos. Tenho algo importante para fazer.

— Claro, claro. — disse Benedict com um tom de diversão. Vamos deixar nosso irmão em sua missão nobre.

Anthony riu suavemente, mas sua expressão era de encorajamento genuíno. — Vá em frente, Colin. Faça o que precisa ser feito, mas lembre-se de não machucar mais ainda sua querida amiga.

Com um último olhar de determinação, Colin retomou sua busca, ignorando o burburinho ao seu redor. Seu coração acelerou quando, finalmente, ele capturou um vislumbre não do cabelo exuberante de Penélope, mas de algo ainda mais distintivo: o rastro de um vestido amarelo cítrico.

Amarelo. Uma cor talvez insignificante para os outros, mas para Colin, continha um significado único. Amarelo era simplesmente Penélope. Era a cor que ela usava com tanta frequência, apesar dos comentários maldosos, e de certa forma, era um símbolo de sua singularidade e coragem.

Colin então avançou com determinação, passos largos seus olhos fixos em Penélope. A agitação do salão, as músicas e as risadas desapareceram ao seu redor, enquanto ele se concentrava unicamente nela. Penélope. Ele precisava falar com ela, precisava pedir desculpas, precisava consertar o que havia quebrado. Ele avançava com tanta firmeza que quase não percebeu Lady Danbury ao lado dela, até que a presença imponente da matrona se interpôs entre eles. Sua expressão era de uma antipatia nunca antes dirigida a ele.

Colin levou alguns segundos para entender o motivo. Lady Danbury estava tentando proteger Penélope — irónicamente, dele. A realização doeu mais do que qualquer palavra poderia. Nunca antes Colin se odiou tanto. Contudo, sua determinação apenas aumentou, e ele voltou sua atenção para Penélope, que evitava olhar em seus olhos.

— Penélope. — disse ele, a voz quase tremendo de necessidade. — eu gostaria de conversar com você.

Penélope respondeu friamente, sem deixar de ser educada, seus olhos nunca encontrando os seus. — Senhor Bridgerton, temo que isso não seja possível.

O choque inicial de Colin foi seguido por uma profunda mágoa. Ele tentou novamente, desta vez com mais urgência, não se importando em soar como uma súplica.

— Penélope, por favor, precisamos conversar. Eu imploro.

Os cochichos começaram a se espalhar pelo salão, enquanto o grupo ao redor deles observava com curiosidade.
Penélope, apesar de nervosa, manteve a voz firme.

— Por favor, aceite meu desejo, senhor Bridgerton.

Colin, porém, estava determinado.

— Não sairei do seu lado até que possamos conversar. — disse ele firmemente, sua voz carregada de uma resolução inabalável.

O salão pareceu prendeu a respiração. Até Lady Danbury pareceu surpresa pela coragem de Colin, mas logo um sorriso provocador surgiu em seus lábios.

— Muito bem, senhor Bridgerton. Vamos ver até onde vai sua determinação.

Mortificada e temerosa das especulações que já começavam a surgir, Penélope aceitou, sua voz baixa e furiosa.

— Está bem, senhor Bridgerton. Falaremos.

Colin sorriu triunfante e ofereceu o braço para uma dança. Com raiva irradiando dos olhos, Penélope aceitou. Sob os olhares especulativos da sociedade londrina, eles se dirigiram para a pista de dança. A música era uma valsa, algo pelo qual Colin agradeceu em pensamento, pois lhe daria mais tempo para conversar com Penélope e a teria mais perto de si. Mas a proximidade que tanto desejava agora parecia agravar a distância emocional entre eles, e só ali em seus braços que Penélope finalmente o olhou nos olhos e foi o fim de Colin Bridgerton.

Foi naquele momento, quando seus olhos se encontraram, que Colin realmente sentiu que perdeu e encontrou o ar ao mesmo tempo. Penélope estava linda, seu rosto redondo e delicado como a mais fina porcelana estava levemente corado, um rastro de riso nos lábios vermelhos e carnudos da amiga. Lábios esses que Colin encarou por mais tempo do que seria considerado correto para um cavalheiro. Ele bebeu da visão de Penélope como alguém que há muito tempo estava privado de água. Decorou seu rosto como se tivesse medo que desaparecesse, seu coração batendo tão forte que se perguntou se por acaso todos no salão estavam ouvindo.

E ali, enquanto dançavam, Colin podia sentir a tensão no corpo de Penélope, a rigidez de seus movimentos. Ele a segurou gentilmente, quase temendo machucá-la mais do que já havia feito.

— Penélope. — começou ele, sua voz carregada de remorso, — eu sinto muito. Eu fui um tolo, insensível e... cruel. Nunca quis te magoar.

Penélope manteve a voz fria e cortês.

— Suas desculpas são anotadas, senhor Bridgerton.

A formalidade e a frieza em suas palavras o atingiram como uma faca. Ele tentou novamente, sua voz carregada de uma urgência desesperada.

— Penélope, por favor. Eu faria qualquer coisa para consertar isso. Qualquer coisa.

Foi então que Penélope, incapaz de conter sua irritação, explodiu.

—Qualquer coisa? E o que exatamente você espera que isso resolva? Suas palavras foram como facas, Colin. Elas não só me magoaram, mas nos ridicularizaram perante toda a sociedade. Você não tem ideia do quanto sofri. Ou quanto minha família sofreu por sua indelicadeza!

Colin ficou sem palavras, sua mente atordoada com a intensidade do desabafo de Penélope. Cada palavra dela era um golpe no coração, cada sílaba carregada de uma dor profunda e crua.

— Você me envergonhou, Colin. — continuou ela, lágrimas brilhando em seus olhos, mas sua voz permanecendo firme. — Eu era sua amiga, confiava em você. E você me expôs ao ridículo. Como espera que eu perdoe isso?

O salão observava em silêncio, cada par de olhos fixos na cena dramática. Colin estava sem reação, incapaz de formular uma resposta adequada. Ele apenas a segurou enquanto dançavam, sentindo a dor de suas palavras como se fossem suas próprias.

— Eu nunca te perdoarei completamente, Colin, —  concluiu Penélope, sua voz quebrando. — Porque suas palavras mostraram o que você realmente pensa de mim.

Colin apenas podia segurar Penélope enquanto a dança continuava, sua mente girando com a realidade de sua mágoa. Ele estava devastado, sabendo que tinha muito a fazer para merecer seu perdão, e talvez, nunca o conseguisse plenamente. E quando a música finalmente terminou, Penélope se afastou abruptamente sem lhe dirigir um segundo olhar, fez uma mesura, e se retirou da pista de dança.

{...}

Benedict Bridgerton observava a pista de dança com uma mistura de apreensão e humor resignado. Ele sabia o que aquela cena poderia causar à já frágil reputação de Penélope Featherington. A sociedade londrina era cruel, sempre pronta para transformar qualquer deslize em um escândalo. E Colin, seu querido e teimoso irmão, parecia determinado a fazer exatamente isso.

Colin, você parece um cãozinho desesperado pela atenção da dona, pensou Benedict, tentando manter o bom humor apesar da situação. Colin estava visivelmente perturbado, seus olhos fixos em Penélope com uma intensidade que Benedict raramente via. O segundo irmão Bridgerton, talvez foi o primeiro a ter percebido os reais sentimentos do irmão pela pequena e adorável Featherington. Ele que sempre foi o mais sensível e observador dos irmãos, sabia que aqueles olhares e sorrisos não eram meramente destinados a uma amiga. Benedict sabia que havia muito mais, e qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade e atenção veria isso.

Colin e Penélope se fechavam em seu próprio mundo quando estavam juntos. Eram sorrisos doces para lá, um toque rápido e aparentemente inocente para cá, céus, Benedict já perdeu a conta de quantas vezes pegou seu irmão tolo olhando para o decote bem generoso da suposta amiga.

Colin era um idiota.

E a sociedade londrina também por acreditar nas palavras mal pensadas de um jovem que não entendia seus próprios sentimentos. Por isso, Benedict sabia que seu irmão causaria uma confusão para ter o perdão de sua dona, hm, quer dizer, sua amada e estimada amiga.

E quando a música chegou ao fim, e Benedict viu Penélope se afastar rapidamente, claramente abalada pela dança. Seu irmão, agindo de impulso, deu um passo para segui-la, mas felizmente Benedict se adiantou, segurando o braço dele firmemente.

— Colin, pare! — a voz Benedict saiu baixa e urgente. — Você vai causar uma cena ainda maior. Olhe ao seu redor.

Colin olhou em volta, vendo os olhares curiosos da multidão. Ele não se importava com eles; seus olhos estavam fixos em Penélope, que estava a poucos metros de distância, tentando escapar da atenção indesejada.

— Benedict, eu não me importo com eles. — disse Colin, sua voz traindo sua agitação. —  Eu preciso falar com ela. Eu preciso que ela me perdoe.

Benedict quis bater no irmão mais novo. Por que não percebia seus sentimentos, e os poupava de todo aquele drama?

— Colin, você está agindo de forma impetuosa. — disse ele, preocupado, completando em pensamentos, “como sempre faz quando o assunto é Penélope" . — Não é o momento certo. Olhe para ela, ela está mortificada. Você está apenas piorando as coisas.

A preocupação de Benedict fez Colin hesitar por um momento, mas sua necessidade de corrigir as coisas com Penélope era esmagadora.

— Ela está magoada, Benedict. Eu preciso ir até ela, confortá-la. Eu fiz isso. Eu preciso consertar.

Realmente um cãozinho sem a dona.

Benedict apertou o braço de Colin com mais força, tentando fazê-lo entender que aquilo era uma péssima ideia.

— Colin, por favor, pense. Você pode acabar piorando tudo. Ela precisa de tempo.

— Eu não posso esperar, Benedict. — disse Colin, sua voz tremendo de emoção. — Eu não posso deixar as coisas assim. Eu preciso que ela saiba o quanto lamento.

Benedict soltou um suspiro frustrado, se perguntando mentalmente por que ainda tentava colocar juízo nas cabeças dos irmãos.

Colin ignorou, como sempre, os olhos fixos em Penélope. Desligando-se dos murmúrios ao seu redor, ele se desvencilhou do irmão e seguiu na direção dela. Cada passo parecia um teste eterno de sua coragem, mas ele estava decidido. Nada o impediria de alcançar sua amiga.

Benedict soltou um suspiro frustrado, mas não desapareceu a preocupação. Ele viu Colin desaparecendo na multidão, atrás de sua musa, ou dona, começava a acreditar Benedict, de repente um sentimento de orgulho o inundou, talvez seu irmão estivesse um passo mais perto de descobrir seus reais sentimentos.

Por que ninguém me escuta? —  murmurou ele para si mesmo, balançando a cabeça em descrença, rindo sozinho de si mesmo.

Foi só então que Eloise se aproximou, sua expressão séria e a voz levemente alterada.

— Benedict, o que está acontecendo entre Penélope e Colin?

Benedict suspirou, tentando encontrar as palavras certas, já bastava lidar com Colin, não queria ter que fazer o mesmo com a irmã.

— Nosso amado irmão está tentando consertar as coisas com sua dona, quero dizer, amiga. Mas ele está sendo um pouco… impetuoso, nada que seja diferente do Colin. Eu só temo que isso possa piorar as coisas para ela, ou precisamente, eles.

Eloise franziu o cenho, irritada e confusa na mesma medida.

— Colin enlouqueceu de vez. Ele não sabe o que aquela cena pode causar? E se pensam que ele e Penélope tem algo?

Benedict quis chorar. Seus irmãos estavam cegos. Colin por não perceber que Penélope o tinha enrolado em seu dedinho mindinho e Eloise por não ver que o irmão e a amiga — ou ex melhor amiga, ninguém sabe ao certo — estavam enamorados um pelo outro.

— Ah, doce Eloise, és tão inteligente para algumas coisas e tão cega para outras. — suspirou Benedict, olhando para os pés — Mas talvez isso seja bom. Deus nos livre que perceba antes que aqueles dois se resolvam.

Eloise se emburou, cruzando os braços reclamou.

— Eu detesto quando começa a falar em enigmas.

Benedict riu, puxando a irmã para uma dança que se iniciava, arrependendo-se logo em seguida, quando Eloise pisou em seu pé.

— Por Deus, mulher! Achei que tivesse aulas de dança desde de criança! —  resmungou Benedict, mordendo os lábios para não xingar.

Eloise deu um sorriso irônico.

— Rá! Eu sempre fingia estar doente, irmãozinho!

Benedict lançou um olhar penetrante à irmã mais nova.

— Tenho pena do seu futuro marido.

Eloise riu suavemente, apesar da risada suave, ela voltou a pisar no pé do irmão.

— Não me provoque, Benedict!

Espero que tenha mais sorte, irmão. Desejou Benedict em pensamentos.

Se gostou, não deixe de votar e comentar sua opinião, dê amor a esse capítulo, ele está enorme e com várias emoções e pontos de vistas para vocês.

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